Neste último verão, do mercado internacional, os portugueses foram os mais atraídos para o turismo no Estado. Inclusive, pesquisa realizada entre dezembro de 2022 e fevereiro deste ano pela Secretaria de Turismo do Ceará (Setur) atesta isso, pois 22,9% dos turistas internacionais vieram de Portugal.
Os outros três países que mais mandaram e que compõem esse topo foram França (17,17%), Itália (16,16%) e Argentina (7,41%). Para chegar a esse resultado, o público foi entrevistado nos principais portões de desembarque do Aeroporto de Fortaleza e nas rodovias estaduais, além de pontos turísticos da Capital.
O levantamento registrou que cerca de 870 mil pessoas visitaram o Estado no período, um aumento de 8,5% no total de visitantes que o destino recebeu na alta estação de 2021/2022, quando 802 mil turistas desembarcaram na capital cearense.
Um dos portugueses a desembarcar para rever destinos já conhecidos e descobrir novas praias do Ceará, foi o empresário Henrique Manuel Frazão Lopes. Com 41 anos de idade, ele esteve no Estado pela segunda vez e diz ter se surpreendido com a região de Jericoacoara.
"Não tanto pela praia em si, mas pela reserva natural que tem na região. A natureza é encantadora."
E dentre as escolhas para visitar o Ceará está o que ouviu por lá, já consolidando o destino turístico como conhecido em Portugal. "Sabemos e escolhemos pelas várias praias famosas e pelo clima quente. Recomendo muito o destino, já que tem muito a descobrir, e ainda um grande potencial de poder vir a ser ainda um melhor ponto turístico no futuro."
Os voos diretos também fazem muita diferença na hora de escolher conhecer o local. Isso porque o valor, tanto das passagens aéreas quanto da hospedagem e alimentação, tornam-se muito convidativos e baratos para turistas internacionais. "Gosto das praias, do clima, da gastronomia, da simpatia das pessoas e, claro, dos preços."
O português, que já trabalha com construção civil na sua terra natal, confidencia que em um futuro próximo, por conhecer e gostar do Ceará, pensa em investir em habitações destinadas à área do turismo, ne região litorânea do Estado.
Como turista e possível investidor, porém, ele lembra que o destino precisa ser mais divulgado na Europa. "Apesar de o Ceará, em Portugal, ser bastante conhecido, por causa da nossa história com o Brasil, acredito que é necessário investir em divulgação em outros países. Depois, seria preciso mais investimento na formação profissional das pessoas que trabalham no ramo turístico, assim como criar novas infraestruturas nos destinos", comenta.
Com estes pontos que necessitam de melhorias também elencados, na intenção de cooptar mais turistas para Fortaleza e, consecutivamente, para o Estado, a Secretaria Municipal de Turismo da Capital (Setfor) tem participado de diversas ações com agências internacionais, incluindo as de Portugal.
Como exemplo de uma das ações feitas em conjunto, Estado e Capital, está a participação, no início do mês de março deste ano, de uma feira internacional realizada em Lisboa, chamada Bolsa de Turismo de Lisboa (BLT).
Alexandre Pereira, secretário de Turismo de Fortaleza, é um dos entusiastas dessa relação entre Ceará e Portugal pelo turismo e explica pelo menos três grandes fatos que dimensionam a importância.
“Primeiro, que é o país da Europa mais próximo do Brasil, e acaba sendo, então, a nossa porta de entrada. Segundo, que temos voos diários com a TAP (Transportes Aéreos Portugueses), Fortaleza-Lisboa e construímos uma relação muito boa com a companhia e, terceiro, Lisboa é case de turismo no mundo.”
Aliás, sobre esse último ponto, para se ter uma ideia, o Brasil inteiro recebe seis milhões de turistas internacionais por ano e somente Lisboa recebe 20 milhões anuais. A disparidade é enorme, mas vista como potencial pelo secretário.
“Assim, quando participo de feiras de turismo em Lisboa, não vendo a cidade de Fortaleza, e o Ceará, apenas para os portugueses, mas sim para todas essas 20 milhões de pessoas que visitam Lisboa e que são turistas do mundo todo.”
Na feira em que Fortaleza estava representada neste ano, por exemplo, foram realizados seminários apresentando as potencialidades da cidade do Ceará. No ano passado, a Setfor também fez divulgação nas cidades portuguesas Porto e Cascais. Além disso, para o segundo semestre deste ano estão previstas mais duas ações de incentivo ao turismo em Portugal.
"Não adianta só ir promover lá fora. O destino precisa estar qualificado"
Uma destas ações será especificamente com a TAP e todos os seus agentes de viagem que atuam, além de Portugal, na Espanha e na França. Já a outra será em parceria com um canal de televisão brasileiro com ação internacional nos continentes europeu e africano, que terá como base Lisboa.
