Nesta quarta-feira, 22 de abril, faz 520 anos da chegada da frota de Pedro Álvares Cabral ao Brasil. Este ano também completam-se 500 anos da morte do navegador que foi o primeiro a explorar o território brasileiro em nome da Coroa portuguesa.
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É desconhecido o dia exato em que morreu o primeiro europeu a reivindicar a posse do território que hoje é o Brasil. Sabe-se que morreu em 1520 com base em duas cartas do rei, datadas de 3 e 5 de novembro de 1520. Nelas, em atenção aos serviços prestados pelo falecido "Pero Álvares Cabral", dom Manuel I autoriza o pagamento de pensão à viúva, dona Isabel de Castro, e aos filhos António Cabral e Fernão de Álvares Cabral. Os documentos estão disponíveis na Torre do Tombo (Chancelaria de D. Manuel, liv.39, folha 60). O navegador tinha pouco mais de 50 anos.
As poucas informações sobre o destino de Cabral têm relação com o isolamento a que se submeteu após a viagem pioneira. Acredita-se que ele se desentendeu com o rei - não era boa ideia, sobretudo em tempos de absolutismo.
A desavença teria relação com a organização de uma nova expedição ao Oriente, ainda maior que as anteriores. Cabral se recusou a comandá-la e a função foi entregue a Vasco da Gama, que havia feito a primeira viagem de Portugal às Índias, em 1498, dois anos antes da chegada de Cabral ao Brasil.
Depois dessa recusa, Cabral afastou-se da Corte, abandonou a vida pública e passou a viver de forma discreta, na cidade portuguesa de Santarém, a partir de 1503 até a morte 17 anos depois.
Dos três maiores nomes das grandes navegações portuguesas, Cabral é o menos reverenciado na terra natal. Bem abaixo de Vasco da Gama, primeiro europeu a navegar até as Índias, e de Bartolomeu Dias, o primeiro a atravessar o Cabo das Tormentas e, assim, rebatizá-lo Cabo da Boa Esperança, no extremo sul da África.
O próprio túmulo permaneceu séculos desconhecido e só foi descoberto em 1840 pelo historiador brasileiro Francisco Adolfo de Varnhagen, na sacristia do Convento da Graça, em Santarém. Havia a inscrição “Pedr’Alvares Cabral” e nenhuma menção a quem havia sido. Sem qualquer referência aos lugares por onde viajou e cuja existência deu a saber na Europa.
Também pouco se sabe sobre Cabral antes da viagem ao que hoje é o Brasil. Ele nasceu em Belmonte, província da Beira Baixa, entre 1467 e 1468. Tinha ascendência na baixa nobreza e recebeu título de fidalgo.
Há controvérsias sobre por que Cabral foi escolhido e a explicação pode estar na origem nobre. Porque definitivamente não passa pela experiência. Ele nunca havia comandado uma esquadra na vida. A expedição que zarpou em 9 de março de 1500 do Porto do Restelo era a maior e mais cara armada portuguesa já montada. Era composta de nove naus, três caravelas e uma naveta de mantimentos. Eram 13 embarcações. É possível que Cabral tenha feito antes alguma incursão pelo norte da África, que mantinha intercâmbios com a Península Ibérica. Todavia, também não é descartado que a viagem durante a qual chegou ao Brasil tenha sido a primeira e a única da qual participou.
É antiga a discussão sobre se teria sido acaso ou intenção a chegada de Cabral ao Brasil. Alguns acreditam que a frota teria desviado o curso rumo ao Oriente devido a alguma corrente de vento, tempestade ou calmaria. Pero Vaz de Caminha, em sua célebre carta, não faz alusão a nenhum imprevisto desse tipo.
Pouca gente hoje duvida que Portugal já sabia da existência de terras onde hoje é o Brasil. Indicativo está nas negociações do Tratado de Tordesilhas, entre 1493 e 1494, que dividia o Novo Mundo entre portugueses e espanhóis. A primeira proposta, na bula Inter Coetera, do papa Alexandre VI, estabelecia uma linha imaginária a 660 quilômetros da Ilha de Açores. O que estivesse a leste seria de Portugal e a oeste, da Espanha. A Coroa lusitana não aceitou e o acordo foi mudado. O novo traçado foi fixado em 2,5 mil quilômetros a oeste de Cabo Verde. Na primeira versão, Portugal ficaria com um belo pedaço de oceano. Pelo texto final, coube-lhe o Brasil. O entendimento ocorreu seis anos antes do “descobrimento” de Cabral.
Nesta série com duas reportagens, O POVO rememora, com base em novos estudos historiográficos, a saga e a polêmica em torno do mito do descobrir do Brasil, Pedro Álvares Cabral.