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Humor no Ceará: Ô povo fuleiro!
Reportagem Seriada

Humor no Ceará: Ô povo fuleiro!

LEGÍTIMA GAIATICE | A partir de conversas com os principais humoristas do Ceará em atividade, reportagem do O POVO rememora o boom do humor cearense desde o final dos anos de 1980, até as recentes mudanças na arte de fazer rir
Episódio 1

Humor no Ceará: Ô povo fuleiro!

LEGÍTIMA GAIATICE | A partir de conversas com os principais humoristas do Ceará em atividade, reportagem do O POVO rememora o boom do humor cearense desde o final dos anos de 1980, até as recentes mudanças na arte de fazer rir
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Almoço de domingo, família reunida. “Pai, achei essa pombinha aqui no mêi da rua. Deixe eu criar, deixe, pelo amor de Deus! Nunca te pedi nada. O nome dela é Bolinha”. Entojado, o pai exclama: “Eita, menina véa sebosa! Solte essa pomba, menina! Ráái lavar a mão com Protex! Tu não sabe que essas bichas é cheia de doença?”. A mãe replica: “Deixe de falar mal da menina, viu, Wando? Se a menina é desse jeito é porque você deu tudo que ela queria. Agora essa menina tá com mania de pegar as coisas no mêi da rua e trazer pra dêndicasa”. “Ô menina véa sebosa essa filha de Bernadete, tudo que ela pega... Nã!", intromete-se outra familiar.

Lupus Bier fez sucesso com shows de humor para turistas (Foto: O POVO)
Foto: O POVO Lupus Bier fez sucesso com shows de humor para turistas

Juazeiro do Norte, Sobral, Quixadá, Itapipoca, Potiretama, Granjeiro ou Senador Sá — a conversa poderia ser em qualquer domingo de qualquer família do Ceará, das maiores às menores cidades do Estado.

No Instagram, o caririense Max Petterson interpreta todos esses personagens e revela, entre filtros ou de cara limpa, a comédia cotidiana da terra do humor.

Da estridente vaia aos shows humorísticos em pizzarias e casas de shows, o cearense é, antes de tudo, um fuleiragem.

Personagem Justo Veríssimo, de Chico Anysio      (Foto: TV GLOBO / Alex Carvalho)
Foto: TV GLOBO / Alex Carvalho Personagem Justo Veríssimo, de Chico Anysio

Chico Anysio, Didi Mocó, Tom Cavalcante, Meirinha, Falcão, Rossicléa, Tiririca, Adamastor Pitaco, Zé Modesto, Raimundinha, Aurineide Camurupim, Lailtinho Brega, Augusto Bonequeiro, Skolástica, Tirulipa, Espanta, Virgínia Del Fuego, Alex Nogueira, Bené Barbosa, LC Galetto, Luana do Crato, Edmilson Filho, Talita Sá, Solange Teixeira, Carri Costa, Moisés Loureiro, Yarley e Rayssa Bezerra — é humorista que não se acaba mais.

Renato Aragão, ator e humorista criou o personagem Didi Mocó(Foto:  Foto: Divulgação)
Foto: Foto: Divulgação Renato Aragão, ator e humorista criou o personagem Didi Mocó

Celeiro dos grandes nomes do humor nacional, o Ceará é vocacionado à molecagem: frescar é tesouro vivo da nossa terra e ninguém sabe mangar dos outros e de si mesmo como um bom cearense. “Eu falo muito de cearense é humorista só por cearense. A gente ri da própria desgraça, não tem tempo ruim para cearense”, defende Max Petterson. Natural de Farias Brito e radicado em Paris para estudar teatro, Max integra a nova geração do humor no Estado, que aposta na gaiatice e jocosidade do “cearês” para buscar o riso no dia a dia.

Max Peterson(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Max Peterson

“Toda vida eu tive referências na minha família de cenas engraçadas e cômicas. Ninguém é humorista lá em casa, mas eu sou cearense, então o humor é uma coisa que eu já vinha carregando comigo na minha bagagem. À medida que eu começava a ser menos amador e mais profissional, comecei a notar que tinha uma veia cômica que fazia as pessoas rirem com muita facilidade. A comédia é muito além da minha parte artística e teatral: é algo da minha vida pessoal. O que eu faço na Internet hoje é uma mistura do Max pessoal com o Max teatral”, pontua o ator.

