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Indústria aberta: Ceará evolui em inovação para agregar valor aos produtos
Reportagem Seriada

Indústria aberta: Ceará evolui em inovação para agregar valor aos produtos

| PRODUÇÃO | Entre importações e exportações, setor industrial do Estado se movimenta para evoluir na agregação de valor aos produtos feitos no Estado. Inovação com apoio da academia e apoio de incentivos fiscais ajudam nesta missão
Episódio 1

Indústria aberta: Ceará evolui em inovação para agregar valor aos produtos

| PRODUÇÃO | Entre importações e exportações, setor industrial do Estado se movimenta para evoluir na agregação de valor aos produtos feitos no Estado. Inovação com apoio da academia e apoio de incentivos fiscais ajudam nesta missão
Episódio 1
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O processo de internacionalização dos mercados avança e, para além de importar e exportar produtos e obter um saldo positivo na balança comercial, a indústria cearense trabalha para agregar valor aos produtos.

Investimentos em inovação e apoio de incentivos fiscais fazem parte desse movimento. De acordo com levantamento da Fundação Getulio Vargas (FGV) com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o nível de importações de maquinário e matérias-primas por parte da indústria cresceu.

Entre 1998 e 2022, a participação na importação de bens de capital "recursos e ferramentas utilizados na produção de bens de consumo ou de investimento" e bens intermediários "matérias-primas ou produtos manufaturados que são usados na produção de outros bens ou produtos finais"  variou entre 88% e 89% do total de compras internacionais da balança comercial brasileira. Em 2023, esse número saltou para 91%.

Neste primeiro semestre de 2024, o saldo da balança comercial brasileira pendeu para a maior incidência de compras no mercado internacional, com alta de 3,9% nas importações e de 1,4% nas exportações. Saldo de US$ 2,3 bilhões é menor do que o igual período do ano passado.

Na balança comercial cearense não é diferente. O saldo pró-importações no período foi de US$ 660 milhões, pouco menor do que os US$ 727 milhões de 2023 e do US$ 1,6 bilhão de 2022.

Dentro desse contexto de alta incidência de importações para a indústria, existem desafios. O principal é qualificar o produto final de forma que a agregação de valor transforme esse saldo.

 

Balança comercial cearense nos últimos anos

Claudio Considera, coordenador de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV e ex-diretor do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica (Ipea), entre 1992 e 1998, explica que a indústria brasileira em geral precisa de vários insumos e produtos semi-prontos para viabilizar a produção final, mas que esse não seria o problema principal.

O exemplo é o setor automotivo em que, segundo Claudio, pelo menos 1/4 das peças precisa ser importado.

"É normal que em todos os países existam esse tipo de trocas internacionais. Então, jamais vamos produzir injeção eletrônica de combustível no Brasil, porque o valor do produto é muito mais barato em Singapura e não teríamos capacidade de produzir de forma competitiva aqui, por isso, importamos".

O principal aspecto dessa questão é não ser apenas um mercado importador de tecnologia, mas importar para agregar e criar uma tecnologia nova de alto valor. E esse é o principal desafio, aponta Claudio.

Na avaliação do coordenador do FGV Ibre, além do desafio do sistema tributário - que deve passar por transição de décadas após a reforma -, o nível de produtividade brasileiro precisa de um forte incremento.

Por isso, também cita que existem empresas nacionais que possuem alto desenvolvimento tecnológico, como Embraer e Petrobras, que são destaques internacionais em seus setores, podem contribuir e servir de exemplo para esse processo, além do próprio papel da universidade com pesquisas aplicadas para evolução do cenário.

Lauro Chaves Neto é professor da Uece(Foto: TATIANA FORTES)
Foto: TATIANA FORTES Lauro Chaves Neto é professor da Uece

Lauro Chaves Neto, professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e presidente da Academia Cearense de Economia (ACE), avalia que o processo de desindustrialização da economia brasileira nas últimas décadas levou a esse fenômeno que faz com que o agronegócio e produtos industriais de baixa composição tecnológica sejam os grandes responsáveis pelas nossas exportações.

Isso também faz com que tenhamos nos processos produtivos das indústrias a demanda de que grande parte da tecnologia e bens de capital venham do Exterior.

 

Os setores que mais exportam no Ceará

"Isso faz com que haja uma disfunção nas nossas transações com o resto do mundo. Nós temos um agronegócio com perfil altamente exportador. (Na indústria) nós precisamos ter um componente tecnológico muito muito maior. Para isso ocorrer, precisamos de um ecossistema de inovação, de abertura às novas tecnologias e uma integração com as cadeias globais de valor para podermos internacionalizar nossa economia e igualar os fluxos de importação e exportações".

 

 

UFC acumula R$ 160 milhões em projetos em parceria com empresas e prepara dois novos produtos licenciáveis

A soma de projetos desenvolvidos em parcerias entre a Universidade Federal do Ceará (UFC) e empresas somam quase R$ 160 milhões em investimentos nos últimos quatro anos.

Em seu histórico, dois grandes projetos patenteados já foram licenciados por empresas da indústria nos últimos anos e agora outros dois estudos estão em desenvolvimento.

São iniciativas de companhias nacionais e internacionais que buscam aprovação do Comitê de Inovação Tecnológica da instituição para buscar parcerias com o Parque Tecnológico da UFC.

Lívia Queiroz, diretora de Propriedade Intelectual da Coordenadoria de Inovação Tecnológica da UFC, destaca que os segmentos das empresas são diversos, indo desde o de saúde, farmacêutico, petrolífero e tecnologia da informação e comunicação, por exemplo.

