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Fundador do Clube da Esquina, Lô Borges morre aos 73 anos; veja repercussão
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Fundador do Clube da Esquina, Lô Borges morre aos 73 anos; veja repercussão

Um dos mais importantes agentes da música brasileira, o cantor e compositor mineiro Lô Borges, faleceu no domingo, 2, aos 73 anos
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Lô Borges foi um dos fundadores do Clube da Esquina (Foto: Cláudio Lima, em 18/06/1997)
Foto: Cláudio Lima, em 18/06/1997 Lô Borges foi um dos fundadores do Clube da Esquina

Na noite do domingo, 2, o Brasil se despediu com angústia do mineiro Lô Borges, um dos mais importantes cantores e compositores da música popular brasileira. O artista sofreu uma intoxicação por medicamentos e estava internado há mais de duas semanas na Unidade Terapia Intensiva (UTI), em Belo Horizonte.

Lô foi um dos fundadores do grupo Clube da Esquina e é responsável por sucessos atemporais, como "O trem azul", "Paisagem da Janela" e "Um girassol da cor do seu cabelo" — este último que eternizou os versos: "Se eu morrer não chore, não / É só a lua".

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"Foram décadas e mais décadas de uma amizade e cumplicidade lindas, que resultaram em um dos álbuns mais reconhecidos da música no mundo: o 'Clube da Esquina'. Lô nos deixará um vazio e uma saudade enormes, e o Brasil perde um de seus artistas mais geniais, inventivos e únicos", assim publicou a equipe de Milton Nascimento, que declarou o falecido como uma das pessoas mais importantes da vida e obra do Bituca.

Em entrevista ao Vida&Arte, o rockeiro cearense Caike Falcão afirma: "O Lô, assim como toda turma do Clube, vem de um tempo em que a música era mais que um som. Era um manifesto, um acontecimento. Na época da ditadura, no lançamento do 'Clube', eles conseguiam driblar a censura, mesmo denunciando as barbaridades".

Ele continua: "Conseguiam transformar dor e revolta em poesia de muitas camadas, como em 'Tudo que você queria ser', mas, ao mesmo tempo, falavam de amor de uma maneira humana, cotidiana, como 'Paisagem na Janela'. Isso é o que mais tento trazer da arte dele para minha: falar sobre o mundo de uma forma mais humana, cotidiana, para gente comum. Quando preciso for, a gente denuncia, mas sem deixar se embrutecer".

O também músico cearense Ricardo Bacelar compartilha sua percepção sobre o mineiro: "Lô Borges é um artista com uma identidade muito forte, com melodias marcantes e uma estética particular. Sua obra é atemporal, sempre importante, e influenciou muitos músicos brasileiros. É uma música despretensiosa, mas, ao mesmo tempo, cativante, cheia de magia e de uma alma juvenil — sempre com o frescor de um garoto".

"Clube da Esquina", lembrado por todos que publicaram homenagens póstumas a Lô, foi um movimento que revolucionou a MPB ao misturar rock, jazz, bossa nova e música latino-americana. A turma foi formada em Belo Horizonte entre o fim dos anos 1960 e o início dos anos 1970 e reuniu nomes como Milton Nascimento, Beto Guedes, Flávio Venturini e Toninho Horta, entre outros.

O artista mantinha desde 2019 uma tradição de lançar um álbum de músicas inéditas por ano. Assim, o último trabalho a seguir esse projeto foi "Céu de Giz", que estreou em agosto de 2025, uma parceria com Zeca Baleiro.

"Imaginem minha surpresa ao receber, em outubro do ano passado, uma ligação sua dizendo: 'Zeca, aqui é o Lô. Sou fã de suas músicas, compus dez canções e gostaria que você pusesse letra. Topa?'. Respondi: 'Porra, Lô, você tá de sacanagem comigo? Topo com máxima honra, irmão, sou muito seu fã, tô nem acreditando'", relatou Zeca Baleiro em seu perfil no Instagram.

Zeca definiu esse trabalho como "primoroso" e teceu críticas acerca da repercussão do público: "Fosse há 25 anos, o álbum seria um acontecimento. Hoje, é mais um lançamento entre os 100 mil lançamentos diários nas plataformas. Uma desova truculenta neste tempo de hiperconsumo desenfreado e disperso".

Também homenagearam Lô Borges na segunda-feira, 3, grandes nomes como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a banda Titãs, Paralamas do Sucesso, Samuel Rosa, Letrux, Elba Ramalho e o cearense Edinho Vilas Boas — personalidades que, de forma direta ou indireta, foram atravessados pela influência musical do ídolo.

Paulinho Moska, amigo e parceiro musical de Lô, resume o sentimento que o artista mineiro deixa no coração da música brasileira. Em suas redes sociais, publicou: "Você agora vive muito além do fim, na eternidade dos nossos sonhos que não envelhecem nos girassóis de amor nos cabelos e vestidos. A imensidão de sua obra nos ensinou a delicadeza". (Com colaboração de Bianca Raynara e Izabele Vasconcelos)

Velório

O velório de Lô Borges será aberto para fãs e admiradores e está marcado para esta terça-feira, 4, das 9 às 15 horas. O cantor será velado no Foyer do Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, região central de Belo Horizonte.

 

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