Não é apenas de mídia social que se faz política. Os livros também participam do debate. Desde 2018 uma enxurrada de títulos com temáticas políticas invadiu livrarias e os destaques dos sites de compras de livros, sem contar que alguns deles se tornaram best-sellers.
No ano passado, o livro do cientista político Steven Levitsky, “Como as democracias morrem”, entrou na lista dos mais vendidos pela Amazon no Brasil. Pelo Publishnews, Lula e Moro disputaram os destaques de vendas em 2021: "Lula", primeiro volume da biografia do político escrita por Fernando de Morais conquistou o 14º lugar na lista, e "Contra o sistema de corrupção", do ex-juiz Sérgio Mouro ocupou a 17ª posição do ranking.
Em 2022, a batalha pelos discursos também chegou aos livros. “Querido Lula”, organizado por Maud Chirio, é um desses títulos. A obra torna pública 46 cartas escritas ao ex-presidente durante os 580 dias em que esteve preso condenado por corrupção na Carceragem da Polícia Federal de Curitiba após um julgamento que já entrou para a história do Brasil.
Nesse tempo de prisão, Curitiba se tornou o destino de 25 mil cartas endereçadas a Lula. Partiam de todos os lugares do Brasil, capital e interior, e de outros países. Anônimos e personagens ilustres escreveram para o presidente, mas “Querido Lula” traz apenas cartas de pessoas desconhecidas, como a do agricultor Pedro Dias, de 70 anos, que ditou a carta que o ex-presidente recebeu, por não saber ler.
Pedro diz ao ex- presidente que, como ele, ficou viúvo cedo e criou os filhos como agricultor. Maria das Dores diz ser empregada doméstica e conta que conseguiu colocar a filha na universidade. Thamara, 28 anos, compartilha ter acabado de chegar ao Brasil após um doutorado sanduíche na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e quer agradecer ao ex-presidente por ser uma das únicas da sua família a conseguirem cursar uma universidade. Thaís, médica de 32 anos, escreveu apenas para que Lula se sentisse “amparado” e “confortado”. Maria Honório, de Fortaleza, 81 anos, lhe envia um terço e uma recomendação: “Todos os dias diga Maria passai na frente e ela vai passar”.
A política que ronda a maioria dessas cartas é apenas aquela que, de alguma forma, alcançou o remetente por meio de programas sociais. Ou nem isso. O conjunto de cartas publicadas é um mosaico de um País diverso que se identifica como ex-presidente no que ele tem de humano, pela sua trajetória de homem pobre que conseguiu chegar onde chegou e embora tenha tombado de forma humilhante e estivesse preso, não perdera a dignidade aos olhos daqueles que lhe escrevem.
As cartas passam longe da política partidária, Sérgio Moro é o grande ausente nas cartas publicadas. O que chega é convite para tomar café com bolo, uma cerveja, uma cachaça, alguns mandam até o telefone para contato. Por inúmeras vezes os missivistas tentam imaginar os sentimentos mais profundos do ex-presidente enquanto estava preso e se comparam a amigos próximos, irmãos velhos, ou mais novos. As cartas não cobram, não julgam, não pedem. Chegam num momento em que encontram um homem politicamente acabado e preso. O Brasil em convulsão.
Sobre a convulsão que assola o Brasil, o cientista social Marcos Nobre lança este mês o livro Limites da democracia. De junho de 2013 ao governo Bolsonaro. Nobre é autor de Ponto Final, obra que investe na defesa de um plano elaborado por Jair Bolsonaro para desestabilizar as instituições democráticas via caos incessante, como método político para alcançar seus objetivos autoritários. Neste livro, Marcos Nobre investiga as manifestações de 2013 como ponto de partida para o aniquilamento de “pactos institucionais” que permitiu a manutenção da instabilidade política como nova ordem no Brasil. Segundo ele, esse estado de espírito nacional abriu possibilidades para a chegada de Jair Bolsonaro ao poder.
No próximo dia 24 de junho chega às livrarias O fim da Lava-Jato: Como a atuação de Bolsonaro, Lula e Moro enterrou a maior e mais controversa investigação do Brasil, de Aguirre Talento e Bela Megale, repórteres do jornal O Globo que cobriram a operação Lava Jato desde o início em 2014. O livro esmiúça detalhes envolvendo processos e órgãos de combate à corrupção no Brasil que sofreram revezes após a chegada de Bolsonaro ao poder, e conta com mais de 50 entrevistas realizadas com personagens ligados diretamente à investigação.
Leituras reunirão reportagens, entrevistas e resenhas sobre o universo dos livros, autores e mercado editorial