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Profissionais da cultura compartilham expectativas para a próxima gestão municipal
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Profissionais da cultura compartilham expectativas para a próxima gestão municipal

Profissionais do setor cultural elencam prioridades da próxima gestão municipal; requalificação de equipamentos e expansão de recursos estão na lista
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Da esquerda para a direita: escritor Alan Mendonça, cantora Luiza Nobel e cantor Edinho Vilas Boas (Foto: Arquivo pessoal | Cami Almeida/Divulgação | Luiz Alves/Divulgação)
Foto: Arquivo pessoal | Cami Almeida/Divulgação | Luiz Alves/Divulgação Da esquerda para a direita: escritor Alan Mendonça, cantora Luiza Nobel e cantor Edinho Vilas Boas

A duas semanas das eleições municipais, os cidadãos de Fortaleza se veem na espera do resultado que pode trazer mudanças significativas para a capital cearense. Seja na manutenção da gestão atual ou na renovação do governo municipal, artistas das mais diversas áreas e profissionais atuantes na cultura da Capital aguardam melhorias para o setor nos próximos quatro anos.

Entre os pontos levantados, são destaques a funcionalidade de equipamentos como ação que irá favorecer a ocupação do público e o desenvolvimento de programações junto aos artistas.

"Fortaleza é uma cidade com muitos palcos possíveis. Alguns, pelo desuso, estão se desfazendo", reflete o escritor Alan Mendonça.

"Todavia, na grande maioria, são palcos vazios, sem ocupação, sem programação, consequentemente sem exercerem a sua função de origem, de serem pontos de diálogo entre a Cidade e as várias vertentes da cultura, o que causa a não apropriação pela população das linguagens artísticas fortalezenses. Abre um vácuo perigoso contra a identidade popular, facilitando a construção de identidades fabricadas".

Dos equipamentos culturais ainda em desuso ou que possuem poucas atividades que possam manter a presença constante do público, é possível citar o Teatro Antonieta Noronha e Teatro São José, ambos no Centro, e o Centro Cultural Belchior (CCB), localizado na Praia de Iracema.

Sobre a apropriação dos espaços culturais, Edinho Vilas Boas reflete a necessidade de ampliar a introdução dos artistas a esses equipamentos.

"Equipar esses locais públicos, com som, iluminação e infraestrutura de qualidade, além de promover temporadas de apresentações para que os projetos artísticos possam circular, amadurecendo seus trabalhos e abrangendo públicos diferentes", lista o músico ao ser questionado sobre as ações que gostaria que fossem realizadas para a arte em Fortaleza.

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Nome conhecido na geração atual de músicos, Luiza Nobel analisa que o acesso da população aos eventos e atividades culturais deve ser o tópico principal a ser debatido na futura gestão municipal.

"A minha expectativa é que a gestão relembre que a população precisa acessar o que a gente pensa, pesquisa e produz, só assim que toda Fortaleza poderá, de fato, curtir o que é a Cidade. Então, é pensar nessa logística de como trazer os públicos para os equipamentos, além de definir como levar esses artistas para os locais mais afastados da região central", lista a cantora, compositora e empreendedora cultural.

A artista também acrescenta a estruturação de planos para ocupações, tanto de artistas como de público, nas instituições culturais.

"A gente já tem equipamentos que funcionam muito bem, a questão é ter esse investimento nas programações culturais de maneira mais intensa, pois isso também é investir na economia local", detalha.

Luiza pondera que o trabalho de um artista movimenta toda uma cadeia de produção, como produtores, maquiadores, figurinistas, designers e outros profissionais. "Os artistas voltam com esse dinheiro para a própria Cidade. Esse nosso mercado movimenta o turismo e a economia", diz.

Distribuição de editais e outras formas de contribuição financeira aos profissionais da arte também são listados como essenciais para melhores oportunidades para o setor.

"Os editais são um avanço no universo das políticas culturais, mas não podem ser a única forma de realizar projetos, porque são apenas um mecanismo de distribuição de recursos à sociedade civil para os seus fazeres culturais e não exime a gestão do seu próprio pensamento em políticas públicas de cultura, planejamentos e ações baseadas em conhecimento e boas intenções em desenvolvimento cultural", afirma Alan Mendonça.

Autor, compositor e dramaturgo, Alan conclui: "Não precisamos de grandes eventos com gastos faraônicos de verbas públicas e sem nenhuma contribuição a uma política pública formativa de cultura, dever de uma gestão municipal, mas sim de pequenas ações cotidianas, descentralizadas e constantes, para o real desenvolvimento cultural na cidade de Fortaleza".

Nos espaços que se cumprem como ambientes de acesso e produção cultural, a Vila das Artes, com sede localizada no Centro, se destaca de forma positiva devido aos programas estabelecidos com atividades de formação nas áreas do audiovisual, teatro, dança e circo.

Também educador e produtor cultural, Alan cita, para além da melhor utilização dos locais já construídos para essas atividades, programações em praças e escolas — o que permitirá um maior contato com o público. Ele anseia que a futura gestão tenha "um olhar reflexivo sobre essas questões".

"Acredito na possibilidade da abertura de espaços para a pluralidade de talentos locais, além da criação de mais programas culturais, porém, dando reais condições para que esses profissionais possam acessar um grande público", comenta Edinho Vilas Boas.

O cantor e compositor cearense acrescenta que as instituições de ensino devem ser contempladas com ações culturais. "Deve haver uma maior valorização de programas artísticos em escolas, para preparar os apreciadores de arte e mostrar a esses alunos as suas verdadeiras raízes culturais".

Cantor e compositor pernambucano radicado no Ceará Berg Menezes
Cantor e compositor pernambucano radicado no Ceará Berg Menezes

O que quer o setor cultural? Berg Menezes responde

“Uma expectativa que eu tenho, acho que a maior de todas, é que, independente do prefeito que será eleito, se mantenham ações regulares culturais na Cidade. É importante que a cultura seja tratada com tanta responsabilidade, cuidado e atenção quanto em outras áreas. Ou seja, se você tem um equipamento como são os Cucas, o Centro Cultural Belchior, enfim, equipamentos de cultura da prefeitura em geral, que eles se mantenham ativos o ano inteiro.”

“É preciso que a pauta de políticas públicas esteja conectada com a realidade da Cidade também. Eu acho que é importante que a nossa cidade respire a produção cultural que é feita aqui. Os artistas locais precisam ser valorizados no sentido de ter destaque nos eventos, fazer parte da programação e também ter estrutura para receber os cachês em dia, tudo igual a qualquer artista que vem de fora do Estado. Eu acho que não deve haver nenhum tipo de distinção entre fazer artístico de quem é de fora ou de dentro da cidade”.

— Berg Menezes, cantor, compositor e produtor musical

O que quer o setor cultural? Annalies Borges responde

“Enquanto artista, espero que os equipamentos culturais públicos municipais possam também ter um olhar adequado para sua manutenção, mas também que possam ser utilizados de forma efetiva, com programação constante e em parceria no processo de formação de plateia. Afinal, o lazer e a cultura fazem parte do bem-estar essencial ao cidadão”.

“Devemos ter investimento e deve-se dar espaço para que artistas locais se apresentem na cidade, com temporadas, festivais, circuitos... A prefeitura deve dialogar com atores, músicos e escritores da Cidade, valorizando aqueles que fazem parte dos circuitos periféricos, dos que fazem sua arte nos bairros de alta vulnerabilidade, por exemplo. Investir em espaços culturais desses territórios, saindo do circuito cultural já conhecido, também é importante”.

— Annalies Borges, atriz, dramaturga, pesquisadora e educadora

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