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Fotografia em trânsito: conheça o trabalho do fotógrafo Ícaro Reis
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Fotografia em trânsito: conheça o trabalho do fotógrafo Ícaro Reis

Ressignificando a presença dos corpos nos espaços, Ícaro Reis explora a efemeridade e a experimentação em suas narrativas visuais
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   (Foto: Ícaro Reis)
Foto: Ícaro Reis

Ao ser expulso de casa, aos 18 anos, Ícaro Reis viu na câmera do celular um artefato para passar o tempo e acalmar as inquietações da mente. Começou indo à casa de amigos próximos, fotografando o cotidiano e a intimidade que se constrói nos atos da rotina.

"Não tinha câmera, usava o celular para fotografar. Também nunca pensei em fazer um trabalho artístico, acabou se tornando. A cada ensaio, comecei a pensar no que poderia fazer de diferente", explica.

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De 2016 para cá, o fotógrafo foi construindo imagens características, que o tornaram referência para aqueles que se aventuram no campo da fotografia experimental. Aos 27 anos, Ícaro diz gostar de ver, corpos explorando espaços, interagindo e, consequentemente, se tornando parte de algo que falta.

Sobre o processo para uma criação fotográfica poética e fora da lógica comercial, Reis explica: "Nasce de um desejo de produzir. Chamo amigos para participar, escolho um local para as fotos. Solto algumas pistas na hora. A história aparece depois, na edição e montagem", revela.

Referências artísticas

Diretamente inspirado pelos retratos em preto e branco da norte-americana Francesca Woodman, o rol de referências, contudo, é extenso e diverso.

Passa pelo olhar silencioso e urbanístico de Vivian Maier, visita o erotismo do fotógrafo chinês Ren Hang e ganha diferentes camadas com a performance e a espiritualidade afro-brasileira de Castiel Vitorino Brasileiro.

O resultado desse sincretismo artístico são registros que transitam entre o presente, o passado e a finitude dos momentos humanos. Para isso, Ícaro ressalta a fotografia analógica como ferramenta de nostalgia.

"Me atrai a efemeridade da foto analógica, o ruído, os grãos. Uma nostalgia de outro tempo, diferenciada pela duração das coisas. Na fotografia digital, você aperta o botão mil vezes para depois pensar na foto, enquanto na analógica, é o contrário", argumenta.

Formações

Para o artista, suas percepções sobre a produção imagética ganharam outras dimensões quando começou a participar do Grupo de Análise e Estudos da Imagem Contemporânea da Universidade Federal do Ceará (GAEIC-UFC). Coordenado pelo professor Fernando Maia, o grupo se dedica a discutir estética, produção visual contemporânea e categorias teóricas ligadas ao pensar fotográfico.

Da reflexão, para Ícaro, nasce também uma inquietude que, além de já ser característica de sua personalidade, o levou a explorar formatos em vídeo. Atualmente, como participante da 7ª turma do Curso de Realização em Audiovisual da Vila das Artes, ele desenvolve o documentário "Forró da alma".

"O documentário mostra o cotidiano de pessoas da terceira idade que se encontram no Clube Santa Cruz, aos domingos, para dançar forró de gafieira. Vida e morte, sagrado e profano dançam juntos", adianta Ícaro sobre o produto que será resultado dos dois anos de formação.

Além de aluno, ao longo dos anos, ele frequenta o mesmo equipamento como formador, ministrando oficinas que desafiam os processos criativos em fotografia, como "Entre o instante e a intuição", realizada em julho deste ano.

Também em 2025, o fotógrafo participou da exposição "Paisagens do invisível, poéticas de si", no Museu da Fotografia Fortaleza. Com a obra "Lembre-se de colher as sementes ao sol do meio-dia", Ícaro pôde explorar as memórias operárias da Fábrica São José, localizada no Centro.

Englobando questões políticas e sociais em suas imagens, ao ser questionado sobre o que os novos nomes da fotografia cearense aportam à cena contemporânea, Ícaro diz:

"Acho que estamos menos preocupados em nos encaixar em padrões já estabelecidos e buscamos novas formas de nos expressar", finaliza.

 

Ícaro Reis

Artista visual e fotógrafo de Fortaleza, pesquisa preservação da memória e a relação entre corpo e espaço na performance.

Retratos da Fotografia no Ceará

Esta matéria integra série sobre novos olhares na fotografia cearense, iniciada na segunda-feira, 6. Acompanhe a continuação na edição de quarta-feira, 8.

 

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