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Tom Brady, a jornada para a história do futebol americano
Reportagem Especial

Tom Brady, a jornada para a história do futebol americano

o agora ex-jogador de 44 anos, Tom Brady, deixa legado gigantesco no futebol americano e inúmeros recordes que marcaram uma carreira de 22 temporadas

Tom Brady, a jornada para a história do futebol americano

o agora ex-jogador de 44 anos, Tom Brady, deixa legado gigantesco no futebol americano e inúmeros recordes que marcaram uma carreira de 22 temporadas
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No dia 1º de fevereiro de 2022, um dos maiores esportistas de todos os tempos anunciou sua aposentadoria. Campeão 7 vezes da National Football League (NFL), o agora ex-jogador de 44 anos, Tom Brady, deixa legado gigantesco no futebol americano e inúmeros recordes que marcaram uma carreira de 22 temporadas.

O "marido da Gisele", como é comumente chamado no Brasil, nunca foi um grande destaque na universidade, mas provou seu valor com muita dedicação, profissionalismo e amor pelo esporte, e deve ter seu nome lembrado sempre que falarmos de futebol americano.

 

 

Da infância à universidade

Thomas Edward Patrick Brady Junior nasceu em 3 de agosto de 1977 em San Mateo, uma cidade no estado da Califórnia, na península de São Francisco. Filho de Tom Brady Sr, um descendente de irlandeses, cuja família fugiu da Irlanda para os EUA durante a Grande Fome entre os anos de 1945 e 1949, e Galynn Patricia Brady. Tom é o filho caçula e tem três irmãs mais velhas: Julie, Nancy e Maureen, e os quatro cresceram juntos em San Mateo.

Brady estudou a infância inteira na Junípero Serra High School, uma escola católica só para meninos na cidade onde nasceu e cresceu, e chegou a jogar futebol americano, basquete e beisebol, inclusive, sendo selecionado pelo Montreal Expos em 1995 para atuar na Major League Baseball (MLB). Mas Tom se apaixonou mesmo pela bola oval ao acompanhar de perto os jogos do San Francisco 49ers, onde teve como ídolo o lendário quarterback Joe Montana.

“Cresci na Baía de São Francisco e amando futebol americano. Foi uma grande época pra se crescer aqui e ver o sucesso de Joe Montana, Steve Young, e o que eles fizeram pelo time. Tive muita sorte na época. Lembro de ir aos jogos dos playoffs, e comemorar quando eles venciam o Super Bowl”, disse Brady em entrevista coletiva em 2016, antes de partida contra o San Francisco 49ers.

Brady estava com boas credenciais para ser quarterback titular de alguma universidade, e tinha preferência por permanecer na Califórnia, mas acabou não recebendo nenhuma proposta no estado e aceitou defender as cores do Michigan Wolverines, que tinha tradição e vivia um bom momento.

Mas o começo não foi muito fácil para Tom, que teve dura concorrência com Brian Griese — que futuramente também jogaria na NFL, mas sem grande destaque. Brady passou dois anos na reserva e cogitou deixar o clube para procurar oportunidade em outra universidade, mas Griese acabou sendo selecionado no draft pelo Denver Broncos e o jovem californiano finalmente teve sua chance.

Brady conquistou a titularidade nas duas temporadas seguintes, levando Michigan ao título do Orange Bowl em 1999, ao vencer o Alabama na prorrogação, onde ganhou o apelido de "garoto das viradas" por reverter placares no último quarto das partidas.

Com a conquista, chegava o momento de Tom Brady tentar uma vaga na NFL. No entanto, estava longe de ser um destaque, e com um desempenho abaixo do esperado no scouting combine — evento onde os jogadores fazem testes físicos e técnicos diante dos olheiros da liga — fizeram com que Brady caísse nas cotações do draft. Mas o New England Patriots, na 199ª escolha, resolveu apostar no jovem de 22 anos, que chegaria à NFL em 2000.

 

 

Aos poucos provando seu valor

Ao ser apresentado no estádio de Foxboro, Tom Brady chegou a dizer que a seleção dos Patriots por ele "seria a melhor escolha de todos os tempos que a franquia fez". Mas o primeiro ano dele na NFL não foi de muito brilho. Tom começou a temporada como quarto reserva e, no decorrer do ano, se tornou reserva imediato, mas atuou em apenas uma partida e só completou um passe em campo.

Em 2001, o titular Bledsoe teve uma séria lesão na segunda partida da temporada, diante dos Jets, e Brady assumiu a posição. Tom não conseguiu evitar a derrota naquele jogo, mas na partida seguinte, começou seu primeiro jogo como titular e comandou a equipe para uma excelente vitória por 44 a 13 diante dos Colts.

