Jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assesora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza
Foto: William West / AFP
O alerta para o aumento da fome entre as crianças
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Este artigo contém o aviso “Dados fortes”. É que precisamos falar sobre fome, retrocesso nas políticas públicas e desigualdade. A pandemia da Covid-19, ao se juntar a estes problemas, mostrou um país mais fragilizado ainda quando o recorte é para a infância.
Para referenciar o tema, é importante mencionar que a insegurança alimentar se caracteriza quando uma pessoa não tem acesso pleno e permanente a alimentos. Ela é observada em três níveis: leve, moderada e grave.
De acordo com o Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19, no Brasil/Rede PENSSAN, de 2021, 116,8 milhões de brasileiros não dispunham de acesso pleno e permanente à alimentação no período da pesquisa, em dezembro de 2020.
Deste total, 20,5% da população, 43,4 milhões de pessoas, não tinham alimentos suficientes (nível moderado ou grave). Já 9% literalmente passavam fome (nível grave): 19,1 milhões de habitantes, o equivalente a toda a população do Chile, por exemplo.
No mapa geográfico da fome no Brasil, os números reforçam a desigualdade quando focam no percentual de lares que vivem em insegurança alimentar grave: o Norte lidera, com 18,1%, seguido do Nordeste, 13,8%, Centro-Oeste, 6,9% e Sul/Sudeste, 6,0%.
Embora a fome atravesse a história do Brasil, programas geraram resultados positivos, como o Fome Zero, substituído pelo Bolsa Família. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura reconheceu o avanço, em 2014, e excluiu o País do Mapa da Fome.
Só que o Brasil voltou a este triste cenário em 2018. Pesquisa da Rede PENSSAN indica que entre 2018 e 2020 a fome aumentou em 27,6%.
No Ceará, conforme mostra o estudo Covid 2019, segurança alimentar e saúde mental materna, publicado na revista Public Health Nutrition, em 2021, “a prevalência de insegurança alimentar aumentou 15,5% em famílias com crianças de até 9 anos no estado do Ceará, o que representa 1.378.065 pessoas a mais nessa situação”
Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará e UniChristus, que elaboraram o documento, ao detectarem este aumento, se reuniram com autoridades do Estado. Foram propostas intervenções, como a de que mães vivendo em situação de extrema vulnerabilidade passassem a receber, além de adicional de transferência de renda, cesta básica. Eles acompanham essas crianças e apontam melhoras para a reversão do quadro.
Em nível nacional, a descontinuidade de políticas públicas construídas nas últimas décadas traz um risco assustador: de que se volte a números trágicos da década de 70, em que as mortes de crianças entravam na roleta russa da fome, desnutrição e diarreia. Neste horizonte de retrocesso, as crianças estão entre os mais frágeis.
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