Acostumada a produzir audiovisual crítico e reflexivo, muitas vezes relacionado a questões trabalhistas e territoriais, a produtora cearense Nigéria Filmes continua fiel à sua linha questionadora de trabalho na série "Let Reflete". A diferença é que, dessa vez, os realizadores lançam mão de artifícios educativos e lúdicos para cativar a atenção do público infantil.
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Com cinco episódios lançados aos sábados, a partir do dia 22, sempre às 18 horas, a produção estreia no canal FDR 48.1 e entra no catálogo da plataforma de streaming O POVO+ nas segundas-feiras subsequentes, a partir do dia 24. A produção foi contemplada pelo 13º edital Cinema e Vídeo, da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), e licenciada pela Fundação Demócrito Rocha (FDR).
Conduzida pela youtuber Let (Rayssa Torres), a série trata da relação de crianças e adolescentes com a internet, trazendo depoimentos de jovens e especialistas em um documentário tocado pela ficção. Para não ficar sob um viés exclusivamente educativo, destinado a pais e professores, a equipe utilizou da linguagem rápida dos youtubers, trilhas, efeitos sonoros e animações.
Embora já tenha produzido para o público infantil, um produto educativo e direcionado às crianças é um desafio novo para a produtora. "Esse projeto inaugura um ciclo de pensar produtos que possam ser realmente educativos, criativos. E tem muito a ver, claro, com a nossa experiência de vida, de ter filhos, de crescer, de acompanhar isso", conta Roger Pires, um dos diretores da série e cofundador da Nigéria Filmes, ao lado de Bruno Xavier e Yargo Gurjão.
Para além das experiências pessoais com os filhos, precisando mediar suas interações com o ambiente digital, os realizadores voltaram a atenção para uma discussão que tem crescido no Brasil. Uma mostra disso é a Lei 15.211/2025, que atualiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) ao levar em conta a relação desse público com a internet.
Outra medida deste ano foi a publicação de um guia sobre usos de dispositivos digitais pelo Governo Federal com a colaboração do Laboratório de Pesquisa da Relação Infância, Juventude e Mídia (LabGrim) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Rede de Pesquisas em Comunicação, Infâncias e Adolescências (Recria).
"O nosso projeto de sociedade coloca a criança como prioridade absoluta. Isso significa que cada um de nós promove ou viola direitos de crianças e adolescentes enquanto desenvolve suas atividades cotidianas", afirma Brenda Guedes, doutora em Comunicação e uma das integrantes da coordenação do LabGrim e fundadoras da Recria.
Considerando os adultos como mediadores da existência das crianças no mundo, a pesquisadora enfatiza a necessidade de educação midiática não só para a população infantil, mas também para os adultos: "A gente precisa de muitas frentes de atuação, que podem ser políticas públicas, podem ser campanhas educativas, precisa também de regulação".
A coordenadora do LabGrim defende que a responsabilidade não pode recair inteiramente sob a família e as escolas, destacando o Estado, o terceiro setor e o setor empresarial nessa corrida. "As políticas públicas, às vezes, não chegam onde o trabalho de alguns grupos da sociedade civil chegam", diz Brenda Guedes acerca do papel complementar que as ONGs podem desempenhar.
Em relação ao setor privado, ela diz que "tem um papel fundamental em fazer acontecer a mudança, porque é muito assimétrico o poder que esse setor tem em relação a alguns outros setores da sociedade, em especial famílias e escolas".
Ainda sobre as possíveis soluções para os riscos expostos na internet, como vício, cyberbullying e fake news, Guedes pontua que "a gente precisa muito de recursos que tenham linguagens diferentes para conversar com pessoas diferentes", citando "Let Reflete" como um deles.
"As nossas crianças estão crescendo em um ambiente que é viciante, perigoso e que estimula o consumismo. E se a gente imaginar o mundo daqui a uns 10, 15 anos dessa mesma forma, ele vai ser um mundo que não vai adiantar lutar por nenhuma causa, porque essas crianças vão estar com o pensamento completamente formado no digital e nas redes sociais", formula Roger Pires.
"Let Reflete" na TV
Temas: 1. Vício em telas ; 2. Consumismo e publicidade para crianças; 3. Cyberbullyng; 4. Privacidade e 5. Fake News
Quando: aos sábados, a partir do dia 22, às 18 horas
Onde assistir: Canal FDR 48.1
Instagram: @let.reflete
"Let Reflete" no streaming
Quando: às segundas-feiras, a partir do dia 24
Onde assistir: O Povo
"Let Reflete" no streaming
Quando: às segundas-feiras, a partir do dia 24
Onde assistir: O Povo+