Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Ex-jogador do São Paulo se tornou o primeiro ex-atleta da elite do futebol nacional a se assumir LGBTQIA+
Devo ter falado mais de uma dezena de vezes sobre o peso intimidador da homofobia nos estádios. Dentro do meu contexto, era como uma força contrária, que engole uma individualidade. Fora dali, eu mantinha minhas liberdades. No meu ambiente de trabalho, a minha sexualidade não é uma questão. Para além disso, nas arquibancadas eu era um entre dezenas de milhares.
Richarlyson, não. Ele era um entre 11. Representa uma fração muito maior do todo que é um jogo de futebol. Nem o goleiro Messi — primeiro jogador profissional homem a se assumir gay no Brasil — é capaz de dimensionar a realidade enfrentada pelo ex-jogador da seleção brasileira.
O hoje comentarista ficou famoso pela passagem no São Paulo, entre 2005 e 2010, quando foi tricampeão brasileiro, campeão mundial e até chegou à seleção brasileira. Eu me lembro dele no (fraco) Fortaleza de 2003, rebaixado da Série A. Ele era um jovem, surgido no Ituano campeão paulista de 2002, e que foi galgando vaga no time diante da ineficiência de colegas mais experientes.
"Esse viado é o único que faz alguma coisa", é a frase que me lembro. A ele, era negado o erro, porque qualquer falha é a de todos os iguais a ele. O acerto é obrigação, sob risco de retaliação homofóbica.
Richarlyson foi alvo de homofobia a vida toda, ainda que tenha se assumido só na semana passada. Em tempos de notas públicas de apoio à causa LGBTQIA+, vi apenas um jogador, Zé Love, se prostrar em apoio ao ex-volante. Alguns times, Atlético-MG, Vasco e São Paulo, também.
Ressurgiram ainda cicatrizes. Casos horríveis pelo qual Richarlyson passou. Quando, em 2007, o atleta processou José Cyrillo Jr, então dirigente do Palmeiras, por homofobia, teve o caso arquivado com uma sentença que ironizava o jogador e rechaçava a possibilidade de um homossexual ser um profissional no esporte. Pouparei a leitura do texto, mas a decisão é pública.
Mesmo de quem apoiou a decisão histórica de Richarlyson, ouvi ironia e bifobia, na linha do "surpreendendo zero pessoas" e na negação da identidade bissexual. Como se o hoje comentarista não pudesse ser um indivíduo próprio, com regras próprias.
Pois Richarlyson hoje é um homem bissexual assumido. O primeiro entre atletas que já jogaram a elite nacional. Espero que ele tenha orgulho disso. Eu tenho. Bem-vindo, Richarlyson.
E parabéns a Joanna de Assis, William de Lucca e o restante da equipe do podcast "Nos Armários dos Vestiários", do ge, por trazer essa voz a público.
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