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O fôlego esperado para setores cearenses em 2021
Reportagem Especial

O fôlego esperado para setores cearenses em 2021

Construção civil, indústria, tecnologia, infraestrutura e energia devem seguir em alta. Retomada dos segmentos de turismo e serviços, no entanto, ainda depende da chegada da vacina contra a Covid-19

O fôlego esperado para setores cearenses em 2021

Construção civil, indústria, tecnologia, infraestrutura e energia devem seguir em alta. Retomada dos segmentos de turismo e serviços, no entanto, ainda depende da chegada da vacina contra a Covid-19
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Depois de uma queda estimada em 4,36% em 2020, a economia brasileira deve voltar a crescer neste ano. Uma base de comparação baixa, a chegada da vacina e a demanda reprimida estão dentre os fatores que sustentam as projeções do mercado financeiro de um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na ordem de 3,4% em 2021, segundo o mais recente Boletim Focus, do Banco Central. Para o Ceará, a aposta do Instituto de Pesquisas Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) é de uma alta mais robusta, 3,7%, e alguns setores devem despontar como mais promissores.

A construção civil é uma das apostas de forte contratação de mão de obra para os primeiros meses de 2021, segundo o estudo Farol da Economia, do Ipece. “A expectativa é de forte crescimento na produção do Estado para 2021 com vistas a atender a demanda latente reprimida e também para atender aos novos investimentos que estão sendo feitos tanto pelo setor público como pelo setor privado”, afirma o estudo.

Setor da construção civil deve ser dos com melhor crescimento em 2021
Setor da construção civil deve ser dos com melhor crescimento em 2021 (Foto: José Paulo Lacerda/CNI/Direitos reservados)

A indústria, setor que mais contribuiu para a melhora do PIB cearense no 3º trimestre de 2020, também deve seguir influenciando a retomada neste ano, na avaliação do gerente do Observatório da Indústria, Guilherme Muchale. A projeção estimada por ele é de uma alta de 6%. “O início da vacinação em diversos países, juros em níveis historicamente baixos e o aquecimento do mercado interno são alguns dos fatores que têm elevado a confiança dos industriais.”

 

Porém, ele alerta que a falta de insumos e a necessidade de continuidade das reformas, especialmente a tributária e a política, podem ser entraves nessa trajetória. “São gargalos que precisam de foco para garantir que o crescimento econômico do Estado e do País seja ampliado.”

Outro setor que ainda é pequeno na base econômica do Estado, mas tem passado por forte transformação nos últimos anos é o de tecnologia. Não só porque o consumo de internet e serviços relacionados aumentou muito durante a pandemia, mas porque mais empresas estão entrando no mercado cearense. 

Só no ano passado, o Ceará atraiu, dentre outros investimentos privados, a instalação de um centro de distribuição da B2W, gigante do e-commerce que gere empresas como Americanas.com, Submarino e Shoptime, para região metropolitana de Fortaleza; concluiu a ancoragem do cabo submarino da EllaLink, que vai conectar a capital cearense a Sines, em Portugal; e assinou memorando para instalação de uma datacenter da Elea Digital S/A.

Cabo submarino contecta a capital cearense a Sines, em Portugal
Cabo submarino contecta a capital cearense a Sines, em Portugal (Foto: Divulgação)

Também firmou no fim de novembro um acordo com a Amazon para instalar o primeiro centro de transformação digital do Brasil. Inicialmente serão ofertadas mil vagas de capacitação, mas o centro tem como pilar também a empregabilidade, a transformação digital, o empreendedorismo e pesquisa e desenvolvimento.

Com a empresa também está previsto para este ano um acordo para instalação de mais um datacenter, que será o quinto no Estado. “Estamos aguardando apenas melhores dias para que possamos viajar e assinar o acordo deste novo datacenter. Mas são investimentos com grande potencial de dinamizar a economia do Estado”, afirmou o secretário de desenvolvimento econômico e trabalho (Sedet), Maia Júnior.

Maia Júnior, secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho
Foto: MAURI MELO/O POVO
Maia Júnior, secretário de Desenvolvimento Econômico e Trabalho

Na área de marketplace, ele diz que está em processo de homologação uma parceria entre a gigante  Alibaba e a Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice). Também está engatilhado para este ano a atração de um hub de comércio exterior no Estado. “A empresa ainda não posso falar, mas é um baita negócio que vai possibilitar viabilizar qualquer tipo de transações comerciais a partir do Ceará.”

