Logo O POVO+
Telescópio James Webb: a nova aposta para avançar na exploração espacial
Reportagem Especial

Telescópio James Webb: a nova aposta para avançar na exploração espacial

A origem do universo e a busca por vida fora da Terra são algumas das dúvidas históricas da humanidade que o telescópio deve ajudar a solucionar em sua viagem de pelo menos cinco anos no espaço

Telescópio James Webb: a nova aposta para avançar na exploração espacial

A origem do universo e a busca por vida fora da Terra são algumas das dúvidas históricas da humanidade que o telescópio deve ajudar a solucionar em sua viagem de pelo menos cinco anos no espaço
Tipo Notícia Por

 

 

Um novo caminho para o conhecimento sobre o universo. Esse é o objetivo de cerca de 30 anos divididos entre planejamento e construção do James Webb, considerado o maior, mais poderoso e mais complexo telescópio espacial já construído até agora. Lançado ao espaço no dia 25 de dezembro de 2021, o equipamento entrou em um processo de duas semanas para assumir sua forma definitiva, com instalação de antenas, espelhos e um escudo contra o sol.

No Ceará, o professor de astronomia Ednardo Rodrigues, colaborador da Seara da Ciência da Universidade Federal do Ceará (UFC), dividiu a atenção das comemorações natalinas com uma reunião entre especialistas para saudar o lançamento do novo satélite. “A humanidade está recebendo seu presente de Natal. Finalmente, o telescópio James Webb ficou pronto após 14 anos de adiamento”, disse durante transmissão ao vivo no Youtube na manhã do dia 25.

No dia anterior, o docente deixou a confraternização com os familiares um pouco mais cedo, para acordar com disposição para o lançamento do foguete. No horário de Fortaleza, o Webb foi enviado ao espaço por volta de 9h20min, a partir da base Kourou, na Guiana Francesa.

 

Na tarde do dia 8 de janeiro, a Nasa, agência espacial norte-americana, publicou um vídeo em que engenheiros celebram que o telescópio assumiu sua forma final no espaço. “Hoje está sendo um dia realmente histórico. Representa o começo da jornada de descobertas que essa máquina incrível fará”, disse Bill Oakes, gerente de projeto do James Webb, momentos após o anúncio. Vários cientistas ao redor do mundo certamente compartilharam o entusiasmo de Oakes, tentando controlar a expectativa para chegar às respostas de suas maiores dúvidas.

O telescópio James Webb, lançado ao espaço em dezembro de 2021, levou 30 anos para ser construído(Foto: AFP)
Foto: AFP O telescópio James Webb, lançado ao espaço em dezembro de 2021, levou 30 anos para ser construído

O capitão Romário Fernandes, professor de astronomia do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros e articulista do OP+, explicou que o James Webb é um passo importante para que a humanidade realmente consiga entender o universo. “Representa um avanço sem precedentes em termos de engenharia aeroespacial e de sensibilidade na captura de dados. Vamos nos aproximar do conhecimento da formação das primeiras estruturas do universo, como o surgimento das galáxias”, aponta o pesquisador.

Os estudos do telescópio serão voltados para o que é chamado de "universo primordial", conforme explica o professor Ednardo Rodrigues. “Na astronomia, quando olhamos para as estrelas, estamos vendo imagens do passado. Por exemplo, a luz do Sol demora 8min20seg para chegar até nós aqui na Terra. Então, vemos uma imagem do passado do Sol com esse tempo de atraso”, esclarece. “O James Webb irá observar o universo a 13,6 bilhões de anos no passado, muito próximo do Big Bang. Ele deve nos mostrar como eram as primeiras estrelas do universo”, detalha o docente.

Em relação ao Hubble, um dos principais destaques da astronomia no fim do século XX, Romário Fernandes explica que a atuação do Webb deve acontecer de forma complementar. “O novo telescópio veio preencher uma lacuna de resolução, sensibilidade e capacidade de análise que falta ao Hubble. Ele foi concebido justamente em função dos grandes avanços que o Hubble nos permitiu”, afirma o professor. De acordo com a Nasa, um dos principais diferenciais do novo telescópio é a maior capacidade de ver a luz infravermelha, além do espectro de luz visível ao olho humano.

“A luz infravermelha poderá revelar um universo invisível, frio e escuro, já que vários objetos celestes têm pouca ou nenhuma luz visível. O Webb pode abrir novas áreas do cosmos para estudo”, aponta a agência norte-americana em ebook (em inglês) disponibilizado em seu site oficial. “O telescópio Webb promete nos levar a uma jornada ainda maior de exploração e descoberta iniciada pelo Hubble há mais de duas décadas. Se a história do Hubble é exemplar, as descobertas mais importantes do Webb trarão novos pontos de vista sobre fenômenos celestes”, completa a Nasa.

