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Mulher Maravilha celebra 80 anos em meio a novos tempos para heróis
Reportagem Especial

Mulher Maravilha celebra 80 anos em meio a novos tempos para heróis

| CULTURA POP | Considerada a maior super-heroína de todos os tempos, a Mulher Maravilha completa 80 anos como símbolo de temas pulsantes, a exemplo do feminismo e da busca pela paz, além de inspirar itens de consumo e novas histórias na indústria cultural

Mulher Maravilha celebra 80 anos em meio a novos tempos para heróis

| CULTURA POP | Considerada a maior super-heroína de todos os tempos, a Mulher Maravilha completa 80 anos como símbolo de temas pulsantes, a exemplo do feminismo e da busca pela paz, além de inspirar itens de consumo e novas histórias na indústria cultural
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Diana nasceu e cresceu como princesa da ilha mítica de Themyscira, também conhecida como Ilha Paraíso. Lá, viviam as amazonas — na mitologia grega, mulheres imortais de uma nação de guerreiras. Criada também como combatente, Diana desenvolveu o senso de justiça. Dona de uma super força, ela chega à Terra para defender igualdade, amor e paz. Munida de seus braceletes protetores e do seu laço da verdade, logo torna-se a super-heroína Mulher-Maravilha.

Essa história, publicada nos quadrinhos pela editora estadunidense DC Comics, foi criada em 1941 pelo psicólogo William Marston e pelo desenhista H. G. Peter. Apesar das diversas modificações da trama desde então, a Mulher-Maravilha completa 80 anos — celebrados na última quinta-feira, 21 — como símbolo de temas cada vez mais pulsantes na sociedade contemporânea.

Considerada a maior super-heroína de todos os tempos, a personagem evoca feminismo, empoderamento, coragem, poder e busca pela verdade e pela paz mundial. Uma das primeiras personagens mulheres dos quadrinhos segue inspirando, inclusive, itens de consumo e a criação de novas histórias na indústria cultural.

 

Mulher-Maravilha em várias referências

 

Ultrapassando o universo das HQ's, a Mulher-Maravilha influencia também o audiovisual, a moda, o design, a beleza, a arquitetura e até a música. Quem lembra dos versos "Foge, foge Mulher Maravilha/ Foge, foge com Superman", sucesso do carnaval de 2011 da banda LevaNóiz? Mais que isso: a figura da Mulher-Maravilha atravessa o imaginário de gerações.

 
 

 

Mulher-Maravilha abre caminho para novas heroínas

 

Mulher-Maravilha abriu caminhos para a popularização de personagens mulheres nos quadrinhos e nas demais linguagens. A atriz Cathy Lee Crosby foi a primeira a interpretar a super-heroína, num filme feito especialmente para a televisão, em 1974. Mas quem teve rosto eternizado na figura da personagem foi Lynda Carter, que interpretou a Mulher-Maravilha em série de televisão dos anos 1970. Mais recente, em 2017, a atriz israelense Gal Gadot foi a responsável por dar vida ao primeiro filme solo da heroína nos cinemas. Apenas nos quadrinhos da DC Comics, é possível citar ainda: Supergirl, BatGirl, Canário Negro, Batwoman e Ravena.

O expoente de personagens mulheres é tão recente que a Mulher Invisível, uma das primeiras heroínas da Marvel (editora concorrente da DC), por exemplo, foi criada 20 anos depois da Mulher-Maravilha. Em 1964, a Viúva Negra apareceu na série de revistas “Tales of Suspense”. A Capitã Marvel, super-heroína mais popular da Marvel, ganhou o mundo dos quadrinhos, sob o roteiro de Roy Thomas e desenho de Gene Colan, apenas em 1968. A personagem foi, inclusive, a primeira a ter um filme solo nos cinemas. Lançado em 2019, o longa conta com Brie Larson interpretando a protagonista.

Em 2021, foi a vez da Viúva Negra ganhar filme solo. A personagem foi interpretada por Scarlett Johansson. A atriz já havia sido escalada para o papel em outros filmes do Universo Marvel, a partir de Homem de Ferro 2 (2010). O longa-metragem é o 2º em números de bilheteria de estreia nos Estados Unidos, desde a pandemia da Covid-19. A produção só perdeu o posto neste mês, com o lançamento de Venom 2.

Ainda no âmbito da Marvel, a Feiticeira Escarlate alcançou repercussão recentemente. Isso porque a personagem ganhou adaptação em série para a Disney. “WandaVision" mescla o estilo dos clássicos sitcoms ao Universo Marvel. Na obra, os “super-seres” Wanda Maximoff e Visão escondem seus poderes para viverem uma vida no subúrbio. A produção é baseada nos personagens dos quadrinhos Feiticeira Escarlate e Visão.

