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Centro Cultural Bom Jardim: Luta comunitária como pilar cultural
Vida & Arte

Centro Cultural Bom Jardim: Luta comunitária como pilar cultural

Fruto da luta comunitária do Grande Bom Jardim, o Centro Cultural Bom Jardim segue entre avanços e tensionamentos de gestão compartilhada. Próximas etapas englobam reavaliação e atualização de demandas
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Fortaleza, CE, BR 23.11.21  - Centro Cultural Bom Jardim (Fco Fontenele/OPOVO) (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Fortaleza, CE, BR 23.11.21 - Centro Cultural Bom Jardim (Fco Fontenele/OPOVO)

Como é possível verificar, os habitantes do Grande Bom Jardim são componentes ativos desde o primórdio do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ). Antes do início das atividades, foi realizada uma pesquisa para saber quais eram os cursos mais desejados pela população. Os resultados mais apontados foram as artes plásticas, a dança e o teatro, além dos cursos formativos. Com o passar das gestões, que reuniu nomes como Luisa Cela (atual secretária da Cultura do Ceará), o envolvimento seguiu contínuo. Ao longo dos anos, iniciativas e projetos do equipamento foram destaques na página do Vida&Arte - como o Festival Bomja Rocks. O caderno também registrou as articulações da comunidade artística, a exemplo das intervenções realizadas em dezembro de 2014 a fim de direcionar atenção à redução de cursos ofertados à época.

Leia reportagem completaCentro Cultural Bom Jardim: o resultado da luta comunitária na cultura

O diálogo entre a comunidade e a instituição ganhou uma nova ponte em 2015, a partir do surgimento do Fórum de Cultura do Grande Bom Jardim. "Em 2015, o CCBJ estava passando por um processo de precarização (segundo matéria veiculada no dia 19 de maio de 2014, em alusão ao aniversário de oito anos do equipamento, uma das dificuldades da primeira década do CCBJ foi o distanciamento da estigmatização de "primo pobre" do Complexo Cultural Dragão do Mar). A gente consegue entrar numa audiência com o Renato Roseno (PSOL) para conseguir um recurso para fazer uma manutenção do equipamento. Nessa situação, nasce o Fórum, sempre pensando na referência de políticas públicas na comunidade, um lugar que é tão carente", detalha a artista e integrante do Fórum, Graça Castro e Silva.

Ela relata que a associação busca interlocução com outros atores, além de expandir atividades para os demais campos interligados ao setor cultural. "No CCBJ, a gente acompanha e monitora, ficamos como o intermediador entre a comunidade, o CCBJ, a Secult e o IDM. O equipamento tem importância muito grande, a gente acaba trazendo todas as questões pertinentes do território pro CCBJ também. É importantíssimo, inclusive referência para outros espaços de militância".

O CCBJ também institui uma nova forma de gestão, sendo pioneiro no gerenciamento por uma Organização Social (OS) e em gestão compartilhada entre Secult, IDM, Fórum e Cultura e o próprio equipamento. "A gente tem 25 anos. Foi algo, assim, realmente muito inovador. A ideia na época era que o Estado não conseguia dar conta de fazer a gestão e a execução (de tudo), porque equipamentos culturais têm muitas singularidades. A OS permite a institucionalidade, a legalidade, a transparência, a otimização dos recursos, mas tem mais flexibilidade para trabalhar com o campo cultural. Essa gestão é viva", elabora a diretora do IDM Rachel Gadelha.

Quando há uma quantidade maior de agentes envolvidos, consequentemente existem mais impasses. A diretora reforça que reconhece a legitimidade de cada órgão, necessários para o avanço da entidade, e destaca que o alinhamento de ideias é feito na base do diálogo e da crítica construtiva. "Eu acho que o CCBJ está passando por uma fase das dores do crescimento, digamos assim. Ele cresceu muito na dimensão política, artística, social e cultural. A gente precisa, agora, encontrar uma síntese dele que não perca a força política, não perca a atuação territorial. E, ao mesmo tempo, entregar um trabalho que tenha um nível maior de conforto, de segurança e de estabilidade. Mas, nessa equação, nós precisamos estar juntos", finaliza Rachel.

 

O centro cultural e a gestão compartilhada

À frente do comando do Centro Cultural Bom Jardin desde 2021, o gestor Marcos Levi Nunes considera o atual momento desafiador. "A gente está num território de mais de 24 mil habitantes e a gente quer chegar mais longe, porque é como se fosse uma cidade. É um desafio equacionar três eixos de ação em um só equipamento cultural, como acontece a priorização política, cultural e de base comunitária diante desses desafios estruturais e metodológicos que a gente precisa amadurecer para 2024", elabora.

Em meio aos obstáculos, Marcos ressalta alguns dos progressos do último ano. Um que deve ser destacado é o aumento no orçamento, que chegou aos
R$ 10 milhões em 2023. A quantia, entretanto, ainda não é suficiente para as demandas do espaço. Ele também menciona a possibilidade de fidelização de plateia por meio de eventos como o festival "A Coisa Tá Preta", realizado em novembro. Outro ponto importante é a oportunidade do ingresso de pessoas no mercado de trabalho por meio dos ateliês e oficinas, além da aproximação com os povos originários por meio de programas como o Artista em Pauta.

