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Deixe com ela: Vládia Soares, a mulher que amplifica as cores do reggae
Reportagem Seriada

Deixe com ela: Vládia Soares, a mulher que amplifica as cores do reggae

Mulher preta e periférica, Vládia Soares é idealizadora e gestora do Deixe Comigo Bar, onde também atua como produtora cultural e DJ residente. Destaque na cena fortalezense, integra o coletivo Deixe com Elas e é referência em pesquisa de reggae nacional feito por mulheres: "Não é só sobre dar o play"

Deixe com ela: Vládia Soares, a mulher que amplifica as cores do reggae

Mulher preta e periférica, Vládia Soares é idealizadora e gestora do Deixe Comigo Bar, onde também atua como produtora cultural e DJ residente. Destaque na cena fortalezense, integra o coletivo Deixe com Elas e é referência em pesquisa de reggae nacional feito por mulheres: "Não é só sobre dar o play"
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Para Vládia Soares, ser DJ “não é só sobre dar o play”. Mulher preta e periférica, ela é idealizadora e gestora do espaço cultural e gastronômico Deixe Comigo Bar, onde também atua como produtora e DJ residente.

Referência em pesquisa de reggae nacional feito por mulheres, Vládia integra os coletivos “Deixe com Elas”, “Vila Roots” e “Rebel Women”, projetos que têm o objetivo de fortalecer a cena reggae feminina. Após meses de organização, ela e outras 20 DJs celebram o 8 de março com o evento “Reggae feito por Mulheres pra Mulheres” no Complexo Cultural Estação das Artes.

O encontro é uma grande reunião de discotecagem, dança e celebração do protagonismo delas em um cenário predominantemente masculino. Haverá, ainda, intervenções artísticas, ações solidárias e uma feira criativa.

Mulher preta e periférica, Vládia Soares é idealizadora e gestora do Deixe Comigo Bar, onde também atua como produtora cultural e DJ residente(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Mulher preta e periférica, Vládia Soares é idealizadora e gestora do Deixe Comigo Bar, onde também atua como produtora cultural e DJ residente

Atualmente, Vládia e Coka Vibration, seu companheiro e parceiro na gestão do bar, também tocam o projeto Sound System. Juntos, espalham a cultura nascida na década de 40 na Jamaica, que promove encontros nas ruas para curtir diversas vertentes do reggae. A ação é uma alternativa para levar a cultura do reggae a pessoas que não têm condição de frequentar as festas em clubes fechados.

Destaque na cena fortalezense, ela sai todos os dias do Vicente Pinzón para fazer do reggae em Fortaleza um movimento de muitas cores.

 

 

O POVO — Vládia, você é uma mulher que tem se destacado na cena fortalezense nos últimos anos. Seja pelo trabalho como DJ e produtora cultural ou pela gestão do Deixe Comigo Bar, você já é referência no reggae feminino e está sempre em articulação para fortalecer esse movimento. Mas gostaria de voltar um pouco no tempo para saber: quando olha para trás, que mulheres te inspiraram a ser quem você é hoje?

Vládia Soares — Quando eu olho para trás, em torno de uns 7 anos atrás, quando eu conheci o Coka (Coka Vibration, companheiro de Vládia), foi também o momento em que comecei a conhecer mais de perto a cena reggae.

Porque até então, as minhas influências eram Bob Marley, Edson Gomes, Ponto de Equilíbrio, mas eu ainda não conhecia o reggae tão de perto e nem a cena reggae de Fortaleza.

Quando eu fui conhecendo melhor a cena, foi no mesmo período em que a gente começou o Deixe Comigo. Aí eu fui tendo a oportunidade de conhecer mulheres que já estavam na cena e já faziam o movimento, como a Indira Marley, a Lady Luh, a Jordanna Thiellys, que eram mulheres que já estavam ali se movimentando, já faziam parte de projetos, de coletivos.

Vládia Soares é empreendedora e dona do bar Deixe Comigo. Além disso, ela é Dj com o coletivo "Deixe com elas", além de promover o projeto Sound System, com seu companheiro Coka Vibration. (Foto: JamRock )
Foto: JamRock Vládia Soares é empreendedora e dona do bar Deixe Comigo. Além disso, ela é Dj com o coletivo "Deixe com elas", além de promover o projeto Sound System, com seu companheiro Coka Vibration.