Scarlett Johanssonno filme Viúva Negra(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Scarlett Johanssonno filme Viúva Negra

Entre as novas heroínas do agora, também está a feroz e misteriosa guerreira Thena, interpretada por Angelina Jolie no filme “Eternos”. No longa, “eternos” são seres imortais que vivem na Antiga Terra. A trama estreia em 7 de novembro nos cinemas.

Ao longo do tempo, outras pautas sociais emergiram nas histórias em quadrinhos e, consequentemente, nas suas adaptações. Exemplo disso é que, também em “Eternos” (2021), a Marvel apresenta seu primeiro super-herói gay. O personagem Phastos será interpretado por Bryan Tyree Henry. Embora não seja o foco da produção, a sexualidade do personagem será tratada no enredo. Assim antecipou o produtor Nate Moore em entrevista ao ScreenRant. No filme, Phastos é casado com o personagem de Haaz Sleiman. Eles também têm um filho. “Eternos” exibirá o primeiro beijo gay masculino do Marvel nos cinemas.

Ainda sem apresentações fora dos quadrinhos, a personagem America Chavez, da Marvel, é a primeira personagem latinoamericana LGBTQIA+. Jon Kent, filho do Super-Homem, também rompe os padrões heteronormativos das HQs. A DC Comics anunciou, neste mês, que o “novo Super-Homem” assume ser bissexual na edição “Superman: Son of Kal-El”, com lançamento previsto em 9 de novembro.

"Novo Super-Homem" assume ser bissexual em "Superman: Son of Kal-El" (2021)(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação "Novo Super-Homem" assume ser bissexual em "Superman: Son of Kal-El" (2021)

Outro exemplo é o Pantera Negra, o primeiro super-herói negro dos quadrinhos da Marvel, criado em 1966. Sua adaptação para os cinemas bateu recordes em bilheterias pelo mundo, superando a marca de R$ 1 bilhão de dólares. Na DC Comics, o primeiro super-herói negro a protagonizar seu próprio quadrinho foi John Stewart, o Lanterna-Verde.

Em 2019, o livro “Vingadores, a Cruzada das Crianças”, da Marvel, foi censurado pelo então prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella. O gestor, também bispo licenciado pela Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), solicitou que a Bienal do Livro da capital carioca recolhesse a publicação. A HQ, que apresenta a história de jovens super-heróis, contava com um casal de homens se beijando.

Após a polêmica, o influenciador digital, ator e empresário Felipe Neto comprou 10 mil livros com a temática LGBTQIA+ para distribuir no evento. No embrulho dos exemplares, o aviso: “Este livro é impróprio para pessoas atrasadas, retrógradas e preconceituosas”. 

 

 

“Símbolo pop feminino mais forte da história”

 
 Ivigna Sales, faz cosplay da Mulher-Maravinha e, nos 80 anos da personagem, compartilha traje ao VidaENTITY_amp_ENTITYArte O POVO(Foto: (Thais Mesquita/OPOVO))
Foto: (Thais Mesquita/OPOVO) Ivigna Sales, faz cosplay da Mulher-Maravinha e, nos 80 anos da personagem, compartilha traje ao VidaENTITY_amp_ENTITYArte O POVO

 O interesse de Ivigna Sales, 24, pela Mulher-Maravilha surgiu a partir da adaptação da personagem dos quadrinhos para o cinema. O filme “Mulher Maravilha” (2017) aborda a trajetória da protagonista. “A (atriz) Gal Gadot me cativou de um jeito que não consigo explicar”, diz Ivigna. Essa produção, em que a personagem aparece pela primeira vez num filme solo nos cinemas, antecede a “Liga da Justiça” (2017).

Na trama, Bruce Wayne (Ben Affleck), inspirado pelo Superman (Henry Cavill), convoca a aliada Diana Prince (Gal Gadot) para combater um inimigo. Com Aquaman (Jason Momoa), Cyborg (Ray Fisher) e Flash (Ezra Miller), eles tentam salvar o planeta. Gal Gadot ainda protagoniza “Mulher Maravilha 1984” (2020), em que Diana enfrenta os inimigos Max Lord e Mulher-Leopardo.