"Há uma integração (entre a academia e as empresas) de inúmeras formas. Percebemos uma articulação, crescimento do networking e de contatos do setor privado nos convidando para conhecer o setor, participar das discussões e falar das tendências de mercado", pontua.

Segundo UFC, edital será divulgado em breve(Foto: Thais Mesquita em 22.08.2022)
Foto: Thais Mesquita em 22.08.2022 Segundo UFC, edital será divulgado em breve

Lívia cita ainda que projetos como o desenvolvimento de spin-offs "no eixo empresarial, são organizações ou produtos criados a partir de negócios já existentes"  na academia em parceria com empresas e o desenvolvimento de startups também fomentam esse crescimento. Os instrumentos legais do marco legal de inovação também são fatores positivos neste processo.

Dentro desse cenário de aproximação e alta nos investimentos, alguns frutos já são colhidos. Iniciativas como o molho Natchup e o capacete de respiração Elmo foram criadas na academia e licenciadas para a iniciativa privada, que comprou e comercializa as ideias e são exemplos de transferência de tecnologia.

No caso do Natchup, o primeiro licenciamento de patente ocorreu em 2019. O produto foi inteiramente desenvolvido pela universidade – à base de acerola, abóbora e beterraba sem conservantes e rico em vitamina C – está disponível no mercado por meio da empresa de alimentos Frutã. E recebeu o selo Innovation, premiação internacional concedida no Salão Internacional da Alimentação, em Paris.

O Elmo é um capacete de respiração assistida, não invasivo e mais seguro para profissionais de saúde e pacientes(Foto: TATIANA FORTES / GOV DO CEARA)
Foto: TATIANA FORTES / GOV DO CEARA O Elmo é um capacete de respiração assistida, não invasivo e mais seguro para profissionais de saúde e pacientes

Já o capacete de respiração Elmo foi desenvolvido em 2020, durante a crise da pandemia de Covid-19, numa parceria entre Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP/CE), Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), UFC, Fundação Edson Queiroz e Esmaltec.

A patente foi depositada e a marca registrada em cotitularidade em 2020. Já o licenciamento para uso comercial foi feito pela Esmaltec em 2021.

 

 

Maior processadora de castanha de caju do mundo, cearense Usibras espera crescer 20%

Com sede em Aquiraz, a Usibras, dona das marcas Dunorte, Cajueiro, Cajumil e Love Nuts, projeta um crescimento entre 15% e 20% em 2024 em sua operação internacional.

Maior processadora de castanha de caju do mundo, é internacionalizada, mas sem perder as raízes locais.

Atualmente, a execução industrial da Usibras envolve a produção em quatro fábricas, duas no Brasil, uma em Gana (África) e outra nos Estados Unidos.

Com mais de 40 anos de história, o negócio iniciou em Mossoró (RN) mas com foco definido: crescer para além do Brasil. No País, ainda possui a operação de Aquiraz, no Ceará, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), onde firmou também sua sede internacional.

Usibras é considerada maior produtora de castanhas do mundo(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Usibras é considerada maior produtora de castanhas do mundo

Das terras brasileiras, atende os mercados da América do Sul. Dos Estados Unidos, a fábrica localizada no estado de Nova Jersey atende a demanda nacional e o Canadá. Já Gana supre Europa e Oriente Médio.

Cinthya Assis, diretora comercial da Usibras, destaca que a estratégia da empresa vem desde o seu nascimento, de diversificar o mercado da castanha de caju por meio das exportações.

A executiva explica que a ideia é ter uma maior cobertura de vendas, diminuindo a dependência de apenas um mercado, além de reduzir riscos e aumentar o faturamento e volume de vendas.

Fábrica fica em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Fábrica fica em Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza

A escolha pela localização das fábricas faz sentido pela competitividade ao reduzir o tempo de trânsito das mercadorias rumo aos mercados. Cada planta industrial também tem suas peculiaridades em relação aos produtos desenvolvidos.

Cinthya conta que as plantas brasileiras são o grande exemplo. "Nas plantas do Brasil focamos nas exportações para a América do Sul, mas devido às características peculiares da castanha brasileira e sua boa aceitação, exportamos também para Europa e para mais de 20 países", afirma.

Fábrica da Usibras também diversifica com produção de castanhas caramelizadas(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Fábrica da Usibras também diversifica com produção de castanhas caramelizadas

Questionada dos principais desafios e exigências para permanecer forte no mercado internacional, Cinthya destaca que cada local possui suas características.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a Usibras agrega valor para além de produtos diferenciados, mas também em nível de serviço customizado.

Na África, a operação em Gana tem como principal desafio a diferença cultural e a demanda de mão de obra qualificada. Por isso, a empresa aposta na oferta de qualificação para suas equipes.

A questão logística é a principal dificuldade para o mercado brasileiro, destaca Cinthya. "O grande desafio é na parte logística, frequência de navios e instabilidade na cadeia logística", elenca.

Apenas nas unidades brasileiras a empresa processa mais de 100 mil toneladas de castanha de caju por ano. Em sua estrutura, a Usibras também possui um centro de distribuição em Guarulhos (SP).

A presença da Usibras no varejo brasileiro por meio de suas marcas também é relevante.

A Usibras é líder nacional em vendas de castanha de caju e outras oleaginosas em embalagens de até 500g, alcançando 30,9% do volume total de vendas e ampliou sua vantagem de mercado, de 12% para 19%, em relação ao vice-líder de mercado, conforme pesquisa realizada pelo Instituto Nielsen em novembro de 2023.

 

 

O cenário da indústria cearense e brasileira| Debates do Povo

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