As etiquetas fixadas nas gôndolas dos supermercados da Capital atestam uma dura realidade observada pelo Procon Fortaleza a cada pesquisa de preços: os itens estão cada dia mais caros, alguns chegando a acumular alta de 93% entre janeiro e maio de 2025.
O percentual calculado para o quilo da manga tommy é o extremo visto no último levantamento e apontado pelo Preço Comparado, projeto do O POVO com o órgão municipal.
Elevação que compôs o preço médio dos cem itens investigados mensalmente, dos quais 60 tiveram alta de 3,92% entre janeiro e maio de 2025. O patamar contrasta com os 2,08% da inflação pesquisados no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Veja os itens que ficaram mais caros
Chega a ser maior do que o IPCA calculado para o grupo de alimentos e bebidas, estabelecido em 3,65% entre janeiro e abril - último disponível já divulgado.
A pesquisa pública feita pelo Procon reúne informações de mais de 30 supermercados, em que 100 produtos são investigados. Destes, O POVO destacou 20 cujos preços cresceram ou reduziram com base na inflação, no recorte de 13 supermercados que será mantido no ano de 2025. O levantamento de maio foi realizado dos dias 2 a 14 de maio pelo órgão de defesa do consumidor.
Odálio Girão, analista de mercado da Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa), explica que a entressafra das mangas coité, itamaracá e jasmim, produzida no Estado em Cascavel, Pindoretama, Eusébio e Aquiraz, é o motivo de a fruta do tipo tommy - e outras cultivadas se utilizando da irrigação - terem a elevação nos valores.
Ele conta que a manga tommy vem do Vale do São Francisco, região produtora entre Pernambuco e Bahia, com custo logístico elevado e ainda conta com a baixa oferta, o que faz com que o preço se torne ainda mais alto no mercado cearense.
Segundo na elevação de preços no ano, a batata inglesa também encontra na sazonalidade a explicação do aumento de 57% no quilo vendido nos supermercados da Capital, segundo Odálio. Uma menor colheita em regiões de Minas Gerais, onde a produção é maior, causaram menor oferta e, por consequência, um preço mais caro.
Fecha o pódio dos três de maior salto nos preços o mamão formosa, que o quilo teve alta de 33% entre janeiro e maio de 2025, segundo o Procon Fortaleza. Sobre esta fruta, Odálio comenta que ela “teve esse incremento devido à menor oferta no mercado”, apesar de existir uma produção local que não deu conta da demanda.
Dos dez itens de maior elevação, sete são frutas, hortaliças e legumes. Os motivos, segundo explica Odálio Girão, variam entre pouca oferta para muita demanda causada por sazonalidade ou quebra de safra das culturas.
Neste grupo de maior alta nos preços nos supermercados de Fortaleza desde janeiro continuam o café em pó (28% mais caro no caso do pacote de 250g da marca Santa Clara) e a bandeja de ovos brancos médios de menor valor (25%).
Classificado como commodity - produtos brutos ou pouco processados e vendidos no mercado internacional -, o café sofre influência do dólar além das quebras de safra dos grandes produtores mundiais.
“O café não vai cair de preço tão cedo. Não tem perspectiva de baixar. Aqui, tivemos quebra de safra em São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais, onde foi muito forte. Mesmo com expectativa de uma boa safra, como alguns produtores falaram, ainda vamos esperar bastante para voltar aos patamares normais”, considerou o analista de mercado da Ceasa.
Já sobre o ovo, Odálio comenta que é uma questão de oferta e demanda influenciada pelo mercado internacional. Com a baixa da produção nos Estados Unidos, que passou a importar mais unidades do Brasil e outros países, os produtores resolveram exportar e reduziram a oferta para o mercado nacional.
"O ovo está sendo um produto bastante requisitado pelo consumidor. Temos muitas granjas aqui na região metropolitana, mas dependemos também de produção externa. Aí o ovo vai continuar com preço ainda elevado", projetou.
Nos cinco primeiros meses de 2025, 34, dos cem itens pesquisados pelo Procon Fortaleza, fizeram um contrapeso aos 60 que aumentaram os preços e foram vistos com valores até 40% menores nos supermercados da Capital, de acordo com os dados da pesquisa.