Ivigna pratica a arte de transformar-se em personagem, o chamado cosplay. Quando assistiu o primeiro filme da Mulher-Maravilha nos cinemas, foi instantâneo: “Pensei de cara que o traje era maravilhoso. Fiquei dias pensando em como eu ia fazer aquele cosplay. Um mês depois, eu já tinha feito o traje completo. Deu um trabalhão... mas valeu a pena!”. A cosplayer usa bastante o adereço para animar a criançada, principalmente no mês de Outubro e em aniversários, mas também em eventos de cinema. “Traz uma renda a mais e ainda consigo deixar alguém feliz”, conta.

Para Ivigna, a Mulher-Maravilha representa um “símbolo de força e empoderamento”. A cosplayer compartilha: “Uma mulher que inspira não só outras mulheres, mas ensina que nós podemos ser muito mais fortes do que pensamos. É o símbolo pop feminino mais forte da história. Ela traz consigo toda uma luta, não só por ser uma mulher extremamente forte mas, também, por mostrar que consegue fazer as coisas que ela deseja sozinha. Ver essa representatividade da mulher como protagonista no cinema faz com que mulheres ao redor do mundo criem coragem para estar lá também, dessa vez, não como a ‘donzela em perigo’, mas sim, como a heroína mais forte. Ver cenas como essa faz com que as próximas gerações tenham em mente que elas são capazes de sonhar alto e realizar os seus desejos”.

 

 

Mulher-Maravilha: origem e mitologia

 

Nos primeiros quadrinhos, a mulher-maravilha aparecia de saia e convidava o público às aventuras de uma super-heroína(Foto: Divulgação/DC Comics)
Foto: Divulgação/DC Comics Nos primeiros quadrinhos, a mulher-maravilha aparecia de saia e convidava o público às aventuras de uma super-heroína

Concebida em meio a Segunda Guerra Mundial, a trama dialoga com a época em que os Estados Unidos encarnou diversos mitos heróicos e com a ascensão dos movimentos feministas. Enquanto os homens estavam na guerra e as mulheres trabalhavam em fábricas, a Mulher-Maravilha surgia como símbolo de força, vestida com saia, tomara-que-caia e botas das cores da bandeira norte-americana.

As primeiras versões em quadrinhos indicam que a princesa foi esculpida em barro pela rainha Hipólita, sua mãe. Após o nascimento, Diana teria sido abençoada por deuses do Olimpo. As edições da época determinavam alguns de seus poderes: “Bela como Afrodite, sábia como Atena, forte como Hércules, e rápida como Hermes”.

Quando o piloto do exército norte-americano Steve Trevor cai na ilha de Themyscira, Diana o resgata. Enviada a Terra para salvar a humanidade de suas disputas, ela adota o codinome Diana Prince. Nas histórias, a personagem já foi enfermeira, secretária, agente do Departamento de Defesa do País e proprietária de uma loja de roupas. Participou, ainda, da fundação da Liga da Justiça, o primeiro grupo de super-heróis das histórias em quadrinhos.

 

 

Quando a heroína foi escanteada

 

Em dado momento, a Mulher-Maravilha foi inserida como secretária da Liga da Justiça. Nos quadrinhos, a personagem era constantemente “deixada de lado” nas missões do grupo de super-heróis — o que irritou bastante o criador da história, William Marston, segundo a revista Super Interessante. Após a morte do autor, em 1947, corpo e vestimentas de Diana foram modificados. A personagem ganhou mais músculos, curvas e roupas menores. No decorrer dos anos, chegou até a perder seus poderes. Só em 1972, por pressão de ativistas, a Mulher-Maravilha retornou ao status de super-heroína. Com o sucesso, vieram as diversas adaptações para as demais linguagens.

 

 

Ícone do movimento feminista

 

No livro "A psicologia da Mulher-Maravilha" (2017), de Travis Langley e Mara Wood, aborda as virtudes da super-heroína(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação No livro "A psicologia da Mulher-Maravilha" (2017), de Travis Langley e Mara Wood, aborda as virtudes da super-heroína

No livro “A psicologia da Mulher-Maravilha” (2017), Travis Langley e Mara Wood passeiam pelas virtudes da super-heroína. Segundo os autores, a personagem deve ser inspiração para toda a humanidade. Travis Langley é o principal autor de livros que articulam a psique por trás das produções da cultura pop. Na obra, 20 ensaios abordam a história da Mulher-Maravilha e como a personagem continua representando temas atuais. Entre os assuntos, são analisados emoção, força, virtudes e cultura no comportamento de Diana, além de estereótipos de gênero e liderança. A edição também explora como a família colabora para as noções de independência e moralidade nos sujeitos. O livro está disponível na Amazon, em versões impressa (R$ 39,90) e digital para Kindle (R$ 26,91).

