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Bariátrica: enquanto obesidade cresce no Brasil, cirurgia salva vidas
Reportagem Especial

Bariátrica: enquanto obesidade cresce no Brasil, cirurgia salva vidas

Doença crônica demanda cuidado multiprofissional contínuo e novos critérios visam ampliar acesso, mas pacientes enfrentam estigmas, doenças associadas e longas filas no SUS

Bariátrica: enquanto obesidade cresce no Brasil, cirurgia salva vidas

Doença crônica demanda cuidado multiprofissional contínuo e novos critérios visam ampliar acesso, mas pacientes enfrentam estigmas, doenças associadas e longas filas no SUS
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No dia em que completou 43 anos, Celina Paiva não imaginava que seu aniversário terminaria em uma sala de emergência. Pela manhã, comemorava em família; à noite, a pressão arterial nas alturas fez com que percebesse que a saúde exigia um novo rumo.

“Foi um susto enorme. Naquele momento, pensei: agora não é mais uma questão de estética, é saúde, é longevidade. Eu precisava fazer alguma coisa.”

A jornalista e servidora da Universidade Federal do Ceará (UFC) pesava 105 quilos e decidiu, após olhar para sua história marcada por mudanças constantes de peso desde a infância, três gestações e o avanço da idade, que precisava passar por uma cirurgia bariátrica e metabólica.

Cirurgia bariátrica e metabólica reduz o tamanho do estômago e modifica a produção de hormônios, reduzindo a fome e aumentando a saciedade(Foto: Anna Bizon/Freepik)
Foto: Anna Bizon/Freepik Cirurgia bariátrica e metabólica reduz o tamanho do estômago e modifica a produção de hormônios, reduzindo a fome e aumentando a saciedade

Em sete meses de pós-operatório, Celina perdeu 30 quilos e atingiu a primeira meta estipulada em conjunto com sua equipe médica.

O objetivo é chegar aos 65 quilos, mas o que Celina mais valoriza nesse processo são os novos hábitos, a relação diferente com a comida e a perspectiva de envelhecer com mais saúde.

O diagnóstico de obesidade chegou cedo, aos 11 anos, em consulta com um endocrinologista. “Até aquele momento eu me via apenas como uma criança gordinha. Ouvir o termo ‘obesa’ foi muito duro, porque para mim isso estava ligado a casos de obesidade mórbida. Foi um impacto grande.”

Na adolescência e vida adulta, um padrão se repetia: perder 10 quilos, ganhar 15; emagrecer cinco, recuperar o dobro. Ao chegar à casa dos 40 anos, sinais de risco se tornaram concretos, como no episódio do aniversário que terminou no hospital. Foi ali que Celina aceitou considerar a cirurgia não apenas como alternativa, mas como necessidade.

Apesar da recomendação médica, a escolha não foi simples. “A bariátrica ainda carrega um julgamento moral muito presente. Sempre vem alguém dizer: ‘Mas não dava só pra fechar a boca?’. É como se fosse uma decisão motivada por preguiça ou vaidade.”

Celina aprendeu a responder com convicção: “Ninguém questiona uma cirurgia cardíaca, um cateterismo cerebral ou a retirada de um tumor quando há indicação médica. A bariátrica também é um tratamento sério, baseado em laudos, exames e numa equipe inteira de especialistas.”

Cirurgião Rodrigo Babadopulos é chefe da Unidade de Cirurgia Bariátrica e Metabólica do Hospital Geral Dr. César Cals(Foto: Divulgação / Outubro Médico)
Foto: Divulgação / Outubro Médico Cirurgião Rodrigo Babadopulos é chefe da Unidade de Cirurgia Bariátrica e Metabólica do Hospital Geral Dr. César Cals

O acompanhamento psicológico foi essencial nessa etapa e ajudou a jornalista a compreender e se preparar para os ajustes necessários. “Aprendi que os momentos mais difíceis, como a dieta líquida ou as mudanças sociais, eram passageiros. Isso me deu segurança para seguir.”

Depois da cirurgia, Celina passou a fazer escolhas mais conscientes. A refeição preferida voltou a ser o arroz com feijão, no lugar dos fast foods de antes. Incorporou exercícios físicos à rotina e redefiniu a relação com a comida, deixando de lado a culpa para adotar mais atenção e equilíbrio.

