Cerca de 26% das linhas de ônibus de Fortaleza apresentaram queda do número de viagens, no comparativo entre julho de 2023 e o mesmo período de 2024. Em dados gerais, 83 rotas tiveram redução, enquanto 45 registraram acréscimo de itinerários.
Com 12.385 viagens em julho de 2023 e 12.149 no mesmo mês em 2024, a Capital observou queda total de 236 jornadas em relação ao último ano. Entre as linhas mais prejudicadas estiveram a 361 (Siqueira/Osório de Paiva/Parangaba), com 67 excursões a menos; e a 074 (Antônio Bezerra Unifor), com 56 subtrações.
As mais beneficiadas, foram as linhas 306 (Passaré/Via Conjunto Sumaré/Parangaba) e 205 (Dom Lustosa/Antônio Bezerra), com respectivamente, 22 e 14 deslocamentos incorporados.
Conforme publicado pelo O POVO, no último 2 de maio, mais da metade das linhas de ônibus de Fortaleza já havia sofrido redução do número de viagens no primeiro quadrimestre deste ano.
Além do acréscimo nas rotas já existentes, outras três novas linhas, 1200 (Leste Oeste/Santos Dumont SP1), 1201 (Leste Oeste/Santos Dumont SP2) e 328 (Messejana/Castelão/Parangaba), foram adicionadas à frota da Cidade. Outras sete linhas ainda devem ser criadas na cidade, conforme anúncio feito pelo prefeito José Sarto (PDT).
Criadas em maio deste ano, as duas primeiras rotas têm o intuito de desafogar a carga que até então era atendida pelas linhas 092 (Antônio Bezerra / Papicu / Praia de Iracema), 016 (Cuca Barra/Papicu), e 711 (Barra do Ceará/Cais do Porto).
Destinadas ao público que mora no oeste de Fortaleza e trabalha ou estuda no Centro da Cidade, as linhas realizam viagens apenas nos horários de pico, com intervalos de 15 minutos entre as saídas.
As linhas partem da avenida Leste-Oeste, na Barra do Ceará, e terão como destino final a Praça Portugal, na Aldeota. À época do lançamento, o presidente da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), Raimundo Rodrigues, explicou que a escolha pelo trajeto é baseada em um estudo encomendado pela Prefeitura de Fortaleza ainda em 2019.
“Foi feita uma pesquisa em 2019 que já mostrava o desejo de deslocamento do usuário nesse sentido. É um padrão de deslocamento. O usuário que está na Leste-Oeste, alguns têm como destino o Papicu e do Papicu para outros locais, mas havia também o interesse e o desejo do deslocamento para a Aldeota”, disse à época o gestor.
Já a 328 (Messejana/Castelão/Parangaba), criada em junho, busca atender outra faixa da população fortalezense, ligando os terminais da Messejana e da Parangaba.
A linha sai de ambos os terminais, com intervalos de 11 a 15 minutos, e possui um trajeto de 26,4 km, passando pelo Hospital Sarah Kubitschek e pela Policlínica Dr. Luiz Carlos Fontenele, na avenida Juscelino Kubitschek, no bairro Passaré.
Entre os pontos mais buscados da viagem também estão a Arena Castelão e o Campus Itaperi da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
Entre as dez linhas que mais perderam viagens no primeiro quadrimestre de 2024, nove tiveram acréscimo no número de jornadas em até um mês após a veiculação de reportagem do O POVO, segundo dados coletados no Catálogo de Serviços da Prefeitura de Fortaleza. Dentre estas, sete tiveram aumento maior ou igual à quantidade de viagens perdidas entre dezembro de 2023 e abril deste ano.
O POVO procurou os personagens entrevistados para a matéria do dia 2 de maio e os questionou sobre esse aumento, apontado pela Etufor. Apesar do maior número de viagens à disposição, os passageiros ainda afirmam enfrentar problemas com o transporte coletivo.
“Não mudou nada. Os horários continuam os mesmos. No meu caso, se eu perder o ônibus de manhã cedo, eu vou chegar atrasada [no trabalho]. Se houve um acréscimo de ônibus, eu não senti. A lotação continua a mesma e a demora continua a mesma”, relata Regina Oliveira, 50, passageira dos ônibus 646 (São Cristóvão/Messejana) e 635 (Tamandaré/Messejana).
Segundo o catálogo, municiado de informações pela Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), o 646 recuperou todas as 18 viagens perdidas, enquanto o 635 teve 14 das 17 jornadas repostas.
Além destas, outras linhas também incorporaram novas viagens após a publicação do levantamento do O POVO. Ao todo, 60 rotas de Fortaleza tiveram mais deslocamentos em junho, acumulando 469 viagens a mais.
As linhas mais beneficiadas foram a 306 (Passaré/Via Conjunto Sumaré/Parangaba), a 334 - (Monterrey/Siqueira) e a 631 (Carlos Albuquerque/Messejana), todas com 22 viagens acrescidas.
