Em visita ao Ceará ontem para entregar 2,8 mil casas de um conjunto habitacional em Juazeiro do Norte, no Cariri, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez duras críticas ao governador Camilo Santana (PT), comparou-se a Padre Cícero e encerrou discurso com uma tentativa de imitar a famosa "vaia cearense".
Ao lado de deputados do estado e de ministros da República, Bolsonaro atacou medidas de enfrentamento à pandemia, como decretação de lockdown e outras, adotadas por Camilo nos últimos meses.
"Essas medidas de alguns governadores, entre eles o deste estado, foram, além de impensadas, muito mal recebidas pela população. Mandar ficar em casa sem prover ganho para subsistência é mais do que uma maldade, é um ato criminoso", declarou o mandatário.
Na sua terceira passagem pelo Ceará desde que se elegeu chefe do Executivo, Bolsonaro estava acompanhado de uma comitiva menor de parlamentares locais do que nas agendas anteriores: inauguração de trecho da transposição do São Francisco, em junho de 2020, e assinatura de ordem de serviço de obras viárias em Tianguá e Caucaia, em fevereiro deste ano.
Mesmo o número de pessoas que o seguiam, entre curiosos e apoiadores no local, era menor comparativamente ao verificado em outras ocasiões.
Participaram do evento dessa sexta-feira o general Augusto Heleno (GSI), o ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), o presidente da Caixa Pedro Guimarães e os deputados federais Pedro Bezerra (PTB), Jaziel Pereira (PL) e Capitão Wagner (Pros).
Ao anunciar a presença de Wagner, o presidente fez aceno para 2022, antecipando apoio à pré-candidatura do deputado ao Governo do Estado: "Tenho certeza de que, assim como o Brasil tem um capitão, o Ceará terá brevemente um capitão também".
Entre deputados estaduais e vereadores, estavam ainda Silvana Oliveira (PL), Delegado Cavalcante (PTB) e André Fernandes (Republicanos), que cumprem mandato na Assembleia Legislativa (AL-CE), além de Priscila Costa (PSC) e Carmelo Neto (Republicanos), com assento na Câmara Municipal de Fortaleza.
Ao público presente, Rogério Marinho defendeu que "o Brasil era cemitério de obras inacabadas". Em seguida, traçou paralelo entre Bolsonaro e Padre Cícero: "O senhor defende os mesmos valores do padre".
Em sua fala, o chefe da nação reiterou que, assim como Cícero, um dos marcos da religiosidade nordestina, era também um defensor da família e da propriedade privada. "Hoje vocês têm um presidente que acredita em Deus, que respeita seus militares, que defende a família, que deve lealdade a seu povo", acrescentou.
Bolsonaro foi então presenteado com uma réplica do "padim", entregue pelo prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos), que desfiou fartos elogios ao capitão da reserva e foi muito aplaudido por quem acompanhava os pronunciamentos.
À menção do nome do deputado Pedro Bezerra (cujo pai, Arnon Bezerra, é ex-prefeito da cidade), a plateia vaiou, chegando a interromper o discurso de Bolsonaro, que emendou: "As manifestações vindas do povo são sempre bem-vindas".
"Dificilmente um político não passou por situações antagônicas", continuou o presidente. "Isso serve para redimensionar muitas vezes o nosso trabalho. Isso faz parte da regra do jogo."
Na agenda, a segunda no Ceará em menos de seis meses, Bolsonaro foi recepcionado no Aeroporto Orlando Bezerra de Menezes por grupo de aliados, que se juntaram à comitiva presidencial, realizando motociata até o local da cerimônia de entrega das residências, dentro do programa Casa Verde e Amarela.
Realizado no pátio de um dos conjuntos inaugurados, o evento se estendeu por quase duas horas, ao fim das quais Bolsonaro, finalizando discurso, tentou imitar uma "vaia cearense". Do Ceará, o presidente seguiu para Resende, no Rio de Janeiro, onde tinha agenda ainda nessa sexta-feira, 13. (Henrique Araújo/enviado a Juazeiro do Norte)
Ao finalizar um discurso a apoiadores em Juazeiro do Norte, na região do Cariri, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tentou imitar uma “vaia cearense”. pic.twitter.com/v8rMiQZgoG
— Jogo Político (@jogopolitico) August 13, 2021