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Como atrair leitores? Editoras buscam novas estratégias para expandir mercado
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Como atrair leitores? Editoras buscam novas estratégias para expandir mercado

Na hora de vender livros vale tudo: de relançar clássicos da literatura a apostar em escritores não convencionais. Editores contam as estratégias da busca por leitores
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Foto: credt legend

A escritora Thalita Rebouças não exagera quando diz que a Bienal Internacional do Livro virou "um parque de diversões literário". Na edição deste ano, que aconteceu entre 13 e 22 de junho, cada cabine apresentou um universo diferente: Turma da Mônica, Lilo & Stitch, As Crônicas de Nárnia...

"Essas atrações ajudam a conectar as pessoas aos livros porque transformam a literatura em experiência. Não basta vender livros, queremos criar memórias", explica Tatiana Zaccaro, diretora da GL Events Exhibitions, uma das realizadoras da Bienal Internacional do Livro.

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De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, 53% dos brasileiros não leram nenhum livro nos três meses anteriores ao levantamento realizado em 2024. Esse foi o menor número registrado desde a primeira edição da pesquisa em 2007. Também foi a primeira vez que o número de não leitores ultrapassou o de leitores.

A pesquisa identificou ainda que, nos últimos quatro anos, o Brasil perdeu quase 7 milhões de leitores. Diante desse cenário, editoras precisam buscar meios para alcançar esse público, que cada vez mais perde o interesse pela leitura.

Segundo levantamento do Ministério da Cultura (MinC), o Brasil tem hoje cerca de 320 eventos literários, entre feiras, bienais e saraus. Desses, um dos mais concorridos é a Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. Outra estratégia bem-sucedida é apostar em edições de bolso.

Quem garante é Ivan Pinheiro Machado, um dos fundadores da L&PM. "Foram mais de 30 milhões de exemplares vendidos, custando menos da metade de um livro convencional e com a mesma qualidade editorial", explica Pinheiro Machado, o PM da sigla L&PM - o L é de Paulo Lima, o outro sócio. Atualmente, a coleção L&PM POCKET tem 1.500 títulos disponíveis: de William Shakespeare a Monteiro Lobato, de Fernando Pessoa a Millôr Fernandes, de Charles Bukowski a Martha Medeiros.

Releituras de clássicos atraem leitores

Na hora de conquistar novos leitores ou fidelizar os antigos (ou assíduos, como prefere Bruno Zolotar, diretor comercial e de marketing da Rocco), nada melhor do que relançar um clássico. Um bom exemplo disso é "A Hora da Estrela" (1977), de Clarice Lispector.

"O livro sempre vendeu bem, mas, com a edição de 2020, ganhou maior distribuição, foi lido pela geração Z, mereceu resenhas nas redes sociais e voltou a ser comentado por gente como a atriz Cate Blanchett e a cantora Olivia Rodrigo", orgulha-se Zolotar.

E não basta conquistar leitores. É preciso engajá-los em comunidades. É o que faz o Harlequin, um dos selos do grupo HarperCollins Brasil. Referência na publicação de livros de romance, criou o Festival de Literatura Romântica do Brasil (Flir) para leitores do gênero.

"É um evento temático, anual e interativo que cultiva esse senso de pertencimento. Quando um leitor encontra outras pessoas que compartilham do mesmo gosto literário, ele se sente parte de algo maior. É uma estratégia que ajuda a disseminar o hábito da leitura", afirma Monnerat. Dividir uma editora em subeditoras, aliás, virou quase uma regra. Na Planeta, são treze selos.

Desses, Ana Carolina Fontoura, diretora de marketing e comunicação, destaca dois: o Tatu-Bola, que apresenta volumes infantis, e o Crítica, que reúne títulos históricos. Enquanto o primeiro se propõe a conquistar novos leitores, ou seja, crianças a partir de um ano de idade, o segundo ambiciona fidelizar os antigos, isto é, quem não se importa de pagar mais por um livro de qualidade. "É preciso identificar o que o público de cada selo está buscando e entregar", explica Fontoura. "Não há segredo. O que há é um catálogo amplo e variado para atender a todos os tipos de leitores"

Personalidades ganham espaço na literatura

Para turbinar suas vendas, muitos editores apostam em escritores não convencionais. São religiosos, médicos, atores, youtubers, influenciadores digitais... Mas, será que isso funciona? Talvez sim, arrisca Cassiano Elek Machado, diretor editorial do Grupo Record, desde que a pessoa tenha algo a dizer.

"Livros feitos por personalidades que tenham muitos fãs ou seguidores em diferentes canais ou redes sociais podem atrair leitores não tradicionais. Mas, só a popularidade não garante vendas. Tem de estar envolvido no projeto, e não apenas emprestar o nome e a fama", destaca Machado.

Um bom editor tem que pensar em tudo: título instigante, capa bonita, preço competitivo... Pensa que acabou? Ainda não! "Temos que ir aonde nossos potenciais leitores estão: nas redes sociais", explica Mariana Kaplan, diretora de marketing da Sextante.

"Temos feito parceria com influenciadores cujos perfis não são dedicados a livros. Eles conseguem apresentar de forma nativa o conteúdo de nossos livros e despertar o interesse em seus seguidores". Dentro do ponto de venda físico, a primeira coisa a fazer é garantir uma boa exposição do livro.

É por essas e outras que Rui Campos, sócio da Livraria da Travessa, gosta de dizer que aposta em três A's: arquitetura (ambiente agradável e funcional), acervo (obras do mundo inteiro) e atendimento (livreiros interessantes e interessados). "Uma livraria nunca é igual à outra", observa Campos.

Segundo levantamento da Associação Nacional de Livrarias (ANL), o Brasil tem hoje 2.972 espaços físicos dedicados à venda de livros. Só a Travessa tem 14 lojas físicas - 13 delas no Brasil e uma em Portugal. Além do livro de papel, o leitor pode levar para casa o digital e o audiolivro. Houve um tempo que o digital foi visto como inimigo do impresso. Hoje, há leitores que compram um mesmo título no formato digital, para ler no metrô, e no físico, para guardar em casa.

Forma de novos leitores

"Enquanto o e-book atrai leitores já familiarizados com a leitura, o audiobook é uma oportunidade de atrair novos leitores. O Brasil é, historicamente, um grande consumidor de áudio - primeiro do rádio e agora dos podcasts", pondera Mariana Kaplan, da Sextante. Independentemente do formato, o importante é consumir conteúdo. Mas, o que pensam eles, os escritores? "Leitor não é cliente. Não do autor, ao menos. Talvez seja da editora ou da livraria, e aí se pode falar em conquistar leitores pela qualidade do papel ou do desconto da loja", ressalva Samir Machado de Machado, autor do livro O Crime do Bom Nazista (2023).

O ato de escrever pode até ser solitário, mas a tarefa de fazer do Brasil um país de leitores é coletiva. É um esforço conjunto que abrange, entre outros, professores, bibliotecários e governantes. "Um livro pode ser transformador na vida de um leitor porque traz reflexão, aprendizado e entretenimento", afirma Guilherme Samora, da Globo Livros. (André Bernardo/ DW)

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