Uma decisão importante foi abandonar o álcool: “O organismo absorve muito mais rápido depois da bariátrica. Foi uma escolha preventiva e tranquila.”

No Hospital Geral Dr. César Cals, a rotina se repete duas vezes por semana: pacientes com obesidade grave atravessam a porta do centro cirúrgico carregando anos de estigma, doenças associadas e tentativas frustradas de emagrecimento.

Quem comanda o serviço é o cirurgião Rodrigo Babadopulos, médico de Celina, chefe do setor do HGCC desde 2019.

“Eu não gosto do termo bariátrica (sem estar acompanhada do termo "metabólica"). As pessoas associam apenas a peso, como se fosse um procedimento para gente que quer emagrecer. Mas estamos falando de uma doença crônica, multifatorial, que mata.”

Ele conta que a primeira intervenção desse tipo foi realizada no estado em 1997. O serviço do César Cals nasceu em 2002, ainda na era da cirurgia aberta, com grandes cortes no abdômen. “Era um procedimento pesado, doloroso e arriscado.”

Quando Babadopulos voltou da França, em 2009, trouxe a laparoscopia na bagagem. “Menos dor, menos inflamação, menos tempo de internação. Foi uma revolução.” Desde 2019 à frente do serviço, o cirurgião explica que a unidade realiza duas cirurgias por semana às quartas-feiras.

Imagem da primeira videocirurgia bariátrica em 4K realizada no Ceará(Foto: divulgação)
Foto: divulgação Imagem da primeira videocirurgia bariátrica em 4K realizada no Ceará

O médico reforça que obesidade não é preguiça, falta de disciplina ou gula. “Ninguém fica diabético porque comeu doce demais. Assim como também não se fica obeso apenas porque come errado. Existe genética, metabolismo, fatores emocionais. A cirurgia entra como parte de um tratamento que inclui remédios, psicoterapia, atividade física e acompanhamento multidisciplinar.”

A mudança promovida pela cirurgia também chama-se metabólica porque vai além do estômago: ela modifica a produção de hormônios, reduzindo a fome e aumentando a saciedade. Foi desse conhecimento que nasceram alguns dos medicamentos modernos para obesidade.

Por isso o nome importa. Para Babadopulos, chamar apenas de bariátrica reduz o alcance da cirurgia. “As comorbidades são, às vezes, mais severas do que a própria obesidade. Diabetes, hipertensão, apneia do sono, colesterol alto, gordura no fígado. Hoje já são mais de 60 enfermidades associadas à obesidade.”

 

 

CFM amplia acesso à bariátrica, mas SUS faz apenas 10% das cirurgias

A obesidade é uma das doenças que mais cresce no Brasil. Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan), do Ministério da Saúde, apontam que 34,66% da população estava com algum nível de obesidade em 2024.

Classificada como doença crônica e multifatorial, desafia pacientes e médicos não apenas pelo impacto físico, mas pela carga emocional e social que carrega.

 

Distribuição dos graus de obesidade no Brasil em 2025 (até abril)

 

Para o médico e cirurgião bariátrico Paulo Campelo, presidente do capítulo Ceará da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM), ainda persiste a visão equivocada de que se trata de falta de disciplina, quando na realidade múltiplos fatores — psicológicos, metabólicos, endócrinos e genéticos — se combinam para agravar o quadro.

“Não existe solução simples para um problema complexo. Se fosse apenas fechar a boca e se exercitar, os índices de obesidade não estariam crescendo ano após ano”, afirma.

Em maio de 2025, o Conselho Federal de Medicina (CFM) atualizou os critérios para a cirurgia. Agora, pacientes com grau 1 de obesidade (Índice de Massa Corporal entre 30 e 35), desde que apresentem comorbidades graves, podem ser operados.

Dia Mundial da Obesidade é comemorado no dia 11 de outubro(Foto: Divulgação/Sec. de Estado de Saúde - RJ)
Foto: Divulgação/Sec. de Estado de Saúde - RJ Dia Mundial da Obesidade é comemorado no dia 11 de outubro

Adolescentes a partir dos 14 anos também foram incluídos, desde que apresentem quadro grave (IMC maior que 40 associado a complicações clínicas) e consentimento dos responsáveis. A mudança representa uma abertura importante, sobretudo diante do aumento expressivo da obesidade entre jovens.

