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Fortaleza e Ceará estão entre os sete maiores crescimentos de receitas de 2019
Reportagem Especial

Fortaleza e Ceará estão entre os sete maiores crescimentos de receitas de 2019

SAÚDE FINANCEIRA | O levantamento é do banco Itaú BBA e revela detalhes financeiros de 25 clubes de Série A e B do Campeonato Brasileiro

Fortaleza e Ceará estão entre os sete maiores crescimentos de receitas de 2019

SAÚDE FINANCEIRA | O levantamento é do banco Itaú BBA e revela detalhes financeiros de 25 clubes de Série A e B do Campeonato Brasileiro
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Com Fortaleza vivendo uma temporada de Série A do Campeonato Brasileiro, depois de 13 anos, e o Ceará no segundo ano consecutivo na primeira divisão, os dois times fizeram um 2019 histórico não só esportiva, como financeiramente. Assim, ambos tiveram aumentos significativos em suas receitas.

É o que aponta a análise econômica do banco Itaú BBA, que leva em conta o balanço financeiro de 25 clubes no ano passado. De acordo com o estudo, em relação a variação entre as receitas totais dos últimos dois anos, o Fortaleza teve a quinta melhor variação (aumento de R$ 70 milhões) já o Ceará ocupa a sétima colocação, com R$ 32 milhões de crescimento.

Em termos percentuais esse aumentos são de 140% e 48,8%, colocando o Fortaleza na segunda posição (atrás do Red Bull Bragantino, time que tem funcionado no formato de clube-empresa), e o Ceará seguindo na sétima posição. O clubes ainda estão dentro do seleto grupo de 11 agremiações que viram os cofres inflarem no período - as 14 demais analisadas perderam dinheiro de um ano para o outro. 

Quando levada em conta evolução da receita recorrente — somatório de todas as receitas, menos a venda de atletas (que é inconstante) —, o Leão apresenta o terceiro maior aumento, com R$ 64 mi, e o Vovô é o nono, com R$ 24 mi - acréscimos percentuais de 128% e 40%, respectivamente.

Para justificar a evolução de ambos, pesa a negociação de direitos de transmissão de TV e a arrecadação com sócio-torcedor e bilheteria; o Tricolor contou ainda com a vendas de produtos da marca própria, enquanto a transação de atletas ajudou os números do Ceará.

Gráfico mostra as variações de receita dos clubes entre 2018 e 2019
Gráfico mostra as variações de receita dos clubes entre 2018 e 2019 (Foto: Reprodução / Itaú BBA)

O Alvinegro passou de R$ 66 milhões para R$ 98 milhões, ou seja, 48% a mais. O Tricolor saltou de R$ 50 milhões para R$ 120 milhões, 140% a mais. As receitas totais de Vovô e Leão são ainda, respectivamente, o 16ª e 15ª no ranking. Os percentuais de crescimento, no entanto, mostram o potencial de escalada.

“O futebol brasileiro em 2019 viu surgir forças capazes de rivalizar com nomes outrora vencedores. Agora é possível ver Athletico-PR, Bahia, Fortaleza, Ceará e Goiás com possibilidades reais de tornarem a Série A seu habitat natural”, indica Cesar Grafietti, economista e consultor de Gestão e Finanças do Esporte que assina a análise.

A pesquisa observa aspectos bem similares para “o que deu certo” no Ceará e no Fortaleza, em pontos como o crescimento e diversificação de receitas e a manutenção das dívidas em montantes baixos. O estudo faz ressalvas quanto aos “custos lastreados em venda de atletas” no Alvinegro e a geração de caixa do Leão.

Fortaleza em 15 de julho de 2020, Lances do jogo entre Ceara x Fortaleza, pelo Campeonato Cearense 2020, com a volta do futebol devido a pandemia do novo coronavirus. (Foto Pedro Chaves/FCF)(Foto: Pedro Chaves/FCF)
Foto: Pedro Chaves/FCF Fortaleza em 15 de julho de 2020, Lances do jogo entre Ceara x Fortaleza, pelo Campeonato Cearense 2020, com a volta do futebol devido a pandemia do novo coronavirus. (Foto Pedro Chaves/FCF)

O maior percentual de renda dos clubes tem origem na venda de direitos de transmissão para TV, ainda que o Leão e o Vovô estejam entre as dez agremiações, das 24 analisadas, que menos recebem das emissoras. Fortaleza recebe R$ 43 milhões, e é o oitavo a menos receber, e o Ceará embolsa R$ 46 milhões, e ocupa a nona posição.

O dinheiro representa 47% da receita do Alvinegro e o coloca em sexto lugar em dependência do arrecadado junto às emissoras — a situação entrou em cenário de incerteza, após Medida Provisória (MP 984/2020) do presidente Jair Bolsonaro direcionar as regras do chamado "direito de arena" apenas para mandantes.

Leia também | MP dá poder aos clubes mandantes em direitos de transmissão do futebol

Ao contrário do maior rival, a agremiação do Pici tem 36% da receita vindo de transmissões, sendo o quarto menos dependente dessa venda. O estudo destaca essa posição do Leão, “num momento em que se discute novas formas de negociação de direitos de TV, esta é uma conta importante para ser levada em consideração".

