Após oito anos de inatividade, o Bar Avião é reaberto ao público, na Parangaba. Construído em 1932, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, o prédio permanece na memória do fortalezense. O estabelecimento surgiu como um bar, depois se tornou uma borracharia e, atualmente, está arrendado para a galeteria e churrascaria "Amigão do Bairro".
INSTAGRAM | Confira noticias, críticas e outros conteúdos no @vidaearteopovo
O "novo avião" abre as portas de segunda-feira a domingo, sempre das 8h às 15 horas, com serviço de alimentação. Contrariando o esperado da designação "bar", a partir de agora, não existe comercialização de bebida alcoólica no local.
Leia também | A cidade que nasceu na Parangaba, mas esquece de voltar
Fundada há 93 anos, a casa redonda, que possui um avião em seu telhado, guarda histórias de fortalezenses, militares norte-americanos e turistas. Criado por Antônio de Paula Lemos, o estabelecimento localizado ganhou esse nome porque, quando foi erguido, ficava nas proximidades do acesso ao antigo campo de pouso do Pici e à Base Aérea.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o campus do Pici - que hoje abriga a Universidade Federal do Ceará (UFC) - foi usado como base aérea militar pelos Estados Unidos e como um aeroporto geral, como explica o filho de Antônio, José Odacy Natalense Lemos.
"O bar ficava bem no caminho do Pici até o Cocorote", explica, se referindo à Base Cocorote - que viria a se tornar o Aeroporto Pinto Martins. O local sempre foi de tráfego aéreo, então o fundador, já falecido, estipulou a designação "Bar Avião", somado ao seu sonho não concretizado
de ser aviador.
E engana-se quem pensa que o avião foi erguido na mesma época que o bar. Em uma entrevista ao O POVO, em 1986, Antônio de Paula, proprietário, conta que esperava uma encomenda de Baturité e, quando percebeu que não chegaria, foi ao Interior entender o que havia acontecido.
O rapaz que havia sido enviado à Fortaleza não era letrado e, ao não foi capaz de reconhecer o letreiro do bar, voltou para casa. Então, o proprietário afirmou que, a partir do episódio, o estabelecimento sempre seria reconhecido.
A primeira construção do avião foi feita por ele mesmo, "mas ficou muito feio e ele destruiu para ser refeito", conta Odacyr. O avião, para além de ser marca registrada do bar, também funcionava como uma caixa d'água. Atualmente, o andar em que fica a peça não está sendo utilizado, mas permanece chamando a atenção de quem passa pelas redondezas.
José Odacy Natalense Lemos, 87 anos, é o filho que ficou responsável pela gerência do Bar Avião depois que seu pai faleceu, em 1958. "Mas rapaz, você está fazendo uma reportagem?", questiona, rindo, após contar que foi criado naquele ambiente rodeado por fábricas, pelo trem, militares indo e vindo e "aquele movimento" era a casa e o sustento da família.
"Lembro dos cafés da manhã que a gente servia para os operários, do avião novinho", pontua. José relata que, ao fim da guerra, "tudo mudou", o público que antes era militar se tornou boêmio, e o bar foi marcando cada vez mais pessoas. "As pessoas vinham para beber cachaça, escutar música e ver os aviões passarem", explica - lembrando que o Bar Avião era um ponto turístico daqueles que vinham do Interior e de outros estados do Brasil.
"O Bar Avião para mim é tudo, é a lembrança do meu pai, da minha infância", justifica. "Fico muito feliz de ver as pessoas ainda se interessando por ele e pela história, acredito que meu pai estaria feliz".
Odacyr hoje observa o Bar Avião voltar à vida após oito anos inativo, sentado na varanda da sua casa, acompanhado de familiares. Após ele sofrer um AVC e perder os movimentos do lado direito, o estabelecimento teve as atividades encerradas. Chegou a ser alugado algumas vezes, mas não por muito tempo.
Atualmente, o responsável por administrar o prédio é seu filho, Paulo Lemos, que assume ter um apreço sentimental "imensurável" por remeter à sua infância. Ele conta que quer ver o bar "dando certo, funcionando e mantendo viva a história, tendo em vista a importância cultural que ele representa".
"E trazer à memória das pessoas que por lá passaram, permitindo que as novas gerações tenham conhecimento de sua história", diz. Odacyr completa falando que, por não poder mais cuidar do Bar Avião, fica feliz de ver outra pessoa ocupando o local para mantê-lo ativo: "É necessário dar a vez a outras pessoas".
O prédio foi tombado em 2006 pela Secretaria de Cultura de Fortaleza (Secultfor). José Odacyr conta que foi um processo longo: "Ficou um bom tempo em um vai e volta para finalmente tombar o prédio e havia nos prometido uma restauração, mas não foi o suficiente para conseguirmos manter como já foi um dia".
O desejo de Paulo Lemos é ter a história do local preservada - tanto por ser algo que reflete a narrativa familiar quanto por "pertencer à Fortaleza".
Amigão do Bairro