O festival Choro Jazz está nos últimos dias da edição comemorativa de 15 anos, encerrando a itinerância celebrativa em Jericoacoara, a 300 km de Fortaleza. As apresentações finais começam neste sábado, 7, com performances de nomes como Vanessa Moreno e A Cor do Som, e continuam no domingo, 8, com festa que inicia às 19h30min com Armenina do Coco de Fulô.
A última noite busca representar a cultura popular tradicional e apresentar o embalo de ritmos como o jazz, gênero comandado na data por Jota P e Grupo. O encerramento oficial do festival, previsto para iniciar às 22 horas, será por conta de Lia de Itamaracá, grande homenageada em 2024 — levando a magia de seu trabalho para "Jeri" juntamente com a banda Ciranda do Mundo.
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Prestes a completar 81 anos no próximo 12 de janeiro, Maria Madalena Correia do Nascimento, como é batizada, ficou conhecida como Lia de Itamaracá na década de 1960. O nome artístico foi dado pela cantora e amiga Teca Calazans, com quem compôs os versos que viriam a se tornar sucesso anos mais tarde: "Oh cirandeiro/ cirandeiro oh/ a pedra do teu anel brilha mais do que o sol/ Esta ciranda quem me deu foi Lia/ que mora na Ilha de Itamaracá".
O primeiro LP da pernambucana foi gravado em 1977, mas Lia não foi remunerada com este trabalho e recebeu apenas 20 cópias. Isso não abalou o sonho de trabalhar com a música: em 2002, a artista lançou seu primeiro disco, "Eu Sou Lia", que ultrapassou as fronteiras do País e chegou a ser comercializado na França.
O caminho para o lançamento do álbum veio a partir de uma trajetória trilhada quatro anos antes, quando a pernambucana levou a ciranda para o festival Abril pro Rock, realizado em Olinda e Recife, em 1998.
Antônio Ivan Capucho, idealizador do festival Choro Jazz, defende que "está na hora do Brasil reconhecer nossos valores, antepassados e passados". "Temos essa oportunidade de dar, como diria Nelson Cavaquinho (1911-1986), flores em vida. Homenagear essas pessoas, que tem um serviço prestado a cultura, em vida, é muito legal. E a Lia de Itamaracá merece todas as honrarias e homenagens", arremata.
Lia não lembra se já esteve em Jericoacoara para outras apresentações, mas, de forma bem humorada, afirma que "se não foi, está indo agora". Residindo na ilha de Itamaracá, onde nasceu e cresceu, a cirandeira define estar em um bom momento da vida, ansiando pelo aniversário de 81 anos em 2025. A artista quer repetir a festa de 2024, na qual comemorou suas oito décadas em uma ciranda aberta ao público.
"Vou me preparar, porque a de 80 anos foi o que foi. Tinha (tanta) gente que a praia não coube mais. E (para) os 81 anos eu espero do mesmo modo. Muitos fãs, muita paz, muito amor, muita criança", projeta, aproveitando o momento para também celebrar a produção que "não a deixa desamparada ou só".
Ela, inclusive, comenta sobre o afeto que recebe das pessoas que a cercam: "Cada vez mais que vem essa valorização (da arte), esse amor e carinho, essa dignidade que tenho com as crianças e o público, com meus fãs, para mim é 10. Eu quero ser feliz fazendo os outros felizes. Quero ver onde posso chegar", sustenta.
Por falar em crianças, a pernambucana tem uma forte relação com elas, já que trabalhou como merendeira em uma escola e desenvolveu "um amor e carinho" pelos pequenos. A artista relembra afetuosamente que os alunos de onde trabalhava mudavam a letra de "Esta ciranda quem me deu foi Lia" para "Essa merenda quem me deu foi Lia".
"As crianças não têm preconceitos. Dança branco, dança preto; dança velho, dança morto. Todo mundo entra na ciranda, todo mundo dá as mãos. A ciranda é uma confraternização", pontua.
Para o show de encerramento do festival Choro Jazz, as expectativas são grandes, "uma maravilha" — como ela define. "Quero encontrar um público maravilhoso e bacana. Onde eu vou, planto uma semente. Ela nasce e dá uma fruta muito boa. Onde eu vou, que planto a semente, é para voltar para colher", conclui.
Programação de shows do Choro Jazz
sábado, 7
domingo, 8
Festival Choro Jazz - Jericoacoara