Logo O POVO+
Pajé Raimunda Tapeba: "Meu desejo é ver a terra demarcada"
Reportagem Seriada

Pajé Raimunda Tapeba: "Meu desejo é ver a terra demarcada"

Primeira mulher indígena a se tornar pajé de uma etnia cearense. Aos 79 anos, Raimunda Tapeba espera ter as terras indígenas demarcadas para os direitos dos povos originários serem garantidos

Pajé Raimunda Tapeba: "Meu desejo é ver a terra demarcada"

Primeira mulher indígena a se tornar pajé de uma etnia cearense. Aos 79 anos, Raimunda Tapeba espera ter as terras indígenas demarcadas para os direitos dos povos originários serem garantidos
Por

 

A primeira mulher indígena a se tornar pajé de um povo indígena de etnia cearense, o povo Tapeba. A comunidade, localizada no município de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), possui cerca de 7.038 indígenas, distribuídos em 20 aldeias. A maestria e o orgulho em falar das origens indígenas são uma das características que a pajé traz consigo e que repassa aos demais.

Raimunda Tapeba nasceu na comunidade do Corte, na localidade de Capuan, em Caucaia. Diante das invasões de terras no território indígena quando a pajé ainda era adolescente, ela passou a viver na comunidade do Trilho e, em seguida, na comunidade da Ponte, às margens do rio Ceará, próximo a CE-085. Ao 42 anos de idade, foi convidada a assumir o principal papel de liderança de um povo indíegna: a de pajé.

Raimunda Tapeba é a primeira mulher indígena a se tornar pajé de uma etnia cearense(Foto: Matheus Souza)
Foto: Matheus Souza Raimunda Tapeba é a primeira mulher indígena a se tornar pajé de uma etnia cearense

A caucaiense destaca a importância passar as origens, tradições e histórias do povo indígena a partir da oralidade com as crianças, jovens e os adultos para manter a "consciência" indígena viva para a geração que vai resistir e levar a história para o futuro. Com olhar no passado, mas pensando no futuro, a pajé de 79 anos de idade afirma que o seu principal desejo ainda em vida é ter as terras indígenas demarcadas.

 

 

O POVO - Primeira mulher indígena a liderar um povo e ocupar o papel de pajé. Como foi chegar até aqui e o que a senhora encontrou quando chegou no atual território? 

Pajé Raimunda Tapeba: Eu nasci e me criei na comunidade do Corte, em Capuan, aqui em Caucaia, com o pajé, cacique e com os meus pais. Fui expulsa do local com 16 anos por umas pessoas que se diziam donos da terra. Como o pessoal não tinha a missão de ter a terra deles e sempre aguentando a discriminação, saímos de lá para vir aqui para a beira do açude. 

Nessa época, ninguém tinha nada, apenas uma panelinhas de barro para cozinhar no fogo da lenha. Eu vim para cá porque meu pai sempre vinha pescar aqui e como eu já tinha me criado dentro do manguezal pescando com ele, eu decidi que iria viver porque já tinha o que comer, pois tinha o peixe e o carangueijo. Quando eu cheguei aqui não tinha nada, só barro e lama, e a gente foi construindo umas cabanas de palha e, em seguida, umas casas de barro.

Eu cheguei até aqui por causa que a minha mãe era rezadeira e curadeira e trabalhava com medicina, com a reza e com a cura. O meu bisavô era cacique e eu convivia, apesar de eu não saber ler e escrever, eu aprendi. O que vale é a consciência da pessoa de querer aprender as coisas e seguir em frente. Eles conversavam e eu escutava.

Quanto eu tinha 14 anos eu comecei a ter umas visões de repente e avisei a minha mãe que eu via gente me chamando. Ela falou que não era gente e dizia que era as encantarias, que eu tinha que ser médium, trabalhar com a Umbanda e cuidar do povo. E eu perguntava: “Mas cuma, mãe?” e ela falava para fazer remédio e rezar.