Além das novas linhas, um novo terminal de ônibus foi entregue em junho, no centro de Fortaleza, onde 31 linhas realizam 1.060 viagens, beneficiando cerca de 55 mil passageiros.
Para acessar o número e os horários das viagens de um ônibus da Capital, o interessado deve acessar o Catálogo de Serviços da Prefeitura de Fortaleza, e clicar na aba “mobilidade”.
Em seguida, o usuário deve descer a página até o tópico “Horários de ônibus” e acessá-lo. Uma nova interface será aberta, onde o usuário deverá clicar no link abaixo do intertítulo “Link do Serviço”. Nele é possível consultar os horários de cada viagem das mais de 300 linhas de ônibus de Fortaleza, em data a sua escolha.
Para a análise, O POVO comparou os horários de todas as linhas na primeira sexta-feira de cada mês. Em casos de linhas que rodam apenas nos fins de semana, foram escolhidos o sábado ou o domingo mais próximos do dia 8 de cada mês.
As linhas 328 (Messejana/Castelão/Parangaba), 1074 (Antônio Bezerra/Unifor/TRE), 1355 (Siqueira/José Bastos/Centro/ED), 1385 (Cj. Ceará/Centro/ED), 1390 (Parangaba/João Pessoa/Centro/ED), 1815 (Expresso/Messejana/Br 116/Papicu) e 1906 (Caça e Pesca/Serviluz/Centro/ED), não constam na análise por falta de dados no site da Prefeitura.
Esta e outras páginas da internet em português podem ser lidas também em Libras, através da ferramenta VLibras, realizada pela parceria entre o Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MP) por meio da Secretaria de Tecnologia da Informação (STI), e a Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Para utilizá-lo, basta instalar a extensão no computador através deste link. Após a instalação, é só arrastar o mouse sobre o texto que deseja ser lido para selecioná-lo e clicar no botar direito. A opção de tradução será exibida logo em seguida.
“A pessoa que enxerga, ela pode simplesmente sair de casa muda e voltar calada. Não precisa pedir orientação de ninguém. A pessoa com deficiência visual tem essa vontade de ter a sua independência, de fazer o seu trajeto com o mínimo de auxílio possível”. O estudante Lucas Vieira, 27, é deficiente visual e no ano passado decidiu parar de usar os ônibus de Fortaleza.
A escolha de Lucas não foi baseada em agilidade ou conforto ou algum motivo comum em relatos de pessoas que enxergam. O que afastou o jovem dos ônibus foi a falta de acessibilidade para cegos no transporte coletivo da Capital.
Durante seis anos, o estudante lidou com diversas situações desagradáveis. Desde destratos de motoristas e passageiros até falta de pisos táteis nos veículos, Lucas relata que andar de ônibus em Fortaleza sempre foi um desafio para ele e amigos com deficiência visual.
“Já aconteceu de eu estar com um amigo que também é deficiente visual e ele [o motorista] parar o ônibus em frente a um poste. Assim que a gente desceu, a gente quase bate a cara no poste”, lembra.
O relato não é restrito a quem tem deficiência visual. Davi Bruno, 20, é uma pessoa surda. Estudante de curso técnico na EEEP Joaquim Nogueira, bairro Parquelândia, e monitor no Cuca Mondubim, o jovem é uma das mais de 550 mil pessoas que utilizam diariamente os veículos da Cidade, conforme dados da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor).
Assim como Lucas, a comunicação com motoristas e passageiros é um problema para Davi. Sem conseguir escutar, ele se expressa através da Língua Brasileira de Sinais (Libras), e devido à falta de conhecimento geral sobre a língua, por muitas vezes não é compreendido.
“Já teve vezes de eu pedir licença para a pessoa só que, pela dificuldade de comunicação, a pessoa não me deu licença para eu passar a catraca. É meio cansativo. Às vezes a gente quer ser compreendido e não consegue, então isso cansa. A gente até recebe reclamações das pessoas, quando, por exemplo, alguém vai tentar falar comigo, eu não escuto e a pessoa reclama que eu não respondi ela”, relata.
Mesmo quem já tem dispositivos de acessibilidade instalados nos veículos reclama da rotina cansativa para pessoas com deficiência nos ônibus. A cadeirante Suellen Anjos, 26, desistiu de usar transporte pública em Fortaleza e agora se locomove através de carros por aplicativo.
Se Lucas e Bruno têm problemas de comunicação com motoristas e passageiros, a designer já aponta um descaso dos profissionais no uso das ferramentas de acessibilidade disponíveis, como o elevador para cadeira de rodas.
Segundo ela, parte dos motoristas reclama de precisar descer do ônibus para ajudar cadeirantes a subir no veículo, enquanto outros mal sabem como manusear o dispositivo.
“Teve uma vez que eu quase caí do elevador por que ele, ao invés de subir a plataforma comigo, ele pressionou o botão onde a plataforma dobra. Como tinha algumas pessoas esperando para subir no ônibus, um rapaz segurou a cadeira e graças a Deus eu não caí”, recorda.
