Puxar na memória ou indicar o nome de um jogador de futebol polonês era desafio ingrato até poucos anos atrás. Os mais aficionados poderiam citar Grzegorz Lato, líder da geração polaca que participante das Copas do Mundo de 1974 — na qual foi artilheiro e venceu o Brasil na decisão de terceiro lugar —, 1978 e 1982. Mas os tempos mudaram e um nome do país do leste europeu ganhou destaque, com diversos recordes alcançados e interrupção no reinado soberano de Messi e Cristiano Ronaldo entre os melhores do mundo: Robert Lewandowski, o atacante que recolocou a Polônia no mapa do futebol.
Nascido na capital Varsóvia, o grandalhão de 1,85m foi criado na pequena Leszno, cidade metropolitana. Filho de um ex-jogador e judoca, Krysztof Lewandowski, com uma ex-jogadora de vôlei, Iwona Lewandoviska, Robert cresceu com o esporte sendo parte da rotina. Deu seus primeiros passos no futebol no time de colégio, chamando a atenção do clube mais tradicional do País, o Legia Varsóvia, mas acabou não sendo aproveitado.
A carreira como profissional do atacante começou de fato na Terceira Divisão nacional, aos 17 anos. Após ser dispensado pelo Legia, Lewandowski trilhou os caminhos das divisões inferiores e teve rápida ascensão. No Znicz Pruskow, além do acesso, conseguiu ser o artilheiro da competição, com 15 gols — a primeira de muitas. Jogando na "Série B", foi mais uma vez o principal goleador, desta vez com 21 tentos anotados. A campanha rumo à elite não foi exitosa, mas os números renderam contrato com o Lech Poznan, tradicional equipe polonesa.
E foi ali onde o futebol de Robert começou a ganhar destaque nacional, ainda aos 19 anos. Em duas temporadas pelo Lech, o atacante fez 47 gols e conquistou a Copa da Polônia e o Campeonato Polonês. A partir daí, títulos e destaque individual em competições — artilharias, principalmente, — se tornaram recorrente na carreira do atacante.
As boas atuações do jovem polonês chamaram a atenção do gigante alemão Borussia Dortmund. Sob comando de Jürgen Klopp, atual técnico do Liverpool-ING, o clube pinçou atletas durante três janelas de transferências europeias para montar um dos melhores elencos da história recente aurinegra. Nomes como Roman Weidenfeller, Mats Hummels, Marcel Schmelzer, lkay Gündogan, Jakub "Kuba" Blaszczykowski, o brasileiro Tinga, Mario Götze, Ivan Perisic, Shinji Kagawa e posteriormente, Marco Reus, integraram o grupo.
A princípio, Lewandowski chegou ao elenco do BVB para a suplência de Lucas Barrios, o paraguaio que posteriormente passou por Palmeiras-SP e Grêmio-RS. O jovem se encontrou com dois outros poloneses, Kuba e Lukasz Piszczek. Na primeira temporada pelo Dortmund, aos 21 anos, Lewa foi coadjuvante no título alemão de 2010/11 como sobra de Barrios, que chegava à segunda temporada seguida com mais de 20 gols anotados.
O cenário começou a mudar com a lesão do paraguaio na campanha de 2011/2012, dando mais minutos ao polonês. Na primeira temporada como protagonista, Lewandowski fez 30 gols, deu 12 assistências e foi peça-chave nas conquistas do bicampeonato da Bundesliga e da Copa da Alemanha. Na final da copa nacional, o camisa 9 fez três tentos na histórica vitória por 5 a 2 sobre o todo-poderoso Bayern de Munique.
Com a explosão do polonês, Barrios acabou rumando para o futebol chinês, e Reus se juntou ao grupo para suprir a saída de Kagawa. Formou-se, então, o quarteto com Götze, Kuba, Reus e Lewandowski na temporada 2012/2013. Diante da então soberania nacional, o Borussia Dortmund dedicou as atenções à Liga dos Campeões, competição conquistada pela única vez em 1996/1997.