O quarterback teve uma excelente performance, levando os Patriots a vencer a AFC East com uma campanha de 11 vitórias e 5 derrotas na temporada regular, campanha que fez Brady ser selecionado para o Pro Bowl pela primeira vez. Nos playoffs, a equipe de New England passou pelo Oakland Raiders e Pittsburgh Steelers, chegando ao Super Bowl, o primeiro de Tom.

Na grande final, diante do St Louis Rams, o jogo se encaminhava para a prorrogação, até que nos segundos finais, Brady conseguiu carregar o time até a linha de 31 jardas, e Adam Vinatieri acertou o chute para ganhar a partida e tornar os Patriots campeões. Tom Brady foi eleito o MVP do Super Bowl.

Em 2002, uma lesão no ombro atrapalhou a temporada de Tom, que não conseguiu ter o mesmo desempenho do ano anterior e os Patriots acabaram ficando fora dos playoffs. No entanto, nas duas temporadas seguintes, Tom liderou os Patriots em campanhas excelentes, vencendo o Super Bowl nos dois anos.

Em 2005, os Patriots passaram por problemas com contusões de seus running backs, mas chegaram novamente na pós-temporada. O time acabou sendo derrotado pelo Denver Broncos e, depois, foi constatado que Tom Brady estaria jogando com uma pubalgia desde dezembro, que o impediu de ter o seu melhor desempenho. No ano seguinte, New England teve uma campanha melhor e conseguiu chegar até a final da AFC, mas perdeu para o Indianapolis Colts por 38 a 34.

Em 2007, os Patriots reformularam seus wide reveivers e Tom Brady teve o que precisava para brilhar, levando o time a uma temporada regular invicta, alcançada por um time pela segunda vez na história. Brady bateu o recorde de passes para touchdowns em uma temporada, 50.

New England chegou com muito favoritismo para o Super Bowl XLII, mas acabou sendo derrotado de forma surpreendente para o New York Giants. Foi o único revés na temporada, mas mesmo assim, Brady foi eleito o MVP da temporada.

Tom Brady se aposentou aos 44 anos após 22 temporadas na NFL(Foto: Chris Graythen/AFP)
Foto: Chris Graythen/AFP Tom Brady se aposentou aos 44 anos após 22 temporadas na NFL

O ano de 2008 começou cheio de expectativas para os Patriots, mas logo na primeira partida, Tom Brady sofreu uma séria lesão no joelho que o deixou de fora de toda a temporada. Em 2009, voltou a jogar e guiou New England para mais uma pós-temporada, mas a equipe acabou sendo derrotada no wild card para o Baltimore Ravens.

Em 2010, Tom renovou seu contrato com os Patriots e passou a ser o jogador mais bem pago da NFL. Nessa temporada também atingiu alguns recordes, como o de jogador a atingir 100 vitórias na temporada regular mais rápido na história, e o de 358 passes consecutivos sem ser interceptado. New England chegou mais uma vez nos playoffs, mas foi eliminado para o New York Jets.

Na temporada 2011, Tom Brady liderou os Patriots para o Super Bowl pela quinta vez, reencontrando os algozes de 2007 New York Giants. Brady deixou New England em vantagem no two-minute warning, mas a defesa, que foi uma das piores contra o passe durante toda a temporada, não conseguiu segurar o ataque novaiorquino e sofreu a virada nos últimos segundos.

Nos dois anos seguintes, os Patriots até fizeram boas campanhas, mas acabaram parando duas vezes na final da AFC. Em 2012 caíram para os Ravens, e em 2013, em uma temporada marcada por lesões e reformulação na equipe, New England acabou eliminado pelo Denver Broncos.

 

 

O nível só crescia junto à idade

O ano de 2014 começou oscilante para os Patriots, e Tom Brady começou a receber críticas sobre a idade. Mas o time conseguiu uma recuperação espetacular, chegando muito confiante para os playoffs. Comandados pelo camisa 12, eles derrotaram os Ravens e os Colts, alcançando mais uma vez o Super Bowl.

Pela frente, tinham o atual campeão, o Seattle Seahawks, e até chegaram a estar dez pontos atrás no placar. Mas Tom Brady liderou o time para uma virada histórica com dois passes para touchdown no último quarto e conquistar o seu quarto Super Bowl e se igualar a seu ídolo de infância, Joe Montana.

Em 2015, a temporada não começou bem para Brady, tanto dentro quanto fora de campo. Tom foi acusado de consentir que as bolas fossem murchadas propositalmente nos playoffs do ano anterior, contra o Indianapolis Colts, para favorecer os Patriots. O quarterback negou, mas acabou pegando cinco jogos de suspensão, mas a punição foi revertida posteriormente e o jogador não perdeu nenhuma partida.

