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Quem são os eleitores que deixaram de votar nas eleições brasileiras?
Reportagem Seriada

Quem são os eleitores que deixaram de votar nas eleições brasileiras?

O POVO+ analisou base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para tentar traçar os perfis dos eleitores que comparecem ou se ausentam nas eleições brasileiras. A partir de informações dos pleitos de 2020 e 2022, reportagem aponta as fatias do eleitorado que merecem atenção do Poder Público e dos candidatos para 2024
Episódio 1

Quem são os eleitores que deixaram de votar nas eleições brasileiras?

O POVO+ analisou base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para tentar traçar os perfis dos eleitores que comparecem ou se ausentam nas eleições brasileiras. A partir de informações dos pleitos de 2020 e 2022, reportagem aponta as fatias do eleitorado que merecem atenção do Poder Público e dos candidatos para 2024
Episódio 1
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Com mais uma corrida eleitoral pairando sobre os municípios brasileiros, compreender quem são os participantes da chamada "festa da democracia" torna-se crucial para aqueles diretamente envolvidos. Também é essencial entender quem são os eleitores que se abstêm desse processo. Em meio a um cenário dinâmico, permeado por diversos interesses, O POVO+ busca tentar identificar as principais características dos grupos que respondem (ou se omitem) ao chamado das urnas.

A cada dois anos em um domingo eleitoral, milhões de indivíduos saem de casa para exercer seu direito constitucional de escolher seus representantes. Em uma ocasião, decidem sobre os governantes estaduais e federais, elegendo presidente, senadores, governadores e deputados, como ocorreu em 2022. Em outras, escolhem aqueles que vão liderar de perto suas cidades, como prefeitos e vereadores, como ocorrerá em outubro deste ano.

Eleitores no Liceu da Mesejana votam nas eleições de 2022                                                                                                                                    (Foto: THAÍS MESQUITA)
Foto: THAÍS MESQUITA Eleitores no Liceu da Mesejana votam nas eleições de 2022

Para auxiliar na compreensão dos participantes e dos faltantes das eleições brasileiras, OP+ consultou a base de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na tentativa de traçar esses perfis. A partir das informações divulgadas pelo TSE, esta reportagem analisou segmentos etários, de gênero e de escolaridade dos eleitores que participaram (mesmo que se abstendo) das Eleições de 2020 e 2022, na busca de identificar as parcelas do eleitorado que devem ser observadas com atenção em 2024 pelo Poder Público e também pelos candidatos.

Os números relativos ao comparecimento e as abstenções computadas em 2020, por exemplo, tiveram reflexo direto da pandemia de Covid-19. Durante as Eleições Municipais daquele ano, uma pesquisa conduzida pelo Instituto DataSenado revelou que 40% dos eleitores que optaram por não votar em 2020 o fizeram por receio do novo coronavírus. Mesmo entre aqueles que compareceram às urnas, 16% declararam na época que não se sentiram seguros ao sair do isolamento social para exercer seu direito de voto.

Já nas Eleições de 2022, em meio à uma acirrada polarização política sobretudo na disputa pela Presidência da República simbolizada entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) x Jair Messias Bolsonaro (PL), a abstenção bateu recorde. Segundo dados do próprio TSE, mais de 32 milhões de eleitores não compareceram às urnas no primeiro turno. O nível de abstenção chegou a 20,9%, sendo o mais alto já registrado desde as Eleições de 1998.

Diante dessas informações, surgem questionamentos sobre a identidade dos eleitores que se abstiveram de participar desses momentos decisivos. Com base nas informações do Tribunal Superior Eleitoral, é possível traçar algumas características desses eleitores, que têm o potencial de influenciar o resultado das eleições. Pouco mais abaixo, apresentamos algumas análises com base nesses dados.

Antes disso, porém, o quadro a seguir mostra a quantidade de eleitores aptos a votar tanto em 2020 quanto em 2022 no Brasil, no Ceará e em Fortaleza.

 

Eleitores aptos a votar no Brasil, Ceará e Fortaleza nas eleições 2020 e 2022


 

Juventude perde engajamento, enquanto adultos e idosos aumentam interesse

O público mais jovem registrou uma leve queda de participação nas eleições brasileiras, apesar de se manter a parcela com mais engajamento entre as mais diferentes faixas etárias. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os eleitores entre 16 e 17 anos foram aqueles mais comprometidos nas Eleições de 2020 e 2022. Mesmo sem a obrigatoriedade eleitoral, a juventude superou os 80% de comparecimento nas urnas em Fortaleza, no Ceará e no Brasil.

