Ana Márcia Diogénes é jornalista, professora e consultora. Mestre em Políticas Públicas, especialista em Responsabilidade Social e Psicologia Positiva. Foi diretora de Redação do O POVO, coordenadora do Unicef, secretária adjunta da Cultura e assessora Institucional do Cuca. É autora do livro De esfulepante a felicitante, uma questão de gentileza
O uso das cores verde e amarelo por apoiadores de Bolsonaro foi intensificado neste 7 de Setembro, devido ele ser um dos acusados, com outros sete réus, por tramar o golpe
Foto: DANIEL GALBER/ESPECIAL PARA O POVO
Protestos por anistia no 7 de Setembro na Praça Portugal, em Fortaleza
— Vai aí uma bandeira, amiga?
— Há um tempo atrás até que eu ia querer, mas perdeu a graça.
— Pode não. É do Brasil, não é da política.
Ouvi este breve diálogo, cheio de significados, quando estava parada em um semáforo, diante de uma praça que virou palco das manifestações dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro em Fortaleza.
Aconteceu entre um vendedor de bandeiras daquelas de pendurar na janela dos carros e uma motorista. Depois que passou pelo veículo dela, ele ainda ficou repetindo “a bandeira não pode ficar desgraçada pela política”.
Já está. O assunto não é novo, mas voltou ao debate devido à passagem do 7 de Setembro, dia da independência. O fato histórico em si já merecia ampla reflexão, mas vou me ater ao diálogo no trânsito.
Nos dias que antecedem o 7 de Setembro sempre foi hábito a compra de bandeiras para acompanhar os desfiles militares e civis: tanto as que se destinam aos carros como as grandes.
Desde que os adeptos ao ex-presidente resolveram se vestir de verde e amarelo e ostentar a bandeira brasileira nas manifestações, que esta passou a ter uma conotação de direita, de conservadorismo.
A simbologia ficou ainda mais forte durante os acampamentos contra a posse do atual presidente, Lula, e a invasão e destruição de prédios públicos em Brasília.
A depredação na Praça dos Três Poderes – alcançando o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal (STF) – não apenas destruiu o patrimônio material.
O prejuízo se deu, também, no imaterial, no sentimento diante dos símbolos. O próprio nome do plano “Punhal Verde Amarelo” que, segundo promotores, previa o assassinato de Lula, do vice-presidente Alckmin e do ministro Alexandre de Moraes, é uma forma de associar, negativamente, as cores da bandeira à tentativa de golpe de Estado.
A bandeira é um dos símbolos nacionais, junto com o Hino, as Armas e o Selo. Os símbolos representam a história e as conquistas do país, e deveriam representar uma sensação de pertencimento do povo.
Mas, infelizmente, à medida em que a bandeira do nosso País foi sendo associada a um movimento político específico, deixou de gerar o sentimento de “fazer parte” a todos os brasileiros.
O uso das cores verde e amarelo por apoiadores de Bolsonaro foi intensificado neste 7 de Setembro, devido ele ser um dos acusados, com outros sete réus, por tramar o golpe.
O fato reforça mais ainda a rejeição a essas cores pelos que discordam das posições antidemocráticas, levantadas pelo ex-presidente e seus seguidores.
O País está muito mais além de ser uma grande quermesse com barracas de cada cor, disputando quem se destaca mais.
E o que eu gostaria de propor é uma reflexão mais aprofundada, a partir do diálogo que ouvi no trânsito: o que podemos fazer para algum dia a bandeirinha verde e amarela voltar a ter o sentido mais amplo a que se destina, de pertencimento a uma Nação, e não somente aos ideais de alguns?
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