A noção de que os anos se estendam e repercutam além dos seus marcos cronológicos estabelecidos é um clichê historiográfico, âmbito da ciência já repleto de quadras que jamais terminaram ou cujo andamento extrapolou em muito aquele usualmente aceito, de 365 dias - ou 366, no caso dos bissextos. Foi assim em 1945, 1964 e 1988. A memória é pródiga em casos do tipo.
O de 2020 se inscreve nesse mesmo diapasão. É, porque não acabou e ainda pode surpreender, uma jornada de acontecimentos que se projetam não apenas para 2021, mas também para o seu vizinho imediato, 2022, este no qual os brasileiros novamente voltam às urnas para uma escolha eleitoral que definirá parte do futuro do país num horizonte mais curto.
Logo teremos de rever e passar a limpo tudo que se sucedeu agora, episódios ainda mal digeridos e cuja explicação e entendimento carecem sobretudo de tempo: um presente em sobressalto.
Em qualquer área, 2020 produziu um estremecimento considerável, um corte, de que é representativo outro lugar-comum que talvez dimensione melhor esse impacto: há um antes e um depois demarcados. Quem sabe por isso os meses de janeiro e fevereiro soem deslocados, como se não nativos de vinte-vinte, que começa efetivamente em março, ao menos para os brasileiros e brasileiras. Antes disso, experimentávamos outra vida, para a qual muitos ainda acreditam ser possível voltar, sem sê-lo.
Os ensaios aqui reunidos partem dessa hipótese segundo a qual atravessamos uma época que redefiniu a paisagem política, econômica, artística, sanitária, esportiva e outras tantas, direta e indiretamente afetadas por eventos na esteira da pandemia de Covid-19 e dos cenários que se desdobraram a partir da doença e de seu enfrentamento, da redescoberta do espaço doméstico ao desmascaramento da desigualdade, que expôs a vergonhosa carência de meios básicos sem os quais a maior parte de nós encontrou muito mais dificuldade para se manter viva, empregada, com saúde e perto das pessoas a quem ama.
Escrevendo sobre a perda de ilusões no livro "O povo contra a democracia", o cientista político Yasha Mounk postulou que existem "décadas intermináveis, em que a história parece se arrastar". O ano que agora se aproxima de seu encerramento é dessa natureza: há como que uma recusa a se findar, levando sua carga para a frente, empurrando-a e desafiando-nos a suportar esse peso.
Cada mês de confinamento carregou consigo a agonia do combate à peste, mas também do afastamento. Cada dia foi o decalque de uma experiência coletiva exaustiva no curso da qual aprendemos, talvez, que as redes de proteção social e os vínculos instituídos entre nós, aqueles elos indissociáveis, asseguraram a subsistência em meio a tanta falta: de medicamentos, de leitos, de acolhimento.
Vinte-vinte revirou tudo, e isso nem sempre foi bom. E agora nos perguntamos como fazer para montar esse quebra-cabeças de peças espalhadas que o ano que acaba lega ao que começa.
Uma das pistas, sugerem estes textos, é apostar no conhecimento, no melhor de nossa gente, na ciência e na pesquisa, no respeito e na diferença, na escola e na universidade, na democracia e nas capacidades de trabalho e invenção sob condições adversas.
Esse é o futuro que esboçam.
POLÍTICA
A reorganização da política e o futuro de Bolsonaro
Por Leonardo Avritzer*
A pandemia teve um conjunto de repercussões políticas importantes ao longo de 2020. Em primeiro lugar, eu diria que, no caso do Brasil, ela explicitou as fragilidades de uma concepção vulnerável de governo que o presidente Jair Bolsonaro lançou, ainda durante a campanha eleitoral, e tentou implementar ao longo do ano de 2019.
De acordo com essa concepção, o mais importante, no que diz respeito ao governo e às posições ministeriais, era um enfrentamento com posições ideológicas, e não a organização administrativa da gestão. A pandemia questionou profundamente essa concepção em dois momentos distintos.
Num primeiro, questionou na medida em que o próprio ministro da Saúde indicado pelo presidente Bolsonaro no início do governo, Luiz Henrique Mandetta, organizou o Ministério da Saúde e o SUS para enfrentar a pandemia e, ao fazê-lo, acabou trombando de frente com o presidente.
Mandetta sai do Ministério em abril, mas a saída expõe os problemas da concepção de governabilidade do bolsonarismo, na medida em que a pasta passa quase 90 dias com um ministro interino e a gente vê esse interino como completamente subordinado a um pensamento de anti-governo do presidente.
