Destinos pouco conhecidos, mas de beleza igual ao dos mais badalados têm sido opção e tendência entre os habitantes de um mesmo estado para driblar os preços e também as condições mais rigorosas que as viagens de avião exigem.
No Ceará, entre os extremos Jericoacoara e Canoa Quebrada, inúmeras praias atraem visitantes com barracas, pousadas e um clima amigável a custo dentro do comum, e que tem garantido as viagens de férias de muitos cearenses.
A ocupação desses destinos foge do radar das associações mais organizadas, até pelo grau de informalidade com que é feito, a partir da locação de casas de veraneio ou pousadas, cujo CNPJ sequer existe. Fatores que passam despercebidos até que o destino vire alvo de especulação por hotéis, grandes restaurantes ou abrigue algum famoso por poucos dias.
Esses locais são os preferidos do professor Franklin da Rocha. Uruaú, a 110 quilômetros de Fortaleza, foi o último no qual passou dias das férias de julho com a esposa, Juliana Araújo, a filha Lívia, mães, primos e sobrinhos, e já era frequentado por ele nos domingos.
"Tem poucas pousadas lá, mas são boas. A gente foi para uma casa de praia, mas tem passeio de buggy, lagoa, piscinas naturais, barracas. Mas durante à noite é um breu, deserto. Até para achar algo aberto à noite é difícil"
Sobre os protocolos, a convivência em família dentro da casa não mudou os hábitos deles, e os passeios contavam com buggys exclusivos, além de ter a praia na calçada.
Os quatro dias que professor Franklin da Rocha passou custaram R$ 1 mil, que foram divididos entre os 20 familiares e garantiram o passeio deles após cinco meses sem praia.
O porte surpreende: a casa localizada de frente para a praia tem espaço para 30 pessoas, com piscina, churrasqueira e três quartos com banheiro.
O gasto com comida não foi dos maiores, segundo ele, pois o grupo optou por fazer a feira ainda em Maracanaú, onde moram. Mas, em Uruaú, Franklin disse não ter encontrado preços fora da sua realidade.
Já a estrutura local não surpreende e se compara com os bairros da periferia de Fortaleza e Região Metropolitana, mas sem os supermercados maiores.
Assim como os preços de passeios e barracas. “Cara assado, na barraca era uns R$ 50. Dei uma olhada nos cardápios de outros pratos e não fugia dessa média. O passeio de buggy também, fizemos por R$ 100”, recorda.
Sobre as rodovias percorridas até chegar às praias, Franklin diz não ter o que reclamar. Geralmente em estradas estaduais, ele contou não sofrer com buracos ou acessos de difícil tráfego – “e eu sempre vou com meu ‘golzinho’ 1.0”.
As rodovias, principalmente entre os litorais Leste e Oeste, tem sido alvo de programas do Governo do Estado nos últimos anos.
Dados recentes da Secretaria de Obras Públicas mencionados pelo governador Camilo Santana apontam que “mais de 350 km de CEs já estão com obras de restauração em andamento no Ceará. No total, serão 2 mil km recuperados em nossas estradas”.
Mas o professor já tem o os macetes da estrada, pois é a opção principal dele nas férias. “Se não tivesse a pandemia, a gente ia para mais longe. Eu já percorri o Nordeste inteiro de carro. Todos os estados, até Salvador. Então, poderia sim ir para outros estados, mas fiquei na dúvida em qual cidades estavam de lockdown ou não”, conta sobre a escolha de Uruaú.
No futuro, os planos estão entre a visita de uma amiga da esposa em Araraquara, em São Paulo, para onde ele fugiria à regra da viagem de carro e pegaria um voo. Mas é apenas uma opção, afinal, Franklin revelou que já paga um consórcio e deve investir em um veículo maior para as próximas férias.
Disposição em retomar a movimentação de passageiros é de sobra entre os componentes do setor aéreo. Mas somente isso, por enquanto. Mesmo com um aumento da movimentação em julho identificada ante os demais meses deste ano e do ano passado, as expectativas de companhias aéreas e aeroportos ainda não decolaram.
