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Desde a posse de Bolsonaro, ICMBio não autuou nenhum crime ambiental no Cariri e Meruoca
Reportagem Especial

Desde a posse de Bolsonaro, ICMBio não autuou nenhum crime ambiental no Cariri e Meruoca

Ao todo, 34 das 36 autuações deste ano ocorreram em Jericoacoara. Outras regiões, que sempre foram visadas por criminosos, passaram a registrar zero infrações neste ano. Em Ubajara, houve apenas um caso de "lesão a árvore"

Desde a posse de Bolsonaro, ICMBio não autuou nenhum crime ambiental no Cariri e Meruoca

Ao todo, 34 das 36 autuações deste ano ocorreram em Jericoacoara. Outras regiões, que sempre foram visadas por criminosos, passaram a registrar zero infrações neste ano. Em Ubajara, houve apenas um caso de "lesão a árvore"
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O esvaziamento do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) no Ceará fica mais claro quando se analisa onde o órgão registrou infrações ambientais em 2019. Todas áreas com diversas autuações em anos anteriores, unidades de conservação em Ubajara, Meruoca e no Cariri tiveram queda expressiva de multas neste ano. Nas duas últimas, chegou a zero. Ao todo, 34 das 36 autuações deste ano ocorreram em Jericoacoara.

Na área do Parque Nacional de Ubajara, por exemplo, foram registrados entre janeiro e setembro de 2018 oito episódios de desmatamento ilegal grave, além do embargo de dois lotes ilegais que estavam sendo construídos na região. No mesmo período deste ano, o ICMBio flagrou na região apenas uma infração, por “lesão de árvore” leve. Para especialistas que convivem com a região, no entanto, a queda não significa que os crimes ambientais deixaram de ocorrer.

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“Está uma situação totalmente caótica, falta pessoal e muitos dos terceirizados que ajudavam foram demitidos”, relata a bióloga Francisca Soares de Araújo, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e que desenvolve um projeto na região. Ela destaca que, sem fiscalização, as mais de 400 espécies botânicas da região podem estar em risco.

Outra área que era constantemente alvo da ação de criminosos era a Área de Proteção Ambiental (APA) da Chapada do Araripe, no Cariri. Em 2017, o ICMBio flagrou na região três episódios de desmatamento e mais de quinze obras ilegais na região, incluindo até mesmo a construção de um posto de combustíveis na área protegida. A região continuou "visada" em 2018, quando foram paradas pelo órgão mais uma leva de obras ilegais.

Em 2019, no entanto, não foi registrada nenhuma ação de fiscalização na região. “O Cariri simplesmente está abandonado. Fecharam postos de fiscalização e estamos entregues ao Deus-dará”, diz o pesquisador Álamo Saraiva, coordenador do laboratório de paleontologia da Universidade Regional do Cariri (Urca). “Não há mais ninguém em campo”, afirma.

O pesquisador destaca que a área é lar para uma série de espécies endêmicas, que só existem no Cariri. “Temos o Soldadinho-do-araripe (pássaro), o Aspidora menezesi, que é um tipo de peixe que só tem aqui e que hoje quase já não se encontra mais. Por quê? Porque as pessoas estão minerando em região de mata ciliar e desviando água”, afirma. “Vai levar centenas de milhões de anos para a natureza se recuperar dessa destruição. Em alguns casos, espécies nativas podem ser perdidas para sempre. É uma tragédia”.

Historicamente uma das áreas mais cobiçadas pela especulação imobiliária da região de Sobral, a Serra Meruoca é outra Área de Proteção Ambiental (APA) que aparece esvaziada em 2019. Em 2017, três loteamentos de grandes proporções foram embargados na região. Neste ano, no entanto, também não foi lavrado nenhum auto de infração lá.

Entenda o que mudou na fiscalização de crimes ambientais no Ceará:

 
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