No Ceará, a bariátrica está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos hospitais César Cals (HGCC), Walter Cantídio (HUWC/UFC/Ebserh) e Hospital Geral de Fortaleza (HGF), além do Hospital Regional do Cariri.

Mesmo assim, a oferta está longe de atender à demanda: em meses de plena capacidade, são, em média, 30 procedimentos realizados frente a uma fila de milhares de pacientes. “É como enxugar gelo”, define Campelo.

 

Cirurgias bariátricas no Brasil pelo SUS (2011-2025)

 

Nos últimos quatro anos, segundo levantamento da SBCBM, o número de intervenções cirúrgicas desse tipo aumentou 42% no Brasil, mas 90% delas foram feitas por planos de saúde ou particulares. No total, foram mais de 290 mil procedimentos e apenas 10% pela rede pública.

Para o especialista, a cirurgia não deve ser vista como atalho, mas como recurso dentro de uma linha de cuidado contínua. Nutricionistas, psicólogos, psiquiatras, endocrinologistas, fisioterapeutas e educadores físicos compõem a rede de suporte antes e depois da operação.

 

Cirurgias bariátricas por sistema (2020-2025)

 

O acompanhamento psicológico ganha destaque, já que mais da metade dos pacientes apresenta algum transtorno alimentar ou distúrbios psiquiátricos.

Com esse objetivo, Campelo lidera iniciativas em Fortaleza que vão além do centro cirúrgico. O Baricare reúne pacientes em grupos de apoio psicológico, voltados à autoestima e autoimagem, enquanto o Barimov promove atividades físicas em grupo, incentivando movimento e sociabilidade.

“O maior desafio é manter o cuidado a longo prazo. Operar não basta; é preciso mudar estilo de vida e garantir apoio multiprofissional permanente.”

 

 

Transformar dor em recomeço: o peso do cuidado psicológico

Aos 26 anos, a consultora de fragrâncias Rebeca Araújo descreve a bariátrica como a “virada de chave” de sua vida. Em março de 2024, ela passou pelo procedimento e, desde então, vem experimentando mudanças profundas no corpo e na autoestima.

“Consegui perder exatamente 70 quilos até o presente momento. Para mim, foi uma grande vitória, algo que antes achava inalcançável”, conta. Mais do que números, ela valoriza a forma como é percebida: “É muito gratificante ouvir das pessoas comentários como ‘você está com aspecto saudável’, ‘cada vez mais bonita’, ‘a sua pele está ótima’”.

A escolha por trás de um procedimento que reduz o estômago não é fácil. Além de ser uma cirurgia invasiva, existe toda uma trajetória que levou o paciente a esse momento. Hoje, a avaliação psicológica é um procedimento obrigatório para quem quer fazer a cirurgia bariátrica e metabólica no Brasil.

Atendimento na Linha de Cuidado em Obesidade do Hospital Universitário Walter Cantídio(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Atendimento na Linha de Cuidado em Obesidade do Hospital Universitário Walter Cantídio

Para a psicóloga clínica Janara Pinheiro, é preciso ter um senso crítico para tomar decisões, inclusive sobre a cirurgia. Ela explica que a psicoterapia é uma grande aliada nesse processo, pois os pacientes são acompanhados antes e depois do procedimento.

“A psicoterapia ajuda a desenvolver essa criticidade para não ficar à mercê das pressões. Muitos pacientes me procuram pedindo um laudo para a cirurgia em uma única consulta, mas explico que é um acompanhamento, um processo para conhecer a pessoa e avaliar se ela está apta”, comenta.

Segundo ela, alguns médicos só operam com esse laudo, pois se sentem mais respaldados, sabendo que a pessoa tem suporte psicológico. As principais motivações para a cirurgia, além da saúde, podem ser a insatisfação com o corpo e a busca por uma alta performance, associando magreza a sucesso e boa saúde.

