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Com representatividade negra e regionalismo, Sana vai além do estereótipo nerd
Reportagem Especial

Com representatividade negra e regionalismo, Sana vai além do estereótipo nerd

Maior da cultura pop e geek do Nordeste, o Sana está há mais de 20 anos em Fortaleza aproximando o público cearense do universo nerd. Na segunda edição de 2023, o evento traz debates sociais para seus mais de 70 mil participantes. Confira algumas discussões que você pode conferir na convenção, que acontece no Centro de Eventos do Ceará até amanhã, 9 de julho

Com representatividade negra e regionalismo, Sana vai além do estereótipo nerd

Maior da cultura pop e geek do Nordeste, o Sana está há mais de 20 anos em Fortaleza aproximando o público cearense do universo nerd. Na segunda edição de 2023, o evento traz debates sociais para seus mais de 70 mil participantes. Confira algumas discussões que você pode conferir na convenção, que acontece no Centro de Eventos do Ceará até amanhã, 9 de julho
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Aproximar os cearenses do universo pop e geek e transformá-los verdadeiramente em personagens antes vistos somente por meio das telas. Essas estão entre as missões do Sana, o maior evento nerd do Nordeste. Sozinho, ele é responsável por colocar milhares de heróis e vilões lado a lado, não para lutar e definir o destino da Terra, mas para celebrar o fortalecimento e a popularização desta cultura no Estado.

Assim como em anos anteriores, o Sana acontece em duas edições em 2023. A primeira, em janeiro, movimentou mais de 70 mil participantes no Centro de Eventos do Ceará, marca que deve ser ultrapassada nesta segunda parte, realizada entre os dias 7 e 9 de julho. Para a ocasião, nomes nacionais e internacionais estarão presentes animando o público, que varia entre todas as idades.

Mas para além dos grandes nomes dos cantores VMZ, Gloria Groove e Yumi Matsuzawa, da banda japonesa Flow, do quadrinista Carlos Ruas e do dublador Guilherme Briggs, o evento apresenta ainda diversas outras atrações. Mesmo não tão conhecidas de um público massivo, elas são responsáveis por trazerem discussões relevantes para o cenário da cultura pop, geek e social brasileira.

O POVO percorreu o primeiro dia da convenção para agora lhe apresentar como os debates sobre negritude, meio ambiente, empreendedorismo local e ludismo para crianças conseguem se inserir nesta atmosfera rodeada de personagens gigantes, videogames de diferentes gerações e muita tecnologia.



 

Black Heroes: a representatividade do negro na cultura pop e geek

A representatividade negra na cultura geek é discutida na sala Black Heroes(Foto: Victor Gomes / PhotoENTITY_amp_ENTITYArt / Divulgação)
Foto: Victor Gomes / PhotoENTITY_amp_ENTITYArt / Divulgação A representatividade negra na cultura geek é discutida na sala Black Heroes

“Para cada herói negro que nasce, existem outros 20 novos brancos”, é a constatação de Jeff “Lobo de Wakanda”, um dos organizadores da sala temática Black Heroes, no Sana 2023. Dedicado exclusivamente aos super-heróis e personagens negros, o espaço busca discutir e valorizar a temática da representatividade racial dentro da cultura geek local, nacional e internacional.

Com objetivo de dialogar com pessoas pretas e de periferia, a Black Heroes busca reunir o máximo de esforços possíveis para mostrar que a população negra também pode e deve se inserir no universo nerd e de maneira ativa. “Em mais de 20 anos de evento, eu notei que não tinha muito cosplay preto. Daí quando eu perguntava às pessoas, elas me respondiam que não conheciam muitos personagens assim. Foi aí que pensamos em juntar vários personagens e fazer a criação de uma sala temática”, recorda Jeff, que menciona que muitos visitantes chegam a se emocionar ao se verem representados.

“A representatividade por si só já é importante. Então ter algo que possa agregar e educar é necessário”, complementa. Na sala Black Heroes, o público poderá encontrar ainda produtos de artistas locais, exposição de gibis raros, cosplays, painéis, batalhas de MCs e workshops.


 

Jogos analógicos para sair de frente das telas

Para além dos jogos digitais, Sana promove diversão analógica para jovens(Foto: Samuel Setubal / O POVO)
Foto: Samuel Setubal / O POVO Para além dos jogos digitais, Sana promove diversão analógica para jovens

Com a popularização dos streamings de filmes, séries e jogos, os fãs das temáticas pop e geek são levados de maneira instantânea e quase que automática para frente das telas. Mas mesmo no Sana é possível conferir diversas atividades que tendem a fortalecer o lado mais lúdico de crianças e jovens por meio de jogos de tabuleiro e de cartas.

Mãe de Sofia e Amaya, de 8 e 2 anos, Ana Caroline conta que o Sana permite apresentar às filhas uma “outra maneira de se divertir” que não seja só com as telas ou com os jogos eletrônicos. “Eu gostei porque dá para despertar o lado lúdico delas”, afirma, enquanto as filhas brincam atentamente com um jogo de RPG de mesa.

Um dos grupos responsáveis por trazer esse tipo de diversão é a editora e produtora de jogos de tabuleiro Covil Lúdico. Fundador do grupo, Fernando Machado comenta que este é um espaço que por si só reúne diversas linguagens e culturas.

