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Cais Bar: o encontro de amigos segue até a atualidade
Vida & Arte

Cais Bar: o encontro de amigos segue até a atualidade

Show no Centro Cultural Belchior homenageia o Cais Bar neste sábado, 17; entre músicos e frequentadores, depoimentos de carinho sobre o estabelecimento não são poucos
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Fausto Nilo, Fagner e Petrúcio Maia no Cais Bar (Foto: Acervo Joaquim Ernesto)
Foto: Acervo Joaquim Ernesto Fausto Nilo, Fagner e Petrúcio Maia no Cais Bar

Um encontro entre amigos e músicos, ambientado pelo som das ondas do mar e na Praia de Iracema. Essa descrição facilmente identificaria um fim de semana comum no Cais Bar há mais de duas décadas. Neste sábado, 17, também envolve o empreendimento, mas como forma de homenagem.

Parte da agenda celebrativa dos oito anos do Centro Cultural Belchior (CCBel), o Cais Bar é lembrado a partir de projetos que celebram a música cearense, como o projeto Praia da Música Cearense, com apresentações de Felipe Cazaux & Groovaux e Rayane Fortes, às 17 horas. É, porém, às 19 horas que ocorre o show especial.

No palco do equipamento, músicos cearenses que vivenciaram os melhores momentos do bar e desenvolveram grande afinidade com o espaço: Carlinhos Crisóstomo, Edmar Gonçalves, Luciano Robot, Aroldo Araújo, Elismário Pereira e Jeferson Portela. A atividade também integra as celebrações dos 100 anos da Praia de Iracema.

A apresentação visa "relembrar o repertório da época, incluindo compositores cearenses", como destaca o músico Carlinhos Crisóstomo. "Pretendemos também deixar fluir de forma natural, abrindo espaço para participação de algumas pessoas, como fazíamos na época!", acrescenta.

Sua relação com o bar começou quando amigos disseram que no local as pessoas podiam tocar violão nas mesas "e se cantava música diferente das que estavam fazendo sucesso nacional". Juntamente com Luciano Robot e Edmar Gonçalves, se apresentou em várias oportunidades no Cais. Daí, surgiram grandes amizades e muitos espaços foram abertos.

"O que mais me marcou foi o fato de eu poder tocar as músicas que eu gostava para um público que apreciava o meu repertório, assim como o proprietário. Ainda por cima tinha direito a vista privilegiada da Praia de Iracema! Sempre me senti muito respeitado como pessoa e como profissional!", destaca.

Para além do oitavo aniversário do CCBel e dos 40 anos de Cais Bar, o show também é importante para celebrar os 30 anos do lançamento do disco de 10 anos do bar. "Acima de tudo, a oportunidade de tocar de novo com amigos que viveram esse tempo maravilhoso!", afirma Carlinhos Crisóstomo. (Miguel Araujo)

Quem viveu, sabe

"Fui frequentador do Cais Bar na década de 1980, inicialmente nas noites das sextas-feiras e sábados, porém, com grande assiduidade nas tardes de sábado, para onde eu costumava ir com os meus filhos assistir às apresentações do grupo de choro Esperando a Feijoada. Foi nesse período que conheci frequentadores e músicos, inclusive o Ernesto, proprietário do bar, que conservamos até hoje boa amizade e convivência.

O Cais Bar não era apenas mais um barzinho na Cidade. Era um espaço cultural acolhedor, no qual era possível assistir apresentações de talentosos músicos locais, a exemplo das segundas-feiras com o projeto "Alternativas MusiCais", quando era possível ver as apresentações de artistas como Edmar Gonçalves, Luciano Robot, com os quais mantenho ótimo relacionamento até hoje, e tantos outros"

Dirceu Holanda, 64 anos, profissional de marketing

"O Cais Bar foi um dos bares mais históricos e fundamentais na história da música cearense. Oportunizou tantos talentos e por uma época inesquecível para quem vivenciou. Eu, Masôr Costa, sou uma delas. Comecei a mostrar meus dons musicais nesse espaço incrível. Sou socióloga, intérprete e compositora. Ele foi o pontapé da minha carreira. Me sinto lisonjeada em ter feito parte desse local, que ainda congrega o que foi a Praia de Iracema. O Cais Bar foi emblemático. Lembranças inesquecíveis. A música 'Terral' foi muito marcante na minha vida. Ela retrata o mapeamento de nossa Cidade. O melhor Bar que Fortaleza já teve, era simplesmente sensacional. Quem frequentava sabe e sente o mesmo. Salve, salve Joaquim Ernesto e o velho e inesquecível Cais Bar!"