“Não podemos massificar. A pressão para emagrecer a qualquer custo pode adoecer. Quando uma pessoa faz uma cirurgia bariátrica, ela precisa desenvolver novos recursos psíquicos para lidar com aquele novo corpo e a nova realidade. Não é um procedimento apenas orgânico”, explica.

Se não houver um acompanhamento psicológico e um cuidado na alimentação nesse processo, as consequências podem ser graves. Ela frisa que é importante não esquecer que você não é apenas um corpo.

“A pessoa cria um ideal, faz a cirurgia e, se não atinge o resultado esperado, pode sentir que não há mais saída. Isso pode levar à depressão, ansiedade, crises de pânico e fobia social, fazendo com que ela não queira mais sair de casa e desconte a frustração na comida”, explica.

Virginia Serpa é coordenadora da Linha de Cuidado em Obesidade do HUWC(Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Virginia Serpa é coordenadora da Linha de Cuidado em Obesidade do HUWC

A psicóloga Virgínia Serpa Correia Lima, que integra a Linha de Cuidado em Obesidade do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC/UFC/Ebserh), lembra que a obesidade é uma doença crônica e que, por isso, precisa ser acompanhada ao longo de toda a vida — seja com cirurgia ou por vias clínicas.

“Nosso objetivo é garantir a integralidade na atenção à saúde. Trabalhamos com uma equipe multiprofissional, mas também encaminhamos para a atenção básica, porque esse cuidado não termina”, explica.

Os desafios são grandes: a demanda só cresce, e os pacientes chegam cada vez com mais sobrepeso. “Há alguns anos, recebíamos pacientes de 160, 180 quilos. Hoje, com frequência, atendemos pessoas acima de 200 quilos”, relata Virgínia. Essa pressão sobre os serviços, segundo ela, evidencia a necessidade de ampliar as políticas públicas de prevenção e de cuidado continuado.

 

 

“Alvo é a transformação para ser mais pleno e feliz, e não apenas o emagrecimento”

O cirurgião do aparelho digestivo João Odilo Gonçalves Pinto, médico do Hospital Geral de Fortaleza (HGF), reforça que a obesidade “não é uma mera incapacidade individual de controlar o peso, mas sim um problema adquirido que precisa de ajuda e tratamento”.

As consequências se espalham por todo o organismo, atingindo inclusive o aparelho digestivo. O cirurgião lista doenças associadas ao excesso de peso, como esteatose hepática, que pode evoluir para cirrose, litíase biliar (pedras na vesícula), refluxo gastroesofágico e diferentes tipos de câncer, entre eles de esôfago, estômago, intestino grosso, pâncreas e vesícula.

Além disso, pessoas obesas têm maior risco de desenvolver diabetes, hipertensão, infarto e AVC.

Pessoas obesas têm maior risco de desenvolver diabetes, hipertensão, infarto e AVC(Foto: )
Foto: Pessoas obesas têm maior risco de desenvolver diabetes, hipertensão, infarto e AVC

O estilo de vida contemporâneo, na opinião de João Odilo, tem favorecido a escalada do sobrepeso e da obesidade no Brasil.

“Duas em cada três pessoas lutam contra o peso hoje no País. Isso denuncia uma cultura e um estilo de vida que predispõem muito mais ao ganho de peso do que hábitos de risco individuais”, analisa.

A prevenção, segundo o médico, passa por medidas já conhecidas: alimentação saudável, prática regular de atividade física, controle do estresse e atenção à vida social e espiritual.

Odilo reforça, no entanto, que não se deve culpabilizar pessoas pelo seu peso. “Ninguém deseja ser obeso, ninguém escolheu ser obeso, ninguém é nenhum fracasso por ser obeso. As pessoas fazem o que podem, mas são vencidas por estarem doentes e precisam da nossa ajuda”, enfatiza.

“Das medicações à cirurgia, da dieta à atividade física, o que leva ao controle do peso e da composição corporal são fortes e severas limitações e sacrifícios cotidianos impostos pode diversos mecanismos desses tratamentos”, coloca.

A cirurgia bariátrica surge como opção quando medidas clínicas não são suficientes. Enfrentar esse procedimento, conforme destaca o cirurgião do HGF, “significa se dispor à disciplina de acompanhamento médico e multidisciplinar constantes, além de suplementação frequente de nutrientes”.