Nos casos de Lucas e Davi, as sinalizações em terminais e dentro dos veículos também é um ponto apontado como carente de melhorias. Para o estudante, o uso de avisos sonoros em terminais, avisando a localização das plataformas, bem como dentro dos veículos, sinalizando qual a próxima parada, seria um meio de dar mais independência aos usuários.
Já Davi aconselha que os avisos em língua portuguesa nos ônibus e terminais venham acompanhados de telas com tradução em Libras, para facilitar a compreensão de surdos que não dominem a linguagem escrita.
Para a agente de acessibilidade do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Nadia Khaled, as melhorias citadas por Lucas e Davi são uma forma de garantir direitos básicos como acesso a educação, cultura e lazer para pessoas com diversos tipos de deficiência.
"Temos novos pólos geradores de trafégo, zonas industriais, rotas e referenciais turísticos e paisagísticos, história e patrimônio, entre outros atrativos a serem acessados, para além da demanda ordinária dos serviços essenciais de transporte e deslocamentos a serem atendidos. Importa, sobretudo, que os avanços a serem adotados incluam, na sua amplitude, as diferentes condições de acessibilidade no interior dos veículos e exterior dos mesmos, nas paradas de ônibus e terminais de passageiros, de modo a assegurar a acessibilidade integrada, multimodal e um pleno exercício da cidadania à toda a população", comenta a também coordenadora do Centro de Investigação em Materiais e Cidades Inteligentes (Smart) da UFC
Por fim, outro problema apontado pelos entrevistados é a dificuldade para a renovação do cartão gratuidade para pessoas com mobilidade reduzida. Ao contrário do método de renovação online, disponibilizado para estudantes sem deficiência, as pessoas com deficiência precisam se deslocar até a Etufor em toda renovação do documento.
“É muito difícil a nossa locomoção e a gente ter que ir até o lugar para fazer a carteirinha e até renovar? A primeira vez eu até entendo, mas acho que poderia ser algo mais simples de fazer, de forma online, porque é muito complicado de a gente ir até alguns pontos”, conclui Suellen.
*A entrevista com Davi foi realizada com auxílio e interpretação do repórter Levi Macêdo/Especial para O POVO.
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Para utilizá-lo, basta instalar a extensão no computador através deste link. Após a instalação, basta arrastar o mouse sobre o texto que deseja ser lido para selecioná-lo e clicar no botar direito. A opção de tradução será exibida logo em seguida.
De acordo com o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus), todos os motoristas em atividade nos veículos da Capital passam por treinamento para lidar com diversas situações do cotidiano, entre elas, o auxílio a Pessoas com Deficiência (PCDs).
Ainda de acordo com o Sindiônibus, o treinamento, intitulado Sistema Integrado de Transporte de Fortaleza (Sitfor), é obrigatório para a contratação de motoristas e pode ser renovado anualmente pelos profissionais.
Dentre os treinamentos realizados com motoristas estão capacitações voltadas à interação dos motoristas com grávidas, pessoas com mobilidade reduzida, deficiência física, visual, auditiva ou cognitiva.
As empresas também afirmam que qualquer pessoa que queira enviar críticas, sugestões ou tirar dúvidas pode entrar em contato através do telefone 4005-0956. Para o devido registro, é necessário que a pessoa identifique o número da linha e o veículo do ocorrido.
Transportando mais de meio milhão de pessoas por dia, entre elas Pessoas com Deficiência, a frota de ônibus de Fortaleza conta atualmente com 1.419 veículos, de acordo com a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza.
Para analisar também este serviço, O POVO questionou a Etufor sobre o número de viagens acessíveis na Cidade. A empresa afirma que 100% dos itinerários feitos em Fortaleza possuem acessibilidade, definida pela empresa como a presença do elevador para cadeirantes.
Ainda de acordo com a Etufor, medidas como piso tátil nos terminais, para auxílio a deficientes visuais, bem como painéis de previsão eletrônicos, com as informações sobre a respeito das linhas e horários de chegada, voltados aos surdos, foram implementados na cidade.
Outro ponto destacado foi o atendimento a pessoas com Transtorno do Espectro Autista, com garantia de embarque prioritário, sinalização mais clara e previsível nos ônibus e operadores orientados para o serviço a este público nos terminais.
Por fim, a empresa pública também lembra a existência do cartão gratuidade, que atualmente atende 45.901 pessoas. Em nota, também foi confirmada a validade de um ano do documento e a necessidade de que o usuário vá até a Etufor para renová-lo, ponto criticado anteriormente pelos personagens.
O POVO também analisou as informações disponíveis no Catálogo de Serviços da Prefeitura, que aponta que 87% dos deslocamentos na Capital possuem o acessibilidade. O site não especifica o que configura uma viagem acessível.
Questionada, a Etufor disse que os dados do site estão desatualizados e passarão por manutenção.