Chegar ao que batizou Terra de Vera Cruz não foi nem de longe a maior emoção experimentada pela armada de Pedro Álvares Cabral na expedição iniciada em 9 de março de 1500. Após dez dias no que hoje é o Brasil, a expedição seguiu viagem para sua principal missão. Eles haviam desembarcado em 22 de abril de 1500 e seguiram viagem em 2 de maio, rumo ao oriente. Às Índias.
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A maior e mais cara esquadra a cruzar o Atlântico até então tinha nove naus, três caravelas e uma naveta de mantimentos. Em 1492, Cristóvão Colombo viajou pela primeira vez por aquele oceano com três embarcações. A naveta retornou diretamente a Portugal. Transportava a carta de Pero Vaz de Caminha com a notícia do novo território ao qual chegaram.
Uma das naus, sob comandado de Vasco de Ataíde, havia desaparecido com 150 homens a bordo antes de chegar ao Brasil. O resto da frota, então com 11 embarcações, seguiu rumo ao oriente. Algumas semanas depois, uma violenta tormenta os atingiu. Três naus e uma caravela naufragaram, com 380 tripulantes. A caravela era comandada por Bartolomeu Dias, lenda das navegações portuguesas. Ironicamente, naufragou e morreu próximo ao Cabo da Boa Esperança, que havia sido o primeiro a contornar, em 1488. Outra embarcação, sob comando de Diogo Dias, desgarrou-se da frota e foi parar na Etiópia. Cabral e o resto da expedição seguiram viagem rumo a Calicute, na Índia. As seis embarcações chegaram em 13 de setembro.
Os portugueses permaneceram por cerca de três meses, onde estabeleceram intensa rede de negócios. A presença incomodou os controladores até então das rotas comerciais. Eles foram atacados por algumas centenas de árabes e hindus. Foram dezenas de mortos, entre eles Pero Vaz de Caminha, autor da carta inaugural do Brasil.
Como resposta, a frota portuguesa saqueou dez navios mercantes ancorados no porto e incendiou as embarcações. Fontes indianas falam em 600 mortos. Além disso, Calicute foi bombardeada.
A viagem de retorno começou em 16 de janeiro de 1501. Os navios partiram carregados de especiarias. Cerca de um mês depois, na costa da África, mais um navio naufragou. Um dos navios foi enviado a Moçambique. Outra das embarcações se afastou das demais durante tempestade. Em compensação, no retorno encontraram a caravela de Diogo Dias, que julgavam naufragada no Cabo da Boa Esperança. Haviam, inclusive, chegado a outra terra até então desconhecida dos europeus, hoje chamada Madagascar. No retorno, ainda encontraram com outra frota portuguesa na costa da África. Havia sido enviada pelo rei ao saber da terra que haviam encontrado do outro lado do Atlântico. Entre os integrantes estava Américo Vespúcio, que confirmou a Cabral que ele havia chegado a um continente inteiro do outro lado do oceano. Continente que acabou batizado em homenagem ao navegador.
Após viagem tão acidentada, o que restou da frota retornou ao rio Tejo em datas espalhadas, entre junho e julho de 1501. Haviam perdido seis dos 13 navios que partiram de Lisboa. Dos 1,5 mil homens que partiram, cerca de 500 retornaram. Os outros morreram em naufrágios, tempestades, ataques, perderam-se no mar e muitos foram vítimas de doenças.
Mesmo assim, a viagem foi comemorada. Não apenas pelas terras às quais chegaram, mas principalmente pelas mercadorias, que representaram lucros considerados suficientes para compensar a tragédia humanitária.
Fontes consultadas:
Projeto Memória - Fundação Banco do Brasil
Carta de Pero Vaz de Caminha - Fundação Biblioteca Nacional
Nesta série com duas reportagens, O POVO rememora, com base em novos estudos historiográficos, a saga e a polêmica em torno do mito do descobrir do Brasil, Pedro Álvares Cabral.