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Só imagino o que pensam os funcionários da fábrica da Troller
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Adailma Mendes é editora-chefe de Economia do O POVO. Já foi editora-executiva de Cidades e do estúdio de branded content e negócios, além de repórter de Economia

Só imagino o que pensam os funcionários da fábrica da Troller

Em Horizonte, o prefeito Nezinho Farias (PDT) disse estar tentando agenda com os representantes da montadora em São Paulo
Revendedora TrilhaFor - Km. 2 BR-116, Aerolândia, Fortaleza (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves Revendedora TrilhaFor - Km. 2 BR-116, Aerolândia, Fortaleza

O fim da Ford no Brasil já vem sendo anunciado desde janeiro deste ano, mas esta semana mais uma novidade pegou de surpresa os cearenses. A morte com data marcada, 31 de dezembro, foi antecipada para setembro, na fabricação de carros, e para novembro, na produção de peças, da fábrica da Troller, em Horizonte, de propriedade da montadora norte-americana. 

O que fica claro agora é que as surpresas nunca têm fim, não se tem um horizonte. Por mais que sejam feitos anúncios e avisos de “se prepara aí”, sempre é possível ser surpreendido com decisões que estão longe do nosso poder de controle. Decisões internacionais, distantes da vida corriqueira de quem precisa pagar conta de luz, água e IPTU, são tomadas e impactam famílias que viviam o sonho de estabilidade, trabalho especializado e ainda de ter uma marca como orgulho: “Trabalho na Troller”.

Só imagino, como trago no título deste artigo, o que se discute na mesa de jantar das mais de 470 famílias que dependem da fábrica a ser fechada neste momento. “Amor, não sei como será.”; “Mas o governo vai lutar para ter um novo comprador”; “É assim mesmo, a gente se dedica e dá nisso”.

Para além da minha imaginação, quiçá cheia de elucubrações, existe sim uma névoa de falta de informações na questão do fim da Ford no Brasil. Para exemplificar digo que desde terça-feira, 10, mandei várias perguntas ao e-mail media@ford.com e nada de respostas.

As perguntas:

.Como fica a negociação com os funcionários a partir desse encerramento de atividades?

.A Ford produzirá Troller em outra parte do mundo já que não abrirá mão da marca?

.Por que as negociações para venda não andaram já que o Governo do Estado do Ceará disse até que tinham quatro investidores interessados?

.Como ficará a reposição de peças aos proprietários dos veículos?

Sei que as perguntas são para responder ao anseio da apuração jornalística, mas o resultado esperado é para responder às partes diretamente envolvidas nesse processo.

Não ter retorno é indignante, assim como foi ao governo do Estado do Ceará e à Prefeitura de Horizonte. O secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará, Maia Júnior, lançou de cara: "A marca Troller não é mundial, foi criada por cearenses!”.

Em Horizonte, o prefeito Nezinho Farias (PDT), que disse estar tentando agenda com os representantes da montadora em São Paulo, declarou: "A gente precisa até entender o que é. Foi uma decisão muito ruim da empresa de não vender mais a marca, mas só os galpões. O acordado não era isso".

Quando vamos ao sindicato dos trabalhadores da Troller, que representa o lado mais frágil, aí que a coisa fica mais alarmante. A luta da Força Sindical é por garantir direitos nos 45 minutos do segundo tempo. A garantia de estabilidade por um ano deve ser o foco das tratativas entre os representantes dos operários e a diretoria da Troller, segundo informou Raimundo Nonato Gomes, presidente da Força Sindical no Ceará.

Sem o acordo de venda da fábrica para um investidor ainda anônimo, mais de 470 operários devem ficar desempregados e Gomes disse buscar acordos semelhantes aos feitos pela montadora quando encerrou as atividades em Taubaté (SP) e Camaçari (BA).

No plano de demissão incentivada executado na unidade de São Paulo, um dos itens garantiu que, "além das verbas rescisórias, a empresa (deve) efetuar o pagamento de indenização equivalente a 205% do salário nominal mensal do empregado, por ano de serviço na empresa".

Com a estabilidade requerida pela Força Sindical, como apurou o repórter especial do O POVO Armardo Lima, Gomes explica que o operário só deve receber o salário base, sem os adicionais, que por ventura contava, a cesta básica e também a participação nos lucros da companhia.

Mas no resumo da ópera, os trabalhadores da Troller estão longe das preocupações da Ford, mais atenta a posicionamento internacional conveniente e a adequações satisfatórias ao mercado financeiro. Vender qualquer coisa a custo abaixo do esperado é inadmissível ao olhar dos investidores.

Enquanto isso, na sala de jantar de famílias de Horizonte, resta a pergunta: “Onde vou trabalhar agora?”

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