Veja os itens que ficaram abaixo da inflação, variando negativamente
Esta maior redução foi observada no talco para bebê de 100g, mas, dos dez itens de maior queda nos preços no ano, sete são frutas ou verduras. A presença mantém o peso dos alimentos no movimento da inflação.
Na sequência estão cenoura (-32%), abacate (-30%), tangerina morgote (-29%) e pimentão verde (-23%), como aponta o recorte do Preço Comparado de maio.
A cenoura, diz o analista de mercado da Ceasa, Odálio Girão, teve abundância de oferta no mercado cearense, após uma boa colheita e conta com produção vinda de Bahia e Minas Gerais, além de cargas locais de Aratuba e Mulungu.
Movimento semelhante, acrescentou ele, é observado no abacate. A fruta teve três variedades chegando ao mercado neste período, vindos de São Paulo e também da Serra da Ibiapaba, o que explicou a baixa expressiva.
A “boa safra” na Ibiapaba, segundo ele, contribuiu também para melhorar o preço do pimentão verde. Já a tangerina contou com remessas de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo para ter o preço atenuado.
>> Análise
por Ricardo Coimba, economista
A inflação é bem persistente ao longo de vários ciclos e os instrumentos para contê-la estão sendo utilizados, principalmente a elevação da taxa Selic. Mas a inflação de alimentos muitas vezes fica difícil de diminuir a expectativa em função de algumas variáveis que também são variáveis relacionadas com o meio ambiente.
Aconteceu isso com os problemas na produção de café, arroz, azeite e, recentemente, o problema na produção de cacau também. Então, a gente está tendo alguns problemas ambientais que geram essa elevação dos custos de produção e causam elevação também dos preços.
Fortaleza ainda tem um pouco mais de dificuldade que outros centros porque os produtos consumidos no mercado de Fortaleza são vindos de outras regiões do país e, muitas vezes, têm um custo logístico que adiciona esse custo de inflação do próprio produto.
Este, muitas vezes, é um dos fatores que faz com que o preço seja, em média, um pouco mais caro por conta de ser o ponto final de custo logístico de alguns produtos.
Essa pressão pelos preços dos alimentos deve persistir, apesar de ter uma melhoria em algumas safras. Provavelmente a gente vai ter safra recorde de alguns produtos, e isso pode ajudar a frear um pouco esse ritmo de inflação. Mas a expectativa é de que o índice de inflação de alimentos esteja acima da média geral.
O controle da inflação é um conjunto de medidas monetárias e fiscais. Uma parte delas está começando a gerar efeito porque a expectativa de inflação para o próximo ano já começa a baixar. A tendência é que a Selic, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária, permaneça neste patamar de 14,75% e, com a trajetória de curva descendente da inflação para o ano que vem, é provável que a taxa Selic para o final de 2026 esteja em um patamar de 12,5%.
Disponível desde o último mês, o agregador de preços elaborado pelo O POVO a partir da pesquisa do Procon Fortaleza indica que a economia na compra da cesta mais completa de produtos pode chegar a 32% em maio a depender do supermercado escolhido pelo consumidor.
Veja a evolução dos preços nos supermercados
A diferença foi observada entre o Super São Francisco - no qual a cesta completa somou R$ 470,96 - e o Super do Povo - onde a cesta completa custa R$ 619,32.
O consumidor precisa ficar atento ao uso do agregador neste comparativo porque há supermercados que não vendem todos os itens pesquisados pelo Procon Fortaleza.
Conheça os supermercados mais caros e mais baratos de Fortaleza
Dos mais de 30 estabelecimentos pesquisados, apenas 17 deles possuem todos os produtos listados pelo órgão municipal. Em 14 faltou um produto e em outros cinco faltaram 2 produtos. Essa diferenciação é apontada em asteriscos no agregador do O POVO.
O projeto Preço Comparado - Supermercados é uma parceria entre O POVO e o Procon Fortaleza. Mensalmente, são analisados 100 itens de 36 supermercados da Capital e gerado um conteúdo exclusivo para os leitores do OP+