"Eu não me vejo fazendo piada, eu não conto piada. Nos meus vídeos, eu faço um humor que é muito da vivência, um humor do corpo a corpo” complementa. 

Referência na comédia executada sem acessórios, cenários, caracterização ou personagem — chamada "stand up comedy" —, Moisés Loureiro também integra a nova geração de humoristas cearenses. Na vida de Moisés, o humor nasceu em casa, forjado na divertida relação entre o pai sério e o irmão engraçado.

"A comédia do dia a dia é a melhor que existe. Nada é mais engraçado que a resposta natural dada por um senhor sem paciência dono de uma bodega, ou a pergunta inocente e inadequada feita por uma criança. Deixar os ouvidos atentos ao mundo é a melhor forma de criar piadas, elas já vêm prontas, principalmente aqui no Ceará, onde o povo naturalmente usa o humor para resolver seus problemas” compartilha.

"Eu comecei a fazer comédia em 2009, na época o stand-up estava chegando no auge junto com CQC. Eu já era fã do estilo desde 2006, quando vi o Diogo Portugal no programa do Jô fazendo humor de uma maneira que eu até então não conhecia. Não tinham piadas e nem personagens, eram crônicas do dia a dia contadas por ele mesmo,relembra.

"Fiquei viciado no estilo e não parei mais de consumir até subir no palco em 2009 pela primeira vez e apresentar o meu primeiro stand-up. Hoje, depois de algum estudo e pesquisas, sei que esse tipo de comédia de cara limpa e crônicas existe desde antes do termo 'stand-up' existir: Chico Anysio, José Vasconcelos, Jô Soares e vários outros já faziam seus shows dessa forma desde a década de 1950. Por isso, hoje prefiro dizer que faço comédia. Ponto. Sem precisar de um termo norte-americano para explicar o que já nos é natural e original desde sempre", aponta Moisés.

Luana do Crato, personagem do ator e humorista Luciano Lopes.(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Luana do Crato, personagem do ator e humorista Luciano Lopes.

A atual geração do humor cearense, entretanto, não se caracteriza apenas pelo stand-up: entre batons vermelhos, sombras coloridas e vestidos bufantes nasceu Luzinnet Pam, personagem vivida pelo jovem ator Kauã Costa. Um "mix de Madame Mastrogilda, Luana do Crato, Aurineide Camurupim, Raimundinha e Skolástica", Luzinnet Pam é uma autêntica homenagem aos históricos nomes da comédia no Estado.

"Costumo dizer que esse meu lado engraçado eu tenho desde pequeno, pois eu sempre fui uma pessoa muito alegre, divertida, onde eu chego não tem tempo ruim. As pessoas, às vezes, admiram-se quando eu digo que assistia aos clássicos da comédia — de O Gordo e o Magro aos grandes nomes do Ceará. Eu me interessei ainda mais pelo humor em uma semana cultural na escola. Numa prova chamada 'Qual é o seu talento?', apresentei um show de humor e comecei a despertar ainda mais esse meu lado humorista", narra Kauã.

Kauã Costa(Foto: divulgação)
Foto: divulgação Kauã Costa

Apadrinhado por Eddy Lima, Kauã Costa usa redes sociais como o Instagram para unir clássico ao contemporâneo. No último mês de agosto, o ator apresentou on-line o quadro "Fala meu povo", uma interação entre Luzinnet Pam e os seguidores.

"No começo, não era a Luzinnet Pam que fazia parte da minha vida e sim uma empregada doméstica, uma personagem que eu havia criado. A diretora do meu colégio estava precisando que eu fizesse uma participação no show da Madame Mastrogilda, onde o dinheiro arrecadado iria para a formatura do terceiro ano do Ensino Médio que já estava se aproximando. Eu fiz a participação e, quando terminou, o Eddy Lima — intérprete da Madame Mastrogilda — entrou no camarim que eu estava e me disse: 'Você é muito bom, você tem o timing certo da piada, mas a sua personagem vai precisar sofrer algumas modificações com o tempo'", afirma o comediante.