No entanto, a equipe de New England passou por contusões importantes nos playoffs e sofreu o revés para o Denver Broncos, campeão naquele ano.

 

"Ao longo da minha vida, tentei cortar todas as coisas ruins, cortar as coisas que sei que não funcionam, e me concentrar em todas as coisas boas que sei que funcionam. Acho que é por isso que ainda estou fazendo o que faço hoje. Mas ainda acho que posso ser melhor"

 

Mas nos anos seguintes, Tom Brady conseguiu levar o New England ao Super Bowl por três anos consecutivos. Em 2016, a final contra o Atlanta Falcons se tornou uma das vitórias mais impressionantes da carreira do quarterback. Os Patriots perdiam o jogo por 28 a 3 até o fim do terceiro quarto, mas o lançador, em exibição fantástica, liderou a equipe para uma virada épica por 34 a 28.

Em 2017 o duelo foi contra o Philadelphia Eagles, que vinham com o quarterback reserva, o que tornava os Patriots bem favoritos para o confronto. Brady teve bons números, mas a defesa da equipe não conseguiu parar o ataque avassalador do adversário e foi derrotado por 41 a 33.

Já no ano de 2018, os Patriots encararam o Los Angeles Rams no que foi o Super Bowl com menor número de pontos da história. A equipe de New England se sagrou campeã ao vencer por 13 a 3. Foi o sexto título de Tom Brady, que se tornou o primeiro jogador a atingir esse número de conquistas, e também o quarterback mais velho a ser campeão (41 anos).

A temporada de 2019 marcava o vigésimo ano de Tom Brady na NFL, mas esta foi uma das piores em números do quarterback. Aos 42 anos, foi contestado em diversos momentos se não era a hora de se aposentar. Mesmo assim, levou os Patriots a mais uma pós-temporada, mas o time não foi capaz de superar o Tennessee Titans no wild card.

O ano ruim fez Tom Brady repensar sua carreira. Com todas as críticas que vinha recebendo, resolveu aceitar um novo desafio: mudar de time aos 43 anos de idade. O destino do quarterback era o Tampa Bay Buccaneers, um time jovem e com recebedores de ótimos números.

 

 

Tom Brady(Foto: Maddie Meyer/AFP)
Foto: Maddie Meyer/AFP Tom Brady

O sucesso no Buccaneers e aposentadoria

Brady iniciou a temporada 2020 no time de Tampa como jogador mais velho da NFL. E não demorou para o quarterback mostrar que ele ainda poderia jogar em alto nível, dando quarenta passes para touchdown na temporada (a segunda melhor marca dele na carreira) e vencendo 11 de 16 jogos na temporada regular.

Nos playoffs, liderou o Tampa Bay para as vitórias contra Washington Football Team, New Orleans Saints e Green Bay Packers, chegando ao décimo Super Bowl, recorde absoluto na história da NFL.

O adversário era o atual campeão Kansas City Chiefs, do jovem promissor Patrick Mahomes. O duelo foi tratado como um embate de gerações, mas quem levou a melhor foi Tom Brady, que deu aos Buccaneers uma vitória tranquila por 31 a 9. O jogador alcançou o sétimo título aos 43 anos.

Brady foi apenas o segundo quarterback a liderar dois times diferentes para o título e o único a fazê-lo por duas conferências distintas. Em entrevista à marca de relógios IWC Schaffhausen, após a conquista, o atleta destacou que para alcançar os objetivos é preciso mais do que esforço.

"Demorei um pouco para entender o que é preciso para ser um grande líder. Levei um tempo para entender o que é preciso para assumir os compromissos que precisava assumir. Eu queria alcançar, mas nem sempre sabia como chegar lá e muitas vezes trabalhei muito nas coisas erradas. Não acho que trabalhar duro foi o meu problema, mas não estava trabalhando para as coisas certas. E quando me concentrei nas coisas certas, me vi melhorar. Quando me concentrei nas coisas erradas, não vi nenhuma melhora. Ao longo da minha vida, tentei cortar todas as coisas ruins, cortar as coisas que sei que não funcionam, e me concentrar em todas as coisas boas que sei que funcionam. Acho que é por isso que ainda estou fazendo o que faço hoje. Mas ainda acho que posso ser melhor."

Em 2021, Brady teve a oportunidade de fazer o primeiro duelo contra o antigo clube, o New England Patriots, e se tornou o quarto quarterback da história a vencer os 32 times da NFL. Fez mais uma boa temporada regular, levando Tampa a 13 vitórias em 17 jogos, a melhor campanha da temporada ao lado do Green Bay Packers.

Nos playoffs, derrotaram o Philadelphia Eagles no wild card, mas foram eliminados para o Los Angeles Rams no divisional. Partida essa que ninguém sabia que seria a última de Tom Brady na NFL.

