Eleitos há menos de um ano e com mandato garantido até o final de 2024, diversos vereadores de Fortaleza já avaliam trocar os cargos de olho em voos mais altos na política do Estado. Até agora, pelo menos 14 vereadores já “estão no páreo” das eleições 2022, em busca por vagas na Assembleia Legislativa (AL-CE) ou na Câmara dos Deputados.
Este número representa cerca de 33% – um terço, portanto – de todos os 43 vereadores eleitos na eleição de 2020 em Fortaleza. O índice é significativamente maior do que o registrado em 2018, quando 11 vereadores – cerca de um quarto da Casa – entraram na disputa por cargos de deputado estadual ou deputado federal.
Naquela eleição, saíram vitoriosos Acrísio Sena (PT), Salmito Filho (PDT) e Soldado Noelio (Pros), todos eleitos para a Assembleia, além de Célio Studart (PV), eleito deputado federal. Outros vereadores conseguiram ainda boas colocações nas suplências dos partidos. Caso do vereador Guilherme Sampaio (PT), que assumiu vaga de deputado estadual neste mês.
Proporcionalmente, o fenômeno é mais recorrente entre parlamentares eleitos pela oposição ao prefeito José Sarto (PDT). Apesar de a base governista ser significativamente maior na Câmara Municipal, seis dos 14 vereadores pré-candidatos – quase a metade – foram eleitos pela oposição e mantêm postura crítica à gestão no Legislativo.
Pré-candidato a deputado federal – ou pelo Pros ou pelo PSL, dependendo de definições da Justiça –, Julierme Sena associa o movimento ao recente crescimento registrado pela oposição em 2020. “Acreditamos que a tendência para essas eleições de 2022 ainda é pela mudança”, diz, destacando que o grupo deve lançar até duas chapas para a disputa.
Ele destaca ainda como outro fator decisivo para as candidaturas o lançamento da pré-candidatura do Capitão Wagner (Pros) ao Governo do Estado. “Ter um candidato forte é sinal de que vamos ter apoio de lideranças, ter mais aliados. Vamos buscar apoio dessa turma que tem representatividade nos municípios”, destaca o parlamentar.
Maior partido na Câmara de Fortaleza e na Assembleia Legislativa, o PDT já tem três possíveis pré-candidatos entre os mais lembrados por vereadores da Casa. Todos eles, no entanto, ainda evitam “confirmar” entrada na disputa. Atualmente, a estratégia do partido é conduzida pelo senador Cid Gomes (PDT) e pelo ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT).
Um dos pedetistas citados por colegas, o vereador Julio Brizzi, por exemplo, diz apenas estar “à disposição" do partido. “É uma decisão do partido, quem decide é ele. No momento apropriado, ele vai se reunir e decidir que rumo vai tomar”, desconversa.
Outro nome dado como certo na disputa é o do presidente da Câmara Municipal, Antônio Henrique (PDT). Apadrinhado político de José Sarto há vários mandatos, ele é tido como “candidato natural” à vaga aberta pela eleição de Sarto como prefeito da Capital.
O vereador, no entanto, diz apenas que "ainda está avaliando" a possibilidade. A cautela de pedetistas faz sentido, levando em conta que a sigla já tem 13 deputados estaduais e seis deputados federais, quase todos já na “fila” em busca de reeleição.
Outra sigla com situação curiosa é o PT, em movimento puxado pelo retorno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao jogo eleitoral. Com pré-candidatura do petista praticamente confirmada, a sigla vive expectativa de número recorde de candidatos em todo o Ceará, incluindo os vereadores Guilherme Sampaio e Larissa Gaspar, de olho no apelo popular de Lula.
Do outro lado, o mesmo ocorre entre seguidores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Capital. Entre eles, será candidato Carmelo Neto (Republicanos), que disputará vaga na Assembleia em dobradinha com o atual deputado André Fernandes (Republicanos), que tentará vaga na Câmara Federal. Outros bolsonaristas na disputa incluem Ronaldo Martins (Republicanos) e Priscila Costa (PSC), ambos candidatos a deputado federal.
“Acredito que temos tido uma boa resposta do povo de Fortaleza em relação ao mandato como vereadora e isso nos dá força e respaldo para brigar em 2022. Muitas das nossas pautas são discutidas no Congresso Nacional, por isso acabo sendo atraída por esse ambiente”, diz Priscila Costa.
É fácil entender por que vereadores recém-eleitos já articulam, um ano após vencerem nas urnas, novas disputas em 2022. Em Fortaleza, a história está cheia de exemplos de lideranças que tiveram como berço político um mandato na Câmara Municipal. Mais do que espaço maior de representação local, o Legislativo da Capital é visto também como “trampolim” para a política cearense e nacional.
A noção foi destacada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na última sexta-feira, 13, durante viagem a Juazeiro do Norte, no Cariri. “O vereador é quase sempre o início de uma grande carreira política de um homem ou de uma mulher”, disse, ao apresentar o vereador Carmelo Neto (Republicanos), pré-candidato a deputado estadual no ano que vem.
A tese é especialmente verdadeira no caso da Prefeitura de Fortaleza. Apenas na última década, dois dos três prefeitos eleitos iniciaram suas carreiras políticas como vereadores da Capital – Luizianne Lins (PT) e José Sarto (PDT).
Segundo colocado na disputa de 2020 em Fortaleza, o deputado federal Capitão Wagner (Pros) também recebeu seu primeiro mandato público efetivo na Câmara de Fortaleza em 2012, embora tenha chegado a assumir antes como suplente de deputado estadual. Hoje, ele é nome praticamente certo na disputa pela sucessão de Camilo Santana (PT) para o Governo do Estado ano que vem.
Nos bastidores da Assembleia Legislativa, deputados estaduais também costumam falar da existência “cadeiras cativas” de vereadores de Fortaleza na Casa, uma vez que é comum que ex-integrantes da Câmara sejam eleitos em todo pleito. Além de Acrísio Sena (PT), Salmito Filho (PDT) e Soldado Noelio (Pros) em 2018, vários outros vereadores conseguiram “ascender” do Parlamento Municipal para o Estadual.
Para o cientista político Cleyton Monte, da Universidade Federal do Ceará (UFC), o aumento no número de vereadores candidatos ocorre principalmente por conta das atuais regras eleitorais em vigor no Brasil. Um ponto-chave é a extinção das coligações proporcionais no País, que, embora tenha sido revertida em votação recente pela Câmara dos Deputados, ainda devem permanecer revogadas para a eleição de 2022.
“Como no ano que vem, até agora, a gente não vai ter coligações proporcionais, então é muito importante para os partidos terem nomes que puxem votos para conseguirem completar o quociente eleitoral. A Câmara aprovou agora em agosto a volta das coligações, mas ainda não se sabe se vale para 2022. Então, quando tem nomes de vereadores, isso ajuda a garantir um percentual maior de votos para os partidos”, destaca.
Sobre o grande número de opositores na disputa ele destaca uma série de fatores, incluindo a própria estratégia adotada pelo bloco de oposição no Ceará, coordenado por Capitão Wagner e pelo senador Eduardo Girão (Podemos). “Eles querem não só ter um candidato ao governo turbinado, mas também várias outras candidaturas a deputado”, avalia.
Cleyton destaca ainda um crescimento expressivo no eleitorado conservador em Fortaleza, apontado nas últimas pesquisas. “Esses nomes não estão mais só falando para nichos específicos, mas para um eleitorado em expansão, então começa a ter uma conexão com esses grupos”, afirma.