Todos apontam a vacinação em massa como um dos fatores preponderantes para qualquer projeção. Sem isso, ressalvam que “tudo vai depender de como a pandemia evoluirá no Brasil e ao redor do mundo”, como pontuou a Fraport – administradora do Aeroporto Internacional de Fortaleza (CE).
"O aeroporto de Fortaleza segue, desde o início da pandemia, todas as recomendações das autoridades de saúde, como disponibilização de álcool em gel nas áreas de maior circulação, sinalização sobre o uso de máscaras e distanciamento, entre outras"
No entanto, mesmo diante da sinalização de retomada, a movimentação de passageiros do terminal atingiu apenas 70% do que era em 2019, quando não havia pandemia. O efeito sobre as contratações também não foi visto.
Perguntada se precisou aumentar o quadro de funcionários, a empresa informou que ajusta, a partir da demanda, “a quantidade de postos terceirizados para os serviços de limpeza, segurança, entre outros”. “Antes da pandemia tínhamos em Fortaleza 591 postos terceirizados e hoje são 298”, revela.
Sem apresentar os números, a Aena Brasil – responsável pela administração de seis aeroportos no Nordeste: Recife (PE), Juazeiro do Norte (CE), Maceió (AL), João Pessoa (PA), Aracaju (SE) e Campina Grande (PA) – admitiu um aumento de 15% em junho sobre maio e projetou alta de 61% para julho ante o mês imediatamente anterior na movimentação de todos os terminais.
No entanto, disse: “deve ser pontuado que os números continuam abaixo do registrado em 2019”. No site da empresa apenas há movimentação entre 2019 e 2020.
Já a Vinci, administradora do Aeroporto de Salvador (BA), admite o cenário de otimismo e reconhece uma “tendência de aumento nas operações regionais, já que os passageiros têm optado por voos diretos e viagens de curta duração”.
“Ao longo dessa pandemia, temos percebido o quanto o mercado turístico é resiliente, pois mesmo diante das circunstâncias atuais se comportou de forma bastante dinâmica nos últimos meses. Como dificuldade, vemos o atraso na retomada do turismo de eventos, por conta da limitação na realização de feiras de negócios, grandes shows, congressos, festivais, etc”, diz a Vinci, observando que, “devido ao contexto de pandemia, preferimos não fazer previsões”.
Apesar de julho nem ter representado um avanço e nem despertado projeções otimistas, Diogo Elias, diretor de Marketing e Vendas da Latam, continua apostando na retomada do turismo de lazer como principal impulsionador da aviação.
“Retomam lazer antes do corporativo porque não é substituível”, diz ao citar as reuniões remotas como saída para as convenções e viagens de negócios que quase desapareceram ao longo da pandemia.
Confiante, a companhia retomou 4 destinos no Nordeste, entre eles Jericoacoara, e aponta uma operação 34% maior do que junho – “passando de 310 para 418 voos diários no País” –, mas que ainda é 75% da oferta de assentos em relação a igual mês de 2019.
Já a quantidade de destinos (44) já igualou ao período pré-pandemia e a expectativa é chegar a 49 até o fim do ano, quando 95% da oferta de assentos deve ser reativada.
"A gente precisa ver se consegue seguir com a vacinação. Isso não só imuniza, mas também gera confiança das pessoas em retomarem as viagens."
Para atender à demanda crescente, a Latam iniciou a recontratação de tripulantes dispensados no passado, no auge da pandemia.
Até o fim do ano, a expectativa é trazer de volta 750 pilotos e comissários. Além disso, 80 profissionais de manutenção foram contratados e mais 100 devem entrar em contratos temporários.
“O principal ponto, a chave de tudo é o avanço da vacinação. A gente precisa ver se consegue seguir com a vacinação. Isso não só imuniza, mas também gera confiança das pessoas em retomarem as viagens. Retomam lazer antes do corporativo porque não é substituível”, reforçou Diogo.