Em nível estadual, 88,09% dos eleitores de 16 e 17 anos participaram do pleito de 2020, com uma pequena queda para 85,57 em 2022. Em Fortaleza, a taxa de comparecimento deste público chegou a 85,37% em 2020, mas teve uma queda considerável para 80,53% em 2022. Nacionalmente, esses números caem um pouco, com 82,31% de comparecimento dos jovens em 2020 e 82,89% em 2022.

 

Comparecimento dos eleitores de 16 e 17 anos em 2020 e 2022 

 

 

Nota: Apesar do alto índice de comparecimento, é importante destacar que a faixa etária de 16 e 17 anos representou somente 1,98% do total de eleitores aptos a votar em todo o Brasil em 2020 e 1,35% em 2022.

 

Agora representando a faixa etária mais robusta do eleitorado brasileiro (mais de 60% do total), os adultos de 30 a 69 anos surgem com um comparecimento consistente e crescente entre um pleito e outro. Em 2020, sua taxa de participação no sufrágio municipal foi de 82,08% em todo o País, subindo para 84,76% em 2022.

No Ceará, mais de 87% dos eleitores de meia idade estiveram presentes tanto em 2020, quanto em 2022, com a taxa de participação de 87,74% e 87,43%, respectivamente. Em Fortaleza, os valores foram ainda melhores, com 83,58% de comparecimento em 2020 e 88,74% em 2022. Esse percentual foi o mais elevado entre todas as faixas etárias de eleitores na capital cearense.

 

Comparecimento dos eleitores de 30 e 69 anos em 2020 e 2022

 

Nota: No comparativo com outras faixas etárias, a taxa de abstenção entre os eleitores de 30 a 69 anos não é o maior, mas em números absolutos é de longe o que envolve mais pessoas. São mais de 1,9 milhão de fortalezenses que não votaram em 2020 e 1,4 milhão em 2022. São mais de 5 milhões de cearenses que deixaram de participar de ambos os pleitos. Em todo o País, foram mais de 17 milhões de eleitores que se ausentaram em 2020 e mais de 15 milhões em 2022.

 


Os eleitores da terceira idade, por outro lado, são aqueles que têm as menores taxas de comparecimento em todos os níveis. Possivelmente com reflexos da pandemia, o menor índice registrado em 2020 tanto em Fortaleza, como no Ceará e no Brasil foi aquele dos eleitores com 70 anos ou mais: 39,27%, 30,82% e 24,21%, consecutivamente.

Dois anos depois, porém, o percentual subiu de maneira considerável, apontando um melhor índice de interesse desse eleitorado. Nacionalmente, a taxa de comparecimento foi de 41,14%. A nível estadual, 41,7%; e municipal, 43,65%.

 

Comparecimento dos eleitores de 70 anos ou mais em 2020 e 2022


 

Quanto menor o nível de escolaridade, maior a abstenção dos eleitores

O panorama eleitoral das Eleições Municipais de 2024 traz à tona um aspecto crucial: o comportamento dos eleitores com ensino superior. Ao analisarmos os pleitos anteriores, fica evidente a disparidade entre os diferentes segmentos do eleitorado tanto no comparecimento quanto na abstenção nas urnas. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os eleitores com ensino médio apresentam consistentemente as maiores taxas de participação.

Em 2020, esse eleitorado foi o mais participativo em todos os níveis de eleição, desde o local até o nacional. No entanto, em 2022, os eleitores com ensino superior emergiram como os mais engajados no processo eleitoral.

Em Fortaleza, os eleitores com ensino médio registraram uma taxa de comparecimento de 82,78% em 2020, aumentando para 88,5% em 2022. Por outro lado, os eleitores com ensino superior viram um salto significativo em seu envolvimento eleitoral. Enquanto em 2020 a participação foi de 82,07%, em 2022 alcançou 89,85%.

 

Comparecimento dos eleitores em Fortaleza com Ensino Médio e Superior em 2020 e 2022

 

No estado do Ceará, os eleitores com ensino médio também apresentaram números sólidos, com 87,11% de comparecimento em 2020 e 88,54% em 2022. Entretanto, os cearenses com ensino superior não ficaram atrás por muito tempo, pois registraram uma taxa de participação de 85,71% em 2020 e um notável salto para 90,78% nas eleições seguintes.

 

Comparecimento dos eleitores em Fortaleza com Ensino Médio e Superior em 2020 e 2022

 

Esses números também refletem no cenário nacional. Em 2020, a maior taxa de comparecimento foi observada entre os eleitores com ensino médio, com 80,58%, seguido de perto pelos eleitores com ensino superior, com 80,56%. No entanto, em 2022, aqueles com ensino superior lideraram, representando uma participação de 87,6%, enquanto os eleitores com ensino médio registraram uma taxa menor, de 84,66%.