 

 

Estamos sozinhos no mundo?

 

A intenção do James Webb, dentre outros objetivos, é procurar por vida fora da Terra. Saber se estamos sozinhos no universo é um anseio antigo da humanidade e as novas tecnologias do satélite prometem nos deixar mais próximos desta resposta. O professor Daniel Brito, astrofísico da UFC, aponta que a análise da atmosfera de exoplanetas, que orbitam ao redor de estrelas diferentes do sol, poderá ser realizada de forma mais precisa.

“Para ter como exemplo, se nós encontrarmos uma atmosfera que é rica em oxigênio, nós sabemos que pode ter alguma coisa acontecendo em sua superfície. Afinal de contas, para você manter o oxigênio no estado de gás, você precisa que exista uma manutenção constante”, argumenta. O cientista explica que, com base no nosso conhecimento da Terra, a presença do gás pode indicar que uma planta está realizando o processo de fotossíntese.

No mesmo sentido, uma grande manifestação de dióxido de carbono (CO2) pode estar associada a uma civilização que está passando por uma época semelhante a nossa, com excessiva produção da substância e consequente reflexo na composição da atmosfera. A expectativa, conforme explica Brito, é que o Webb atue com alvo em exoplanetas específicos, retirados de missões anteriores, e observe a estrutura molecular da atmosfera. “Temos interesse em descobrir uma ‘Terra 2.0’, que propicie abrigar a vida e funcione como um segundo lar”, acrescenta o especialista.

 

 

Veja detalhes da estrutura do James Webb

Fonte: Nasa (texto e fotos)

 

 

Formação de galáxias e exploração de buracos negros

 

A origem de galáxias, estrelas e planetas também é outro foco no qual as investigações do novo satélite devem se debruçar. Por meio de uma área maior dos espelhos — equivalente a cinco vezes mais em relação ao tamanho do Hubble — e da capacidade de ver no espectro infravermelho, o Webb terá um olhar com maior alcance, atingindo um universo mais distante e antigo. “A poeira formada por pequenas partículas está em uma temperatura muito baixa, o que torna necessário usar o infravermelho para obter a formação desses sistemas”, explica Brito.

As primeiras imagens do Webb devem chegar aos pesquisadores ainda neste ano, por volta do mês de junho, e a vida útil do satélite deve durar pelo menos cinco anos e meio, podendo se estender por mais de dez anos, de acordo com previsão da Nasa. Diferente do Hubble, que está na órbita da Terra, o Webb ficará bem distante do nosso planeta, no chamado Ponto de Lagrange (L2). Essa característica, apesar de ampliar a capacidade de capturas, não permite a realização de eventuais reparos ou ampliações durante a operação do satélite, como já aconteceu cinco vezes com o Hubble, desde que ele foi enviado ao espaço.

O telescópio James Webb é apontado o maior, mais poderoso e mais complexo telescópio espacial já construído até agora(Foto: AFP)
Foto: AFP O telescópio James Webb é apontado o maior, mais poderoso e mais complexo telescópio espacial já construído até agora

Nomeado em homenagem ao administrador da Nasa James Edwin Webb, o telescópio também deve ajudar na exploração de buracos negros. “Essa é uma característica distintiva do Webb e permite que ele enxergue vários tipos de objetos, o que pode incluir até planetas do sistema solar mesmo”, explica o professor Romário Fernandes. Conforme a Nasa, uma das perguntas fundamentais que deve ser respondida pelo telescópio é sobre a relação entre os buracos negros e a formação de galáxias.

CONFIRA TAMBÉM | Baixe o molde e monte seu James Webb de papel

Parte da teoria de Albert Einstein, os buracos negros são os lugares mais densos do universo e intrigam os pesquisadores há muito tempo. “A razão de os cientistas e agências espaciais ao redor do mundo colocarem tanto esforço no estudo de buracos negros é porque eles são os ambientes mais extremos do universo que conhecemos. É uma forma de fazer um teste prático com algumas das nossas teorias fundamentais, como a da relatividade”, explica Sera Markoff, astrônoma da equipe de pesquisa do Webb, em entrevista para a Nasa no fim do ano passado.

Outro potencial do James Webb foi interpretado no cinema recentemente, por meio da atuação de Leonardo DiCaprio e Jennifer Lawrence. O filme “Não Olhe para Cima”, lançado em dezembro de 2021, conta a história de cientistas que tentam alertar a humanidade sobre um meteorito que pode destruir a Terra em alguns meses. “Como o telescópio é especialmente adaptado para ver a radiação infravermelha, ele terá uma altíssima capacidade de detectar, de forma antecipada, objetos "frios", como cometas e asteroides”, enfatiza Fernandes em artigo para O POVO. A esperança, dessa vez, é que a ciência seja tratada com seriedade.

O que você achou desse conteúdo?