Naquela convivência, eu me criei. Quando o pajé da tribo morreu, fizeram uma reunião para quem ia tomar conta da pajelança e falaram “vai ser a Raimunda e vocês vão ter que aceitar porque a gente já sabe o trabalho dela e a convivência dela com o povo apesar dela ser nova”. Perguntaram se eu aceitava e eu falei aceito com todo prazer porque meu futuro é trabalhar com o povo, com a reza e com a medicina. Meu jeito é esse!

Vou trabalhar com a minha ciência, com a minha força da encantaria e levar o povo à frente. Até hoje eu estou aqui para fazer a reza, para contar as histórias dos antepassados, para falar sobre cultura, falar das histórias dentro das escolas porque lá eles estão aprendendo a ler e a escrever, mas também tem que aprender a cultura e história indígena, como surgiu os caciques e dos pajés e como era a vida deles.

Isso é o meu dever enquanto eu existir, é passar os ensinamentos para os meus netos, bisnetos e filhos. Eu tenho 40 netos, 26 tataranetos, 38 bisnetos e oito filhos. Precisamos ter uma visão aberta para trabalhar com todo mundo, e não é trabalhar só com a família, mas com a comunidade em geral.

Pajé Dona Raimunda Tapeba(Foto: Matheus Souza)
Foto: Matheus Souza Pajé Dona Raimunda Tapeba

OP - Quais as suas lembranças da infância?

Pajé - Para onde os meus pais, o cacique e o pajé iam, a gente ia atrás, seja para caçar ou plantar. Chegaram a fazer uma enchadinha pequena para mim, e eu ia trabalhar na roça. Quando a gente voltava, a gente ficava dentro da mata com algumas baladeiras matando passarinhos e subindo nas árvores. São lembranças muito boas. Eu tive uma boa infância. A minha mãe teve 15 filhos, mas a maioria morreu e restaram dois, eu e outro irmão.

Naquela época, a gente se reunia ao redor de uma fogueira e escutava muitas histórias até ir dormir. Todo mundo parava para escutar e aprender. A lição era ensinar a história e isso é muito bom porque se eu nunca tivesse aprendido hoje em dia não teríamos o povo Tapeba no município de Caucaia. Eu fui buscar a história desse povo também.

OP - O que é ser uma pajé?

Pajé - Quando eu fui chamada para ser pajé foi uma alegria. Eu tinha 42 anos quando me tornei pajé. Na época, quando o pajé morreu o território ficou preocupado porque ficamos sem pajé e não teria quem faça medicina, reza e cura.

O Dourado - liderança indígena do povo Tapeba - disse que nós tínhamos e era eu. "Ela é rezadeira, tem cultura, trabalha com a Umbanda e é de nascença e ela é a única que nós vamos ter para colocar como pajé do nosso povo".

Ele mandou me chamar em uma reunião e disse que eu era a nova pajé do povo Tapeba. Eu perguntei o porquê e eles falaram que ninguém mais tinha a história e cultura que eu tinha. Falei: "Se vocês confiam, eu vou". 

Me sinto muito querida, porque eles me chamam para tudo. Se alguém está doente, pedem para me chamar, se tem alguma reunião, eu preciso estar presente e se eu não estiver, a reunião não acontece porque eles só se sentem bem se eu estiver, como uma forma de proteção e fé.

Eles falam que eu não sou Deus, mas tenho um dom que cura e levanta a nossa comunidade. Eu tenho muito orgulho disso. Pajé é isso, é cuidar do povo de todos os jeitos. É meu dever cuidar. 

OP - Qual a sua relação com a medicina natural e a importância dela dentro do território indigena?

Pajé - A medicina é muito importante para a saúde e para a vida. Eu nasci e me criei convivendo com a medicina. Eu nunca fui ao médico para tomar vacina, mas, agora, eu tomei porque era obrigado a tomar. Eu criei todos os meus filhos com a medicina natural, sem precisar levar ao médico. O meu filho mais velho tem dois filhos.

O mais velho, com 1 ano e dois meses, ficou doente e levaram ao médico. Voltaram e pediram para eu rezar nele, e eu disse que não era quebrante e que era uma doença infecciosa. Levaram ao médico de novo e o médico disse que a doença não tinha cura, e que voltasse para casa para morrer.

