Vídeo-denúncia e a regulamentação das redes sociais
clique para exibir bio do colunista
Ana Márcia Diogénes é jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assessora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza
Vídeo-denúncia e a regulamentação das redes sociais
Canal do youtuber Felca expõe casos de sexualização de crianças e adolescentes e tem 32 milhões de visualizações em cinco dias
Foto: Reprodução/ redes sociais
Natural de Lodrina, no Paraná, Felca começou sua carreira na internet em 2012
A primeira questão que pensei quando assisti ao vídeo “Adultização”, do youtuber Felca, foi como a situação de crianças e adolescentes, expostos em cenas de sexualização de seus corpos, chegou a este ponto.
Que absurdo ver a integridade deles sendo ameaçada nas redes sociais apesar de termos um eficiente documento legal nesta área, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Em busca de entender melhor, vi que desde o ano passado autoridades já vêm investigando denúncias abordadas no vídeo a partir do Disque 100. Mas ainda é pouco.
O vídeo-denúncia do paranaense de 27 anos, Felipe Bressamin Pereira, o Felca, teve 32 milhões de visualizações em apenas cinco dias. O suficiente para popularizar o debate sobre o que é ou não impróprio na produção de conteúdo com crianças e adolescentes nas redes sociais.
O youtuber usou sua rede de seguidores para em 50 minutos – um terço do tempo do Fantástico, da Rede Globo -, abrir polêmica sobre limites éticos de adultos potencialmente aliciadores e, inclusive, pais. Felca estreou na vida digital em 2012, como criador de conteúdo de videogames.
No Instagram ele soma 14,5 milhões de seguidores e no YouTube tem 5,4 milhões de inscritos no canal. O título do vídeo, adultização, traz, em sua profundidade, situações em que crianças e adolescentes têm seus corpos e privacidade explorados para o grande e – muitas vezes – anônimo público das redes sociais, inclusive pedófilos. Como se fossem servidos numa bandeja virtual.
Nas denúncias de exploração de imagem, estão casos expostos em dois canais. Em um deles, a mãe teria induzido a criança a situações constrangedoras, como quase vomitar o que não queria comer.
E, no outro, a ainda pré-adolescente teria ficado conhecida no TikTok e no Kwai por aparecer em conteúdos sexualizados, que teriam sido incentivados pela mãe.
Já o caso do influenciador Hytalo Santos, que ocupa a maior parte do vídeo, está relacionado à sexualização. Ele teria reunido vários adolescentes em uma mesma casa, como um reality show, e divulgado imagens de intimidade entre eles.
Uma das meninas, Kamylinha, que passou a morar com Hytalo aos 12 anos, é praticamente transformada em produto erótico. Nas redes sociais, dança com pouca roupa no colo de outro adolescente. E até fotos dos seios dela, após colocação de silicone, foram exibidas publicamente.
As denúncias trazem um moto-contínuo. A adultização (exposição precoce das crianças) promove a alimentação do algoritmo P (que é como Felca classifica os algoritmos das redes sociais que criam um padrão para recomendar conteúdos que promovem a adultização).
Um se alimenta do outro, despertam ganância em cima da monetização de corpos infantis e adolescentes. Afetam a mente e o corpo dos envolvidos, que estão em fase de formação.
Nos movimentos provocados pelo vídeo, o Ministério Público denunciou Hytalo Santos, e o perfil dele foi retirado do Instagram. As redes sociais de Kamylinha também foram removidas. Já a menina de um dos canais denunciados teria sido afastada da mãe e estaria morando com a avó, com dificuldades de frequentar a escola.
Postagens de fotos e vídeos que objetificam o corpo de crianças e adolescentes, para mim, são sintomas da necessidade de regulamentação das redes sociais, URGENTEMENTE.
É preciso punir quem produz e quem consome conteúdos criminosos nas redes. Não só os pedófilos devem ser punidos. Assistir, ser parte do público, é ser conivente.
A questão chegou ao debate na Câmara dos Deputados, em Brasília. É importante que o tema agregue políticos de diferentes partidos e que o foco esteja na proteção de crianças e adolescentes frente às redes sociais. É um dever da sociedade e dos seus representantes.
Felca relata ameaças após denunciar “adultização”
Histórias. Opiniões. Fatos. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.