Já a Azul projeta alcançar a capacidade de operação pré-pandemia antes do fim do ano. Já em agosto, a companhia deve inaugurar dez novos destinos domésticos, além de novas operações previstas para o Rio Grande do Sul e Amazonas.
“Apesar de um horizonte ainda incerto, as pessoas estão esperançosas e com muita vontade de viajar, reencontrar entes queridos, sair do ambiente doméstico. E a companhia está preparada para assimilar esta demanda reprimida”, ressalta.
Em 2020, a Azul fez desligamentos voluntários e assumiu o compromisso de recontratar pessoal com a retomada dos voos. Hoje, segundo informou, 20% do pessoal desligado já está de volta à ativa e soma 11 mil tripulantes em cerca de 160 aeronaves, que operam 650 voos diários para 110 destinos brasileiros. Antes da pandemia, eram 900 operações por dia em 116 destinos.
“Podemos tirar alguns pontos positivos da crise. Na Azul, ela acelerou processos e, desde o início da pandemia, a companhia vem investindo em tecnologia para melhorar a jornada do Cliente, além de oferecer mais facilidade e comodidade. Falando de Nordeste, um sinal positivo é o incremento da operação durante a temporada de inverno, que reflete uma expectativa otimista de retomada e demonstra o apetite dos Clientes para voltar a viajar, sobretudo pelas altas temperaturas da região nessa época do ano. Com o fenômeno do travel office, em que muitas pessoas podem realizar o trabalhar de qualquer lugar, vemos notando um aumento de fluxo para destinos do Nordeste, em que o Cliente opta por passar alguns dias com a família curtindo paisagens exuberantes enquanto mantém as entregas de seu trabalho”, analisa a companhia. (Colaborou Samuel Pimentel)
>> Ponto de Vista
Análise de Alessandro Oliveira (*)
Eu acredito plenamente na retomada do turismo nacional, ainda mais por conta da pandemia. Claro que quando abrir é outro cenário, mas sempre com restrições, vacinação... No primeiro momento vai se destacar o turismo nacional. O turismo doméstico vai materializar boa parte dos voos e acredito no cenário otimista de retomada no verão aí, no Nordeste. Eu sou otimista nesse sentido.
Sobre a infraestrutura, acredito que dado que a gente passou por uma pandemia o tráfego o caiu bastante. Em termos de gargalos aeroportuários ainda não vai ser a infraestrutura que causa preocupação. O maior problema não é de gargalo aeroportuário. Acho que os problemas que a gente já tinha pré-pandemia vão se reproduzir.
A demanda por mais que cresça rapidamente - digamos assim num cenário bem otimista e é claro que existe uma demanda represada, uma demanda latente aí que pode se materializar rapidamente -, nos próximos dois anos ou três anos não vai, não vai pressionar a infraestrutura porque a gente está vindo de uma crise de recessão dos meados dos anos 2010.
Então, em termos de demanda, a gente ainda tá longe do que seria o pleno uso da capacidade né. Pode acontecer gargalos esporádicos mas isso não vai gerar um problema sistêmico.
É pouco provável que o autotransporte, que é o carro, seja um substituto para os voos. Apenas para curtas distância e olha lá. Rotas bem curtas devem acontecer por viagens de automóvel.
Mas nossas rodovias não estão ruins como em há décadas no passado, mas também não são as maravilhas do mundo e a gente tem o transporte de carga muito forte nas rodovias e elas são bem congestionadas, tem muito caminhão. Difícil dizer que carro é um substituto de avião, acho pouco provável.
(*)Alessandro Oliveira, pesquisador do Núcleo de Economia do Transporte Aéreo do ITA
O destravar das pistas de voos
O trajeto da retomada das atividades turísticas para o segundo semestre deste ano e começo de 2022 tem como guias o otimismo e o planejamento. Agências de viagens que atuam no Ceará estimam o aquecimento gradual das viagens à turismo, impulsionado principalmente pela demanda represada durante o período de restrições mais intensas.