Chegaram em casa desesperados. E eu perguntei se Deus tinha dito isso? Não acreditem em conversa dos outros e confie em Deus e tenha fé. Pedi para pegar duas folhas de pião na mata para fazer um chá. Lavei, fiz um chá e dei ao menino, que foi tomando fôlego e respirando e respirando. Hoje em dia, ele já é pai. Não era a hora dele, ele só tinha que ser curado.

Remédios caseiros só não levantam se não quiserem. Meu primeiro contato com a medicina natural foi por meio da minha mãe, que fazia os chás. Aqui a gente usa muito aroeira para inflamação, se você tiver um golpe, ele ajuda a fechar.

As folhas de tórem servem para endemia do sangue, para fraqueza da cabeça, que retorna as lembranças. Para cuidar das crianças da pequena, tem a raíz da pepaconha, a cebola branca e a raiz do sambé para fazer lambedor e o mastruz com leite, que cura até a pessoa que está com pulmão enfraquecido.

Mas tem que tomar com fé. Tudo precisa ter fé e acreditar no que a gente faz. Se não acreditar e não ter fé, nada resolve. Tudo que cura a gente é a fé. Eu vou fazer 80 anos e não tenho diabetes e nem pressão alta porque eu me cuido com os remédios do mato. Quando sinto qualquer coisa, eu peço para fazer um chá e logo depois eu já estou boa. Vamos ter fé. 

Raimunda Tapeba nasceu na localidade de Capuan, em Caucaia(Foto: Matheus Souza)
Foto: Matheus Souza Raimunda Tapeba nasceu na localidade de Capuan, em Caucaia

OP - Durante a pandemia da Covid-19, a senhora foi a primeira mulher indígena a receber a vacina no município de Caucaia. Em algum momento existiu algum conflito entre a medicina natural de crença indígena e o imunizante para a doença?

Pajé - Não teve um conflito. Eu sentei com o pessoal e eles me explicaram. Eu, que fui criada com a medicina natural, também acredito nos remédios científicos, dos postos de saúde. Se Deus quiser, a gente fica bom. Vamos tomar uma vacina e esperar o que vai acontecer. Aqui no território, graças a Deus, ninguém sentiu nada. A medicina está em primeiro lugar.

A minha esperança e o meu desejo é de ver a terra demarcada. Eu nasci em uma comunidade lá em cima do corte com meu pai e meus irmãos e meus parentes plantando, vivendo da roça e da natureza. Tudo da gente era com a natureza e eu me criei nessa convivência.

OP - Com mais de quatro décadas vivendo à margem da CE-085 e liderando o povo Tapeba. Qual o seu principal desejo que ainda não foi realizado ao longo dos seus 79 anos de luta indígena?

Pajé - A minha esperança e o meu desejo é de ver a terra demarcada. Eu nasci em uma comunidade lá em cima do corte com meu pai e meus irmãos e meus parentes plantando, vivendo da roça e da natureza. Tudo da gente era com a natureza e eu me criei nessa convivência.

Quando os nossos antepassados foram morrendo, a gente foi sendo expulsos da terra. A gente vive agora na beira do rio porque fomos expulsos por fazendeiros das nossas terras e pra gente não morrer, a gente acatou e por isso meus filhos nasceram aqui.

Eu criei meus filhos e meus netos na beira desse rio caçando caranguejo e peixe porque não tínhamos local para plantar aqui. Em 1982, o arcebispo da Arquidiocese de Fortaleza, o dom Aloísio, começou esse processo para ajudar a gente na demarcação de terras e disse que a Funai ia ajudar a gente também.

Uma pessoa da pastoral da Arquidiocese veio até aqui e eu fiquei com medo porque achei que a gente ia ser expulso de novo. Quando ele falou em Funai, eu achei que o mundo ia se acabar porque eu não sabia o que era, mas ele explicou que era um órgão federal que ia trabalhar com a gente.

Disseram que era para ajudar e que perguntei ajudar em que sentido? E disse que ia ajudar a gente na demarcação de terra e ajudar na saúde e na educação. Eu queria que os meus filhos estudassem, já que eu não aprendi porque vivia na mata.