O segundo momento em que a gente vai perceber as fragilidades dessa concepção é justamente agora, na etapa da organização da vacinação contra a Covid-19. A gente vê os EUA, que, mesmo ainda com o governo de Donald Trump, começa a se organizar para distribuir a vacina a partir de um conjunto de critérios. Os países da Europa fazendo o mesmo.
E o Brasil com um plano completamente inconsistente de vacinação, que não é capaz de cobrir 25% da sua população, com acordos frágeis com só algumas empresas farmacêuticas e sem ao menos ter a garantia nem de que irá dispor de seringas suficientes para a população.
Então, eu diria que a pandemia evidenciou a fragilidade da concepção de antipolítica do governo Bolsonaro e reabilitou a política, no sentido de que o eleitorado começa a perceber que precisa de políticos capazes de implementar políticas públicas.
De modo que o jogo político dos próximos dois anos vai ser determinado por dois elementos. Em primeiro lugar, por uma nova reorganização política mais ao centro, que a eleição de 2020 gerou.
Essa não é uma eleição que foi boa para a extrema-direita, é uma eleição que foi razoável para a esquerda, mas é no arco entre o centro e a centro-esquerda que a política brasileira se reposicionou.
Isso cria imediatamente problemas para o presidente Bolsonaro no sentido de que ele vai ser obrigado a reorientar o seu governo. Ainda mais que essa mudança política coincide com a eleição do presidente Joe Biden nos EUA e com um crescente isolamento internacional do Brasil, que tende a se acentuar no início do ano que vem.
O segundo elemento vai ser obviamente a vacinação. Se o Brasil for o pior caso de organização de uma campanha entre os principais países do mundo, especialmente tendo performance muito ruim se comparado com outros países da região, tais como Argentina, Uruguai e Chile, isso vai influenciar profundamente o desempenho do governo.
Evidentemente que esse jogo pode ser de um tipo se o presidente Bolsonaro conseguir influenciar e fazer a presidência da Câmara e de outro tipo se de fato ele conseguir, no máximo, ter um presidente que não lhe seja hostil. Das duas formas, a tendência para 2021 é o presidente perder muito poder para o Supremo Tribunal Federal (STF), algo que a gente já viu nas últimas semanas do pós-eleição, e também para o próprio Congresso Nacional.
(*) Leonardo Avritzer é professor de ciência política na UFMG. É autor de “Impasses da democracia no Brasil”, “O pêndulo da democracia” e “Política e antipolítica”.
ECONOMIA
Ceará e o mundo em transição
Por Célio Fernando*
Muitas vezes nos encontramos em ciclos econômicos viciosos e virtuosos com altas volatilidades. O contexto de 2020 não foi tão atípico diante dos diversos ciclos na história de crises sanitárias, como a Grande Peste no século XIV. A Economia mundial foi devastada com escassez de mão de obra e queda da renda das terras. Nada diferente das pestes de 1566 e de 1655, todas com agravantes econômicos. A pandemia de 1918, gripe espanhola, somou-se à ascensão hegemônica americana pós-primeira guerra mundial, e à devastação europeia.
Recentemente, um conjunto de "gripes" chegaram: o Sars, em 2003, e a gripe aviária, em 2005, preparando o mundo que já sofria com a queda imunológica dos mercados. As crises dos anos 1990, culminando com o 11 de setembro (2001), apresentaram mudança crítica nos sistemas financeiros e na forma de interação dos blocos econômicos. O inimigo era o terrorismo, mas invisíveis eram as novas doenças e o avanço da tecnologia.
E o Brasil? Uma economia patinando com crescente aumento da dívida pública agravada pela pandemia, com problemas estruturais de baixa produtividade e falta de competitividade. Em 2020, a inflação dispara, o câmbio oscila muito, a atividade produtiva tenta se recuperar, mas com retração em torno de 4% e as mais baixas taxas de juros da história. O País segue sem mais controle ou teto dos gastos públicos.
O quadro é conhecido e o cenário demanda muitas lições e uma liderança forte que possa articular caminho para as reformas estruturais do País. O farol político-institucional ainda não pode oferecer direção. O risco de óbices que impedem o impulsionamento da economia é grande. As taxas de desemprego e uma linguagem que fale com a extrema pobreza na economia exigem preocupações e ações mais densas do Estado na gestão corporativa e no cuidado pelas famílias em suas contingências.
Logo, a busca de liquidez pela imprevisibilidade dos riscos sanitários é fundamental. A transição exige transformação forte dos negócios em canais de distribuição, integração e mercados. Não há milagre, existe resiliência e preparação para mudança de época que já trazia a pandemia tecnológica, priorizando questões socioambientais e de governança na atração de investimentos internacionais.