Para além do turismo de exportação, tradicionalmente recorrente nos brasileiros, que buscam conhecer outros países, o momento de pandemia e retorno gradual das viagens com restrições adicionais ao Brasil devido ao baixo ritmo de vacina, assim como as elevadas taxas de câmbio, fizeram com que muitos turistas buscassem destinos nacionais.
Fatos que geram alívio para os profissionais do setor, conforme relata o cearense Alexandre Viana, consultor corporativo da Agência de Turismo Farias Brito.
"A gente tinha uma expectativa de que as coisas iriam melhorar no fim de 2020, mas acabou tendo uma reversão do cenário, e as quedas no faturamento e demissões no setor continuaram. Mas hoje, a gente consegue enxergar uma luz no fim do túnel"
Demitido em abril do ano passado, no fechamento da agência de turismo onde trabalhava, Alexandre conseguiu se realocar no mercado em agosto, no primeiro sinal de uma possível retomada do setor. “Depois da frustração dessa expectativa, o mercado está muito mais cauteloso, estamos confiantes no aquecimento das viagens domésticas, especialmente no último trimestres, mas nosso foco mesmo é em 2022”, declara.
Entre as estratégias que começam a circular no mercado para esse processo de consolidação do turismo pós-pandemia, destacam-se, facilidade no parcelamento, redução da burocracia para contratação do serviço e pacotes de viagens com mais otimizados de acordo com as preferências de cada cliente.
“Uma das coisas que a gente enxerga que vai ser necessário é focar no planejamento de cada viagem, na construção de roteiros que façam sentido nesse novo movimento que é a volta do turismo”, avalia Alexandre. Outra reformulação da atuação das agências em decorrência da pandemia foi o aumento da importância das redes sociais e no investimento em tecnologia.
A preparação adequada para o retorno do turismo será um dos diferenciais para o sucesso das agências. “A necessidade de vender é grande, mas precisa ser analisada com cautela, precisamos escolher cuidadosamente nossos fornecedores e parceiros nesse processo de retorno”, complementa.
O aumento das reclamações diante de pedidos de remarcação de voos, indenização por viagens suspensas, renovação de visto e cancelamento de reservas em decorrência das restrições impostas pela pandemia geram um fortalecimento da importância do profissional do turismo. Tendência, que na visão de Alexandre, deverá se manter durante e após o processo de reabertura das cidades para turistas.
“Muitas das pessoas que faziam viagens por conta própria estão buscando nossos serviços agora e todas dizem que se sentem mais seguras em viajar neste momento se tiverem um suporte especializado", detalha.
O perfil do turista nesse processo de retomada é bem diverso, segundo Alexandre, mas com relação à procura por viagens internacionais, a maior parte corresponde a pessoas de classe média que já tinham planos de viajar, antes da pandemia, e que agora apresentam interesse represado em visitar os Estados Unidos e a Europa, especialmente a França e a Espanha.
Há ainda, diversos cearenses, com menor poder aquisitivo, que manifestam interesse em realizar sua primeira viagem para as regiões Sul e Sudeste do País. Neste último perfil, os principais destinos são Gramado e as serras Paulista e Gaúcha. Na visão do especialista, tal movimento deve se manter em crescimento até o segundo semestre de 2022, quando, estima-se que o turismo conseguirá igualar o fluxo de viagens registrado no período pré-pandemia.
“Estamos todos muito confiantes, a expectativa não poderia ser melhor, sei que ainda levará um tempo para de fato termos um saldo positivo, mas as vendas crescem a cada mês, principalmente com foco em viagens para o ano que vem. Nós temos autorização para contratar novos profissionais assim que a demanda aumentar”, acrescenta Alexandre em sinal de esperança. (Alan Magno)
Do check-in até a retirada das bagagens pós aterrissagem, a redução do fluxo de voos durante a pandemia não afetou apenas as companhias aéreas, mas toda cadeia de serviços e comércio relacionadas ao turismo e aos aeroportos.
