Ele já não dá mais uma ou duas piruetas. Tampouco tomba de nariz. Cambalhotas também não se veem mais. São 80 anos de muita gaiatice e jeito de corpo para arrancar risadas do público. É preciso algum cuidado com as peraltices. Mas o Renato Aragão de hoje - um octogenário, quem diria! - não para.
Desde outubro do ano passado, mordeu a língua e se rendeu ao teatro. Estreou na última sexta-feira, 9, a segunda temporada de Os Saltimbancos Trapalhões, adaptação para o palco de um dos maiores sucessos do cinema nacional. Culpa da esposa, Lílian Taranto, com quem Renato divide a vida há quase 25 anos.
Foi ela quem o incentivou a aceitar o convite de Charles Möeller e Claudio Botelho, que Renato pensava serem dois loucos e depois viu se tratar de dois gênios - bastou ler as primeiras páginas do roteiro. “Eu, fazer teatro? Jamais faria isso na vida! Sempre falei isso”, diz em entrevista ao O POVO.
Agora, 55 anos depois de dar vida a Didi, seu personagem mais famoso e um alter ego; após protagonizar na TV e no cinema, ao lado de Dedé, Mussum e Zacarias, um dos maiores fenômenos do humor brasileiro, os Trapalhões; depois de se refazer com o fim do quarteto; a essa altura da vida, Renato estreia novamente. É, mais uma vez, um iniciante. Arrisca-se, sente o friozinho na barriga e se reinventa.
Assim o cearense de Sobral, nascido dia 13 de janeiro de 1935, chega aos 80. Amparado na juventude de Didi, o experiente Renato Aragão se permite aprender. Fazendo o que já sabe, ousa o novo. E aponta para o futuro. Além do teatro, que tomou gosto, prepara telefilmes a serem exibidos na Rede Globo ainda neste ano. Quer filmar em breve dois roteiros já escritos. Há muito por fazer, e ele sabe e gosta disso.
Na comemoração do aniversário de Renato Aragão e Didi, O POVO dedica um caderno inteiro a quem, há tanto tempo, só engrandece a arte de fazer graça. Nas próximas páginas, passeamos pelas fases mais significativas da vida desse palhaço de cara limpa. A gênese do homem, em Sobral, quando sequer imaginava ser artista; a mudança para Fortaleza, a descoberta do cinema e, com ele, Oscarito, seu grande ídolo. O início de tudo, tempos de fazer TV ao vivo, o nascimento do personagem que o consagrou. A ida para o Rio, determinante para que se tornasse a referência do humor que é hoje, com os Trapalhões.
Numa grande entrevista, é Renato quem passa a narrar essas histórias. Das primeiras piadas exibidas na TV Ceará às que fizeram lotar as salas de cinema do País, ao lado de Fridirico, o primeiro parceiro, ou Dedé.
Com os Trapalhões ou sozinho, vivendo as próprias aventuras. Didi ou Renato, Renato ou Didi. Importante mesmo é celebrar quem não nos deixa perder o riso.
* Especial publicado no O POVO em 13 de janeiro de 2015
O circo do palhaço sem máscara