A previsão de chegada das águas do rio São Francisco no território cearense, pelo projeto da transposição, pode ter mudado novamente. Anteriormente anunciada para o fim do primeiro trimestre de 2020, a água deverá atrasar mais uma vez e só deve chegar ao município de Jati, no sul do Estado, no fim de maio, quando termina a quadra chuvosa.
O novo prazo foi repassado ao governo estadual há cerca de duas semanas, compartilhado num grupo de gestores e técnicos estaduais e da União, do qual a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará(Cogerh) faz parte.
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No dia 30 de agosto deste ano, o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, e o governador cearense, Camilo Santana, haviam anunciado que a água chegaria em março do ano que vem aos canais do Cinturão das Águas do Ceará (CAC) - que distribuirá a água pelo Estado. Eles acompanharam testes na terceira estação elevatória do Eixo Norte, em Salgueiro (PE) e davam a data do primeiro trimestre como certa.
O adiamento foi confirmado ao O POVO Online pelo superintendente de Obras Hidráulicas (Sohidra), Yuri Castro, e pelo diretor de operações da Cogerh, Bruno Rebouças. O governo estadual não tem ingerência nas obras da transposição e foi apenas comunicado da nova situação.
"A gente só pode falar da transposição do São Francisco o que nos passam oficialmente. Então, oficialmente, o que nós temos é que a água agora chega no final de maio", apontou Yuri Castro. Rebouças confirmou o novo prazo através da assessoria da Cogerh.
Entre os motivos que vêm mudando a entrega da obra, pelo menos nos últimos dois anos, estão a demora na liberação de recursos federais, com a paralisação do trabalho dos operários em pontos da obra, e incidentes na estrutura de trechos já concluídos do Eixo Norte (lado que chega ao Ceará). No Eixo Leste, que atende Paraíba e Pernambuco, a obra teve o bombeamento interrompido e cortou o fornecimento para cerca de 40 municípios.
Na tarde desta terça-feira, 29, O POVO Online procurou o Ministério, executor do projeto, que manteve a data anterior. "Não houve alteração. A previsão é que as águas cheguem até o final de março no Ceará", informou, em nota. Os trabalhos no Eixo Norte estão em andamento, segundo a pasta, com 97,05% de execução física.
O novo prazo para a chegada do São Francisco, se confirmada a informação repassada aos técnicos, coincidirá com o mês de fechamento da quadra chuvosa de 2020. Em período de chuvas na região (fevereiro a maio), o escoamento das águas e a perda menor por evaporação serão favoráveis à velocidade do rio pelos canais da transposição. No Eixo Leste, "as equipes técnicas do MDR têm trabalhado para solucionar a questão" e as águas estariam com previsão de chegar ao último reservatório (Campos) em novembro.
O rio São Francisco é esperado como garantia hídrica para a Capital cearense. A água do Velho Chico chegará pelo Eixo Norte bombeada até a barragem Jati, no sul do Ceará. Por gravidade, seguirá até o km 53 dos canais e túneis do Cinturão, no chamado Trecho emergencial.
Nesse ponto, alcançará o Riacho Seco, em Missão Velha. De lá, escoará para dois dos principais rios do Estado: entrará no leito do rio Salgado e, em seguida, até o rio Jaguaribe, em direção ao açude Castanhão. O maior reservatório do Ceará será suprido para atender Fortaleza.
Atualmente, o Castanhão não está fornecendo água para a Capital. O governo estadual vem fazendo manobras na gestão hídrica para contornar o baixo volume armazenado no reservatório - atualmente está com 3,76% de sua capacidade.
A obra da transposição do rio São Francisco já dura 12 anos. Deveria ter sido concluída em cinco anos. Foi iniciada em 2007, durante o Governo Lula. Atravessou as gestões de Dilma Rousseff, Michel Temer e segue inconclusa nos primeiros dez meses do governo Jair Bolsonaro. Os investimentos já chegam a R$ 10,6 bilhões e estão projetados para batera casa dos R$ 12 bilhões até o fechamento - três vezes o valor original anunciado.