Seja no ar, durante cada viagem, ou na terra, no atendimento de cada passageiro, o aumento gradual da malha aérea no Aeroporto Internacional de Fortaleza traz o sentimento de renovação que é construído a cada nova decolagem.
“Entrar em voo e ver todos os assentos ocupados é uma coisa tão maravilhosa. É muito doloroso ver um avião com a capacidade para 186 passageiros, levando apenas 40”, confessa a comissária de bordo, Luana Damasceno, ao fazer um balanço das emoções diante do retorno gradual das viagens. Ela acrescenta que o aumento dos voos já implica em um aumento na carga de trabalho e que a expectativa entre as tripulações das companhias aéreas é um retorno acelerado a partir deste semestre.
“Todos nós tripulantes estamos sentindo um pouco a volta do fluxo de voo e aumento da carga de trabalho, extremamente compreensível, pois passamos muito tempo com uma baixíssima carga”, pontua ao mencionar que sente que os primeiros meses com aumento no número de viagens representaram um período de adaptação, tanto das empresas quantos dos funcionários.
O horário de maior movimento de pessoas no aeroporto de Fortaleza neste processo de retorno tem sido no período noturno, conforme detalha a atendente Letícia Anello. Trabalhando em uma das lojas da praça de alimentação do Aeroporto na capital cearense, ela comenta que até três meses atrás chegou a enfrentar dias sem nenhuma venda, porém, o aumento no número de voos já impacta positivamente nos rendimentos da loja.
“Na última semana, meu fluxo de venda chegou a dobrar durante os dias de semana e a triplicar nos fim de semana. Converso muito com funcionários de outras lojas e posso dizer que as vendas estão em um ritmo bom de crescimento”, detalha. Ela acrescenta ainda que o movimento de contratação de funcionários está se fortalecendo diante do aumento do fluxo de pessoas no local e que uma loja vizinha a qual trabalha já contratou novos funcionários.
A atendente comenta que a expectativa positiva é um consenso entre os funcionários dos estabelecimentos de comércio e serviços dentro do aeroporto. Diferentemente do vivenciado no fim de 2020, Letícia não acha possível uma nova redução no fluxo de voos e para o restante do segundo semestre prevê, no máximo, a manutenção da frota atual, seguido de um novo aumento ao fim do ano.
"Obviamente não estamos com o fluxo que nós tínhamos costume, mas conseguimos ver um grande aumento de passageiros voando a turismo, em família, não apenas viagens essenciais e a negócios "
A comissária de bordo diz estar sentindo esperança diante do atual momento do turismo e que espera uma normalização do fluxo de voos em 2022.
O perfil dos passageiros que estão desembarcando no Ceará, conforme Luana e Letícia é bem variado, mas sempre associado a viagens de lazer. A maior parte consiste em casais brasileiros, de outros estados do Nordeste, vindo passar um fim de semana no Estado e de famílias de outras regiões do País ou ainda de estrangeiros para estadas entre uma e duas semanas.
Tal movimento representa uma garantia para os trabalhadores do segmento de modo geral com relação à manutenção dos postos de trabalho. Letícia pontua que a movimentação na loja em que trabalha tem crescido e que em breve, o funcionamento no horário da madrugada irá retornar, abrindo assim, ao menos duas vagas para novos funcionários.
“Antes ficamos duas pessoas aqui por turno, com a pandemia, reduzimos um turno e ficou apenas uma pessoas, mas agora, com esse aumento do movimento, está ficando difícil conseguir atender a toda demanda sozinha. Acho que em breve a loja irá fazer novas contratações”, detalha.
O cenário de maior trabalho, representa cansaço físico, mas um alento para saúde mental dos funcionários do setor que estavam com acordos de redução salarial em vigência. Com acordo de redução salarial vigente até dezembro deste ano, Luana afirma estar aliviada com o aumento do número de voos, já que sem ele, a estimativa era da demissão de 2 mil tripulantes, somente na Gol.