O Ceará precisa avançar nos hubs para as conexões. Plataformas da logística intermodal e Tecnologia da Informação oferecem meios para a transição. Água e energia podem ser a base, com avanço da integração do Rio São Francisco e energias renováveis, incluindo hidrogênio verde. O destaque ficará para agronegócio, construção civil e novo cluster da inovação em saúde.
Fica o registro das cadeias integradoras: o hypercluster das economias do mar e criativa, considerando fronteiras do conhecimento e das riquezas existentes. Em 2021, a ação desburocratizada e fora da caixa serão sinônimos contracíclicos para a geração de emprego e renda. E, assim, transformar o Ceará em mais equilibrado social e economicamente.
(*) Célio Fernando B. Melo, economista, mestre em Negócios Internacionais, Ph.D Candidate IR UL/ISCSP, Prêmio Nacional Profissional de Investimentos e Analista de Mercado (2002), conselheiro da Apimec Brasil, member of the Carbon Disclosure Project Latin America Technical Advisory Council, consultor editorial do Anuário do Ceará e sócio diretor da BFA Assessoria em Finanças e Negócios.
CULTURA
"Previsão" do passado
Por Humberto Cunha Filho*
Pensando em nossa felicidade, nossas mães preparam a festa de Natal tendo a certeza de que Papai Noel não existe; elas são, portanto, pessoas realistas que trabalham eficazmente e amorosamente em favor da nossa fantasia infantil.
E por falar no Natal, dada a proximidade, nos vem à mente o Ano Novo e com ele o desejo de querermos saber o que o futuro nos reserva. Para tanto, recorremos aos búzios, às cartas, à borra do café, à leitura das mãos, aos videntes... E isso vem de longe! Se observarmos duas das principais matrizes literárias que até hoje nos alimentam, encontraremos as figuras do Oráculo de Delfos, vinculado à cultura grega, e José do Egito, do imaginário judaico-cristão.
No final deste impronunciável 2020, o ano que por sinal sepultou a carreira de muitos videntes, propõem-me um exercício de futurologia, a fim de eu dizer o que 2021 reserva para o campo cultural; todavia, como não tenho faculdades adivinhatórias, recorrerei aos experts mencionados.
Antes, lembro que o Oráculo de Delfos partia da premissa de que cada pessoa deveria tentar conhecer a si própria, como atitude primeira para a solução dos problemas enfrentados. E esperto que era, não dava solução direta às questões dos seus consulentes; ofertava-lhes uma resposta genérica, o que lhe garantia grandes possibilidades de êxito na "adivinhação".
Por seu turno, José era um perspicaz observador da vida, que consultado pelo faraó sobre o significado de ter sonhado com 7 vacas gordas e 7 magras, certamente tendo em mente os ciclos climáticos do Egito, asseverou ser a representação de anos de chuvas regulares e outros de seca, recomendando que nos primeiros houvesse a preparação para enfrentar os tempos ruins.
Pois bem, nos últimos anos, as políticas para o setor cultural mesclam muitos desses elementos: foram pensadas nos e para os tempos favoráveis. Grandiloquentes, ao invés de tentarem descobrir as peculiaridades do campo, optaram pela imitação de setores julgados bem-sucedidos: pensando nos milhões do SUS, constitucionalizaram, sem qualquer teste, um Sistema Nacional de Cultura; aspirando a estrutura da educação, fizeram um Plano Nacional de Cultura a partir do simples somatório de demandas fragmentárias, que se mostrou tão inócuo, a ponto de ser prorrogado por quem se opõe ao planejamento cultural.
Se bem observarmos, concluiremos que os bons oráculos preveem o futuro pesquisando o passado e o presente. Portanto, se hoje tivéssemos a possibilidade de consultar a Delfos e a José sobre o porvir da cultura, eles certamente não olhariam para frente, mas investigariam como o setor agiu até agora. Porém, para manter a aura de metafísicos, "preveriam" dias melhores, desde que fossem seguidas as suas lições atemporais de conhecer-se a si mesmo e ficar atento aos ciclos da vida, porque somente às nossas mães, e não à política, é reconhecido o direito de alimentar, por amor, as nossas fantasias.
(*) Humberto Cunha Filho, professor de Direitos Culturais da Universidade de Fortaleza.
SAÚDE
O ano que não terminou para a saúde
Por Lígia Kerr*
A pandemia da Covid-19 pegou um Brasil com aumento da pobreza e das desigualdades sociais, e uma redução de respostas por parte deste governo. Desta forma, a pandemia se tornou mais dramática aqui do que em muitos outros países. Terceiro país com maior número de casos no mundo, o Brasil registra mais de 7 milhões de casos, e quase 185.000 brasileiros perderam suas vidas pelo Sars-Cov-2. A epidemia, chamada de "gripezinha" pela autoridade maior do País, se expandiu entre aqueles mais excluídos da sociedade, como os mais pobres, os negros e os indígenas.
