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Fóssil de lagosta, descrito por paleontólogos da Urca, é vestígio da mudança climática sofrida na Antártica
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Fóssil de lagosta, descrito por paleontólogos da Urca, é vestígio da mudança climática sofrida na Antártica

A descoberta da nova espécie de lagosta, a Hoploparia echinata, foi apresentada nesta quinta-feira, durante uma coletiva, pelo Museu Nacional e pela Universidade Regional do Cariri
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A descoberta é um rastro de como mudanças climáticas podem determinar mudanças drásticas na Terra (Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO A descoberta é um rastro de como mudanças climáticas podem determinar mudanças drásticas na Terra

O fóssil de uma nova espécie de lagosta, que viveu há 75 milhões de anos no território que hoje se conhece por Antártica, a Hoploparia echinata, foi descrita por pesquisadores da Universidade Regional do Cariri (Urca). O registro do crustáceo do período Cretáceo, como O POVO antecipou com exclusividade, é parte de um quebra cabeça que tenta remontar o passado geológico do continente gelado, antes coberto por uma floresta. A descoberta é um rastro de como mudanças climáticas podem determinar mudanças drásticas na Terra.

“Esse organismo, quando ele existia, a distribuição dos continentes era bem diferente do que conhecemos hoje. O oceano Atlântico estava começando a aparecer. Os sistemas climáticos e de correntes eram bem diferentes. Os fósseis dessa área, como o do lagostim, dão aos cientistas a possibilidade de desenterrar o passado e entender as dinâmicas pelas quais o nosso Planeta vem passando”, explicou o paleontólogo Luiz Carlos Weinschütz, da Universidade Federal do Paraná, que auxiliou na pesquisa coordenada pelo Museu Nacional.

O registro do lagostim, garimpado em 2016 por cientistas do Paleoantar na ilha de James Ross, remonta uma época em que a Antártica era coberta por uma floresta semitemperada. Algo parecido com o que ocorre na Alemanha e na Turquia. Daí a importância da descoberta para se fazer estudos comparados, por exemplo, quando se pesquisa sobre mudanças climáticas na Terra.

A descrição da espécie foi feita pelos paleontólogos Allysson Pontes Pinheiro – professor da Universidade Regional do Cariri (Urca) e atual diretor do Museu de Santana do Cariri, por Álamo Saraiva – também professor e coordenador do Laboratório de Paleontologia da Urca, e Willian Santana, da Universidade do Sagrado Coração (USC), de Bauru (SP) e professor visitante no Geopark Araripe. Os três integram uma das equipes do projeto Paleoanter do Museu Nacional e vinculado ao Programa Antártica Brasileira (Proantar). Allysson foi ao continente gelado ano passado, em uma das expedições.

Em entrevista ao O POVO, em 2019, para o especial transmídia Destino Geopark, Alysson Pontes havia revelado que o fóssil do lagostim tinha idade um pouco mais recente do que os fósseis da Bacia do Araripe, cerca de 75 milhões de anos.

E por que os paleontólogos do Geopark Araripe lideraram o estudo para a descrição de um fóssil da Antártica? Primeiro porque a Chapada do Araripe é uma das regiões mais ricas do planeta em acervo fossilífero de vermes, animais e plantas. Há registros, por exemplo em Missão Velha e Mauriti, de icnofósseis do período paleozoico – que datam de 400 milhões de anos, antes da era dos dinossauros. E achados do meio do período mesozoico – com idade de 251 a 65,5 milhões de anos – tempo da ocorrência de dinos, pterossauros, plantas, crustáceos e outras criaturas.

Tem outro detalhe, a Urca possui a maior produção científica do Brasil em pesquisa sobre fósseis de crustáceos de dez patas (decápodes) – camarões, caranguejos, lagostas e siris. São pelos menos 20 trabalhos publicados ou em finalização, segundo dados da universidade da região do Cariri cearense. “Ainda são poucos os pesquisadores brasileiros que se dedicam a este grupo fóssil”, afirmou Allysson Pontes no caderno Destino Geopark.

Na Urca, o lagostim da Antártica encontrou ambiente científico favorável para revelar informações paleontológicas de datação por correlação ou de condições ambientais sobre a Terra num passado de pelo menos 75 milhões de anos.

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