João Gomes reuniu cerca de 50 mil pessoas no Arco da Lapa, no Rio de Janeiro, em concerto gratuito no final de outubro. Com chapéu de couro e chemise rendada, afirmou que “o piseiro é a nova MPB” e entoou sucessos em registro disponibilizado nas plataformas digitais na última quinta-feira, 11. Performar frente a multidão, entretanto, nem pode ser considerado o maior êxito do cantor natural de Serrinha, em Pernambuco, em 2025.
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Ele conquistou as categorias "Artista", "Álbum", "Capa" e "Forró e Piseiro" no Prêmio Multishow há pouco menos de uma semana, tornando-se o principal vencedor. Em dezembro, também ganhou o terceiro Grammy Latino com o projeto "Dominguinho", criado com Jota.pê e Mestrinho. É a consolidação de uma carreira que se mostrou explosiva desde o início, quando viralizou em 2020 com o hit "Meu Pedaço de Pecado".
"Acho que a estabilidade vem da verdade. Desde o começo, eu canto do mesmo jeito que eu vivia lá em Serrita: falando de amor, de saudade, de vaquejada, de fé. O povo sabe quando é real", considera em entrevista ao O POVO via WhatsApp. “Quando a gente sobe no palco e entrega a verdade, a energia derruba qualquer barreira. O que me dá força é saber que eu não estou sozinho. Estou levando um povo inteiro comigo”.
São mais de 16 milhões de seguidores no Instagram e 10 milhões de ouvintes mensais somente no Spotify, admiradores que amplificam o gênero pelo qual ficou reconhecido, uma variação do forró com batidas eletrônicas. O jovem de 23 anos alcançou os grandes em parcerias musicais com Ivete Sangalo, Vanessa da Mata e Gilberto Gil. Ao mesmo tempo, o pernambucano faz questão de levar as influências para novas gerações por meio de releituras de canções como "Esperando Aviões", de Vander Lee, e "Depois", de Marisa Monte, com quem lançou colaboração.
"Quando nomes como esses olham para o forró e o piseiro com carinho, eles abrem portas que a gente não imaginava", menciona. Este abraço, como o próprio artista diz, mostra para o mundo que "nossas raízes têm poesia, história, beleza". É o que propõe quando leva o forró de vaquejada para o palco do Rock in Rio e as casas de show de países como França, Bélgica e Suíça, onde passa com turnê em 2026.
A voz de "Eu Tenho a Senha" e “Aquelas Coisas” desbrava espaços até então fechada para os ritmos, desviando da fórmula de sucessos das plataformas de streaming, com letras que falam sobre amor, desilusão e festa. "Escrevo lembrando da minha vida, das pessoas que conheci, das noites de vaquejada que passei. Não tem como fugir. Mesmo quando vem uma produção mais pop, a alma continua sendo da roça. Nunca troco a essência por tendência", defende.
A inspiração mantém a produção contínua. Em cinco anos de carreira, onze obras foram lançadas, entre trabalhos de estúdio e versões ao vivo. Cinco destes, inclusive, divulgados no intervalo de nove meses. "No Sertão", gravado ao lado de Taty Girl, Dorgival Dantas, Neto Leite e Waldonys; "Dominguinho", que ganhou os palcos e esgotou ingressos em 12 cidades brasileiras; "Do Jeito Que o Povo Gosta", caracterizado pelo cantor como uma sonoridade atual; "Pé de Serrita", projeto audiovisual que resgata clássicos do forró com faixa do cearense João Bandeira; e "Meu Piseiro Brasileiro", com o qual se aproxima de gêneros como o trap e o samba numa mistura inusitada que poucos conseguem sustentar.
"Sou tudo isso junto", justifica. "Queria mostrar que dá para ser múltiplo sem perder indentidade", reforça. Para proteger a própria verdade e manter os pés no chão, precisou diminuir o ritmo para cuidar da saúde mental após ser diagnosticado com ansiedade e depressão em 2022. Hoje preza por um ritmo de "trabalho com mais consciência", sem perder o contato com os filhos Jorge e Joaquim, e a esposa, Ary Mirelle. "Quando chego em casa e vejo meus filhos, para mim, tudo faz sentido. Muda até na forma como eu canto, fica mais leve".
O show no festival Tamo Junto BB neste sábado, 13, marca o retorno do artista a Fortaleza após apresentação no mês de agosto. Admirador de Belchior (1946 - 2017) e colega de Fagner, o pernambucano diz que tem o Ceará como um segundo lar.. "Parece que tô cantando em casa", comenta. É parada obrigatória para os próximos planos, que incluem um livro de poesia e a realização de projeto em proposta mais intimista, para "continuar levando nossa cultura para mais lugares".
As letras que sempre usou "para aliviar o coração" colocam o menino que andava na feira com a mãe, sonhando em cantar com "vergonha e coragem", engravado na música brasileira. "Eu só cresci, mas continuo com os pés na mesma terra. É ela que me guia", sustenta.
João Gomes no Tamo Junto BB