Certamente 2025 ficará marcado como o ano que a programação televisiva do Brasil deu um dos maiores passos em direção à plataformização cultural. Com novelas de protagonismo feminino, a TV Globo emplacou grandes sucessos digitais, oriundos da repercussão do "ao vivo" nas redes sociais.
Logo em março deste ano, o tão aguardado remake de "Vale Tudo" estreou na emissora e já abriu as portas para um novo momento dos melodramas: o que o engajamento nas redes sociais — com cortes de capítulos — é mais forte do que os pontos de audiência durante a transmissão. Mesmo registrando Ibope abaixo do esperado, a trama foi o maior sucesso digital da emissora.
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A nova Odete Roitman, de Débora Bloch, não marcou tanto o público por ser cruel e impiedosa, mas sim por frases que "furaram a bolha". Até mesmo quem não acompanhou a novela acabou se deparando com a fala "Uma hora um fricassé com salada, outra hora um X-Tudão" para se referir a homens.
Outro destaque feminino foi Clara Moneke, que fez sua primeira protagonista da TV com Leona, em "Dona de Mim". Diferente das tradicionais mocinhas ingênuas, a personagem carregou personalidade forte, que comete equívocos e acertos — o que a humanizou e a tornou mais "gente como a gente".
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Na faixa das 18 horas, finalizamos "Garota do Momento", com um final feliz para a protagonista Beatriz (Duda Santos). Quem assumiu o horário foi "Êta Mundo Melhor!", que divide o destaque da trama entre Candinho (Sergio Guizé) e Policarpo (Juliana) — sim, o burro carismático da novela é feito por uma atriz fêmea.
A última estreia do ano é, ainda mais que as outras, um grito de destaque feminino. "Três Graças", de Aguinaldo Silva, traz ao foco mãe, filha e neta contra a maldade de uma carismática vilã feita por Grazi Massafera.
Foi também em 2025 que a plataformização da cultura afetou ainda mais diretamente a produção televisiva. Mesmo com audiência insatisfatória no Kantar Ibope, a Globo conseguiu emplacar grandes sucessos digitais. Cortes de capítulos do TikTok passaram a ser uma notável forma de consumo audiovisual, assim como as bombásticas novelas verticais — melodramas de capítulos curtíssimos gravados para reprodução nas mídias sociais.
De volta ao pódio
Em 2024, tivemos a estreia de novelas para o streaming, com "Pedaço de Mim", da Netflix. Mas foi em 2025 que vimos esse formato ser consolidado e ganhar repercussão entre a audiência mais jovem que não estava conectada com as produções da TV.
Logo em janeiro, estreou "Beleza Fatal" (foto), que conquistou tanto o público "do sofá", acostumado com telenovelas, quanto os apegados às características de série dos streamings — com trama super melodramática, direção de arte "estilizada" e somente 40 capítulos. O sucesso, inspirado em um livro de Raphael Montes, já tem até continuação confirmada pela HBO Max.
Outro destaque foi a produção da Globoplay "Guerreiros do Sol", inspirada no livro homônimo de Frederico Pernambucano de Mello. Com 45 capítulos, o melodrama contou com grande representação cearense pelas atuações de Daniel Dias da Silva, Fátima Macedo, Georgina Castro, João Fontenele, Larissa Goes, Lucas Galvino e Mateus Honori.
Brasil em episódios
Quatro séries brasileiras se sobressaíram pela qualidade de produção e engajamento digital. Em agosto, chegou à Netflix a "Pssica" (foto), adaptação do livro de Edyr Augusto, narrativa que explora o tráfico sexual de adolescentes na região amazônica.
No mesmo mês, a HBO Max lançou a minissérie "Máscaras de Oxigênio Não Cairão Automaticamente", produção baseada em histórias reais de comissários de voo que contrabandeavam medicamentos durante a epidemia de Aids nos anos 1980.
Já "Os Donos do Jogo", da Netflix, chegou em outubro para abordar o universo do jogo do bicho e das disputas de poder ligadas ao crime organizado no Rio de Janeiro.