E eu sempre achava muito massa, sabe? A forma que elas se expressavam. Eu achava muito impactante. Porque quando eu conheci o Coka, eu comecei a ir muito para os bailes. Aí eu via uma discotagem dos boys e a discotecagem das gatas, e ficava: puxa, é totalmente diferente.

Ali eu comecei a entender que não era só sobre dar o play. Eu via muito mais que isso nelas.

No movimento Sound System eu me encontro muito forte com o reggae enquanto DJ, na linha de frente dos movimentos.

Uma das mulheres que me inspirou muito foi a Lei Di Dai, que é uma gata pioneira no movimento sound system do Brasil e se destaca com o movimento de dancehall "O dancehall, assim como o hip hop, é uma cultura que abrange diversas manifestações artísticas, sendo a dança uma delas. Neste caso, o dancehall nasce e se desenvolve na Jamaica e tem forte influência da cultura afrodescendente e da música reggae." .

E aí vem a Sistah Chilli também, que é essa gata que eu estou trazendo para cá, que traz em suas composições letras que falam sobre nossa força, nossas lutas, nossas fragilidades e nossos amores.

A Núbia, que é uma gata do Maranhão, também traz tudo isso e fala da nossa pretitude, do que a gente passa enquanto mulheres negras dentro do movimento reggae.

O POVO — Desde que o reggae se tornou sua forma de se expressar e de viver, em algum momento você sentiu o peso de ser mulher, negra e periférica?

Vládia — Já senti muito esse peso e sinto até hoje. Primeiramente por ser mulher. Fortaleza tem uma cena reggae muito forte, de segunda a segunda você sai e encontra espaços que estão trazendo, difundindo a cultura reggae.

Mas você não vê essa força sendo representada por mulheres. Se você vê uma line-up "Line up é uma expressão em inglês que significa a lista de atrações de um evento, como um festival ou show. É a ordem de apresentação dos artistas, músicos, cantores, ou seja, a programação do evento." , por exemplo, no Jamrock ou na Kingston, sempre vai ser 99% homem e 1% mulher.

E, assim, não é por falta de mulheres qualificadas. Porque eu já escutei isso: “Ah, as mulheres reivindicam muito, mas elas não se qualificam, elas não têm um set diferenciado, elas não trabalham para estar se destacando”.

"Reggae feito por Mulheres pra Mulheres" nasce a partir do desejo de várias DJs, MCs e integrantes de coletivos de dança reggae, de realizarem uma ação coletiva de celebração ao Dia Internacional da Mulher, visando valorizar a atuação das mulheres dentro da cena reggae de Fortaleza, especialmente aquelas que atuam na periferia(Foto: Vládia Soares/Acervo pessoal)
Foto: Vládia Soares/Acervo pessoal "Reggae feito por Mulheres pra Mulheres" nasce a partir do desejo de várias DJs, MCs e integrantes de coletivos de dança reggae, de realizarem uma ação coletiva de celebração ao Dia Internacional da Mulher, visando valorizar a atuação das mulheres dentro da cena reggae de Fortaleza, especialmente aquelas que atuam na periferia

Sendo que, assim, eu sou uma gata que o meu set é totalmente diferenciado. Eu tô ali, eu carrego a minha pesquisa, eu carrego vozes de mulheres, o que é muito difícil dentro de uma line. E assim como eu, tem muitas outras gatas que estão no corre produzindo dessa forma.

Então esse argumento, para mim, não é válido. Eu me coloco enquanto mulher dentro desse movimento e isso já me pesou muito.

Ser preta também é outro peso, porque existe um padrão. Apesar de o reggae ser um movimento negro, vir de um movimento preto e periférico, vir do gueto, da Jamaica, mas ainda assim existe um padrão.

E há 7 anos eu tenho um desejo comigo, mas eu venho de periferia, o meu espaço é alugado, a minha casa é no Vicente Pinzón.