O setor de energia renováveis é outra área promissora, na avaliação do presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef-CE), Luiz Antonio Trotta Miranda. “Esse é um setor que tem passado por um processo grande de fusões e aquisições e segue com grande crescimento na matriz energética brasileira. Hoje já se fala até em plantas offshore no Estado.”

Movimentação no Centro de Fortaleza no fim de ano
Movimentação no Centro de Fortaleza no fim de ano (Foto: Barbara Moira)

Já a recuperação do setor de serviços e turismo estão mais atreladas à capacidade do Brasil de controlar a pandemia e da chegada da vacina. “Enquanto perdurar uma elevada curva de casos de Covid-19, esses setores ainda vão sofrer bastante antes de melhorar. Seja porque há restrições legais para que funcionem normalmente, seja porque as próprias pessoas ficam mais cautelosas e não usam com tanta frequência os serviços como antes”, opina o professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e sócio da GO Associados, Gesner Oliveira. 

 

Crescimento econômico atrelado a incertezas e aumento da desigualdade

 

Apesar do esperado crescimento econômico, ao que tudo indica, 2021 está longe de ser fácil. Principalmente para os mais pobres, que iniciam o ano sem previsão de auxílio emergencial, sem o Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm), que garantiu a manutenção de parte dos empregos, e com a inflação pressionando o custo de vida e a sobrevivência das pessoas.

Uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que, no ano passado, 10,93% dos domicílios no Ceará sobreviveram apenas com a renda do auxílio emergencial do governo. Além disso, dados do 3º trimestre de 2020 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad - IBGE) mostram que o rendimento médio real do trabalho principal habitualmente recebido no Estado não passou de R$ 1.613.

 

 

E se, no ano passado, o preço dos alimentos não deu folga e foi o grande vilão da inflação - o arroz, por exemplo, teve alta acumulada até novembro de 81,38% na Região Metropolitana de Fortaleza -, este ano, é esperada uma sobrecarga mais espalhada entre os itens, principalmente sobre os chamados preços administrados.

Planos de saúde, tarifas de ônibus, conta de água e esgoto são alguns dos itens que não foram reajustados em 2020 e voltam a subir neste ano.

 

O analista do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT/Sine), Erle Mesquita, também prevê um cenário difícil para retomada dos empregos. Ele diz que, apesar do saldo positivo de 16,4 mil novos postos de trabalho em novembro no Ceará, o melhor desempenho do Nordeste, conforme dados do Cadastro Geral de Empregos (Caged), é preciso considerar o contexto em que eles estão inseridos que é o da reabertura das atividades econômicas, o período eleitoral e a própria sazonalidade da reta final de ano que tradicionalmente emprega mais gente.

 Guilherme Muchale, economista
Foto: Deísa Garcêz/Especial para O POVO
Guilherme Muchale, economista

“Mas se olharmos a taxa de desemprego no Estado, desde 2016, está acima de dois dígitos. O quadro ainda é de muita incerteza, de preocupação frente ao grande número de trabalhadores desempregados, desalentados e subocupados no Estado. Isso sem falar que houve uma piora nas relações de trabalho, há mais precariedade.”

A taxa de juros, hoje em seu menor patamar histórico, de 2%, deve subir, mas não tanto. A projeção é de que chegue a 3%, segundo o Banco Central. Enquanto o dólar, que chegou no ano passado a superar a casa dos R$ 5, a tendência é de queda. “Deve cair, mas não tanto”, afirma o economista Luiz Antonio Trotta Miranda, presidente do Instituto Brasileiro dos Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE).

 

Ele explica que se o cenário internacional começa o ano com menos turbulências em razão do início do processo de vacinação em muitos países e o perfil mais equilibrado do novo presidente dos EUA, Joe Biden, por outro lado, no Brasil, ainda há muitas incertezas que devem mexer com o câmbio. “Vai depender muito de como serão tratadas as reformas essenciais que precisam ser feitas."

Professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Gesner Oliveira acredita que, de modo geral, o problema de paralisação da economia também deve ser superado neste ano, mas duas grandes incógnitas ainda persistem e devem ditar o ritmo de retomada. A primeira é a pandemia que no Brasil ainda não está controlada e nem há clareza sobre quando a vacina vai chegar. “E isso naturalmente afeta a economia e gera incerteza.”

 

E a outra é a questão fiscal. “Ainda serão necessários recursos para saúde, programas sociais para manter de alguma forma ou, pelo menos, parcialmente, os auxílios emergenciais. No entanto, as contas públicas estão quebradas e a previsão de déficit primário para 2021 supera os R$ 240 bilhões. Este com certeza será um grande problema a ser enfrentado.”


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