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Oito ensaios para ler em 2024
Reportagem Seriada

Oito ensaios para ler em 2024

Gênero que aos poucos se firma no Brasil, o ensaio tem como limites o fato de ser ancorado apenas no potencial reflexivo do seu autor. Coluna aponta oito propostas de ensaios para o ano que começa

Oito ensaios para ler em 2024

Gênero que aos poucos se firma no Brasil, o ensaio tem como limites o fato de ser ancorado apenas no potencial reflexivo do seu autor. Coluna aponta oito propostas de ensaios para o ano que começa
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O Brasil marca presença no texto que se consagrou como aquele que deu origem ao gênero ensaio. Publicada a primeira vez em 1580, a obra “131 Ensaios”, do filósofo francês Michel de Montaigne, foi dividida em três tomos. O último foi lançado em 1595. O Brasil, espécie de novidade exótica no sul da América, figurava na coletânea de Montaigne com o ensaio “Sobre os canabais”. Em pleno século XVI, a fama de canibal dos povos originários brasileiros já estava presente na Europa em tinta e em palavras levadas pelos viajantes europeus.

O escritor Paulo Roberto Pires afirma, porém, no prefácio do livro “Doze ensaios sobre o ensaio” que apenas quase quatro séculos depois, o gênero, definitivamente, aporta no País. No início, o ensaio encontrou na imprensa seu espaço mas, com o tempo, mudou de ambiente. Antonio Candido e Roberto Schwarz o levou para a universidade, e mesmo sem comprometer a liberdade da composição narrativa, parece ter criado alguns obstáculos para o amplo acesso ao gênero.

Mas, o que é um ensaio? A pergunta não é fácil de responder. De acordo com Alexandre Eulalio, autor de um ensaio sobre as origens do gênero no Brasil, o ensaísta argentino Edmundo Clemente teria dito em tom de prosa bem humorada: “Definir um ensaio é um trabalho superior à ambição de escrevê-lo”. De pronto, é possível dizer que é o lugar onde o texto teria a maior liberdade possível. Não precisa estar atrelado a uma pesquisa seja ela de qualquer tom. O texto navega de acordo com os remos de cada autor, suas percepções reflexivas, suas experiências com o assunto e, principalmente, com o manejo da linguagem. Aliás, a ensaísta Christy Wampole propõe ser o ensaio um tipo de DJ que sampleia e tira o novo do “já visto e ouvido”.

 

No texto “Retrato do ensaio como texto de mulher”, a ensaísta Cynthia Ozick faz uma distinção entre o artigo e o ensaio. Para ela, “artigo é fofoca”, enquanto “ensaio é reflexão”. E segue: “O artigo é o calor do momento. O calor do ensaio é interior. O artigo é datado. O ensaio desafia sua data de nascimento”. Para a escritora, o ensaio pode ser “associado ao ócio, até ao luxo” e complementa: “Os limites do ensaio podem se encontrar na sua própria natureza reflexiva”.

Em 2023, com segurança, foi o ano em que li a maior quantidade de ensaios e encontrei mixes de textos escritos por escritores acadêmicos, filósofos e escritores de ficção. Encontrei no ensaio uma pausa para a ficção pura. Li ensaios literários, filosóficos e biográficos. Aliás, quanto ao ensaio biográfico, foi uma excelente surpresa descobrir que, apesar de ser composto a partir da vida de um personagem, os eventos contraditórios e humanos fazem parte da trajetória e construção de uma obra pessoal, sem que o texto apenas mergulhe no lado sórdido das pessoas. Ou caia na tentação de “fabricar” criaturas sem um único senão.

Este Leituras é, portanto, um convite à leitura de ensaios. A lista que apresentarei em seguida são de textos ensaísticos que pretendo ler ao longo do ano. A começar pela escritora dinamarquesa, Tove Ditlevsen, inédita no Brasil, mas que surge com o “Trilogia de Copenhagen: Infância, Juventude e Dependência”. Uma das publicações que me causou mais curiosidade foi o “Sumário de plantas oficiosas”, do crítico colombiano Efrén Giraldo. A partir do cultivo das plantas, Giraldo promete falar sobre sociedade e cultura. Outro da lista que terei um imenso prazer em ler, por certo será “Walter Benjamin e a guerra de imagens”, do filósofo Márcio Seligmann-Silva, um dos principais estudiosos de Benjamin no País.

 

Ensaios sobre plantas, guerras e neo-fascismo 

 

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