Masôr Costa, 58 anos, cantora

"Quem viveu na época do Cais Bar jamais esquecerá dos momentos de muita alegria, boas risadas, encontro com amigos e artistas cearenses que sempre foram muito valorizados. Lá nasceram inúmeras poesias e músicas. A feijoada aos sábados com o Clube do Chorinho sempre foi minha melhor opção. Nos deliciávamos com apresentações de artistas cearenses, sempre com boa música. Jamais esquecerei desses momentos vividos. Levo fortes lembranças desse local. Só tenho a agradecer. Viva o Cais Bar!"

Virgínia Arruda, 73 anos, empresária e frequentadora

 

Festivais do Cais Bar

Quando o Cais Bar fechou as portas na Praia de Iracema, passou por migrações. Esteve na avenida Washington Soares, em Fortaleza, e no município de Pedra Branca. Em 2021, aportou em novo destino: a Praia da Redonda, em Icapuí. A inauguração foi marcada logo pelo I Festival de Música do Cais Bar da Redonda.

Foram 128 canções inscritas para o festival, aberto a autores de todo o País. Com a música "Atrás do Tempo", de David Duarte e Dalwton Moura, a cantora Cyda Olímpio conquistou o primeiro lugar no festival. Para a multiartista de mais de 35 anos de carreira, o sabor da vitória foi ainda mais especial pelas memórias atreladas ao Cais Bar.

Como recorda, era um "local único" onde se encontrava com amigos, escrevia canções e também um espaço "pulsante, que permitia troca intergeracional de experiências". Quanto à música vencedora, pontua um contexto marcado pela recente saída da pandemia. A frase "Depois do dia, depois de tudo / Quando o mundo mudou" foi marcante.

"Parecia que falava de uma certa permissão para estarmos todos juntos de novo, rindo, fazendo música e celebrando a vida. Foi muito significativo estar lá nesse recomeço do Cais Bar na praia, no primeiro festival. Ficamos em primeiro lugar, mas o mais importante foi fazer parte dessa história e poder escrever, no álbum do tempo, que como artistas e com o Cais Bar sempre seguiremos juntos e vamos permanecer na história da música cearense e brasileira", destaca.

O festival seguiu por mais uma edição, em 2022, e também havia sido promovido um em Pedra Branca. Proprietário do Cais Bar, Joaquim Ernesto relatou ao O POVO que pretende voltar a realizar o evento na Praia da Redonda, mas busca editais para custear os gastos envolvidos. "A ideia é sempre abrir mais espaço para os músicos".

 

CD Cais Bar

Nas quase duas décadas em que o Cais Bar funcionou como reduto para músicos, poetas, boêmios e intelectuais, o empreendimento também se preocupou em estender seus tentáculos de atuação. Um dos casos mais evidentes foi a montagem de estúdio de gravação para produção de CDs de artistas locais.

Nessa experiência de gravação de discos também se destacaram álbuns coletivos que levam o nome do Cais Bar. Em 1994, por exemplo, surgiu o "Pessoal do Cais Bar: Novos Compositores e Intérpretes do Ceará", com nomes como Isaac Cândido, Humberto Pinho e Aparecida Silvino.

Um dos participantes do álbum foi Paulo Façanha, intérprete da faixa "Jericoacoara", de Jonas Marinho Filho. "Tenho ótimas lembranças do Cais Bar, muito pelos encontros dos músicos, que apareciam para dar uma 'canja'. Foi um dos primeiros bares em que comecei a tocar e ele tem importância muito grande para mim", elabora.

Ele detalha sua colaboração no CD do Cais Bar: "Foi meu primeiro registro de música em disco e é o único registro que tenho em vinil. Foi muito importante na minha carreira, porque foi a primeira vez em que entrei em um estúdio para gravar".

 

Tributo ao Cais Bar

  • Quando: sábado, 17, às 19 horas
  • Onde: Centro Cultural Belchior (Rua dos Pacajús, 123 - Praia de Iracema)
  • Gratuito

 

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