O Sistema Único de Saúde (SUS), globalmente reconhecido e do qual 80% da população depende, viveu momentos difíceis ao enfrentar a pior pandemia dos últimos 100 anos. A redução de contratação de pessoal, a demissão de equipes do Programa Mais Médicos, a queda drástica do financiamento e a falta de leitos especializados contribuíram com a morte precoce ou evitável de inúmeros brasileiros. A demora e dificuldade na aquisição dos Equipamentos de Proteção Individual para os trabalhadores da saúde, produziu entre os mesmos uma das maiores taxas de Covid-19 do mundo.
A compra e distribuição de testes foi desordenada, resultando na demora do diagnóstico e possível isolamento do doente, e a ausência quase completa de rastreamento de contatos. A falta de coordenação e incentivo às medidas não farmacêuticas, como uso de máscaras, distanciamento social e medidas de higiene por parte das autoridades federais, levou o Brasil a atingir níveis calamitosos da Covid-19.
Mas se não fosse o SUS, a situação da população brasileira teria sido muito mais dramática. Em breve, ele deve desempenhar um papel fundamental através do Programa Nacional de Imunização (PNI), um dos maiores sistemas de vacinação do mundo. O PNI deverá iniciar a vacinação das populações mais vulneráveis à Covid-19 do País, entre eles os trabalhadores da saúde, os mais idosos (60 anos ou mais), as pessoas com comorbidades (ex: diabetes, doenças cardiocirculatórias, doenças pulmonares), trabalhadores da educação, população encarcerada, entre outras.
Esse será um importante passo na prevenção da Covid-19 se o governo assumir seu papel e parar de atrapalhar e mandar respostas dúbias. É necessário que muitos sejam vacinados para que quem tomou e os que estão ao redor sejam protegidos. E interromper a cadeia de fake news que espalha mentiras contra as vacinas.
Não podemos deixar de discutir as verdadeiras causas desta epidemia, o desmatamento descontrolado do nosso planeta, que seguirá trazendo outros vírus que circularão entre nós. Para esta pandemia, precisamos continuar com as medidas de proteção existentes, uso de máscara e distanciamento físico, especialmente neste período de festas. Perto de estarmos mais protegidos com a vacina, embora ela esteja longe de ser tudo, muitos vão morrer "na praia", como diz o ditado popular. O ano de 2020 não acabou, seu 13º mês se inicia na próxima semana...
(*) Lígia Kerr, médica, pós-doutora em epidemiologia e professora da UFC
EDUCAÇÃO
Educação 2020: remota no distanciamento e na inclusão
Por Andressa Pellanda*
Em 2020, nossas forças foram voltadas, neste ano, em grande parte aos desafios trazidos pela emergência de Covid-19. A exclusão escolar foi um dos principais problemas, por falta de infraestrutura de atendimento, decorrente ao baixo investimento em educação, questão não exclusiva da pandemia, mas estrutural na educação. A crise de Covid-19 só fez trazer à superfície e aprofundar as desigualdades de oferta e atendimento: vivemos uma crise dentro de uma crise.
Essa crise decorre, especialmente, da EC 95, do Teto de Gastos, que asfixiou o Plano Nacional de Educação, a espinha dorsal da educação brasileira. O balanço que fizemos do cumprimento do PNE mostrou que, se seguirmos nesse descaso, chegaremos em 2024 com 85% de seus dispositivos não cumpridos. É grave e impactará gerações.
"Houve uma série de equívocos. Destaco os dois estruturais: a construção de políticas sem gestão democrática; e a implementação em massa de educação remota com uso de plataformas privadas, sem a garantia de acesso e qualidade para todos"
Diante do cenário, estados e municípios tiveram que agir rápido, de forma inédita, para construir políticas emergenciais. Houve uma série de equívocos. Destaco os dois estruturais: a construção de políticas sem gestão democrática; e a implementação em massa de educação remota com uso de plataformas privadas, sem a garantia de acesso e qualidade para todos, de forma excludente, e sem proteção de dados de estudantes e profissionais da educação.
Duas medidas eram imprescindíveis e não foram implementadas: somente com gestão democrática e com financiamento adequado podemos construir políticas inclusivas e efetivas. Espero que sejam aprendizados que levaremos.