Mais info: www.amazon.com.br

No artigo “Mulher-Maravilha e as Virtudes Maravilhosas” (2020), os pesquisadores Carolina Natividade e Célio Costa investigam como a Mulher-Maravilha se tornou, não só um ícone do movimento feminista, mas também uma figura com lições para toda a sociedade. De acordo com os pesquisadores, suas atitudes revelam valores como justiça, compaixão, conhecimento, generosidade e sabedoria. Assim, o enredo impacta tanto de maneira individual quanto coletiva. “Sua essência educadora é constante”, diz trecho do artigo. A publicação integra a 24ª edição do periódico “Aprender - Caderno de Filosofia e Psicologia da Educação”, da Universidade Estadual Do Sudoeste Da Bahia (UESB) — que apresenta o “Dossiê: a super-educação dos heróis e heroínas - HQs, filmes, séries”, organizado pelo professor doutor Leonardo Maia.

Mais info: periodicos2.uesb.br/

 

 

Inspiração para as crianças

 

A editora Dentro da História lança o livro "Mulher-Maravilha - A Vingança da Mulher Leopardo", escrito por Sidney Gusman(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação A editora Dentro da História lança o livro "Mulher-Maravilha - A Vingança da Mulher Leopardo", escrito por Sidney Gusman

A editora Dentro da História lança o livro “Mulher-Maravilha - A Vingança da Mulher Leopardo”, escrito por Sidney Gusman, para a criançada. No livro personalizável, os pequenos, além de conhecerem a história da personagem, realizam uma imersão junto à protagonista. As famílias podem personalizar a história, inserindo nomes e fotos de suas crianças na trama. Basta acessar a plataforma virtual da editora. Para Cláudia Onofre, consultora pedagógica da Dentro da História, personagens como a Mulher-Maravilha podem ensinar um tanto sobre empoderamento. A infância, segundo a consultora, é o momento ideal para aprender que você pode conquistar tudo o que imagina.

Mais info: www.dentrodahistoria.com.br/dc/mulher-maravilha

 

Mulher-Maravilha brasileira


 

Yara-flor é a Mulher-Maravilha brasileira. Criada pela quadrinista norte-americana Joëlle Jones, a personagem vem da Floresta Amazônica. Ela aparece na linha DC Future Slate, ao lado de Jon Kent, filho do Super-Homem. Para criar a personagem, a autora teve como inspiração a atriz e modelo cearense Suyane Moreira. Lançada em junho de 2021, a edição está disponível em versão original, em inglês, na Amazon. Em maio deste ano, Suyane realizou uma sessão de fotos vestida de Mulher-Maravilha e compartilhou aos seus seguidores no Instagram.

 

 

Para celebrar a senhora Mulher-Maravilha

 

O DC FanDome 2021, convenção de quadrinhos e entretenimento realizada na plataforma on-line da DC Comics, aconteceu no último dia 16. Com trailers, entrevistas e amostras, o evento contou com a participação de criadores e protagonistas do Universo DC. Na HBO Max, é possível assistir aos momentos marcantes da programação, como a celebração dos 80 anos da Mulher Maravilha. No registro em vídeo, a diretora Patty Jenkins (da franquia de filmes) conversa com Lynda Carter (da série de televisão dos anos 1970) sobre a personalidade corajosa de Diana. Na ocasião, a diretora deu a entender que Lynda estaria no terceiro filme da franquia com Gal Gadot, que já está em fase de desenvolvimento.

Mais info: www.hbomax.com

Em homenagem ao 80º aniversário da Mulher-Maravilha, a DC, a Warner Bros. Games e a NetherRealm Studios lançaram uma nova versão da combatente no aplicativo Injustice 2 Mobile. Até quinta-feira, 28, os jogadores poderão selecionar a Mulher-Maravilha Clássica, com as características originais dos quadrinhos, para suas lutas. Os usuários também podem participar de eventos especiais e são presenteados com recompensas.

Mais info: www.warnerbrosgames.com

A Wonder Woman Day, comemoração global de fãs da Mulher-Maravilha, aconteceu on-line no último dia 21, com lançamentos especiais para comemorar os 80 anos da personagem, como a inclusão da super-heroína no Character Hall of Fame do Comic-Con Museum — que reconhece o valor e a influência de grandes personagens da arte dos quadrinhos. Com o título, a Mulher-Maravilha se junta ao Pac-man e ao Batman.

Mais info: @comicconmuseum

 

 

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