No dia 1º de fevereiro de 2022, Tom Brady anunciou oficialmente a sua aposentadoria aos 44 anos, depois de 22 temporadas de NFL. O quarterback fez um post no Instagram alegando que não poderia mais entregar 100%, e que se não for para dar o seu máximo, era melhor parar.

"Eu sempre acreditei que o futebol americano era um esporte que teria que dar tudo de si. Se seu comprometimento não estivesse 100% ali, você não seria bem sucedido. E o sucesso é o que eu mais amo nesse nosso jogo. Existe um desafio físico, mental e emocional todos os dias que foi colocado em mim para maximizar meu potencial. E eu tentei o meu melhor nos últimos 22 anos. Não existe atalhos para o sucesso no campo ou na vida. É difícil para escrever, mas lá vai: eu não vou me comprometer competitivamente, de novo. Eu amei minha carreira na NFL e agora é a hora de focar minha energia em coisas que merecem mais a minha atenção. Eu refleti muito na última semana e me perguntei coisas difíceis. E estou muito orgulhoso de tudo o que eu conquistei", disse Brady em carta de despedida nas redes sociais.

Brady recebeu diversas homenagens de personalidades não só do futebol americano ou de outros esportes, mas também de celebridades e fãs que tiveram o privilégio de acompanhar sua carreira. Ele é considerado, quase que de forma unânime, o maior jogador de todos os tempos na modalidade.

 

 

Opinião do especialista

O comentarista dos canais ESPN e editor-chefe do site ProFootball, Antony Curti, destacou a liderança e o profissionalismo como os principais pontos que fizeram de Tom Brady uma lenda no esporte.

"É difícil listar um diferencial só, porque nenhum jogador vira o maior da história só por um diferencial. Foram vários fatores que certamente colaboraram. Ele acabou sendo escolhido num time bem estruturado e com uma excelente comissão técnica que ajudou muito na lapidação dele, mas eu acho que é o profissionalismo que sempre teve. A gente nunca viu nenhum problema do Brady fora de campo, nenhum problema dele com companheiros de equipe. A gente sempre viu uma postura muito agregadora, de muita liderança. E esse profissionalismo não é todo jogador que tem, não é todo profissional em qualquer área que tem, e que ele demonstrou de maneira quase sem igual durante 20 anos", afirmou Curti.

Sobre o legado que Brady deixa para a NFL, o comentarista explica que o alto nível apresentado pelo camisa 12 mesmo depois dos 40 anos pode ser inspiração para muitos atletas.

 

"O legado é quebrar o paradigma de que com 38, 39 anos o quarterback vai entrar em declínio. Claro que existem outros fatores, mas é impressionante como o terço final da carreira do Tom Brady talvez tenha sido o mais dominante em termos de produção e consistência. E isso passa por muitas coisas, pela dieta do cara, pelo comprometimento, por métodos alternativos de treinamentos. E esse legado ele deixa, que a gente possa ver mais jogadores jovens chegando aos 40, 41 anos em alto nível", afirmou.

Já para Eduardo Maranhão, runningback do T-Rex e da seleção brasileira de futebol americano, o maior diferencial de Brady está na preparação.

"O principal diferencial do Brady é ter conseguido se manter em alto nível por um longo tempo. Isso é visível na quantidade de Super Bowl que ele conquistou. Ele é conhecido por um rigoroso protocolo de preparação, rompendo o patamar já conhecido e estabelecendo um bem mais alto", definiu.

 

 

A vida pessoal e o casamento com Gisele Bündchen

Tom Brady teve um relacionamento com a atriz Bridget Moynahan, de 2004 a 2006. Após o término dos dois, a atriz anunciou que estava grávida do jogador. John Edward Thomas Moynahan nasceu em 22 de agosto de 2007 e foi o primeiro filho do astro do futebol americano.

No final de 2006, Brady conheceu a modelo brasileira Gisele Bündchen em um encontro às cegas e não demorou para que os dois começassem a namorar. O relacionamento foi amplamente divulgado na mídia. Eles se casaram em fevereiro de 2009 e estão juntos até os dias de hoje, com Gisele frequentemente sendo vista no estádio acompanhando os jogos do marido. O casal teve dois filhos: Benjamin Rein Brady e Vivian Lake Brady.

No Brasil, por muitas vezes, o jogador é mais conhecido por ser "marido da Gisele" do que por sua carreira na NFL. Em entrevista do casal ao programa Conversa com Bial, da Rede Globo, Tom falou sobre isso e levou situação na brincadeira: "Não vejo problema algum. Na verdade, adorei. Amo a minha esposa, amo estar na vida dela. É engraçado e fofo", comentou ele.

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