Como presidente da Associação Nacional dos Secretários de Turismo, Alexandre Pereira explica que a área sempre atua e investe no âmbito internacional no médio e longo prazos.
Isso porque o Brasil há vinte anos tem a marca de seis milhões de turistas internacionais. “É um número risível. É menor do que o número da Argentina, que tem nove milhões de turistas internacionais por ano. Então, podemos dizer que somos fraquíssimos no turismo internacional.”
Porém, além de se ter um projeto de captação de público de médio e longo prazo, Alexandre ressalta a importância de se qualificar os espaços para receber os turistas estrangeiros.
”Não adianta só ir promover lá fora. O destino precisa estar qualificado. O estrangeiro não vai para um destino que não tenha responsabilidade sócio ambiental, por exemplo. Infelizmente, o Brasil sempre tratou o turismo de forma muito amadora, mas estou animado com os trabalhos que estão aparecendo pela Embratur neste novo governo.”
Nas feiras internacionais, vale lembrar que o Ceará concorre com destinos como o Caribe, Polinésia Francesa, Miami.
O País, de extensão continental possui uma grande diversidade de atrações como o mar de águas mornas, florestas, diversidade natural e todos os climas de estações. O que estaria faltando é uma estratégia de venda globalizada.
Voltando para o cenário Ceará/Portugal, o secretário de Turismo de Fortaleza é seguro em dizer que a Capital já está recebendo o mesmo número de turistas que vinham pela TAP, antes do período da pandemia. “Mas aqui, sempre vale lembrar que quando se trabalha Portugal, se atinge os europeus como um todo, os franceses, que estão vindo muito pra cá, os alemães e os italianos.”
E sobre a parceria com algum órgão institucional português para fomentar o turismo, o secretário afirma que não existe e que a relação é diretamente feita com operadoras e com a empresa aérea TAP.
O que facilitou a vinda de europeus, mais precisamente de portugueses, para o Ceará, foi o interesse da "Transportes Aéreos Portugueses", a TAP, em ter voos diretos, em 1998. Na época, foi a terceira rota TAP no Nordeste, após Recife e Salvador.
Completando 25 anos, a relação, conforme a empresa, tem se mostrado uma rota muito bem-sucedida, apoiando o desenvolvimento turístico, econômico e social do Ceará. Por muito tempo foi a única ligação internacional e ainda hoje, com voos diários, entre Fortaleza e Europa.
Carlos Antunes, diretor Regional da TAP para Brasil e América Latina, explica que, durante a pandemia, com as restrições de circulação de passageiros que estiveram vigentes devido a questões de biossegurança e o consequente declínio abrupto da procura por viagens, todas as rotas da empresa sofreram drásticas reduções de frequências de voos.
O período, muito difícil para toda a indústria de turismo, não foi diferente para a TAP, especialmente no Brasil onde havia na época 11 cidades capitais e mais de 80 voos por semana.
“Hoje, podemos dizer que regressamos a todos os destinos, com um volume de voos compatível com o que tínhamos há três anos e em Fortaleza temos voo diário ligando a cidade a Lisboa e, de lá, a toda a Europa e África.”
Sobre a rota diária, Antunes destaca que ela está consolidada e operando com uma das aeronaves mais modernas de sua categoria, o Airbus A330-900 NEO, com capacidade para transportar 298 passageiros.
Sobre o conforto, o avião possui duas cabines. Na executiva, as poltronas reclinam até se tornarem camas horizontais. Há serviço de refeições à la carte e entretenimento com telas individuais. Já a cabine econômica possui duas seções, uma normal e outra chamada de Confort, com mais espaço entre as poltronas.
"Fundamentalmente, o que o voo direto da TAP Fortaleza-Lisboa produz é um ecossistema de desenvolvimento humano, social, empresarial sem igual."
De Fortaleza para Lisboa, atualmente, as saídas são às 22h40min e chegada a Lisboa no dia seguinte pela manhã, às 9h50min. “A tempo de aproveitar o dia ou conectar para os mais de 50 destinos na Europa para onde voamos”, reforça o diretor regional.
No regresso, os voos saem de Lisboa às 17h25min e chegam a Fortaleza no fim do mesmo dia, às 21h05min. “O fator de ocupação (load factor) não divulgamos, mas a rota está bem, sim senhor”, comenta Antunes.
Questionado sobre o tipo de demanda, se mais turismo ou negócios, o porta-voz da TAP afirma que há ambos. Ele exemplifica que há o turista que visita o Ceará, buscando sol, mar e praia, e um empresariado de ambos lados, hoje em dia, assistindo ao forte crescimento das energias renováveis.