“Essa situação não tem como não bagunçar nosso psicológico, ficar desempregada em meio a uma pandemia, sem previsão de novas contratações... Com o aumento dos voos em janeiro, até acreditei que tudo iria melhorar, mas veio a segunda onda e com ela toda instabilidade outra vez. Agora, finalmente, todo setor está bem confiante”, detalha. (Alan Magno)
Viajar ao lado da pessoa que você ama é parada quase obrigatória do roteiro romântico de filmes e séries. E do lado de cá das telinhas, no cotidiano de Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza, há 28 anos que a vontade dos cearenses Liduina Duarte e José Ferreira é nunca parar de viajar.
Juntos há três décadas, os aposentados compartilham não somente a vida, como também a paixão por conhecer novos lugares e novas culturas. “A gente sempre gostou de se aventurar, qualquer folguinha e oportunidade que tínhamos, colocávamos o pé no meio do mundo”, detalha José em meio tom de alegria ao relembrar passeios já feito ao lado da esposa.
Liduina comenta que sempre teve paixão por descobrir novas coisas, e que logo no começo do relacionamento, transmitiu a vontade de viajar para o companheiro e a prática rapidamente se tornou algo do casal, e posteriormente da família. “Nós estamos muito felizes e assim, aliviados por poder estar voltando a viajar, porque agora estamos vacinados, né, sem isso não dava nem para colocar o pé na rua”, pontua.
O casal irá realizar um tour religioso de quatro dias, a começar pelo Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida, no interior de São Paulo. “É uma promessa, uma forma de agradecer pela nossa saúde. Eu tive um problema de saúde há pouco tempo e fui muito agraciada com minha recuperação, então, a gente vai lá para agradecer”, acrescenta Liduina.
A rota terá duração de quatro dias e se encerrará com um dia em Campos do Jordão, como roteiro de lazer. “Nós somos pessoas muito sofridas, de origem muito humilde e com muito esforço e dedicação, a gente conseguiu ter esse pouquinho de conforto e pode se planejar para viver isso”, pondera José, que diz não saber descrever a felicidade que sente ao viajar. “A gente vê tanta coisa nos livros, aprende, mas quando conhece tudo pessoalmente, a gente aprende muito mais”, afirma.
O casal comenta que a pandemia os deixou mentalmente abalados, a ausência das viagens e a falta de contato com as pessoas gerou “uma tristeza, assim, que fica na gente”, conforme definem juntos. Com a vacinação e aumento do número de voos, decidiram que era hora de se permitir novamente sair de casa e entre risos confessam estarem contando os dias para a viagem que deve ocorrer após a primeira quinzena de agosto.
A alegria do momento apenas não será maior pelo fato de a filha do casal não poder os acompanhar devido ao trabalho e À faculdade. “É uma experiência que gostamos de ter todos juntos, em família”, afirma Liduina. Ela frisa, porém, que as próximas viagens já começam a ser pensadas antes mesmo de finalizar a que já está marcada.
“Nós não temos muito isso de planejamento, o principal é o fator financeiro né, que precisamos juntar, organizar. Mas sempre entramos em contato com agências de viagens que já conhecemos, pela segurança mesmo do passeio”, completa José.
A tradição de viajar é tão presente na vida da família que além do álbum de fotos, com registro de todas as viagens feitas juntos, existe na casa onde vivem um mapa onde eles marcam as cidades já visitadas.
O mapa de maior destaque, por enquanto, ainda é o do Ceará, mas o do Brasil, aos poucos começa a ganhar as marcações de “viagem concluída”, e nos sonhos para o futuro, José pontua: “Coliseu de Roma, Torre Eiffel, Chile, México, Estátua da Liberdade”.
Questionados se com o passar dos anos a vontade de viajar irá diminuir, o casal ri e brinca dizendo que possuem mais de 50 anos, porém, menos de 60 anos, e na incerteza da idade expressam a exatidão do fato de que a paixão por viajar, assim como o afeto, um pelo outro, não pode ser traduzida em números.
