Posturas de Leandro Castan e Nino contrapõem passado e futuro no futebol
Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Posturas de Leandro Castan e Nino contrapõem passado e futuro no futebol
Zagueiro do Vasco usa religião como justificativa para a homofobia, enquanto o do Fluminense prefere usar o próprio cristianismo como plataforma para inclusão de LGBTQIA+
A postura pública de dois zagueiros de clubes cariocas, com declarações entre agosto e setembro deste ano, exibe de forma cristalina a tal trincheira que gosto de apontar. De um lado o passado, do outro o futuro.
Primeiro falemos do envergonhadamente homofóbico Leandro Castán, do Vasco da Gama — sexta pior defesa da Série B. "No momento no qual expus o que acredito, quando eu fui, teoricamente, obrigado a vestir uma camisa, acho que algumas pessoas não gostaram. Mas eu respeito a todos e acho que tenho de ser respeitado", disse, em coletiva, o zagueiro, respondendo às críticas sobre uma postagem em redes sociais em que atacava as minorias sexualmente diversas por, em tese, não poderem se reproduzir. É curioso o paradoxo que ele cria com o "teoricamente obrigado". Talvez seja a forma de deixar claro que ele é só "teoricamente LGBTfóbico", sem, de fato, enfrentar a questão de frente.
Ex-bom zagueiro de carreira decente e hoje uma âncora do fraco desempenho vascaíno na Série B, Castán atacava minorias com citação da Bíblia, como se quem fosse religioso pudesse — quiçá até devesse — ser anti-LGBT. O cenário fica pior por ele vestir a camisa do Vasco, um dos pioneiros na inclusão do negro no outrora elitista futebol brasileiro. O defensor cobra respeito para ser homofóbico, enquanto desrespeita milhões de pessoas. Tudo isso porque "teve" de usar camisa com as cores do arco-íris. Respeito cristãos. Não respeito Leandro Castán.
Indiretamente, quem respondeu foi o bom Nino, zagueiro do Fluminense — oitava melhor defesa da Série A. "O clube já faria a ação, e eles queriam que o capitão jogasse com a camisa 24. Eles vieram meio receosos falar comigo, o argumento deles era que eu era cristão e não sabiam se eu iria gostar. Eu aceitei de primeira. (...) Eu vi muitas pessoas vindo falar comigo, questionando o fato de eu ser cristão, como se fosse uma contradição. Mas Jesus ensinou o amor, pregou o respeito entre as pessoas. E eu acho que temos que levantar sempre toda bandeira que grita pelo amor, pelo respeito. Não acho que o amor seja o melhor caminho, acho que é o único caminho. Então era a única resposta que eu tinha para dar.", disse, em entrevista ao ge.
Nino fez mais. Citou o fato de o Brasil ser o país que mais mata pessoas LGBTQIA+ e disse que vestiria a 24 de novo, voltaria a usar faixa de capitão com as cores do arco-íris.
Não é muito difícil de entender. Existe uma relação doentia de alguns fundamentalistas com a Bíblia. Eles se deliciam ao tirar de contexto passagens ultrapassadas do Antigo Testamento para justificar os próprios preconceitos. Levíticos e Deuteronômio em vez do Novo Testamento. Ou da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Leandro Castán, 34, quer ser respeitado para desrespeitar livremente, impunemente. Nino, 24, mostra que cristãos de verdade sabem respeitar e ser respeitados. Tenho certeza que nenhum vascaíno hesitaria na proposta de trocar os zagueiros. Duvido que algum tricolor topasse.
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