Porque nunca ninguém nos ajudou a não ser Deus. Pediram para contar a nossa história e eu acho que está toda dentro da pastoral da Arquidiocese. O rapaz da pastoral pediu pra eu ir encontrar o dom Aloísio e eu, apesar do medo, fui. Lá, ele começou a fazer perguntas e eu fui contando a minha história, sobre as expulsões, o porquê de morar na beira do rio e o povo que vive aqui.

Ele mandou um relatório para a Funai para começar ajudar a gente, principalmente na demarcação. Mas, até hoje a demarcação não saiu e continuamos estamos esperando que isso aconteça. A saúde e a educação melhoraram muito, agora a gente tem posto de saúde e escolas, mas queremos lutar por mais saúde, por mais educação e pelo nosso território.

O dom Aloisio conversou com o cacique e com o pajé depois e disse que eu era firme e tinha uma história firme. A arquidiocese passou a nos ajudar até os dias de hoje, mesmo depois que dom Aloisio foi embora. Na despedida dele, fomos até o Castelão para nos despedir. Ele nos deu fogo e vida para ter força para lutar pela demarcação de terra.

Faço 80 anos no dia 24 de novembro e o meu desejo e a minha esperança é a demarcação para que os meus filhos e o meu povo possam criar os filhos deles e tirarem o fruto da vida, como as frutas e os legumes, da própria terra, como no modo de como eu me criei. Quem sabe se eu ainda não vou ver a demarcação. Se eu não ver em vida, eu vou ver de onde eu estiver e abençoar em que estiver em terra.

Pajé Raimunda Tapeba tem 79 anos e espera ter as terras indígenas demarcadas (Foto: Matheus Souza)
Foto: Matheus Souza Pajé Raimunda Tapeba tem 79 anos e espera ter as terras indígenas demarcadas

OP - O marco temporal de demarcação de terras indígenas será votado em outubro deste ano. Como a senhora vê essa medida e os efeitos para os povos indígenas? É um retrocesso ou não para a demarcação das terras?

Pajé - Temos quase dez mil indígenas no município de Caucaia, e em cada local tem as lideranças. Quando temos reuniões, discutimos a demaracação da terra. A gente discute o Marco Temporal e a demarcação da terra, e o quanto é importante a demarcação. Como você vai viver sem um pedaço de chão para criar seus filhos e netos que vão vir se você não tem nem para você morar? A gente discute muito isso. 

Não temos tudo, mas temos saúde, a educação, o respeito que ninguém tinha e a discriminação diminuiu. Tudo isso a gente conquistou, mas falta ainda a demarcação, que vem sendo o principal assunto agora. E tem muitas perguntas de como vai ser, quando vai ser e o que eles pretendem fazer com as nossas terras.

Tenho a preocupação com a demarcação do meu povo, mas também com o povo que não é “índio” e que estão nas terras. Nós somos irmãos e temos essa preocupação.

Uma equipe pode chegar no local e você está na sua casa e pega e coloca você para fora. Eu, como "índia" estou aqui do lado, eu vou me sentir bem com isso? Não vou! Todos somos irmãos e no passado todos éramos "índios". Quem sabe se seu tataravó e bisavó não eram "índios" e você nunca soube porque nunca descobriu suas raízes? Essa é a minha preocupação como pajé também.

Tenho a preocupação com a demarcação da terra do meu povo, mas eu também penso no resto do povo que está dentro da terra e diz que não é "índio". Porque são crianças, mulheres gestantes e velhos que também precisam de atenção. E acho que a demarcação não saiu por causa disso também.

Pajé é isso, é cuidar do povo de todos os jeitos. É meu dever cuidar.

OP - Caucaia é a região com o maior número de comunidades indígenas. Em relação a educação, a senhora percebe alguma movimentação na comunidade sobre o número de escolas indígenas em Caucaia? É o suficiente?