Lá também tem movimento de reggae, que é o Alto do Reggae, que também tem uma mulher na linha de frente e, assim como eu, ela passa por muitas coisas.

Hoje eu consigo estar na Estação das Artes porque eu tenho mais acesso a um credenciamento, mas e as gatas que não têm? Você não vê uma gata preta do movimento reggae tocando lá.

Esse movimento que vai rolar agora, com todas essas mulheres que vêm de periferias, é um movimento histórico. E quando eu falo isso, é sem exagero nenhum. É a pura verdade.

Porque os equipamentos não facilitam. Tal hora, para você ter tudo aquilo que eles pedem, requer tempo. E muitas vezes as gatas não têm tempo.

Tem que trabalhar muito para poder se sustentar, não tem o tempo necessário para estar ali fazendo um release, fazendo um portfólio.

E eu vou além disso: além de não terem o tempo, muitas ainda não têm instrução, não têm condição. Eu sou muito grata a Deus porque dentro do Deixe Comigo eu consegui acessar muita coisa.

Mas não é nenhum privilégio, é muito trabalho mesmo para poder ocupar os quatro cantos dessa Cidade sendo mulher preta e regueira.

O POVO — Você é parte de diversos coletivos que fortalecem a cena reggae feminina. Inclusive criou o coletivo "Deixe com Elas" porque sentia falta de um movimento voltado para mulheres dentro da cena reggae de Fortaleza. Como surgiu essa necessidade de coletividade e qual foi o impacto desse coletivo na cidade e na sua própria trajetória?

Vládia — Sempre achei muito incrível, potente e necessário. Na verdade, eu acho que dentro de mim eu sempre fui muito feminista, só que o reggae resgatou isso dentro de mim de uma maneira que eu nem sei te explicar.

Mas eu sempre fui por mim e por nós. Pelas nossas, sempre. Quando comecei a produzir o Deixe com Elas, eu ainda nem discotecava. Eu só produzia com elas na minha casa.

Mas quando comecei a tocar, comecei com elas, porque eu já produzia. Então foi uma parada natural e orgânica.

Destaque na cena fortalezense, Vládia Soares integra o coletivo Deixe com Elas e é referência em pesquisa de reggae nacional feito por mulheres(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Destaque na cena fortalezense, Vládia Soares integra o coletivo Deixe com Elas e é referência em pesquisa de reggae nacional feito por mulheres

Logo em seguida, outro coletivo surgiu bem organicamente, que foi o Rebel Woman. Infelizmente não atua mais, mas foi muito forte. E o Deixe com Elas se tornou referência, né?

Fazer parte de um coletivo de reggae feito por mulheres, para mim, é muito potente. Porque eu acredito que, sozinha, não conseguiria chegar onde eu cheguei.

A Indira já era do movimento há mais tempo e a minha admiração pelo corre delas, pelo diferencial delas, era tão grande, que por ver a cena ser tão injusta com elas a gente pensou: “Galera, tá na hora da gente pegar voo. Vamos ocupar”.

Mas, para mim, o céu nem é o limite. Nós começamos a fazer credenciamento de tudo o que aparecia e fomos nos destacando.

A gente tocou em todos os equipamentos da Cidade, em festivais eletrônicos, praias, centros culturais. Porque a gente pensou fora da caixinha, a gente não se limitou ao que todo mundo faz.

Com essa nossa atitude, a gente também foi empoderando e mostrando para outras gatas que elas também podem ocupar com a gente.

Eu sempre tô criando roda de conversa, trocando ideia com a galera, explicando mesmo. Me disponho a ajudar quando tem credenciamento, “tá precisando disso, tá precisando daquilo”.

Trabalhar em coletividade tem que ser com essa energia, com essa força que nós mulheres temos. Já passei por depressões, mas o que sempre me curou foi o amor pelo que eu faço, foi por acreditar nessa nossa força.

Dentro de mim às vezes bate uma sensação de desespero, mas também de muito amor e de muita realização por saber que as coisas estão acontecendo e a gente é capaz, sim.

E tudo o que consegui foi junto com outras. Eu não almejo nada para mim, eu quero que realmente seja tudo nosso e nada deles.

