Logo O POVO+
Lewis Hamilton assume papel que vai além de ídolo no esporte
Foto de André Bloc
clique para exibir bio do colunista

Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc

André Bloc esportes

Lewis Hamilton assume papel que vai além de ídolo no esporte

Maior campeão da história de um esporte onde ele é o único negro a ter disputado uma corrida oficial, o britânico mostrou ter crescido com a responsabilidade, a ponto de encontrar a própria voz como líder
Hamilton usou capacete com cores do arco-íris no Catar (Foto: ANDREJ ISAKOVIC / AFP)
Foto: ANDREJ ISAKOVIC / AFP Hamilton usou capacete com cores do arco-íris no Catar

Décadas atrás, a revista IstoÉ elegeu o esportista nacional do século XX e Ayrton Senna superou Pelé. Esse é o tamanho do tricampeão mundial de Fórmula 1 para o povo brasileiro — carente de ídolos e tendencioso a idolatrias.

Para além de discutir qualidades e defeitos ou apontar em quem ele votaria, tenho pensado no papel que o brasileiro tinha como, digamos, líder sindical. Piloto arrojado, Senna brigava com a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) por, entre outras coisas, maior segurança. De certa forma, ele brigava com "os chefes" e, pelo que se conta, teria insistido no cancelamento do GP de San Marino, em Ímola, após a morte do austríaco Roland Ratzenberger no treino classificatório. A corrida não foi cancelada e o ídolo nacional se tornou um mártir da segurança no trabalho. Desde então, a Fórmula 1 se tornou exemplo, apesar de os carros ainda fazerem ultrapassagens a mais de 300km/h.

No GP de São Paulo, o heptacampeão mundial Lewis Hamilton venceu e homenageou o ídolo Ayrton Senna ao fazer volta da vitória enrolado na bandeira verde-amarela-azul-e-branca. Poucos brasileiros passariam incólumes ao celebrar com o hoje delicado símbolo nacional. O que dizer de um estrangeiro?

Hamilton talvez seja naturalmente pouco propenso a protocolos. Após a vitória no Catar, no fim de semana passado, ele manteve uma máscara preta no rosto de pele negra. Num esporte que nunca teve pretos antes dele. Neste mesmo circuito, ele surgiu com um capacete com as cores do arco-íris, como forma de protesto contra o fundamentalista governo catari, uma ditadura que usa o esporte para lavar o sangue que faz derramar. Falei do país-sede da próxima Copa do Mundo de futebol na semana passada, inclusive.

Não é o primeiro capacete arco-íris em país de governo anti-LGBTQIA+ nesta temporada. O alemão Sebastian Vettel, tetracampeão mundial, usou um desses no GP da Hungria, no país do autocrata Viktor Orbán. Antes disso, Vettel e Hamilton — donos de 11 títulos da Fórmula 1 —, fizeram coro nas críticas a nova lei homofóbica aprovada pelo Parlamento húngaro.

Criticar a Hungria e o Catar é, por tabela, atacar a FIA, que negocia com estes governos. Algo, além dos títulos, que Senna, Vettel e Hamilton têm em comum. Cada um a seu tempo, eles foram os maiores nomes da Fórmula 1 e aprenderam a usar o peso da própria voz.

Eu me lembro do início de Hamilton e da imagem que ele passava. O termo comum era "arrogante" — e talvez fosse a palavra precisa. À época, talvez só ele acreditasse que um menino negro se tornaria o maior da história de um esporte sem pessoas pretas. Quiçá era apenas o racismo incutido em mim que me trouxesse a impressão negativa. Ou pode ter sido o tempo que o fez amadurecer.

O que é fato é que Lewis Hamilton é um dos esportistas mais importantes da história. Tanto pelo que faz nas pistas, quanto pela forma como aprendeu a se impor em lutas — sejam as dele, com o antirracismo, sejam as de outros, como os direitos LGBTQIA+.

Foto do André Bloc

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?