Algumas dessas etapas foram revisitadas e analisadas na reunião de atualização da portaria da gestão compartilhada, realizada no dia 18 de dezembro com a participação da secretária da Cultura do Ceará, Luisa Cela; do gestor do Centro Cultural Bom Jardim (CCBJ), Levi Nunes; do diretor de ação cultural do Instituto Dragão do Mar (IDM); Lenildo Gomes, e de representantes do Fórum de Cultura Grande Bom Jardim.

De acordo com nota enviada ao Vida&Arte no dia 29 de dezembro, o compromisso validou a versão final de uma nova documentação que deve ser publicada em breve no Diário Oficial:

"Um dos avanços que ela prevê é a publicação de edital para compor essas representações, cujo período de exercício na gestão compartilhada será de dois anos. A nova portaria será publicada em breve no Diário Oficial do Estado. Reforçamos que a gestão compartilhada é um instrumento de interação colaborativa da comunidade envolvida em torno da política pública de cultura desenvolvida pelo CCBJ. É um instrumento que garante a participação e promove a cidadania cultural nos processos de planejamento, atuando também no monitoramento e na avaliação da execução da política", afirma o comunicado compartilhado pela Secult.

Fortaleza, CE, BR 23.11.21  - Centro Cultural Bom Jardim (Fco Fontenele/OPOVO)
Fortaleza, CE, BR 23.11.21 - Centro Cultural Bom Jardim (Fco Fontenele/OPOVO)

Mobilização e articulação

"Ao longo desses anos, foram sendo vivenciados momentos mais tranquilos, momentos mais tensos, onde tinha mais divergências, onde tinha mais convergências. A gente vai fazer uma atualização normativa, digamos assim, do funcionamento desse espaço de gestão, mas sempre no sentido de fortalecimento desse lugar", informa a secretária da Cultura, Luisa Cela ao explicar sobre a minuta de gestão compartilhada.

Luisa acompanhou os processos do CCBJ de maneira mais próxima desde 2016, quando iniciou no cargo de gestora da instituição. "Representa um espaço de descompressão de um território que, por vezes, é muito pressionado por desafios urbanos, de moradia, de iluminação, de violência. Por outro lado, tem muita potência, muita produção de vida e cultura. O centro reverbera isso desde que foi construído", pontua. Ela afirma que assumiu a administração em um período de problemas estruturais. Segundo O POVO em 2014, era nítida a falta de reparos na instituição e a falta de continuidade nas atividades formativas. Outros registros, alguns datam de 2015, confirmam falta de ajuda de custos e investimento.

O cenário pareceu próximo da mudança em julho de 2015, quando a primeira reforma foi anunciada pela Secult após pedido de intervenção urgente oriundo de vistoria do Departamento de Arquitetura e Engenharia (DAE) do Estado. Além dos reparos estruturais, o espaço também iria passar por "obras de manutenção hidráulica e elétrica", assim como nova pintura. As modificações foram realizadas com um orçamento de R$ 664 mil. "A gente promove uma boa reforma e uma atualização completa da estrutura do teatro, de som, de equipamento, da iluminação e parte cênica", relembra a secretária.

A reinauguração, então, acontece em agosto de 2016, com uma "boa condição de infraestrutura dentro das limitações que o tamanho do Bom Jardim impõe". A adversidade, portanto, se tornou outra. Era necessário desenvolver fortificar a identidade. "Nós iniciamos um trabalho que hoje ganhou muita força, de entender que o centro cultural precisaria ter um braço de cidadania e a presença de profissionais, como educadores e assistentes sociais, para acolher, principalmente, as crianças. Isso, hoje, é o norte. Um núcleo de articulação que tem um corpo grande de pessoas, uma força expressiva".

Desde então, a secretária acredita que o período foi importante para consolidar conquistas. "Hoje, o grande desafio do centro cultural é o espaço físico de fato. A gente brinca, mas falando sério, que já não cabe mais dentro dele. Cresceu tanto que precisa de uma estratégia de ampliação que nós temos estudado. Hoje nós temos um funcionamento permanente de janeiro a dezembro, sem interrupções e sem momentos de maior fragilização. Temos uma capacidade de atendimento cada vez mais ampliada, de inserção no território, de discussão, de pautas relevantes", confirma.

Fortaleza, CE, BR 23.11.21  - Centro Cultural Bom Jardim (Fco Fontenele/OPOVO)
Fortaleza, CE, BR 23.11.21 - Centro Cultural Bom Jardim (Fco Fontenele/OPOVO)

PILARES

1. Gerência de Formação Artística

1.1 Escola de Cultura e Artes

1.2 Programas:

> Dança

> Teatro

> Música

> Audiovisual

> Cultura digital

1.3 Eixos formativos:

> Curso de Formação Básica

> Cursos técnicos

> Ateliês de Produção

> Laboratórios de Pesquisa

2. Coordenação de Articulação Técnica Especializada (NArTE)

2.1 Eixos de atuação:

> Educação social

> Assistência social

> Cultura e infância

> Psicologia comunitária

> Articulação comunitária

> Assistência social

> Psicologia comunitária

3. Gerência de Ação Cultural

3.1 Programas permanentes:

> Solicitação de pauta

> Chamada pública

> Comunidade na pauta

> Rua de possibilidades

> Circula CCBJ

> Bússola cultural

> Artista em pauta

> Visita mediada

> É o Brinca

> Masterclass

> Estúdio em pauta

> Projetos especiais (programas, mostras, bienais e festivais)

CCBJ em números

944 atividades foram realizadas nos eixos de ação;
17.042 pessoas foram alcançadas com as atividades

*dados referentes ao período entre janeiro e novembro de 2023

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