Os aurinegros fizeram campanha de destaque, mesmo sem a conquista da taça: invictos, terminaram a fase de grupos à frente de Real Madrid-ESP, Ajax-HOL e Manchester City-ING, conseguiram classificação emocionante nas quartas de final, com gol nos minutos finais do brasileiro Felipe Santana, e não tomou conhecimento ao reencontrar o Real Madrid na semifinal: goleada por 4 a 1, com os quatro tentos marcados por Lewandowski no Signal Iduna Park.
A grande final marcou o encontro com o Bayern de Munique e o fim de uma era gloriosa do Borussia, com a retomada do domínio dos bávaros. Na reedição da decisão da Copa da Alemanha, em meio à especulação da saída de Lewa para Munique e a negociação concretizada de Götze, o Bayern levou a melhor e conquistou o troféu continental. O camisa 9 terminou o torneio com 10 gols marcados, atrás apenas de Cristiano Ronaldo na artilharia. Na temporada, foram 36 bolas nas redes e mais 13 assistências.
Lewandowski de fato assinou pré-contrato com o Bayern e partiu para a última temporada pelo Borussia: na "última dança", anotou 28 gols e 13 assistências, levou o time às quartas de final da Champions League e a mais uma decisão da Copa da Alemanha contra o futuro clube, que levou a melhor sob o comando de Pep Guardiola e conquistou o troféu.
O fim da passagem do polonês pelo Dortmund foi criticada não pelo desempenho, mas pela forma como as coisas se desenrolaram. A troca, no entanto, foi o melhor cenário possível para o atacante, que acumula recordes com a camisa dos bávaros, enfim conquistou a Champions League e foi escolhido o melhor jogador do mundo em 2020, aos 32 anos, batendo os soberanos Messi e Cristiano Ronaldo.
Além da Champions de 2019/2020, Robert ganhou todas as edições da Bundesliga que disputou pelo Bayern de Munique (sete), conquistou três títulos da Copa da Alemanha e um Mundial de Clubes. Já são quatro temporadas seguidas marcando ao menos 40 gols. Na última, balançou as redes 41 vezes apenas no Campeonato Alemão e superou a marca do lendário Gerd Müller. Os dois, aliás, também ocupam as primeiras posições de maiores artilheiros do Bayern — com vantagem para o ídolo alemão, que jogou 16 temporadas na Baviera.
Os números não poderiam render outro desfecho: o polonês ficou à frente de Messi e CR7 e faturou o Fifa The Best. O craque argentino e o astro português alternavam a conquista desde 2008 — com uma única interrupção em 2018, quando o croata Luka Modric levou a melhor — e somam 11 prêmios juntos, seis para o sul-americano e cinco para o ibérico. A temporada histórica de Lewa resultou em maioria de votos de capitães e técnicos das seleções e jornalistas.
O sucesso individual se estendeu também à seleção polonesa, ainda que sem grande êxito coletivo. Ao contrário da geração comandada por Lato, que abocanhou duas medalhas olímpicas e ficou duas vezes em terceiro lugar da Copa do Mundo (1974 e 1982), Lewa e seus companheiros não conseguiram conquistas épicas e buscam recolocar a Polônia de volta ao cenário do futebol mundial.
A equipe chegou às quartas de final da Eurocopa-2016, perdendo nos pênaltis para Portugal — que se sagrou campeão . A Copa do Mundo de 2018, na Rússia, marcou um retorno após 12 anos de ausência. A equipe, porém, terminou na lanterna do fraco Grupo H, atrás de Colômbia, Japão e Senegal, apesar de ser a cabeça-de-chave. Ele saiu zerado nas três partidas do Mundial, um fato raro na trajetória de um jogador que frequentemente flerta com a marca de um gol por partida de média na temporada.
Apesar do insucesso na primeira Copa do Mundo, Robert Lewandowski já é o maior artilheiro da Polônia com 63 gols, superando Wlodzimierz Lubanski (48), Grzegorz Lato (45) e Kazimierz Deyna (41), trio da época de ouro.
Para além dos títulos, recordes e conquistas individuais, o centroavante já se credenciou como maior e melhor jogador polonês da história e atingiu um feito e tanto: recolocar o país no mapa do futebol. (Colaborou Horácio Neto / Especial para O POVO)