Outro ponto de destaque foi a aprovação do novo e permanente Fundeb, tornando-o mais robusto e capaz de fato de transformar a realidade da educação brasileira. Ele aportará mais recursos, mais equidade, mais qualidade. Tivemos com orgulho participação decisiva nisso.
Apesar do avanço do Fundeb, para 2021 o prognóstico segue ruim. Os recursos novos que chegam do Fundo não serão suficientes para fazer frente ao desafio da volta presencial com segurança. Por isso, é importante garantir recursos para além do Fundo com cooperação federativa.
Vamos precisar voltar às aulas presenciais com segurança. Isso necessitará invariavelmente não só de recursos como de diálogo com a comunidade escolar com protocolos locais construídos de forma democrática. Se não o fizermos, seguiremos excluindo milhões de estudantes.
Esse ano com certeza será lembrado como o ano que não pudemos garantir que todos nossos estudantes pudessem ser incluídos nas políticas emergenciais, que escancarou as desigualdades educacionais e sociais no país e que, mesmo diante da pandemia, nossos tomadores de decisão a nível do Congresso, do Executivo e do STF não tiveram coragem de enfrentar as elites econômicas e de derrubar a política de austeridade, gerando ainda mais mortes. E a população ficou, mais uma vez, à mercê dessa imensa irresponsabilidade e injustiça social. 2021 precisa ser diferente. Pelas nossas crianças, pela nossa educação, pela nossa população.
(*) Andressa Pellanda, coordenadora-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação
ESPORTES
O que espero de 2021
Por Vittória Lopes*
Momentos bons e maravilhosos. É isso que espero para 2021, afinal, a gente merece. Depois de um ano que considero ter sido uma prova de resistência, bem difícil para todo mundo, foi também um 2020 de muito aprendizado e adaptação.
Eu, por exemplo, aprendi a exercer mais minha paciência e o cuidado com o outro. Esse seria um ano de muitas expectativas, viagens e campeonatos - "um ano furacão" - mas veio o novo coronavírus e tivemos que parar de uma maneira que ninguém esperava. De tudo eu sempre tento tirar algo bom. Esse ano pude lançar a minha primeira camiseta em parceria com o Comitê Olímpico Brasileiro (representando o triatlo), pude praticar mais a minha resiliência, consegui ter mais tempo para ouvir meu corpo e mente, além de consertar coisas que no dia a dia eu não parava para ouvir.
Em se tratando de treinos, eu tive muita sorte, pois como não era possível aglomeração, eu treinei muito sozinha. Estava em uma cidade de menos de 100 mil habitantes, no meio das montanhas, quando os jogos foram adiados. Foi o momento em que fiquei treinando com mais tranquilidade, menos ativa e pensando sobre o que estava acontecendo, ficar mais em casa. Foi meu lugar do coração na pandemia, se posso falar assim.
Agora, 2021, se Deus quiser, já começamos com a vacina, depois temos as Olimpíadas e na sequência é só comemorar. A minha preparação já começou. Estamos falando dos Jogos Olímpicos e o trabalho precisa ser focado 110% na competição. Não sei se vai ter plateia ou não, mas preciso estar pronta para os jogos. Devo competir um pouco menos, até mesmo para evitar viagens. Será minha primeira Olimpíada e isso sempre foi meu sonho. Comecei a natação aos seis meses de vida, na Academia Hedla Lopes. Desde então eu nunca mais parei de respirar esporte.
Não imaginava ser a primeira mulher cearense e do Norte Nordeste a ir aos Jogos Olímpicos pelo triatlo. Esse também é o sonho da minha família, um sonho conjunto, tanto na alegria, como na derrota. Somos um time, como foi na conquista da minha medalha nos Jogos Pan Americanos. Quando eu ganho uma medalha ela não é minha e sim também da minha família e daqueles que me cercam. Um exemplo: quando eu preciso que eles me levem a um treino às 5 da manhã ou me acompanhem em um do domingo de manhã para me dar apoio físico ou mental no meu treino, essa sensação de proximidade sempre está comigo. Assim, quando eu viajo para treinar e fico distante, eu consigo sentir a força deles. Minha família é uma base muito sólida .
Algo que venho aprendendo e a minha mãe me ensina sempre, por ter sido atleta e ter muita experiência, é ser grata. E eu sou grata pelo ano que está acabando, sou grata pela vida e pelo ano que vai começar. Como ela sempre me diz, sempre podemos tirar alguma coisa positiva, então agora sou eu que digo: obrigada a vocês por tudo, pelo apoio de sempre e incentivo. Tenho muito orgulho de ser nordestina e cearense!
(*) Vittória Lopes, atleta cearense de triatlo
Analistas de várias áreas sondam o futuro e projetam o ano de 2021