Ana Márcia Diogénes é jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assessora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza
Casos de animais mortos e aliciamento de procurações para voto em assembleias mostram o ser cada vez menos humano
Foto: Alex Popovkin, Bahia, Brazil/Commons
Cassaco. Imagem ilustrativa de apoio
Cinco pessoas almoçando em um restaurante, apressadas para voltarem aos respectivos trabalhos e um único assunto ocupando o curto tempo de todas elas: conflitos em condomínios. O que cada uma narrou acabou tirando delas o descanso que buscavam naquela nesga de horário.
O rumo da conversa começou quando foi contada uma história surreal. Em um determinado condomínio, alguém escreveu no grupo de WhatsApp que havia visto um animal estranho na garagem, maior que um rato.
Os moradores, curiosos para saber do que se tratava, ficaram enviando imagens. Ao ser inserida a foto de um cassaco, também conhecido por gambá, o animal foi reconhecido por quem tinha visto.
Os que não sabiam o que era ficaram apavorados com a possibilidade de ataques. Outros procuraram se informar e disseram que era até bom ter cassacos por lá, porque eliminavam insetos. Mas, poucos dias depois o animal foi encontrado todo machucado e com o rabo quase partido.
O síndico fez contato com autoridades, o animal foi resgatado e levado para uma clínica especializada. Infelizmente não sobreviveu à insanidade humana.
Todos esses casos aconteceram em bairros com diferentes valores do metro quadrado. Eles estão em qualquer lugar. Outras duas histórias entre as que mais chamaram a atenção do grupo, que só queria descansar no almoço e nem conseguiu, versaram sobre aliciamento de procurações para votar em assembleia de condomínio.
Bem parecido com o que acontece em época de eleição, quando cabos eleitorais só faltam entrar na cabine com eleitores que trouxeram de carona, e para quem ofereceram favores e dinheiro.
Contando com a falta de disposição do proprietário que aluga imóvel de comparecer às assembleias de condomínio, alguns síndicos induzem, gentilmente, para que esses proprietários passem procuração, principalmente diante de reuniões que prometem ser polêmicas.
Uma síndica, no desespero de computar previamente as procurações-votos, chegou até a fazer contato com antigos proprietários, que já haviam repassado o imóvel para outra pessoa. Nem checou sua própria lista. Ou seja, um modelo viciado de impor ideias, projetos, taxas extras, demissão de funcionários, eclusas de segurança.
Outros casos que vieram ao conhecimento durante esta mesa de almoço diziam respeito ainda à questão de gênero, de homens que ironizam condôminas mulheres; à relação de poder de síndicos que perseguem funcionários por questões pessoais; moradores que apertam a tecla para fechar portas de elevador de forma mais rápida, para evitar ficar no mesmo ambiente que um vizinho.
Ao escrever sobre estes fatos me veio à mente o conceito “Banalidade do Mal”, com o qual Hannah Arendt, filósofa alemã de origem judaica, descreve que pessoas comuns, por falta de reflexão e pensamento crítico, podem agir de forma terrível.
Pode parecer exagero, mas casos assim mostram como agir de forma impensada faz com que não se pese as consequências morais.
Por conta do aumento de moradores que trabalham em casa, o tal home office, é preciso refletir mais ainda sobre o mal no cotidiano.
O fato é que essa violência no relacionamento em condomínios pode até requerer uma nova atitude para quem busca comprar ou alugar um imóvel: além de informações sobre tamanho e preço, talvez seja preciso um laudo de como está o convívio entre moradores, sobre qual é o humor de moradores e síndico.
O mal comportamento de um afeta a vida de todos.
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