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Os palanques presidenciais na eleição para o governo do Ceará
Reportagem Especial

Os palanques presidenciais na eleição para o governo do Ceará

O arranjo nacional dialoga com as composições locais. Os palanques presidenciais no Ceará apresentam algumas curiosidades e até contradições

Os palanques presidenciais na eleição para o governo do Ceará

O arranjo nacional dialoga com as composições locais. Os palanques presidenciais no Ceará apresentam algumas curiosidades e até contradições
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As eleições que serão realizadas no Ceará e no Brasil em outubro são disputas com realidades próprias, mas com intensa relação entre si. São parte de um único jogo, no sentido de que a montagem dos palanques estaduais repercutem nas campanhas nacionais. Fortalecendo-as ou enfraquecendo-as. E o que se acorda no plano nacional interfere em cada canto do País. Nessa fase de pré-campanha, os pré-candidatos e os partidos conversam visando a composição de alianças que lhes deem forças pelos estados brasileiros. 

Na esfera nacional, PDT e PT andam às turras com as críticas que Ciro Gomes contra Luiz Inácio Lula da Silva, fazendo com que no Ceará todos os esforços sejam no sentido de blindar a aliança que tem nos dois partidos as principais forças. Ao que tudo indica, a aliança permanecerá inabalada. O PDT apresentará candidatura ao governo estadual apoiada pelo PT, que terá Camilo Santana na disputa pelo governo.

Petistas do Ceará com os quais O POVO conversou entendem como previsível que Izolda Cela, Evandro Leitão, Roberto Cláudio ou Mauro Filho apoiem abertamente Ciro Gomes, ainda que isso signifique uma ruptura com o modo de o ex-governador Camilo Santana (PT) participar de campanhas em que as duas siglas mediram forças.

O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (Foto: Ricardo CHICARELLI/AFP )
Foto: Ricardo CHICARELLI/AFP O ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva

Os petistas são uníssonos, contudo, ao reivindicar que a candidatura pedetista respeite o PT. Ou seja, não endosse as críticas cada vez mais ácidas de Ciro contra Lula, como as que o chamam de "ladrão". Um dirigente estadual do PT foi questionado sobre qual seria o palanque de Lula no Ceará. 

"Nós temos candidato a senador (Camilo Santana). Nós temos hoje sete deputados estaduais. Nós temos 29 prefeitos. Portanto, nós temos um palanque, ou vários palanques. Temos três deputados federais", respondeu. Perguntado sobre Camilo e neutralidade característica, respondeu que o ex-governador trabalha com "palanques duplos", razão pela qual avalia que se torna ainda mais necessário que a candidatura pedetista tenha cordialidade no tratamento com o PT.

"Já pensou candidato a governador que se posiciona contrário ou faz coro junto com o Ciro contra o PT e contra o Lula? Temos de ter um palanque que dialogue. Nós respeitamos muito a Izolda, ela faz campanha pro Ciro, Evandro faz campanha pro Ciro; mas respeitam o PT, precisamos que o PT seja respeitado", disse essa fonte ao O POVO.

No governo, Camilo evitava se posicionar entre Lula ou Ciro. Na eleição de 2018, ele deu apoio a ambos os lados. Se Ciro Gomes fazia um ato, ele aparecia ao lado dele. Se o petista Fernando Haddad visitava o Estado, Camilo participava das atividades com ele. Agora no comendo do Estado, Izolda Cela (PDT) já age diferente. Em entrevista ao colunista do O POVO Eliomar de Lima, ela declarou apoio a Ciro. "Eu vejo que o Ciro tem a visão mais lúcida, a proposta mais estruturada, adequada. Uma história, uma experiência importantíssima, que pode estar a serviço do Brasil", afirmou.

Ciro Gomes(Foto: JULIO CAESAR)
Foto: JULIO CAESAR Ciro Gomes

A adesão do PT à aliança pedetista revolta setores do PT, liderados pelos deputados federais Luizianne Lins e José Airton Cirilo. A ex-prefeita de Fortaleza conversou com o Psol e a Rede, cogitou sair do petismo após 33 anos. Ela acredita que o PT tem de ter protagonismo na sucessão estadual e, além disso, assegurar a Lula um palanque fiel no Ceará, algo que uma candidatura pedetista não poderá conferir. Contudo, decidiu ficar.

Líder do grupo majoritário do PT, o deputado José Guimarães quer Lula eleito presidente, mas entende que para isso não será necessário por fim ao consórcio PT-PDT. No Ceará, Lula ainda dispõe do apoio do presidente estadual do MDB, o ex-senador Eunício Oliveira, pré-candidato a deputado federal e sério candidato a assumir a presidência da Câmara dos Deputados em caso de vitória do petista. Ou um ministério importante para o Nordeste, como apontam os cálculos dele.