“E o RPG não pode ficar de fora. Nós temos um público que está crescendo, mesmo com a força dos jogos digitais”, diz, completando que os jogos de RPG contribuem para o desenvolvimento do raciocínio lógico, da comunicação e do repertório cultural de seus jogadores.


 

A cultura de cordel com o “Harry Potter no cangaço”

Um dos maiores símbolos do universo pop e geek, a saga Harry Potter ganha contornos particulares dentro do Sana. Além dos típicos e lotados espaços dedicados a esta série de livros e filmes, uma mistura ousada faz com que o bruxinho desembarque no sertão cearense graças ao cordelista Patrick Lima, que readaptou a história para uma realidade fantasiosamente local. “O cordel sempre bebeu de diversas fontes, como o cinema”, conta o artista, responsável por escrever o cordel “Harry Potter e o cactus patronum”.

Patrick Lima é responsável por escrever o cordel "Harry Potter e o cactus patronum"(Foto: Victor Gomes / Photo)
Foto: Victor Gomes / Photo Patrick Lima é responsável por escrever o cordel "Harry Potter e o cactus patronum"

Para se ter ideia, a história narra a fábula do personagem principal que recebe uma carta do bico de uma asa branca para estudar em “Caririwarts”. Levado por nada mais nada menos do que Patativa do Assaré para o local de estudos, Harry Potter embarca no conhecimento das magias nordestinas para aprender porções de cuscuz saborosos e o remelexo do forró. O bruxo também precisará travar embates contra o vilão “Lampiomort”, que é seguido por seus “comensais do cangaço”, os quais querem roubar o maior tesouro do Nordeste: a pedra filosofal que faz chover no Sertão.

“Poder trazer o cordel de maneira física e analógica para este universo serve justamente para aproximar os jovens e as crianças que gostam de Harry Potter para mais próximos da nossa cultura. É um verdadeiro intercâmbio poder pegar aquilo que a pessoa já gosta no mundo digital e trazer para a nossa realidade”, completa o autor, que expõe orgulhosamente esses e muitos outros cordéis na Vila dos Artistas, a qual é acompanhada por olhos atentos e curiosos do público participante.


 

Cultura geek e meio ambiente como aliados

Em meio à diversidade de opções encontradas no Sana, a responsabilidade ambiental também não fica de fora. Enquanto passeiam por entre estátuas gigantes e filas de videogames, os participantes podem encontrar um contato mais próximo da natureza por meio do estande da Rede Cuca Ambiental. Por lá, as crianças conseguem colocar a mão na massa para cultivar mudinha de plantas de sua própria escolha, além de pintar seu vaso como bem entender.

Estande da Rede Cuca Ambiental permite que crianças plantem e pintem vasos de mudas durante o Sana 2023(Foto: Victor Gomes / Photo)
Foto: Victor Gomes / Photo Estande da Rede Cuca Ambiental permite que crianças plantem e pintem vasos de mudas durante o Sana 2023

“A gente acaba envolvendo as crianças em atividades manuais e também tenta trazer a importância do meio ambiente de uma forma lúdica”, diz a educadora Lídia Rodrigues, a qual menciona que as próprias crianças ganham um protagonismo especial no processo de fabricação das mudas, que depois são distribuídas e levadas para casa.

“Elas se sentem importantes por estarem construindo algo, pois elas escolhem a cor, o vaso e a própria muda que será plantada”, menciona. Ao longo do evento, atividades de personalização de vasos por meio de garrafas pet com a temática geek também vão acontecer. “Abordar o meio ambiente é algo necessário e que não é do futuro, mas do presente”, enfatiza.


 

Valorização dos desenvolvedores locais

Além dos campeonatos de Free Fire, Valorant e League of Legends, e dos espaços de free play com videogames retrôs e de última geração, os games ganham um destaque na área dos desenvolvedores locais de jogos eletrônicos. Em um espaço exclusivo para os estúdios cearenses, crianças e adultos aproveitam para conhecer de perto o trabalho dos profissionais. Diversas desenvolvedoras da Terra do Luz têm a oportunidade de mostrar ao público do evento alguns de seus jogos e até mesmo receber feedbacks na mesma hora.

Área do Desenvolvedor apresenta jogos eletrônicos produzidos por profissionais cearenses(Foto: Victor Gomes / Photo)
Foto: Victor Gomes / Photo Área do Desenvolvedor apresenta jogos eletrônicos produzidos por profissionais cearenses

“Eu sou frequentadora do Sana desde mais nova e sempre quis ver cearenses que desenvolviam jogos por aqui. E principalmente mulheres, pois isso é algo bem importante”, ressalta Rayanne Reveg, COO da Studio 85, empresa que já foi personagem de uma de nossas reportagens no OP+ (clique aqui para conferir).

Segundo ela, o momento também é propício para estar próximo de possíveis novos e futuros colegas de profissão, uma vez que existem trocas de conhecimento sobre como funciona o ecossistema de desenvolvimento de jogos no Ceará. “Até mesmo networking a gente consegue ficar trocando, pois esse espaço serve tanto para testar os jogos como para pensar no futuro”, continua.

Ela conta ainda que esta é uma excelente oportunidade para desmontar alguns preceitos quanto sobre os desenvolvedores brasileiros. “Muitas pessoas perguntam: ‘nossa, foram vocês quem desenvolveram?’. É uma mistura de surpresa, entusiasmo e inspiração para ingressarem na área.”

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