O POVO — O que significa para você ser DJ? Como a música que você toca e pesquisa dialoga com suas vivências e com o que você quer transmitir?

Vládia — Ser DJ, para mim, é uma grande missão. Como eu falei antes, não é só chegar ali e apresentar uma discotecagem, sabe? Dar o play. Não é sobre isso.

É tanto que, por diversas vezes, quando eu passei por momentos difíceis, eu realmente tive que dizer não para alguns eventos. Porque não é de mim sair da minha casa quando eu não estou bem, quando eu sei que não vou me conectar verdadeiramente, quando eu sei que não vou passar a mensagem.

Quando eu sei que vou estar ali apenas comercialmente, eu nem toco, sabe? O Coka até fala que eu sou um pouco radical. Mas, para mim, precisa fazer sentido. Eu tô ficando mais madura e a minha maturidade vem me trazendo muito isso.

Deixe Comigo Bar, no bairro Joaquim Távora, recebe programações de diferentes gêneros musicais, mas o reggae é sua principal vertente e atrai inúmeras pessoas(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Deixe Comigo Bar, no bairro Joaquim Távora, recebe programações de diferentes gêneros musicais, mas o reggae é sua principal vertente e atrai inúmeras pessoas

Tocar, para mim, tem que fazer sentido. Não é só uma seleção, eu tenho que levar uma mensagem.

E isso é tão forte, que quando eu comecei a tocar, logo no início, tanto no Rebel quanto no Deixe com Elas, eu sempre tive uma seleção forte, dançante.

Mas há mais ou menos dois anos, a minha maturidade vem me despertando para várias coisas incríveis. Hoje eu tenho uma pesquisa feita por mulheres, então é literalmente reggae feito por mulheres.

Eu chego para apresentar, dou prioridade às gatas que trazem a nossa ancestralidade, nossas lutas, que estão ali falando sobre o nosso lugar, nossos direitos, sobre a desigualdade que é cruel, a falta de empatia, de equidade.

E às vezes não são músicas bailantes, tal hora a galera olha para mim cruzando o braço. Mas o que me faz não desistir é que também existem outras manas que chegam junto, elogiam, chegam para mim e falam "somos todas Marias", que é uma música da Sister Marie.

Então pode ter dez pessoas cruzando o braço, mas chega uma e fala: "Cara, tu arrebentou. Tu deu o recado. Irmã, a mensagem é essa". Que se identifica, sabe? Isso não tem preço.

Ser DJ é levar uma mensagem, estar ali de corpo, alma e coração. Usar essa ferramenta que é o reggae para que as pessoas entendam o que você está querendo dizer. Isso é muito lindo, muito impactante.

Você curtir um som só pela melodia, é lindo. Mas você entender é mais lindo anda. Você sair de um baile com uma mensagem e entender que você não precisa se diminuir pra caber. Que você precisa de mais amor, que você é foda.

Ser DJ, para mim, é encher a mente e o coração de quem tá ali me escutando de reflexões e energias positivas. Porque o reggae não é neutro, ele é político. O reggae é amor, mas também protesto.

O POVO — Você acredita que o reggae pode ser um veículo para conscientizar mais mulheres sobre seus direitos e sua potência? Já teve alguma experiência em que percebeu que sua música ou seu trabalho impactaram diretamente a vida de uma mulher?

Vládia — Eu acredito demais que o reggae tem esse poder de passar a mensagem. Já passei por várias situações de soltar um som, um vocal feminino que fala exatamente sobre nossas dores, nossa vida, e as gatas chegarem até mim e falarem que sentiram, que foi muito bom ter escutado.

Principalmente essa música que estou trabalhando bastante, Somos Todas Marias. Gente, quando as gatas escutam essa música, é muito impactante.

Eu sinto isso na minha vida desde que comecei minha pesquisa de vocal feminino nacional. Me fortaleceu muito, me deu coragem.

Atualmente, Vládia e Coka Vibration, seu companheiro e parceiro na gestão do bar, também tocam o projeto Sound System(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Atualmente, Vládia e Coka Vibration, seu companheiro e parceiro na gestão do bar, também tocam o projeto Sound System

Assim como eu, as gatas se identificam e realmente a mensagem é dada, é recebida. Com certeza aquela sementinha ali é plantada.

