Logo O POVO+
Avenida da Universidade, 2475: endereço atravessa o tempo com empreendimentos de cultura
Vida & Arte

Avenida da Universidade, 2475: endereço atravessa o tempo com empreendimentos de cultura

Imóvel localizado no bairro Benfica é parte viva da história da cultura de Fortaleza
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Endereço no Benfica abrigou restaurante, livraria e, agora, é sede da Mercúrio
 (Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Endereço no Benfica abrigou restaurante, livraria e, agora, é sede da Mercúrio

Assim como a vida humana, a história de um território tem ancestralidade. Cada chão, paredes e estruturas arquitetônicas carregam em si marcas das suas antigas ocupações, das músicas que ali foram tocadas, da comida que ali foi feita, das amizades que ali começaram. Desse modo, podemos pensar na casa localizada na Avenida da Universidade, número 2475.

INSTAGRAM | Confira noticias, críticas e outros conteúdos no @vidaearteopovo

Atualmente, o espaço pertence à produtora Mercúrio e recebe shows, oficinas de arte e exposições. Mas, antes dessa narrativa, o mesmo local funcionou como uma importante livraria da Cidade, a Lamarca. Olhando ainda mais para trás, o ponto era endereço de um restaurante e espaço cultural, que reunia universitários e famílias em torno de artistas cearenses. Se a viagem no tempo continuar, encontraremos ainda uma funerária e por aí vai.

Há mais de 20 anos, Jefferson Souza da Silva comprou o espaço e até hoje administra a propriedade ao lado do irmão, Franzé Souza da Silva. Em 2010, eles abriram o restaurante Dona Chica, em homenagem à mãe. O estabelecimento foi inaugurado após uma reforma, que aconteceu com tijolos ecológicos e madeira de carnaúba reaproveitada.

Avenida da Universidade, 2475

"Nossa proposta sempre foi ser um ponto cultural, aliado à gastronomia. Meu irmão gosta muito de música e nós temos contato com artistas do samba, do forró pé de serra e da música nordestina", relata Jefferson - que menciona a programação do antigo estabelecimento com MPB nas quintas-feiras, samba nas sextas-feiras e apresentações do cantor Estrela do Norte aos sábados.

O restaurante Dona Chica funcionava em horários de almoço e pela noite, com música. O cardápio era variado, incluindo peixes, massas, carnes, petiscos e até pizzas. "O público era diverso, mas fortemente ligado à universidade. Cerca de 80% dos clientes do almoço vinham de cursos como Medicina e Psicologia. À noite, recebíamos pessoas interessadas em samba, forró e cultura local", explica.

Até 2015, o espaço se manteve ativo, mas problemas relacionados ao estacionamento, greves nas universidades e oscilação na receita acabaram por encerrar a atividade do restaurante. Isso não significou, no entanto, que aquele deixaria de ser um ponto de cultura no bairro.

"Recebemos muitas propostas de aluguel, desde igrejas até depósitos de papel, mas recusamos, porque queríamos manter o caráter cultural. Quando surgiu a proposta da Livraria Lamarca, aceitamos imediatamente, já que compartilhavam do mesmo propósito", compartilha Jefferson.

A Lamarca funcionou de 2016 a 2023 naquele espaço e teve seu início justamente numa época de crise do setor. Aquela estrutura passou a ser conhecida por suas prateleiras formadas por livros de cunho político-social e era frequentada principalmente por jovens universitários e escritores da Cidade.

A história da Livraria Lamarca

"A Lamarca era o lugar do encontro, lugar de parar um pouquinho o tempo para relaxar. Era um lugar de inspiração, de fazer planos. Lugar de identidade. As pessoas sempre diziam, desde o dia que chegamos até o dia que saímos, que guardavam memórias e afeto daquele lugar desde que ele era Dona Chica", assim definiu Tamy Barbosa, gestora da livraria.

No entanto, diante da Covid-19, crises econômica e política, o espaço precisou fechar as portas: "Vivemos tempos assombrosos políticos com o golpe de 2016 e a pandemia. As pessoas sempre falavam que a Lamarca era o primeiro ou único lugar onde elas buscavam estar. Lá, elas criaram novas memórias, sendo a maioria delas coletivas, mas sempre com o mesmo sentimento da certeza da acolhida, da segurança naquele lugar, da comida boa".

O imóvel passou, então, por um novo hiato antes de ser erguida a atual Casa Mercúrio. Jefferson narra: "Perguntamos logo qual seria o uso do espaço e, ao sabermos que também seria voltado para a cultura, apoiamos a ideia. Nosso desejo sempre foi preservar a identidade cultural daquele lugar".

Quem administra a nova e atual fase da Avendia da Universidade, 2475, é Nádia Sousa, que chegou ao local para estabelecer sua produtora de música independente na cena experimental de Fortaleza.

"Na Casa Mercúrio, realizamos principalmente ações formativas: são mais de mil horas-aula por ano em cursos e oficinas nas áreas de artes e culturas. Algumas acontecem em parceria com instituições locais e de outros estados, mas a maioria é organizada por nós. Além disso, recebemos outras iniciativas, como lançamentos de livros e shows autorais, que acontecem dentro da nossa agenda mensal", diz Nádia.

Outro projeto desenvolvido pela produtora é o "Festival Barulhinho Delas", que tem o objetivo de fortalecer a presença de mulheres na cena musical, historicamente dominada por homens: "O festival nasceu da constatação de que os line-ups de festivais são majoritariamente masculinos, tanto no palco quanto nos bastidores".

"Nossos frequentadores valorizam a curadoria, se sentem acolhidos no espaço e descrevem a experiência como algo próximo a assistir a um espetáculo de teatro, um momento de contemplação, não como um lazer de bar. O público é formado também por artistas de diversas áreas, como literatura, artes visuais, dança e música", define a gestora, entusiasmada com as atividades desenvolvidas dentro da Casa Mercúrio.

Casa Mercúrio

  • Onde: Avenida da Universidade, 2475 - Benfica
  • Mais informações: @mercurioproducao

 

O que você achou desse conteúdo?