Para o futuro, Liduina finaliza acrescentando que espera um avanço no processo de vacinação contra Covid-19 e saúde para que possam construir mais lembranças em novos lugares com o passar do tempo. (Alan Magno)
Embarcado no aumento no número de voos nacionais e internacionais, o fluxo de cargas e o serviço de transporte aduaneiro por meio de aviões tem se fortalecido no processo de retomada do turismo. Em avaliação do cenário atual, Augusto Fernandes, CEO da JM Negócios Internacionais, empresa cearense especializada em transporte aduaneiro, explica que as companhias aéreas estão mais abertas a fazer negócios para transportes de cargas.
"As empresas querem colocar essas aeronaves no ar, assim, enquanto os voos não ficam todos lotados de passageiros, uma das saídas é se abrir para parcerias para o transporte de cargas. Tem sido uma boa solução para companhias evitarem prejuízos."
O empresário estima um aumento de 50% na busca por transporte de carga em voos turísticos neste primeiro semestre de 2021 com relação a igual período de 2019, antes da pandemia. A maior parte dos pedidos tem partido de novos empreendedores ou de comerciantes que aderiram ao comércio online em meio ao processo de digitalização das empresas, acelerado pelo período pandêmico.
Entre os principais produtos buscados para esse tipo de transporte estão aparelhos eletrônicos, peças de computador e itens de menor peso e dimensões, com maior fragilidade. “O frete aéreo sempre foi caro, mas com os aumentos recorrentes do transporte marítimo e com a falta de contêineres, para esses empresários, com cargas de menor volume e em menor quantidade, tem se tornado uma grande vantagem”, explica Augusto.
A depender da carga, o transporte aéreo, além de mais rápido, está também mais barato do que o frete marítimo, conforme relata. “Vai vir agora a alta temporada de cargas, devido fim do ano, então, não vejo uma redução do frete marítimo e com a baixa oferta de contêineres, se você iria pagar R$ 10 mil para mandar por navio, de repente você encontra uma avião que faz o frete por R$ 5 mil”, acrescenta.
Ele frisa, porém, que cada caso deve ser analisado individualmente e cita a necessidade de uma assessoria técnica adequada para que os empreendedores possam achar a melhor condição de frete.
O fortalecimento do transporte aduaneiro aéreo, para Augusto, é um movimento presente no setor e que deve se desenvolver em estados que possuem uma boa rede de aeroportos regionais. “O Ceará tem ali em Jericoacoara, Aracati, Quixadá e outros municípios esse potencial, são aeroportos que não focam apenas no turismo e que podem representar um novo caminho de cargas no Estado”, argumenta.
A análise está de acordo com empreendimentos governamentais recentes, como o aeroporto de Sobral, que terá como foco de atuação a conexão da microrregião dos municípios com demais polos de desenvolvimento do Estado, interligando centros industriais de desenvolvimento, que possam ser complementares.
“Esse é um movimento muito forte e que já existe em outras cidades do País, você tem o Aeroporto de Campinas, por exemplo, que é centro de referência para transporte de cargas. No Ceará temos muitas regiões que podem ganhar muito com isso, apostando no desenvolvimento de infraestrutura e logística”, pondera.
O cenário da alta dos preços dos combustíveis e instabilidade em decorrência das ameaças de paralisação dos caminhoneiros no Brasil são outro fator, que para o empresário, influenciam o fortalecimento desse tipo de transporte de carga.
De modo geral, para Augusto, o setor aduaneiro está enfrentando uma reformulação em suas dinâmicas operacionais diante desse retorno gradual dos voos e das atividades econômicas de forma geral. “Os clientes estão nos exigindo isso, mais tecnologia e educação sobre o funcionamento do setor. Só agora, a JM investiu R$ 400 mil em um novo sistema operacional, mais dinâmico, que permita um melhor relacionamento entre a empresa, a transportadora e o cliente”, complementa. (Alan Magno)
Reportagem sobre a retomada do turismo e como ele impacta na economia e na vida das pessoas