O Bypass é considerado a técnica com maior efeito metabólico, pois melhora de forma consistente o controle da glicemia e do colesterol, além de atuar sobre o refluxo. Já a gastrectomia vertical reduz o estômago e promove significativa perda de peso, mas com impacto metabólico mais limitado.

“O impacto ou o efeito final da cirurgia ocorre quando acontece a adaptação e aceitação da mudança de hábitos. O alvo, portanto, é a transformação do indivíduo para que seja mais pleno e feliz, e não apenas o emagrecimento”, define João Odilo.

Em dezembro de 2024, o Hospital Geral de Fortaleza iniciou seu Programa de Cirurgia Bariátrica, o que significa um reforço na rede de atendimentos do Sistema Único de Saúde no Ceará.

A unidade já realizou 11 procedimentos desde então, em ritmo gradual de implantação. “Apesar de possuir profissionais capacitados e recursos materiais, a criação de uma linha de cuidados em obesidade é complexa e requer ajustes para garantir segurança e eficácia. Estamos em fase de adaptação, mas com expectativa de ampliar cada vez mais”, explica o médico.

A meta do serviço é alcançar quatro cirurgias semanais após a consolidação da rotina. Atualmente, mais de 30 pacientes estão em preparação. Os encaminhamentos partem do ambulatório de endocrinologia e metabologia do próprio hospital, que há anos acompanha pessoas com obesidade e doenças associadas.

A chegada do programa foi acompanhada pela inauguração das chamadas Salas Inteligentes, espaço equipado com tecnologia que permite transmitir procedimentos em tempo real e reduzir riscos no centro cirúrgico.

 

 

Nem salvadora, nem vilã

Por Domitila Andrade*

Eu tinha 23 anos e trazia uma vida inteira de tentativas de emagrecer. Acompanhamento com endocrinologistas, medicações, nutricionistas, ensaios de deixar a vida sedentária de lado, muitas dietas restritivas... e poucos resultados. A cirurgia bariátrica me surgiu como uma última esperança, mas não como uma solução fácil.

O pós-operatório que o diga: precisei comer em copinhos de café, fazer exercícios respiratórios, conviver com dores e me acostumar com as visitas médicas de rotina. Eram 101 kg que se transformaram, em dois anos, em 68 kg.

Domitila Andrade é redatora de Capa e Farol do jornal O POVO, colunista de bem-estar do Esportes no O POVO+ e ilustradora da personagem "Mulher listrada"(Foto: Daniel Martins/Fotto)
Foto: Daniel Martins/Fotto Domitila Andrade é redatora de Capa e Farol do jornal O POVO, colunista de bem-estar do Esportes no O POVO+ e ilustradora da personagem "Mulher listrada"

Sem uma mudança efetiva no estilo de vida — leia-se sem hábitos estabelecidos de exercícios físicos e uma relação mais saudável com a comida —, sem o devido tratamento da ansiedade e com uma pandemia no meio, o reganho veio.

11 anos depois, eu tinha readquirido todo o peso e mais. Olhar no espelho deixou de ser hábito, porque eu não me reconhecia.

Foi aí a minha virada de chave: deixei a cervejinha de fim de semana, promovi uma reeducação alimentar sem nada mirabolante e com comida de verdade, comecei a caminhar, depois a lutar boxe, pular corda, subir escadas, fazer crossfit, musculação, pilates, corrida...

Mudei minha mentalidade quanto ao meu bem-estar, venho tratando a ansiedade e, em consequência, eliminei 38 kg (mais do que no pós-bariátrica).

Nenhum remédio ou cirurgia é mágico. Nada vai ser efetivo de forma perene sem esforço contínuo e sem mudanças reais. A bariátrica, apesar das vitaminas diárias e do ferro injetável semestral que tenho de administrar para sempre, não foi minha vilã, mas também não foi minha salvadora.

A lição que fica é que a nossa história de tratamento da obesidade só tem chance de dar certo se nós assumirmos o protagonismo dela.

*Domitila Andrade é redatora de Capa e Farol do jornal O POVO, colunista de bem-estar do Esportes no O POVO+ e ilustradora da personagem "Mulher listrada"

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