O time do presidente Marcelo Paz aposta em geração de outras rendas, como os R$ 15 milhões referentes à venda de material esportivo, com a marca própria e a de bilheteria e sócios torcedores, que representa mais de uma quarto da receita total do Tricolor — R$ 31 mi. O clube é nono em receitas advindas de sócio-torcedor e bilheteria. O Ceará, com R$ 23 milhões, é o 12º. Em Porangabuçu, outro item reavivou os cofres: a transação de atletas. Em 2019, este fator trouxe R$ 15 milhões para o bolso do Vovô.

Jogadores do Ceará comemoram gol no Castelão  (Foto: Fábio Lima/O POVO)
Foto: Fábio Lima/O POVO Jogadores do Ceará comemoram gol no Castelão

Mesmo ocupando o terço final entre os times analisados no quesito geração de caixa, Ceará (15º) e Fortaleza (16º), os clubes se destacam porque estão entre os dez que conseguiram manter a geração de caixa no azul, indicando o que o estudo mostra recorrentemente sobre as duas escuderias: o equilíbrio.

A pesquisa entende como geração de caixa o valor que sobra para o clube, após pagar seus custos e despesas correntes. O recurso é o que resta para o clube pagar suas dívidas e fazer investimentos. O Ceará fechou o ano com R$ 12,3 milhões de geração de caixa; enquanto o Leão teve R$ 8,7 milhões.

O estudo indica que mesmo com investimentos e pagando dívidas fiscais Alvinegro encerrou 2019 com fluxo de caixa do negócio em R$ 1,1 milhão; já o Leão foi R$ 1,8 milhão.

Dívidas baixas e equilíbrio financeiro

Em relação às dívidas, o time de Porangabuçu é o que tem menor dívida (R$ 16 milhões) em relação aos pesquisados. Fortaleza, devendo R$ 37 milhões, fica em quarto entre as menores dívidas. O Alvinegro é o segundo melhor percentual de dívida em relação a receita, enquanto o Leão é o terceiro. Ceará, inclusive está em as equipes que têm mais capacidade para pagar as dívidas.

Custos com pessoal

O estudo compreende custos com pessoal como sendo os salários, encargos e benefícios, além dos valores referentes a direitos de imagem, luvas contratuais, que são parte da remuneração acordada com o atleta e premiações por desempenho.

Assim sendo, Fortaleza e Ceará ocupam as 15ª e 17ª posições, respectivamente, quanto aos custos com pessoal. Fortaleza investe R$ 51 milhões e Ceará R$ 32 milhões. O destaque no quesito foi para o Leão, que em dois anos aumentou em 261% o que emprega em pessoal: 42% da receita do Fortaleza vai para o pessoal, 32% no Vovô.

  

O que o estudo destaca do Alvinegro

Grá          fico mostra a evolução das receitas do Ceará(Foto: Reprodução/ Itaú           BBA)
Foto: Reprodução/ Itaú BBA Grá fico mostra a evolução das receitas do Ceará

> “A vida de um clube regional nunca é fácil. Luta com receitas limitadas, maior dependência da TV, e com orçamentos mais modestos toda competição é um desafio na disputa contra clubes de maior envergadura.

> O Ceará exemplifica bem esta situação. Consegue se manter na Série A mesmo com orçamento limitado e dificuldades, mas positivamente de maneira financeiramente equilibrada. Números bons, baixo endividamento, investimentos dentro de suas possibilidades.

> Há ainda um aspecto importante que é o envolvimento do torcedor, que responde por uma bom pedaço das receitas (23%). Claro que há desafios, como o de conseguir receitas recorrentes mais fortes e gastar mirando nelas. Isto tende a deixar o clube mais robusto e
evita situações de desequilíbrios momentâneos que se perpetuam.

> É preciso continuar com os pés-no-chão, jogando junto com o torcedor e buscando soluções que permitam maior eficiência no uso do dinheiro. Ao ver equipes de presença nacional em dificuldades, surge uma enorme oportunidade para que o clube se solidifique e permaneça de forma sustentável na elite do futebol brasileiro”.

O que o estudo destaca do Tricolor

Gráfico mostra a evolução das receitas do Fortaleza(Foto: Reprodução/ Itaú BBA)
Foto: Reprodução/ Itaú BBA Gráfico mostra a evolução das receitas do Fortaleza

> "O Fortaleza apresenta situação equilibrada. Trata-se de um clube que tem poucas dívidas, equacionadas, que tem boa diversidade de receitas e depende menos que a média da TV. Mas vive de maneira justa, com pouca geração de caixa, e isso deixa menos margem na hora de enfrentar problemas.

> A intenção é clara, pois o clube precisa investir no máximo que seus limites permitem para ser capaz de competir com outros que fazem mais receitas. Mas há que ter cuidado para não deixar essa necessidade ultrapassar os limites. Em 2019 o resultado esportivo foi bom, o que mostra que a estratégia funcionou. Mas é preciso estar atento.

> A tendência é de ocupar espaço que antes era dominado por clubes de maior presença nacional. A gestão equilibrada permite pensar nisso. Em 2020 a situação apresenta um desafio que é conseguir se financiar de maneira eficiente. Hoje o clube depende de sócios, mas o ideal é buscar autonomia financeira para se financiar com prazos longos e estrutura estável, criando reconhecimento no mercado de sua gestão. O caminho está sendo construído, de forma segura. Esperamos que os passos continuem a serem dados de acordo com o tamanho das pernas”.

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