"Eu entendi aquilo e comecei a rabiscar outra personagem, o figurino, a maquiagem, o cabelo... Criei a personagem por completo, mas ainda não tinha um nome. O Eddy Lima, então, sugeriu Luzinnet, 'a única mulher que não paga a luz nem a net'. Agora eu precisava de um sobrenome, então acordei com a palavra 'pan' na cabeça e pensei 'menino, quer saber duma coisa? Vou colocar como sobrenome da personagem!'. Duas semanas depois eu fui pesquisar, o que significava a palavra 'pan' e descobri que é algo universal, gostei de imediato", complementa Kauã.

"Eu acho extremamente importante manter essa referência tradicional do humor viva, até porque já faz parte da história do Ceará. Quando os turistas vêm para o Ceará, além de dançar um forró, eles querem ver o típico show de humor cearense, um humor moleque, engraçado, cheio paródias, divertido, pra cima", defende ainda Kauã Costa.

Bares e pizzarias: um capítulo nessa história

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Molecagem e cearensidade são termos imbricados: a partir de meados dos anos 1980, artistas oriundos das artes cênicas iniciaram apresentações humorísticas em bares, pizzarias e teatros de Fortaleza. Na década de 1990, já intitulada Capital da Piada, Fortaleza viveu a efervescência de apresentações semanais de Falcão, Raimundinha, Meirinha, Lailtinho Brega, Rossicléa...

Entre mesas e garçons de espaços como Disk Pizza e Churrascaria Avenida aos palcos de casas de shows como Teatro do Humor e Lupus Bier, o humor se consolidou como expressão comunicacional imprescindível à Terra da Luz.

FORTALEZA, CE, BRASIL, 07-01-2020:  Retratos da humorista Valéria Vitoriano em seu bar  Autoral Comedy Bar, localizado no bairro Aldeota. (Foto: Beatriz Boblitz/ O POVO)(Foto: Beatriz Boblitz)
Foto: Beatriz Boblitz FORTALEZA, CE, BRASIL, 07-01-2020: Retratos da humorista Valéria Vitoriano em seu bar Autoral Comedy Bar, localizado no bairro Aldeota. (Foto: Beatriz Boblitz/ O POVO)

Dama do Humor do Ceará, Rossicléa e Valéria Vitoriano partilham um só corpo. Em mais de 30 anos entre palcos, programas de televisão pelo Brasil, shows mundo afora e agora como proprietária do Autoral Comedy Bar, a humorista resgata a historiografia da comédia em Fortaleza em sua trajetória pessoal.

"A Karla Karenina e eu somos primas, então Rossicléa e Meirinha surgiram juntas. Essa voz foi criada na cozinha da casa da minha avó. Em todas as festas a família se reunia na casa da minha avó e a gente ficava lá na cozinha conversando com as meninas que vinham do interior, que eram engraçadas", rememora Valéria.

"Em particular uma que se chamava Roseclea era muito engraçada, ela levantava os ombros quando ria, aquela risada gorda, gostosa... Eu coloquei esse nome na minha personagem, porque Meirinha já era uma coisa mais nossa, mais carinhosa, então também na tentativa de homenagear essa moça eu quis uma coisa mais espalhafatosa e joguei umas vogais até nascer a Rossicléa. Fomos pescando trejeitos, dizeres, linguajar, dialeto e misturando com que a gente já tinha de engraçado. Eu passei muito tempo ligando para uma rádio AM de madrugada só para me gravar", relembra aos risos.

Show de Rossicléa e Lailtinho Brega na Lupus Bier no ano de 2006
Foto: O POVO
Show de Rossicléa e Lailtinho Brega na Lupus Bier no ano de 2006

"Em Fortaleza, no final dos anos 1980, os jovens iam na sexta-feira para a Praça Portugal ou no domingo para a Volta da Jurema e todo mundo ficava por ali, até que começou a chegar uma galera mais chique que abria o porta-malas do Opalazão fodido tocando Bartô Galeno e começou a atiçar uma galhofa, um pintar com tintas fortes essa coisa da breguice — mas porque você escolheu ser brega, porque você admite que gosta daquilo".