 

Comparecimento dos eleitores no Brasil com Ensino Médio e Superior em 2020 e 2022


 

O padrão é evidente: à medida que avançam os níveis de escolaridade, as taxas de comparecimento eleitoral aumentam – mas a realidade se altera para aqueles com menos educação. Enquanto os eleitores com ensino médio ou superior mantiveram consistentemente taxas de participação entre 80% e 90% nas Eleições de 2020 e 2022, em Fortaleza, no Ceará e em todo o Brasil, a participação eleitoral despencou entre aqueles com ensino fundamental ou menos.

Os eleitores que possuíam apenas o ensino fundamental no Ceará marcaram uma taxa de comparecimento de 84,37% em 2020 e 83,77% em 2022. No Brasil, a queda foi ainda mais acentuada, de 79,05% em 2020 para 76,69% em 2022. Entretanto, a maior redução foi observada em Fortaleza: de 83,55% para 78,43% na eleição seguinte.

 

Comparecimento dos eleitores com Ensino Fundamental nas Eleições de 2020 e 2022

 

Entre os analfabetos, o quadro não é diferente, com uma diminuição perceptível na participação de um pleito para o outro. A nível nacional, a taxa de comparecimento caiu de 53,72% nas Eleições de 2020 para 47,92% em 2022. Embora os números estaduais sejam um pouco mais encorajadores, eles também indicam uma tendência de queda: 65,37% de comparecimento em 2020 e 58,11% em 2022.

Há, no entanto, um vislumbre de esperança nos números de Fortaleza. Entre os analfabetos da Cidade, o índice de participação aumentou levemente, de 37,48% em 2020 para 38,22% em 2022.

 

Comparecimento dos eleitores com Analfabetos nas Eleições de 2020 e 2022


 

Mulheres comparecem mais às urnas do que homens

A participação eleitoral feminina surge como um ponto de atenção nas eleições brasileiras. Em análise dos dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), é possível perceber um comportamento que se repete: as mulheres estão mais engajadas no processo democrático, registrando taxas de comparecimento superiores às dos homens. O padrão é visível tanto em Fortaleza quanto no Ceará e no Brasil nas Eleições de 2020 e de 2022.

Na capital cearense, as mulheres demonstraram uma participação ativa nas urnas dos pleitos passados. Em 2020, as mulheres superaram os homens, registrando uma taxa de comparecimento de 78,55%, enquanto os homens ficaram ligeiramente atrás, com 77,74%. A tendência continuou em 2022, com as mulheres aumentando sua taxa de comparecimento para 84,28%, em comparação com 82,54% dos homens.

 

Fortaleza: Comparecimento de mulheres e homens nas eleições de 2020 e 2022

 

Já no contexto estadual, os dados refletem ainda uma participação eleitoral feminina significativa. Em 2020, as mulheres assinalaram uma taxa de participação de 83,53%, superando os homens, que apresentaram 82,56%. Dois anos depois, a diferença entre os gêneros aumentou, com as mulheres alcançando 83,69%, enquanto os homens 81,29%.

 

Ceará: Comparecimento de mulheres e homens nas eleições de 2020 e 2022

 

 

Nacionalmente, a participação eleitoral das mulheres também se destaca. Em 2020, as mulheres apresentaram comparecimento de 77,11%, frente aos 76,58% dos homens. Em 2022, o público feminino permaneceu na liderança, com uma taxa de comparecimento pouco mais alta: 80,04%. No comparativo, o índice masculino foi 78,02%.

 

Brasil: Comparecimento de mulheres e homens nas eleições de 2020 e 2022


 

Metodologia

Para este material foram coletadas as bases de dados Comparecimento e Abstenção em 2020 e 2022, disponibilizadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que apresentam os números agregados por zona eleitoral e segmentados por gênero, faixa etária, escolaridade, dentre outras categorias.

Para calcular as taxas de comparecimento eleitoral, os dados foram agrupados por estados e municípios em cada um dos segmentos observados (gênero, faixa etária e escolaridade), destacando os índices do Brasil, Ceará e Fortaleza. As variáveis faixa etária e escolaridade foram reclassificadas para uma melhor compreensão dos dados. Portanto, a análise considera apenas quatro grupos etários (16 e 17 anos, 18 a 29 anos, 30 a 69 anos e 70 anos ou mais) e apenas os níveis de escolaridade completos (ou seja, as pessoas com ensino médio incompleto são contabilizadas como ensino fundamental, por exemplo).

Para garantir transparência e reprodutibilidade, os códigos utilizados para agrupar, segmentar e analisar os dados estão disponíveis neste link. As bases de dados geradas para análise estão disponíveis nesta planilha.

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