Não é à toa que sempre no fim elas chegam e agradecem por ter soltado o som, agradecem pela força.

O reggae tem esse poder, sobretudo o vocal feminino. É pesado, é algo diferente. É algo que eu acredito que salve vidas, porque eu posso dizer que sou salva todos os dias por isso. Por esse amor que eu tenho pelo reggae, pela pesquisa que eu faço, por acreditar nessa força.

O POVO — O evento do dia 8 de março é histórico pela quantidade de mulheres envolvidas. O que motivou essa iniciativa do reggae feito por mulheres para mulheres e o que esse evento simboliza?

Vládia — Esse evento simboliza o nosso despertar e a nossa força. Eu já escutei, inclusive de outras mulheres, que é viagem. "É viagem da tua cabeça, tu vai ter muito é dor de cabeça."

Já escutei de homens também: "Ah, é massa esse movimento, mas será que elas estão unidas? Será que elas estão preparadas para isso?". E, assim, independente de elas estarem preparadas ou não, se não houver a tentativa, como é que a gente vai saber?

Não é fácil, são muitas cabeças pensantes para dialogar, mas nós somos abertas para conversar. Depois do dia 8 de março, eu tenho certeza que essa cena vai mudar.

Para Vládia Soares, ser DJ “não é só sobre dar o play”, mas sobre sentir e transmitir uma mensagem(Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES Para Vládia Soares, ser DJ “não é só sobre dar o play”, mas sobre sentir e transmitir uma mensagem

Nunca aconteceu um movimento desse tamanho, com essa quantidade de mulheres, com uma gata vindo de fora da Cidade, dentro de um equipamento do tamanho da Estação das Artes.

A maioria dessas gatas faz projeto nas praças, projetos que os produtores maiores olham como "reggae de pirangueiro, de quem não tem o que fazer".

Só que não. A maioria das minhas amigas que estão nas praças, que são linha de frente, elas são mães solo, elas têm o trampo delas. E ainda assim elas encontram tempo para estarem ali.

Quando essa quantidade de mulher se junta para fazer um movimento desse tamanho, com essa representatividade, isso representa e simboliza a nossa força e nosso despertar.

A gente tá dizendo para a cena de Fortaleza que a gente pode, sim. E é só o começo, pode esperar.

O POVO — Dentro do contexto em que você está inserida, o que você gostaria que as mulheres falassem mais umas para as outras?

Vládia — Eu gostaria que as mulheres apoiassem umas às outras e acreditassem mais, sabe? É um movimento difícil que as pessoas desacreditam. Então tem que começar de dentro.

A gente tem que acreditar no nosso corre, porque já existe um movimento que não acredita, que nos exclui, que nos deixa de lado. Então a gente tem que fortalecer mais umas às outras, nos priorizar.

Quando for fazer um evento, chamar outras gatas. Esse evento era para ter sido no Outubro Rosa, aí não conseguimos na época. Quando conseguimos, eu escolhi o 8 de março porque era uma outra data que também carrega muito significado.

Se a gente se apoiasse de verdade, não tinha para ninguém. Porque a gente é agilizada, organizada, inteligente. A gente só precisa de apoio.

O POVO — Qual mudança na sociedade você gostaria que sua geração ainda presenciasse em relação às mulheres?

Sinceramente, o que eu queria era realmente equidade. Mas é triste, eu já fiz várias pesquisas e acho que a gente só vai ter essa equidade daqui a 100 anos. Eu não vou estar mais nem viva.

Mas não é por isso que eu vou desistir. Eu vou fazendo o meu papel, eu vou deixar o meu legado e vou vivendo dentro do que eu acredito, dentro do que eu penso.

Queria que a sociedade olhasse para as mulheres e não as diminuíssem, mas apoiassem, acreditassem, viabilizassem ao invés de colocar a mulher como um lugar de cota.

Eu queria que acabasse isso. É feito, triste, depressivo, adoece. Mas a gente se une para acreditar que vai dar certo, que a gente vai conquistar e um dia a sociedade vai entender que somos capazes de estar onde quisermos. 

 

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