Júlio Pirata d'Iracema, fundador do Pirata Bar, na Praia de Iracema, aproveitou a efervescência da Capital e criou o I (e único) Festival de Música Brega em 1989. No circuito Pirata e Kais Bar, muitos nomes do humor se conheceram e firmaram parceria.

"Lá conhecemos o Falcão e ele e a Silvinha Rola nos levaram para fazer nosso primeiro show, bem dizer, no curso de Arquitetura da UFC. Fortaleza e toda a boêmia alencarina estavam se encontrando naquela época. Por exemplo, Paulo Diógenes e Ciro Santos também faziam shows.

Um belo dia, quando abro o jornal, está lá na programação do barzinho Tronco do Sapoti os shows 'Caviar com Rapadura' com Paulo Diógenes (Raimundinha) e Cyro Santos (Virgínia Del Fuego). A Karla e eu fomos ver e a gente achou massa o que eles estavam fazendo. Eles também já tinham ouvido falar da gente. Percebemos que tudo surgiu na mesma época, sem combinar, foi sincronicidade", continua Valéria.

Karla Karenina, atriz e terapeuta, que criou a personagem "Meirinha"(Foto: O POVO)
Foto: O POVO Karla Karenina, atriz e terapeuta, que criou a personagem "Meirinha"

Intérprete da inesquecível Meirinha na Escolinha do Professor Raimundo — programa comandado por Chico Anysio e exibido na Rede Globo entre 1990 e 1995 —, a atriz e terapeuta Karla Karenina encontrou, no humor, salvação: na década de 1970, ainda com oito anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro e enfrentou forte xenofobia em terras cariocas. Irreverente como só ela, Karla fez piada com o preconceito sofrido e se fortaleceu na lembrança do Ceará.

Na foto: Karla Karenina, atriz, a "Meirinha".(Foto: Foto: Divulgação)
Foto: Foto: Divulgação Na foto: Karla Karenina, atriz, a "Meirinha".

"Acho que a minha forma de superar o preconceito sempre foi através da referência da ousadia do cearense. Eu me lembro que, uma vez, saiu uma revista sobre o Beach Park e um cara da produção da Escolinha do Professor Raimundo soltou uma piadinha: 'Comé que pode, um Estado que vive na seca tem um parque aquático!'. Eu disse assim: 'Mas lá no Ceará até televisão já tem, sabia?'", conta Karla.

"Até os anos 1990, as pessoas do Sul e do Sudeste tinham uma visão do Nordeste como aquela paisagem árida, cheia de cactos e carcaças de boi. Com ousadia, irreverência e humor eu me sustentei, mas não foi fácil. Em muitos momentos eu sentia solidão, mas ao mesmo tempo tinha aquele sentimento de honra da terra, sabe? Honra ao meu Ceará, ao meu Nordeste… Eu carregava essa bandeira, esse pertencimento. Eu fico muito honrada de ser um desses nomes do humor que foram em nível nacional dizer a que vieram. Fazer parte dessa história é realmente um privilégio".

Em um cenário artístico-cultural marcadamente masculino e normativo, Valéria Vitoriano e Karla Karenina abriram fissuras — fissuras tão fundamentais e tão urgentes que reverberam, até hoje, na produção das piadas. "A gente não tinha nenhum pudor de ser mulher e estar ali entre os homens. De figura feminina, só éramos a Valéria e eu…. A gente conseguiu se impor, mas eu acho que ainda temos poucas mulheres no humor. Esse universo masculino ainda é preponderante", pontua Karla. Na época em que Rossicléa e Meirinha conquistavam palcos e públicos, piadas machistas, racistas, homofóbicas ainda integravam o repertório dos comediantes.

Na foto: Karla Karenina, atriz, a "Meirinha".Foto: Divulgação(Foto: Foto: Divulgação)
Foto: Foto: Divulgação Na foto: Karla Karenina, atriz, a "Meirinha".Foto: Divulgação

"E alguns estereótipos ainda são muito usados para fazer graça, infelizmente. Eu acho que tem um longo caminho para ser percorrido ainda. Sempre fui na contramão dessa dessa coisa de usar o outro, de explorar características físicas ou a orientação sexual do outro como piada. Sempre fui muito contra isso", pondera a humorista.