O último lançamento foi "Tremembé", em outubro, que rendeu à Prime Video audiência e processos. Ambientada num complexo penitenciário que ficou conhecido por abrigar condenados por crimes de repercussão, a produção chamou a atenção por retratar os delitos de Suzane von Richthofen e Elize Matsunaga.
Menos tempo, mais visualização
Seguindo o caminho da digitalização, foi neste ano que explodiu a febre das novelas verticais: folhetins com episódios de poucos minutos, gravados em formato vertical para exibição rápida em redes sociais.
O formato fazia sucesso fora do Brasil em plataformas como ReelShort e Dramabox. Mas foi através do TikTok, com anúncios chamativos das "novelinhas", que o modelo conquistou os brasileiros. O mercado nacional "surfou a onda" e produziu a trama "A Vida Secreta do Meu Marido Bilionário" (foto), que atingiu o marco de meio bilhão de visualizações.
O fenômeno foi abraçado até pela Globo, que lançou projeto vertical com "Tudo Por Uma Segunda Chance". Com ótima aceitação e engajamento, é esperado que 2026 tenha mais produções verticais.
A volta do que não foi
Este ano trouxe de volta uma grande figura da TV: Aguinaldo Silva, o novelista por trás de "Tieta" e "Senhora do Destino". O autor não teve renovação do seu contrato com a Globo em 2020, todavia, ele nunca saiu do ar na emissora. Em razão da paralisação pela covid-19, em março do mesmo ano, sua obra "Fina Estampa" foi reexibida em horário nobre. Exatamente um ano depois, "Império", outro trabalho seu, teve o mesmo destino. Além disso, houve o remake de "Vale Tudo" neste ano, novela que originalmente teve Aguinaldo entre os autores.
Desde outubro, a inédita "Três Graças" (foto) está em exibição na Globo. A trama acompanha de três mulheres da mesma família, cujas vidas se entrelaçam por uma coincidência: todas se tornaram mães na adolescência. Mesmo com audiência mediana na TV, a novela é considerada mais um sucesso digital.
O que aconteceu com "Vale Tudo"?
O remake de "Vale Tudo" foi o maior fenômeno da TV brasileira em 2025, o que não implica em ser uma novela boa. A adaptação passou por mudanças na trama principal, o que desagradou parte do público e até do elenco. No caso da personagem Raquel, de Taís Araújo, os problemas internos tiveram até repercussão nacional.
Tudo começou quando a atriz declarou em entrevista sua insatisfação com o desenvolvimento da personagem, que deveria representar uma jornada ascendente da mulher negra, mas acabou sofrendo mais do que na trama original.
A questão resultou em uma queixa formal de Taís contra a autora Manuela Dias na Globo, motivada pela percepção de que a trajetória de Raquel perdeu força. Por isso, foram fomentados debates sobre narrativa, representatividade e escolhas de roteiro. Manuela se pronunciou e afirmou que a novela é "fruto de um processo colaborativo", não se referindo diretamente ao conflito estabelecido.
Sotaque na tela
O Big Brother Brasil 2025 não foi um destaque nacional, mas um detalhe fez que o reality fosse abraçado pelo Ceará: o sotaque de duas participantes. As bailarinas cearenses Renata (foto) e Eva entraram em dupla no confinamento e chamaram a atenção do público conterrâneo pelo sotaque "ultrarregional".
Enquanto alguns internautas debocharam da voz "aguda" e do sotaque "exagerado" das artistas, diversos cearenses uniam forças para mantê-las no programa. Foi desse modo que a professora de dança Renata Saldanha, da ONG Edisca, se tornou campeã do reality.
O BBB 25 teve a pior audiência da história do programa, também tendo sido um fracasso digital. O Ceará foi na contramão e, graças à bailarina, a ONG cearense recebeu grande visibilidade e apoio pelo Brasil.
Beleza Fatal 2
A segunda temporada da novela "Beleza Fatal", produção da HBO Max, foi confirmada pela plataforma de streaming. Ainda não há data para a estreia.