Mas, a preferência de Eunício pelo petista não implica dizer que, a nível local, as conversas com defensores de outros projetos políticos para o Brasil não ocorra. Pré-candidato de oposição ao Governo do Ceará, Capitão Wagner (União Brasil) é aliado do presidente Jair Bolsonaro (PL) e irá conversar com o emedebista, com o fim da janela partidária.

O principal estrategista do PDT, Cid Gomes, afirmou que espera contar com o MBD na aliança liderada por um pedetista. "Espero que venha também, espero que venha, quem pode falar melhor é o presidente Eunício Oliveira", disse em coletiva de imprensa concedida no último sábado, 2.

 

 

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As outras forças no palanque governista

A aliança governista, além do PDT de Ciro Gomes e do PT de Luiz Inácio Lula da Silva, reúne ainda apoiadores de outros candidatos. Como o Progressistas (PP), que apoiará o presidente Jair Bolsonaro (PL) para a reeleição, embora os palanques locais tenham certo nível de autonomia. O PSDB hoje tem João Doria como pré-candidato, mas mantém conversas com União Brasil, MDB e Cidadania para definir em maio um nome único da chamada terceira via.

Já o PSD, que pleiteia a posição de vice na chapa governista, pretende ter um nome para disputar a presidência. No Estado, Domingos Filho se coloca como alternativa para vice do PDT. Ele já ocupou a função no segundo governo Cid Gomes (PDT), de 2011 a 2014.

 

 

A "pátria Ceará" de Capitão Wagner

O deputado federal Capitão Wagner (União Brasil) já havia dito ao Jogo Político, em 7 de dezembro de 2021: "Minha pátria se chama Ceará. Minha maior preocupação neste momento é o estado do Ceará." Ou seja, a ideia é agregar o máximo de forças políticas que são oposição estadual ao grupo Ferreira Gomes, ainda que tenham posturas divergentes em âmbito nacional. Apesar disso, Wagner tem reafirmado o apoio à candidatura do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Ele venceu a disputa travada com os governistas locais pelo comando do União Brasil. Assumiu assim uma enorme estrutura partidária e levou consigo vários parlamentares e nomes importantes, como o prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, que deixou o PSDB.

Presidente Jair Bolsonaro (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Presidente Jair Bolsonaro

Talvez o mais importante aliado de Wagner atualmente no Estado seja o senador Luis Eduardo Girão (Podemos), que era entusiasta e articulador da candidatura presidencial de Sergio Moro. Porém, o ex-juiz deixou o Podemos e filiou-se justamente ao União Brasil de Wagner, sem maiores perspectivas agora de ser candidato a presidente.

Por um lado, isso ajuda na afinação entre Girão e Wagner. Por outro lado, enquanto o Capitão apoia Bolsonaro e deixa clara a inconveniência de Moro insistir em ser candidato a presidente pelo União Brasil, o partido busca, no âmbito nacional, uma alternativa de candidatura de terceira via. Há previsão de anúncio de um nome unificado entre PSDB, MDB, Cidadania e o União Brasil. Isso pode ser fator de constrangimento a Wagner em seu apoio a Bolsonaro.

O PL é outro partido estratégico nos planos de Capitão Wagner, mas também do PDT. Em entrevista em 2 de abril, Cid Gomes (PDT) disse que quer ver Bolsonaro "pelas costas" e fará tudo o que estiver ao seu alcance para vê-lo derrotado neste ano. Mas, ponderou que no Ceará a legenda é controlada pelo prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves, "um amigo nosso".

Palácio do Planalto(Foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
Foto: Wilson Dias/Agência Brasil Palácio do Planalto

Acilon permaneceu no comando partidário com a filiação de Bolsonaro e, desde então, tem se aproximado do presidente, marcando presença em agendas dele no Ceará. Nas fileiras da legenda está também o deputado estadual André Fernandes e o vereador de Fortaleza, Carmelo Neto. Os dois querem quer a agremiação marche ao lado de Wagner, tido como o mais viável candidato para derrotar o grupo do PDT.

Em paralelo, o PL filiou o ex-prefeito de Maranguape e ex-deputado federal, Raimundo Gomes de Matos, apresentando-o como opção para a disputa ao governo do Ceará. Seria um segundo palanque para Jair Bolsonaro. Por outro lado, representaria uma oposição rachada. Outra possibilidade é de que Gomes de Matos concorra ao Senado Federal por dentro da chapa liderada por Wagner.

Quanto ao ex-senador Eunício Oliveira (MDB), ele recorreu à máxima de que "a política é a arte do diálogo". Ele havia sido questionado por O POVO se Izolda Cela seria um fator de entendimento entre o partido dele e o dela. O emedebista atribui ao então prefeito Roberto Cláudio (PDT) a derrota para o Senado, em 2018. Os dois são apartados desde então. Wagner está mais inclinado à oposição.

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