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Peça apresentada em Fortaleza revisita história de Abdias do Nascimento
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Peça apresentada em Fortaleza revisita história de Abdias do Nascimento

Peça apresentada no Theatro José de Alencar (TJA) revisita história de Abdias do Nascimento, um dos principais ativistas pela igualdade racial no Brasil
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Espetáculo apresentado no Theatro José de Alencar (TJA) revisita trajetória de Abdias do Nascimento  (Foto: fotos João Marcelo Resende/Divulgação)
Foto: fotos João Marcelo Resende/Divulgação Espetáculo apresentado no Theatro José de Alencar (TJA) revisita trajetória de Abdias do Nascimento

Abdias do Nascimento (1914-2011) carrega em sua trajetória adjetivos, profissões e títulos que o expandem para um patamar de relevância indiscutível. Escritor, senador, ativista, intelectual, dramaturgo e fundador do Teatro Experimental do Negro (TEN), é considerado uma das figuras mais importantes do movimento antirracista no Brasil.

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Sua luta pelos diretos da população negra e pela promoção da igualdade racial, bem como a valorização da cultura afro-brasileira e africana, o alçou a um lugar de resistência e inspiração. Nesta quinta-feira, 20, Dia da Consciência Negra, ele é homenageado em peça apresentada no Theatro José de Alencar (TJA), em Fortaleza.

Intitulado "Abdias do Nascimento", o espetáculo assume o palco principal do TJA às 18h e às 20 horas. Os ingressos estão à venda por valores a partir de R$ 12. A peça vem a Fortaleza em nova edição do projeto Série Cênica, idealizado pelo Instituto Dragão do Mar (IDM) e com apoio do Ministério da Cultura (MinC) e da Petrobras.

Espetáculo apresentado no Theatro José de Alencar (TJA) revisita trajetória de Abdias do Nascimento (Foto: João Marcelo Resende/Divulgação)
Foto: João Marcelo Resende/Divulgação Espetáculo apresentado no Theatro José de Alencar (TJA) revisita trajetória de Abdias do Nascimento

A obra mergulha nos bastidores de uma montagem em homenagem a Abdias do Nascimento que traz em seu núcleo um ator e um diretor. Em um pequeno palco, é o primeiro dia de uma produção que visa não só revisitar a sua história, mas também evocar emoções, desafios e vivências de dois homens negros que representam a memória viva de uma luta.

Responsável pela idealização do espetáculo, Lincoln Oliveira "toma a forma" de Abdias do Nascimento na apresentação. Em entrevista ao Vida&Arte, relata ter estudado o conceito de negritude durante a pandemia, pois desejava fazer uma peça sobre esse tema. Nesse processo, "sempre encontrava Abdias". Assim, conheceu mais a dimensão de seu legado.

O processo de produção

"Foi impossível abandoná-lo. Foi um maravilhoso encontro", revela. A opção de retratar a história de forma metalinguística, na qual a montagem traz a produção de uma peça teatral, ocorreu por compreender que era a melhor solução para conseguir apresentar "dados importantes para o justo entendimento da vida e da obra de Abdias".

"Nosso maior desafio era conseguir apresentar essa enorme biografia de vida em uma hora", complementa. Lincoln afirma que não busca apenas interpretar o Abdias, mas contar sua história.

Apresentado em Fortaleza no Dia da Consciência Negra, o enredo serve, para o ator, como "resgate histórico, reconhecimento e referência": "O Brasil está mudando, e muitas dessas mudanças passam pela luta de Abdias. Fortaleza é uma cidade com uma produção cultural muito boa. Fazer a peça aqui, no 20 de novembro, reforça essa qualidade da Cidade".

No espetáculo, Lincoln divide cena com Fernando Porto, que interpreta o diretor responsável não só por dirigir a atuação, mas guiar "a própria jornada da peça para que ela seja mais do que uma simples recriação de fatos históricos", segundo a sinopse. Na obra, é a figura que levará o público até "a alma" de Abdias.

"Faço um diretor jovem, com todos os anseios de ser um jovem artista criativo. Tenho 33 anos, mesma faixa etária que o Abdias fundou o Teatro Experimental do Negro e sinto uma ferve ao fazer a peça, que me traz o mesmo entusiasmo de fazer teatro, de letrar o povo, de realizar mudanças estéticas. Penso nele o tempo todo em cena", relata Fernando.

A obra trabalha o conceito de um ator e diretor "que se desnudam não só de seus personagens, mas de suas próprias identidades enquanto homens negros na sociedade brasileira. Para Fernando Porto, são dois personagens provocativos, que interrogam a história do Brasil e do Teatro Moderno Brasileiro para "refletir o espaço do negro em diversos setores culturais, políticos e sociais".

"Esse jovem diretor se depara com um ator mais velho, experiente, criativo, que também duvida e provoca - o que causa, muita das vezes, uma tensão geracional no palco. É divertido ver como os dois resolvem isso. Esses dois personagens são espelhos e contraponto de um mesmo Abdias", explica.

Como afirma o artista, o espetáculo não tenta contemplar toda a vida e obra de Abdias, tamanha é a extensão de seus feitos. Além disso, não há interesse em apresentar uma narrativa linear e datada. O "barato" da peça é como seus participantes transitam entre interpretar, contar, dançar e cantar a trajetória do autor.

Na função de diretor (oficial) do espetáculo, Johayne Hildefonso atesta que a construção do trabalho foi inspirada na riqueza humana, cultural, política e social de Abdias do Nascimento, um homem "que lutou e abriu caminhos" para as pessoas pretas. Hildefonso destaca a composição do elenco, com dois atores pretos e dois diretores pretos - ele divide a direção com Iléa Ferraz.

"Isso só está sendo possível porque Abdias defendia a igualdade racial abrindo portas para que artistas pretos fossem igualmente valorizados. É importante ressaltar que todos os objetos de cena do espetáculo são feitos de fibras naturais, sementes, cascas diretamente dos nossos seis biomas desse país imenso que é o Brasil diverso", enfatiza.

Johayne defende a obra para a valorização da memória do ativista: "É a primeira vez que a história de Abdias é contada no teatro e isso é de uma importância incalculável. É preciso que todos conheçam a vasta obra deste dramaturgo, pintor, escritor, professor e político brasileiro. Contar essa história é nossa principal missão".

 

Abdias do Nascimento

  • Quando: quinta-feira, 20, às 18h e às 20 horas
  • Onde: Theatro José de Alencar (rua Liberato Barroso, 525 - Centro)
  • Quanto: a partir de R$ 12; vendas no Sympla

 

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