“Há também o novo nômade, que é aquele que vive um pouco no Brasil, um pouco na Europa, tem casa em ambos lados, pode trabalhar remoto, ou tem seus filhos estudando na Europa e visita constantemente. Fundamentalmente, o que o voo direto da TAP Fortaleza-Lisboa produz é um ecossistema de desenvolvimento humano, social, empresarial sem igual.”
Um dos pontos fortes no turismo do Estado, apontado por diversos especialistas no setor é o do kitesurfe. No hub aéreo com a TAP, Carlos Antunes, diretor Regional para Brasil e América Latina, afirma que o esportista europeu que sabe que Ceará é a "Meca do kitesurfe" traz um fluxo de passageiros constante ao longo do ano inteiro para a empresa.
“Eles vêm para aproveitar o vento, também constante, para praticarem seu esporte favorito à distância de um voo de pouco mais de 7 horas.”
Sobre o mesmo assunto, o secretário de Turismo de Fortaleza, Alexandre Pereira, diz que é preciso investir, três, quatro anos seguidos, para ter algum retorno no turismo internacional também nesse nicho. “Somos abençoados pelo vento da natureza, mas ainda temos muito o que capacitar”, ressalta.
Em relação o futuro, no sentido de cultivar e perpetuar essa parceria entre a TAP e o Ceará, o porta-voz da empresa deseja ainda mais investimentos do Estado, da prefeitura de Fortaleza e outros municípios, para desenvolverem os equipamentos turísticos, recebendo melhor os turistas.
Além disso, a realização de campanhas de promoção e atração de fluxos turísticos nos principais mercados da Europa é esperada.
“Temos equipes em toda a Europa, conhecemos os mercados e podemos, como sempre fizemos, apoiar as instituições de promoção turística, a serem cada vez mais assertivas na utilização de seus recursos, para um forte retorno de investimento na captação de fluxos turísticos.”
Quando se fala com diversos representantes de órgãos para trazer um panorama da relação entre o Ceará e Portugal, mesmo sem ser especificamente sobre turismo, o Grupo Vila Galé é lembrado como exemplo de êxito.
Iniciada em 2001, a relação entre o grupo hoteleiro e imobiliário com o Ceará se dá efetivamente com a construção do resort Vila Galé, na Praia do Futuro. Após 22 anos, já são R$ 300 milhões investidos apenas no Estado e, com os novos empreendimentos, o aporte da empresa no Ceará deve ultrapassar o meio milhão de reais.
Em empregos, o Vila Galé traz números de 600 diretos e 1,5 mil indiretos, apenas no Estado. No Brasil, são cerca de 3,5 mil diretos.
Principal contribuinte de Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza (ISS) do município de Caucaia, por conta dos seus empreendimentos na praia do Cumbuco, o Vila Galé recebeu no último dia 25 de maio a autorização de início de obra e alvará ambiental para a construção do seu novo resort premium, o Vila Galé Sunset Collection Cumbuco, com investimento previsto em R$ 65 milhões e inauguração para o Natal de 2024.
Além disso, nos próximos anos também devem ser entregues dois loteamentos residenciais, também no Cumbuco, que totalizam um investimento aproximado de R$ 120 milhões e recebem os nomes de Água Marinha e Águas do Cauípe.
Conforme o presidente do Conselho de Administração do grupo Vila Galé, o português Jorge Rebelo, no Brasil, é no Ceará o maior investimento do grupo concentrado em uma localidade. “Além disso, posso dizer que o Cumbuco, para onde estamos voltados ainda mais agora, de fato, é um destino que vai ser a grande referência turística do Ceará.”
"Há uma frase que diz: sem transporte aéreo não há turismo"
Presente em mais seis estados brasileiros além do Ceará com sua rede, Jorge Rebelo afirma que atualmente, para o Brasil dar um salto no crescimento do turismo internacional é fundamental conseguir atrair voos. “Há uma frase que diz: sem transporte aéreo não há turismo.”
Ele lembra que o Ceará tem uma vantagem muito grande, pois é o que fica mais perto da Europa. “Esse foi um dos motivos por ser o estado por onde começamos. Havia um voo direto da TAP e a ligação aérea é fundamental.”
Ele ainda lembra que “o Ceará foi o nosso primeiro amor”. Somos o principal investidor de turismo no Estado e vemos que o governo tem trabalhado relativamente bem no turismo, mas ainda tem muito para fazer.”
O empresário português ainda reforça que o Ceará tem uma boa penetração em Portugal. “Mas volto a dizer que o grande trabalho do Estado é o de ter acessibilidade via malha aérea. É preciso se fazer o dever de casa e trazer os voos internacionais para cá.”
Levantamento sobre a atuação dos portugueses no Ceará em diferentes segmentos da economia cearense