Pajé - Eu acho que ainda não é tudo. Temos um grau de estudo mais alto, que o nosso povo ainda não tem acesso. Hoje, nós temos indígenas que estão fazendo cursos para ser professores, educadores, enfermeiros e auxiliares de enfermagem e que estão fazendo faculdade para levar uma vida melhor para poder cuidar do povo. Isso é muito importante, mas para isso acontecer e crescer precisamos de mais ações ainda.

Os nossos governos têm que olhar para a educação indígena através das escolas, assim como também as outras escolas onde o nosso povo está estudando e também olhar para a população que já está estudando também dentro das universidades, dando condições melhores para eles se formarem e oportunidades para eles terem um futuro. Isso é o que a gente deseja. Hoje, nós já temos índio advogado, mas precisamos avançar.

O que eu vou contar para eles é o que eu aprendi na minha cultura e na minha tradição. Ressalto que eles tem que aprender a respeitar, principalmente, a sua mãe, além do povo na rua porque todo mundo quer respeito. Se eu não dou respeito, como as pessoas vão me respeitar?

É preciso aprender a cultura e tradição de vocês. Eu converso com os estudantes das escolas das comunidades do Trilho e do Capuan, principalmente com os mais velhos. Com as crianças, eu falo das histórias. 

OP - Qual a importância da passagem de crenças e saberes indígenas pelas gerações e como isso tem sido importante para manter essa “consciência” indígena viva?

Pajé - Para manter essa consciência indígena viva, a gente se reúne para conversar e passar as tradições para não deixar a cultura morrer, principalmente os que estão se gerando agora por meio das escolas e universidades através das ciências, sabedorias e culturas.

Ninguém deve deixar nada morrer, temos que crescer e subir para manter viva essa consciência. Isso é importante porque você é ou pode ser uma pessoa querida dentro da comunidade como uma liderança, um pajé ou uma cacique. Caso alguém adoeça, tem todo mundo se reunir e pedir uma passagem boa para você. Não podemos deixar a cultura morrer.

Raimunda Tapeba é a primeira mulher indígena a se tornar pajé de uma etnia cearense(Foto: Matheus Souza)
Foto: Matheus Souza Raimunda Tapeba é a primeira mulher indígena a se tornar pajé de uma etnia cearense

OP - Os povos indígenas estão ocupando cada vez mais espaços no âmbito governamental, por meio da criação de ministérios e secretarias de atenção aos povos originários no Governo Federal e Estadual. A senhora se sente representada? Como a senhora analisa isso em relação ao avanço da luta indígena? 

Pajé - Para mim, é muito importante essa representatividade em Brasília e aqui também. Estamos em uma gestão que, pela primeira vez, tem alguém lá do nosso povo. Se acabar esse mandato e todo mundo ficar de braços cruzados, morreu a nossa luta e a nossa cultura. Não podemos deixar isso acabar e, sim, continuar em frente.

É muito imporante saber quem está nos representando e saber o que estão fazendo por nós. Vou fazer 80 anos e, apesar de não votar mais, sinto na obrigação de ir votar em pessoas que nos representam. A gente tem que lutar, cuidar e olhar para que está olhando para nós. Precisamos ter essa visão para nos proteger. O pajé não faz nada só, é um trabalho de todo mundo junto.

OP - A senhora foi escolhida “mestra da cultura” no Ceará. O que isso representa?

Pajé - Isso representa tudo. A pessoa que recebe o diploma de mestre da cultura é porque existe uma confiança em mim e a força de Deus foi grande. Cheguei até aqui pela minha sabedoria, minha ciência e minha cultura, trabalhando com medicina e com o povo por meio das crianças, dos jovens e dos velhos.

O meu filho, o Sérgio, lutou muito indo atrás desse reconhecimento porque ele disse que eu tinha que ter isso porque começei essa luta indígena assim como tanta outras que têm o reconhecimento. Para mim, é um orgulho muito grande ser uma mestre da cultura pelo Estado do Ceará.

Ser reconhecida pelo Estado e pelo meu povo, com fé e esperança. Tenho muita história para passar, para contar, muita orientação para dar e assim eu vou levando a minha vida.

 

Mais sobre a pajé Raimunda Tapeba

 

 

O que você achou desse conteúdo?