"Eu não achava graça e acho que também as pessoas riam por constrangimento, enfim. Com a Meirinha, meu carro-chefe, minha primeira personagem de destaque, sempre procurei fazer com que não fosse uma coisa agressiva para ninguém. A piada deixa de ser piada quando não é engraçada para um ou pra uns", complementa Karla.

A transformação do humor cearense

"É literalmente uma linha de tempo", opina Max Petterson sobre a transformação do humor em curso. "Se você pegar a TV dos anos 1990, tudo podia e tudo era muito sexualizado; hoje jamais seria aceito. Da mesma forma era o humor naquela época. Todo mundo gargalha, funcionava, mas agora os tempos são outros e o humorista que não evolui fica atrapalhado", pondera.

"Todo mundo é um pouco racista, todo mundo é um pouco homofóbico, todo mundo é um pouco preconceituoso, mas a gente tem que saber das nossas limitações e aprender com isso", adiciona Petterson.

Uma coisa é certa — assim como a sociedade, o humor mudou. Para Moisés Loureiro, o público também é responsável pela conscientização dos comediantes.

"Enquanto houver pessoas rindo de conteúdo racista, homofóbico e machista, haverão pessoas fazendo esse tipo de conteúdo. Uma coisa leva a outra. Quanto mais o público se educar e se instruir, mais o comediante vai ser obrigado a fazer o mesmo. No fim, esbarramos no problema de sempre que é a causa de todos os problemas do nosso País: educação de base", analisa Loureiro.

"A busca do meu trabalho é o entretenimento, o riso, e se a felicidade é uma arma quente, eu tenho que saber bem pra quem apontar essa arma. Quem é merecedor do escárnio e do deboche? O povo historicamente desfavorecido ou os poderosos, políticos e herdeiros bilionários? A resposta me parece óbvia", encerra Moisés.

>>Entrevista

"O humor é e sempre será uma expressão do ser humano", afirma Tom Cavalcante

Tom Cavalcante(Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Tom Cavalcante


Aos 58 anos, Antônio José Rodrigues Cavalcante — o nosso Tom Cavalcante — é um dos humoristas em atividade mais consolidados do País. Nascido em Fortaleza, o também ator, apresentador, radialista e dublador iniciou a ascendente carreira ainda aos 14 anos, imitando artistas em bares da Capital. Hoje, Tom é um bem-sucedido exemplo de atualização do humor em seus mais diversos temas e suportes.

O POVO: Tom, o que caracteriza o humor cearense construído da década de 1990? Quais personagens você identifica nessa linha do tempo?

Tom Cavalcante: O humor cearense sempre existente nas mesas dos bares, nas conversas de calçada nos anos 1990 subiu aos palcos dos barzinhos, das barracas de praia com seus humoristas, palhaços maravilhosos ganhando o aplauso e apoio do público local.


OP: A mudança para o eixo Rio-São Paulo afetou a produção do seu conteúdo? Como? As piadas mudaram, por exemplo?

Tom: No período em que saí de Fortaleza, lembro de várias adaptações que tive de fazer nos meus textos retirando nossos regionalismos para um entendimento nacional. Com o advento da Internet, hoje vemos uma troca de palavras — frases que passaram a ser de domínio nacional independente de que estado seja, por exemplo.


OP: Qual é o papel do humor como expressão comunicacional e cultural?

Tom: O humor é e sempre será uma expressão do ser humano que atua na forma de denunciar e ajudar a ganhar consciência.


OP: Tom, hoje seu trabalho possui um forte caráter político. Qual é a importância do humor nesse âmbito de vida pública?

Tom: No instante em que a vida do País passou a respirar política em grande escala e com muitos episódios polêmicos e controversos, coube a nós, comediantes, retratá-la dando a nossa visão cômica dos fatos.


OP: Por fim, o que o público pode aguardar de Tom Cavalcante em 2021?

Tom: Agora inicio com Tirulipa no Multishow o "Faz Teu Nome", programa que foi buscar aí em Fortaleza 10 humoristas locais para participarem e brilharem com seus talentos nacionalmente. Estamos escrevendo também "Parças 3", em breve nos cinemas.

 

 

>> Na próxima reportagem conheça as origens históricas do Ceará Moleque e o percurso do humor na Capital 

 

 

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